sábado, 31 de outubro de 2015

Do capitalismo e do comunismo como padrões binários de pensamento.

Tanto os capitalistas ou liberais economicistas e Comunistas pura e simplesmente ignoram a existência do domínio socialista ou de uma terceira solução para os problemas sociais.

Parece haver uma espécie de acordo tácito em virtude do qual os Comunistas enxergam apenas do Capitalismo e os Capitalistas apenas o Comunismo.

Para os comunistas quem não for membro do partido é e será sempre encarado como 'capitalista' enrustido. Já para os liberais tantos quantos ousem questionar os dogmas proclamados pela econômica 'clássica' e seu valor ontológico, merece ser classificado como comunista.

E não adianta discutir com eles, admitiu qualquer nível ou grau de controle ou limitação fica-se sendo bolchevique ou marxista ortodoxo!!!

Diante de tão grande falta de pudor só nos resta exclamar; pobre Leão XIII, pobre Maurras, pobre Hitler, pobre Keynes, pobre Henry George, pobre Scott Nearing, pobre Tosltoi, pobre Kropotkin, pobre Lammenais... todos matriculados em bloco nas fileiras do leninismo!!!

De fato a má fé dos liberais só pode ser comparada a daqueles ateus fanáticos que costumam publicar listinhas de 'correligionários' em que constam os nomes de Montaigne, Bacon, Descartes (!!!???), Voltaire, Diderot, Comte, Huxley, Darwin (!!!???)... e por ai afora...

Dir-se-ia que não escrevem mas estupram as folhas de papel...

Tendo em vista tais desatinos, tentarei, pela segunda vez lançar alguma luz sobre o assunto, buscando definir quais sejam os posicionamentos possíveis na esfera da econômica:

  • LIBERALISMO (pop Capitalismo): Doutrina segundo a qual o Mercado, enquanto sistema circulatório de riquezas, regula-se por leis próprias ou autônomas de caráter interno. Segundo a tônica desta ideologia a iniciativa econômica deve ficar entregue a iniciativa dos indivíduos, cuja ambição não deve nem pode ser limitada; excluindo-se deste modo qualquer tipo de intervenção externa, social ou política. Temos aqui um sistema marcadamente individualista e irredutível a qualquer tipo de limitação externa. Não pode o liberalismo admitir qualquer nivel ou grau de limitação externa ou de controle político ou social sem deixar de ser o que é. Daí ser classificado como um sistema de livre iniciativa que objetiva a maximização dos lucros.
  • SOCIALISMO: Doutrina que advoga qualquer nivel ou grau de intervenção externa - social ou política - com o objetivo de limitar a iniciativa individual ou regular um Mercado de cuja auto regulação desconfia. Não importa aqui em que medida este ou aquele teórico, desta ou daquela escola, pretende intervir na dinâmica interna do Mercado. Uma vez que a auto regulação e autonomia do mercado é repudiada estamos no terreno do socialismo. Agora existem inúmeras formas, escolas ou correntes de socialismo; umas mais suaves outras mais rigorosas, segundo os princípios e valores que inspiram-nas; assim solidarismo, personalismo, social catolicismo, corporativismo, comunitarismo, social democracia, libertarismo... nem se pode negar aqui que o Keynesianismo e a própria doutrina social da igreja romana sejam formas de socialismo, inda que mais amenas ou centristas; pois admitem e postulam certa medida de controle externo incompatível com as pretensões da teoria liberal.
  • COMUNISMO: Tipo particular, específico ou rigorista de socialismo, que para além do controle externo do mercado postula:
  1. A tomada do poder por um golpe violento a que chamam Revolução.
  2. A substituição do modelo democrático por uma ditadura do proletariado numa perspectiva monopartidária e totalitária, caracterizada pela negação dos direitos essenciais a pessoa.
  3. A supressão de todas as formas de propriedade, inclusive da propriedade pessoal pertencente ao trabalhador. Na prática ignoram a distinção entre propriedade dos meios de produção e propriedade pessoal.
  4. A eliminação radical do padrão salarial.


    Disto resulta que se o COMUNISMO é um SOCIALISMO; nem todas as formas de SOCIALISMO correspondem ao COMUNISMO.

    Pois via de regra (cf Lizandro de la Torre "Questão social e Cristãos sociais") os socialismos sustentam que:


  1. A parte de alguma realidades específicas em que as situações de injustiça tenham atingido níveis insuportáveis, devem os militantes inserir-se na via institucional, buscando por meio dela implementar reformas educativas, sociais e políticas que ampliem as liberdades, consolidem a cidadania e enfraqueçam o poder do capital. DONDE OS SOCIALISTAS SÃO PROPENSOS A SOLUÇÕES PACÍFICAS E DESCONFIAM DA MÍSTICA REVOLUCIONÁRIA ALIMENTADA PELOS COMUNISTAS.
  2. É necessário instaurar ou consolidar, pela via que for mais oportuna, uma ordem cada vez mais democrática (no sentido da democracia direta ou popular) cidadã ou libertária; assegurando os direitos essenciais a pessoa humana e protegendo os grupos sociais minoritários. DONDE OS SOCIALISTAS RECONHECEM O VALOR DAS LIBERDADES PESSOAL E POLÍTICA EM OPOSIÇÃO AOS COMUNISTAS.
  3. É necessário socializar ao máximo a posse dos meios de produção, salvaguardando no entanto a propriedade pessoal do trabalhador como coisa 'imexível'. DONDE OS SOCIALISTAS RECONHECEM O VALOR ESSENCIAL OU ONTOLÓGICO DA PROPRIEDADE CUJA POSSE RESULTA DO TRABALHO. (Henry George).
  4. É necessário reduzir o quanto possível as relações fundamentadas no padrão salarial. Onde não for possível é necessário adotar o critério humanista do salário mínimo pautado nas necessidades familiares do trabalhador. Da mesma maneria é dever do grupos social ou da comunidade implantar, desenvolver e consolidar formas 'heterodoxas' de produção como corporações e cooperativas estas destinadas a gerir os grandes latifúndios. Implica ainda em restabelecer os egidos ou terras comunais. DONDE OS SOCIALISTAS NÃO SE OPÕEM RADICALMENTE AO PADRÃO SALARIAL.

Além disto os socialistas, ao contrário dos Comunistas não costumam envolver-se diretamente com a questão religiosa e muito menos com questões metafísicas em torno da existência ou não de Deus, dando por suposto que pertençam a esfera da liberdade ou decisão pessoal. Aqui o único compromisso do socialismo é com o caráter laico do estado e a implementação de um ensino rigorosamente científico.

O socialismo só costuma encarar como problema o fanatismo religioso, fundamentalismo enquanto ideologia oposta ao padrão científico de pensamento e as formas teocráticas de pensamento. A religiosidade em si mesma, sobretudo quanto equilibrada e sóbria, não é encarada como antagônica ao modelo socialista.

Donde o socialismo não endossa o materialismo, a irreligiosidade e muito menos o ateísmo; opondo-se terminantemente a qualquer tipo de perseguição religiosa. Mesmo porque certo número de socialistas inspiram-se em princípios e valores relacionados com algum tipo de espiritualidade.

Outra questão controversa diz respeito ao tecnicismo.

Sem proclamar a tecnologia como má, o socialismo enquanto forma de humanismo, desconfia do tecnicismo seja de direita ou de esquerda, liberal ou comunista, capitalista ou bolchevique... buscando relacionar a técnica com as fontes de matéria prima, a emissão de resíduos, as condições do planeta. Os socialistas pensam que é necessário ultrapassar esta 'rivalidade' ou emulação arquitetada em torno da técnica antes que a terra seja completamente destruída. É necessário voltar a técnica, não menos que o mercado para as necessidades humanas (não necessariamente econômica)... O comunismo parece ter perdido este sentido...

O capitalismo jamais acalentou tal sentido!

Não lhe cabendo o direito de fazer reproches ao comunismo.

Toda tônica deste sistema tem girado em torno do mercado, do luxo, do supérfluo, do consumo... sem quaisquer considerações em torno do humano, quanto mais em torno do ecúmeno.

A ciência é boa em si mesmo enquanto conhecimento válido e verdadeiro em oposição ao estado de ignorância.

O capitalismo no entanto, sistema que tudo suja e contamina, tem promovido um tipo de ciência indesejável e funesta: uma ciência sem consciência, irredutível a ética e sempre dócil as necessidades artificiais ou mesmo cruéis do mercado. Este mercado de algum modo tem emporcalhado nossa ciência e a tornado indesejável.

Neste sentido o comunismo soviético limitou-se a entrar numa competição acrítica, esquecendo-se por completo do fenômeno humano e contribuindo em certa medida para a degradação da mãe natureza.

O socialismo, que é uma expressão do humanismo e que se afirma como padrão essencialmente ético, distancia-se de ambos os sistemas rivais e assume os pressupostos de uma visão ecológica de mundo.

O socialismo nutre a nobre ambição de conciliar as necessidades econômicas com a demanda ecológica em termos de fauna e flora não hesitando por o dedo na ferida e deixar em aberto a possibilidade de uma contenção ou limitação de nosso progresso técnico ou material. Mais cedo ou mais tarde teremos de rever o ritmo de nossos progressos ou...

Ademais já esta mais do que na hora de pormos o que já foi criado e conquistado a serviço das imensas massas humanas que ainda vivem em condições mais do que miseráveis.

Resumindo:

  • Existe apenas uma forma de liberalismo econômico, a qual consiste em atribuir a ação econômica a atividade dos indivíduos e repudiar, em maior ou menor grau, toda e qualquer tentativa de limitação ou controle externo imposta pelo grupo social ou pelo domínio do político. Tal da doutrina pétrea da auto regulação do Mercado.
  • Existem inumeras formas de socialismo, todas sustentando a conveniência ou necessidade da planificação externa da econômica ou o controle do Mercado pelo grupo social em termos de intervenção, o que implica repudir formalmente a teoria da auto regulação do mercado e da ilimitação dos lucros.
  • Existe uma forma específica de socialismo radical cognominada comunismo, bolchevismo, marxismo ortodoxo ou leninismo, ou ainda stalinismo, centralizada em torno da fé numa revolução golpista e sangrenta, na implementação de uma ordem totalitária, na erradicação de todas as formas de propriedade, na eliminação do padrão salarial, na militância ateística, na competição tecnicista com o mundo do capital, no igualitarismo absoluto e outros elementos que os socialistas encaram como essencialmente perniciosos.


Diante disto só nos resta dizer e declarar face aos liberais que as acusações hipocritamente lançadas contra os bolchevistas de modo algum atingem todas as formas de socialismo.

Digo o mesmo aos comunistas radicais e pequenos fanáticos que classificam-nos como capitalistas...

Enquanto ambas as partes não conseguirem superar o pensamento binário ou dualista, a que por questão de oportunismo, permanecem presas, merecerão ser apresentadas como farinha do mesmo saco, ao menos sob o ponto de vista da ética.

A este tipo de estratégia desonesta os socialistas não precisam recorrer, teem propostas concretas com que sanar os males provocados pela desordem capitalista sem chegar as delírios proféticos do comunismo. Teem sugestões, tem planos, tem hipóteses consistentes... e quem for honesto, curioso, benigno de coração, poderá encontra-los nas obras de: Henry George, L Tolstoi, Kropotkin, Kagawa, Mounier, Bastos D Avilla... dentre muitas e muitas outras.

De todas as correntes é certamente a socialista a mais original, criativa, rica e sugestiva.

Sabiam portanto que existe uma terceira solução ou via entre os extremos - que como diria o Filósofo, tocam-se - do comunismo e do liberalismo econômico.

Tudo quanto nós socialistas pedimos ao amigo leitor, justo e benevolente, é que seja conhecida e analisada com a devida atenção.

O Socialismo só pede ser conhecido e julgado com justeza!



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