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domingo, 3 de dezembro de 2023

Oclocracia ou, quando a Democracia desanda...

Dever nosso, i é, dos que sustentam os ideais do Liberalismo político e da vida democrática, velar para que nossa democracia não se venha a converter numa qualquer outra coisa ou em algo que os antigos chamavam Oclocracia, ou seja, o domínio das massas imbecis.

De fato um conceito sadio de democracia supõe sempre algo a que se chame povo ou um conjunto de cidadãos. Em contraposição a povo temos massa, algo inconsciente e formado por homens e mulheres ignorantes, idiotizados, acríticos e manipuláveis. 

As massas não parecem ter ideais muito elevados e por isso mesmo contentam-se em ter satisfeitas suas necessidades mais elementares como comer, beber, fumar, procriar e curtir, nada muito além... Via de regra são as massas miseráveis ou carentes de quase tudo, e por isso seus ideais são básicos ou elementares...

Isentas de qualquer ideal político as massas não oferecem qualquer perigo para os poderosos ou para os demagogos. 

Já por serem extremamente dóceis e manipuláveis.

Por questão de necessidade as massas se vendem e vendendo-se são contidas.

Basta que o líder ou os lideres lhes deem> Pão e circo i é Pão, churrasco, cerveja, sexo fácil, fumo e ruídos para que se satisfaçam e não incomodam. As massas contentam-se com migalhas ou esmolas ofertadas pelos demagogos e por isso são oportunas.

O cidadão, tendo uma condição de vida média e satisfeitas suas necessidades básicas, bem pode alçar-se as regiões do abstrato, idealizar algumas coisas - Como a partilha do poder! - e aspirar por elas. Por ter atingido certo nível de consciência é o cidadão uma ameaça para o demagogo e também para o patrão, para o mago...

As massas e o zumbi, não incomodam a quem quer que seja, não representam ameaça alguma, não são causa de inquietação...

E no entanto a questão que aqui se coloca é a do acesso ao poder.

Pois desde que mundo é mundo, são as massas, sutil ou declaradamente, controladas.

A bem da verdade são compradas por meio das migalhas ou esmolas que recebem.

E sendo as massas o que são, não vejo outra solução possível.

Por isso a Democracia atribui o acesso e o controle do poder a outra entidade, a que chamamos Demos ou Povo, uma agremiação formada por cidadãos conscientes, a cidadãos formados por um processo educativo ou emancipatório.

Agora para que tal elemento político - O Povo, exista de fato, é necessário um ingrediente econômico.

As massas alienadas tanto hoje quanto nos belos tempos do Império romano, são formadas pelos miseráveis, pelos que quase nada tem e pelos que, quase nada tendo, sequer podem satisfazer suas necessidades básicas. Posto que a miséria produz a dependência e a falta de acesso a educação produz a conformidade.

Uma economia que produz miséria impulsiona o processo de massificação e tira vantagem da massificação, gerando um círculo vicioso reforçado pelo fundamentalismo religioso e pela tirania ou pela demagogia. 

Para que haja povo ou um conjunto de cidadãos conscientes, devem eles, economicamente falando, gozar de uma condição média > A qual lhes franqueie acesso a certo nível de comodidade ou conforto, e possibilite a formação do espírito por meio da instrução.

No tempo presente, as estruturas econômicas, a situação política e certas expressões religiosas, conjugaram-se, tendo em vista a produção de massas ou de pessoas sem consciência. Isto porque almejam controla-las econômica, política e socialmente, tornando sua servidão invencível.

Se o setor responsável por gerir o processo educativo, curva-se diante dos poderes econômicos e diante dos clamores suscitados pelo sectarismo religioso, não se deve esperar coisa alguma dele, a exceção de uma instrução aparente.

Oferecer as massas uma educação de qualidade ou uma instrução esclarecedora equivaleria a entregar aos presos a chave da cela, e o carcereiro, imbuído de sua vocação, não o fará.

Temos massas, fabricação acelerada de massas, despersonalização, desumanização... E temos um discurso politicamente liberal ou democrático, o qual, dentro de certas condições é não apenas válido como desejável.

Eu aspiro por ideais democráticos e por uma vida democrática que garanta, na perspectiva mais ampla, o exercício das liberdades.

Porém democracia só se faz com povo ou é feita, é construída, é implementada, pela atuação de cidadãos conscientes. Alias quanto mais direta um democracia é, melhor é.

Com massas o que temos jamais será democracia porém Oclocracia. Algo em entram diversos ingredientes, como demagogia, certo nível de manipulação ou dominação sutil e acordos.

Implica a Oclocracia, que as massas tenham certo nível de acesso ao poder ou que obtenham algo em troca - Como o cão, a quem o gatuno atira um osso, para poder ter acesso a casa que pretende roubar... As vezes esse osso poder até ser um pedaço de carne ou mesmo um suculento bife - Uma vez que o assaltante obterá ouro...

É uma espécie de troca. 

Por meio da qual as massas alienadas obtém os 'bens' que, por absoluta, falta de educação ou instrução, veio a desejar - Pois caso fosse educada aspiraria por outras coisas ou por verdadeiros bens.

Contentam-se as massas com - Futebol, carnaval, novelas, showzinho gospel, falsas moralidades, cachaça, fumo, drogas, sexismo, etc enquanto os demagogos rapinam o erário. Fornecido o ópio ou o circo, as massas não se mexem, não se movem, permanecem inertes...

O Estado demagógico, por meio da cultura, condiciona as massas a fruírem de tais 'bens', inclusive ocultando-lhes outros bens, que de fato são bens. Apenas para em seguida fornecer-lhes tais bens, e assegurar a paz: "O que eu quero é ser feliz na favela onde eu nasci.".

Mas só é feliz na favela e nela deseja viver, quem por ignorar horizontes mais amplos, cuida ser ela, a favela, o mundo...

Ocultem o mundo, o outro mundo, aos aprisionados, e eles se sentirão super felizes dentro da caverna...

A Educação hoje consiste basicamente nisso: Em mostrar o que já se conhece e jamais apresentar o que não se conhece ou ignora. E nem podemos aspirar pelo que ignoramos.

Mantemos o discurso em torno da democracia e do liberalismo político, mas não concedemos as massas pleno acesso ao poder.

É o caminho da Oclocracia. 

A passagem para o caos.

Pois em certo momento poderão as massas exigir mais.

E se um dia, por obra do deus acaso, conquistarem o poder e exercerem o controle...

Conhecemos, lamentavelmente, a ditadura de um ou de alguns.

Que seja ditadura de um grupo social ou uma ditadura de massas, ignoramos supinamente.

O quanto quero dizer é que ao fabricar massas podemos estar forjando um futuro terrível ou pior que tudo quanto já vivenciamos.

Deveríamos estar instruindo, educando, formando cidadãos críticos, dirigindo para a Ética, personalizando, humanizando... 

O que o Estado, a serviço do lucro e da superstição, tem feito é semear a miséria, despersonalizar, desumanizar, promover a ignorância, expandir a alienação, etc - Com o que se solapa a democracia e se suscita críticas intempestivas, não poucas vezes justas.

Não poucas vezes o que se repudia e combate não é a Democracia ou o tipo ideal de vida democrática porque aspiramos e sim essa corrupção chamada Oclocracia - O domínio das massas idiotizadas. 

Muitas vezes o que se rejeita e combate é apenas sombra de democracia ou uma democracia degenerada e decadente.

Tal o quadro sinistro das coisas...

Nossa democracia se vai desacreditando.

O clamor das massas imbecilizadas e satisfeitas aumenta dia após dia. Como nuvens que prenunciam uma tempestade...

No Brasil parte das massas identitárias ocupa-se de coisas totalmente inúteis, como em elevar o Funk e o 'ripe rope' ou a dança de rua, as alturas... Enquanto o outro lado, deseja a instauração de uma Teocracia bíblica...

De extremo a extremo vagam as massas... 

E não sabemos no que resultará tudo isso.






domingo, 19 de março de 2023

Psicologia, psicanálise, Freud e a questão da multiplicidade de existências - Reflexões sobre a obra de Hermínio C Miranda 'A memória e o tempo' Edicel 1984 - Parte VIII



 Parapsicologia e Epistemologia



            Agora imaginem os leitores - Se o advento da autêntica Psicologia (James E Dittes sequer precisou ser genial ao relacionar Thouless com Freud - Embora pudesse relaciona-lo do mesmo modo com Wertheimer, Kohler, Koffka e toda Psicologia profunda.) espantou os ideólogos materialistas, imaginem então a aparição de um conhecimento precipuamente empírico ou experimental... 

            Foi essa nova área do conhecimento cognominada Psicologia supranormal por Enrico Morselli, metabiologia ou psicobiofisica por F Cazzamali, Metapsíquica pelo prêmio Nobel Charles Richet e enfim Parapsicologia por Max Dessoir com o posterior Placet de J B Rhine. 

            
Vejamos agora em que circunstâncias surgiu. Pois por si mesma é a História da Parapsicologia bastante curiosa.

             Ao que parece o interesse por esse tipo de fenômenos e investigações foi acionado pelo  austríaco Franz Anton Mesmer um dos pioneiros quanto a exploração de certas técnicas de controle ou manipulação psicológica como a auto e a hétero sugestão, esta última por meio do sono hipnótico.
             

             Do quanto realizou esse Mesmer podemos dizer que parte dos fenômenos ou resultados obtidos eram reais e que a etiologia em questão veio a receber posteriormente o nome de Psicosomatose. Quiçá houvessem também alguns fenômenos parapsicológicos por assim dizer residuais. 

               Já em 1778 Mesmer solicitou que as curas por ele realizadas fossem verificadas pela Sociedade Real de Medicina de Paris, obtendo a negativa por meio de seu diretório. Contrariando o princípio científico do exame os sábios recusaram-se a examinar o que Mesmer - Supondo um fluído sutil. - cognominava Magnetismo animal. Mesmo assim ele recorreu a diversas outras instituições, obtendo sempre a mesma resposta: Os cientistas recusavam-se a ir contra os princípios admitidos e assumindo uma postura dogmática recusavam-se a investigar. Devo dizer que o mesmo se havia sucedido em Viena. 

                Afinal eram os tempos em que os materialistas De Holbach, Clothes, Helvetius, Cabanis La Metrie pontificavam na França. 

                Por fim a 18 de Setembro de 1780, a Faculdade de medicina de Paris, em sua Assembléia geral, repudiou as opiniões de Mesmer com animosidade e desdém, chegando inclusive a excomungar o Dr D'Eslon, por se haver discípulo seu. Redarguiram os apoiantes de Mesmer acusando os adeptos da medicina tradicional de terem condenado o curandeiro austríaco apenas porque ameaçava tirar os pacientes ou clientes que não conseguiam curar. Stengers, 1995 fala numa estratégia de desqualificação.

               Finalmente em 1784 uma Comissão da Academia de Paris, nomeada pelo próprio Rei e formada por Bailly, Sallin, Borie, D'Arcet, Le Roy, Bory, Lavoisier, Francklin e Guillotin repudiou a tese dos fluídos - Porque não era perceptível aos sentidos humanos, dizia Bertrand já em 1826 - Mas reconheceu a sugestão. Da mesma maneira a Comissão da Sociedade Real de Medicina - Composta por Poissonnier, Caillie, Mauduyt, Andry Jussieu
 repudiou a existência dos fluídos - O grande Jussieu o entanto admitiu as curas e relatou situações de hiperestesia ou mesmo de telecinesia corporal. 

                  Temos aqui que, por primeira vez na História das ciências, o reconhecimento oficial de um fenômeno psico somático produzido pela sugestão - Tal o veredito do redator Bailly: "É a imaginação, essa potência ativa e terrível, que opera os grandes efeitos que se observa com espanto nos tratamentos físicos." (1826/2004a ps 111 e sg)


               Por sinal o fato de que as origens mais remotas da Psicologia e da Parapsicologia remontem a figura controvertida de Mesmer - O qual, segundo algumas fontes, veio a tornar-se charlatão. - tem servido como motivo para os positivistas ou cientificistas argumentem contra ambas e repudiem a cientificidade delas. 

                Esqueceram-se esses péssimos estudantes de História que a origem da Astronomia foi a astrologia, que a origem da Química foi a Alquimia e que a origem da medicina foi o embalsamamento de caráter religioso ou o curandeirismo - Sem que qualquer uma delas deixe de ser Ciência, de modo que a origem de uma Ciência ou área do conhecimento é absolutamente irrelevante.

                 Tornemos porém a Mesmer. Pois os fenômenos obtidos por ele principiaram a ser estudados seriamente pelos idos de 1807 pelo Sr Mqs de Puysègur na monografia "Du magnétisme animal..." a qual se seguiram mais quatro publicações. 

                               Segundo o historiador Henri Hellenberger "Puységur foi um dos grandes contribuidores esquecidos para História das ciências psicológicas." (1970, p 72) Pois reconheceu como principal agente do mesmerismo a vontade do magnetizador. Ele estudou o sonambulismo juntamente com Deleuze, o qual testemunhou sua gratidão para com ele no prefácio de uma de suas obras editada em 1825 sic - (1826)

               Já em 1813 são editados as "História crítica do magnetismo animal" Mame, Paris - 2 Volumes do naturalista François Deleuze, o qual em 1834 editou umas memórias "Sobre a faculdade da previsão"  talvez o primeiro estudo sério sobre a pre cognição e portanto o primeiro estudo na área da Parapsicologia, matéria que até então - Por polêmica que era. - ficará a margem daqueles estudos.


               Em 1818 o Dr Martorelli, auxiliado pelo Barão Du Potet realiza a primeira extração dentária indolor em paciente hipnotizado e experimenta diversos outros procedimentos dolorosos sem que os pacientes sintam mínima dor.

               Já em 1821 são os estudos em matéria de Psicologia retomados com toda força pelo futuro presidente da Academia Real de Medicina, Henri. Marie Husson, Alexandre Bertrand J C Anthelme Recamier - Com Du Potet e Robouam - assistidos por outros trinta médicos. Esses relatos de experiências são frequentemente encontrados em diversos livros de Psicologia, destinados a exemplificar a psico somatose. Como resultado dessas pesquisas Bertrand publica, em 1823, o "Traité du sonambulisme et des différentes modifications qu'il presenté" foi este sucedido pelo "Êxtase" editado três anos depois i é em 1826. - Tais os primeiros estudos verdadeiramente científicos sobre esses fenômenos até hoje postos em dúvida por alguns opinões. 

                 Nas décadas seguintes Du Potet foi interessando-se cada vez mais pelos fenômenos estranhos ou pela Parapsicologia, isso a ponto de - A exemplo de muitos outros como: Nus, Mirville, Vesme, Figuier, Grasset, etc - propor uma História natural da magia. 

                  Em 1837 G P Billot publicou suas investigações e sua correspondência com o citado Deleuze. 

                   Aqui um importante aparte, pois convém observar que o arguto Schopenhauer opinou ter sido a descoberta de Puységur uma das descobertas mais importantes para a História das ideias humanas. 

                   Do outro lado do Reno tais investigações principiaram quando, em 1830, o médico alemão Justinus Kerner, publicou - No livro intitulado "Die Seherin Von Prevorst..." (A vidente de Prevorst.) - um estudo de caso (Feito desde 1825) sobre os fenômenos estranhos que acometiam a sonambula Frederica Hauff. Foi seguido pelo Barão de Riechenbach o qual publicou seu relatório sobre os fenômenos estranhos em 1845.

                    Até aqui a maior parte das explicações propostas eram de teor naturalista embora, não materialista e giravam em torno de um suposto magnetismo, da força Od ou ódica, etc 

                     Quase que imediatamente após a fase mesmérica ou magnética -E cerca de trinta anos após as primeiras investigações na área da Psicologia e da Parapsicologia. - inaugurou-se a assim chamada fase espírita, ainda que não doutrinária. (Pelo simples fato de ser anterior a Edmonds e a Kardec). Começou ela no ano de 1848, em Hydesville (EUA), com as irmãs Fox. A princípio eram apenas umas batidas que correspondiam a Sim ou Não. Posteriormente o sr David S Fox associou o alfabeto a tais batidas, o que corresponde a origem mais remota do tabuleiro de ouija.

                        Cerca de 1849, pelos idos de Novembro, principiam as mesas a dançar, dando início a uma nova fase a das 'Table moving' ou Tables tournantes', as quais não tardaram a ser investigadas por Mirville, Roubaud, Thury, Chevreul, Babinet, Faraday, Baragnon, Gentil, De Gasparin, Eugène Nus, Guldenstubbé, Forni, Pellegrini, D'Ourche, Mapes, Hare, R N Wallace, A Morgan, F C Varley, Barkas, Chambers, Gully, Chevillard, Vacquerie, Mme Girardin, Victor Hugo, Owen, Sardou, etc

                     
A esse tempo, apesar da atribuição de tais eventos a ação de espíritos desencarnados e da existência de mensagens, era o espiritismo adoutrinário. Principiando a doutrina a ser criada no ano de 1853, ocasião em que o juiz W Edmonds juntamente com T Dexter publicam a obra intitulada 'Spiritualism' em N Y. Apenas quatro anos depois (Em 1857) Allan Kardec publicou o seu 'Le livre des spirits.' em Paris. Na verdade tanto Edmonds quanto Kardec foram precedidos por Andrew Jackson Davis ('Livro dos espíritos' 1848) L A Cahagnet ('Vida futura, arcanos desvelados' 1848) - 

                      A partir daqui é importante estabelecer aqui uma preciosa distinção - Naturalmente que os pesquisadores ou investigadores: Sejam eles metapsíquicos ou espíritas estão de acordo quanto o óbvio i é quanto aquilo que é sensível, manifesto ou empírico: A realidade dos fenômenos ou se preferem - Na expressão de Amadou (Da parte dos parapsicólogos) - ao menos de alguns raros fenômenos que fogem ao que comumente chamamos normalidade. Divergem porém, via de regra, quanto a explicação etiológica ou causal dos mesmos, pois enquanto os espíritas postulam - Acriticamente - quase sempre a intervenção de um agente espiritual ou espírito desencarnado, os parapsicólogos - Por vezes, acriticamente, como o Pe Quevedo SJ - postulam a suficiência de poderes ou forças mentais i é a uma origem natural (Naturalista).

                         Há no entanto preciosas exceções -
                         

                         Assim o profo Whately Carrington de Cambridge, após ter realizado as primeiras investigações sobre telepatia com desenhos que demonstraram a realidade da pre cognição, veio a admitir, por inferência lógica, a sobrevivência post mortem. Assim o extremamente crítico e exigente Harry Price concluí pela mesma hipótese, sugerindo inclusive a possibilidade de que tais mentes possam possuam as mesmas capacidades que possuíam em vida, sendo portanto capazes de influenciar outras mentes e de atuar no mundo físico. Samuel Soal da Universidade de Londres chegou a mesma conclusão após examinar o som das vozes dos sensitivos incorporados. Por fim J F Rhine, que nos anos 60 havia opinado negativamente, em obra posterior - O Novo mundo da mente, acabou por admitir que ao menos alguns fenômenos demandam a existência ou ação de uma entidade extra corpórea consciente. 
                         
                         De minha parte, quero esclarecer que após ter examinado, ao cabo de trinta anos, as obras de Richet, Bozzano, Aksakoff, Sudré, Warcollier, Amadou, Heredia SJ, Silva Mello, Rhoden, Granja, Imbassahy, Rhine, Quevedo SJ, Lepicier, Sagan, etc além das memórias específicas de Flamarion (As casas mal assombradas A morte e seu mistério), G Delanne (Aparitions matérialisées des vivants et des morts - Paris 1909), Gurney, Myers e Podmore 'Phantasms of de living, London, 1882), etc assumi uma posição intermediária - De Rhine - a qual expressei já diversas vezes: A prevalência
 
majoritária - Mas de forma alguma absoluta. - de causas naturais ou mentais (Explicação), sem excluir no entanto, que ao menos alguns fenômenos, bastante raros (E de comprovação um tanto problemática.) tenham sido provocados por espíritos. 

                            Portanto, tal e qual alguns autores romanos e protestantes, considero que ao menos alguns dos fenômenos verificados e descritos não podem ter sido produzidos por humanos (Exceto se admitimos a doutrina aberrante do inconsciente coletivo ou da pan cognição absoluta.) sendo manifestamente sobrenaturais e portanto, segundo meu ponto de vista, causado por humanos desencarnados. 

                             Agora a questão principal não é esta, pertinente a interpretação ou a compreensão e a causalidade, e sim a questão atinente a realidade dos fenômenos ou a metodologia de pesquisa, a experiencialidade e o controle. Eis o ponto, por assim dizer, crucial. Pois implica optar por falsos princípios metafísicos ou ideologias queridas ou pela empiria i é a sensação, a a percepção, a observação, a experiência. 

                              "Contra fatos não há argumentos." é confissão que partiu do próprio pai do positivismo Auguste Comte. E assim o é - Lealdade absoluta a experiência e as favas com as opiniões, inda que emitidas por grandes cientistas, pois continuam sendo opiniões.

                               No caso a única via de escape para os cientificistas são o Kantismo ou o ceticismo, com os quais flertam já a um bom tempo - Criando mais uma mixórdia ou panaceia modernista. Nada animador... Haja visto que um deles acaba de fazer "Mea culpa" reconhecendo que essa beleza de ceticismo cientificista tem alimentado movimentos como o negacionismo vacinal...

                                Então o que temos de fazer e de honestamente fazer é muito, muito simples: Decidir entre o empirismo ou o materialismo i é entre fatos observáveis e uma Ideologia. E pouco importa caso esses senhores aleguem que parapsicologia não é ciência, pois pessoa alguma precisa ser parapsicóloga ou cientista para observar ou compreender a seriedade de um teste. 

                                 O quanto devemos saber é que temos três prêmios nobeis dedicados a esse tipo de investigação - W Croockes, Oliver Lodge Charles Richet, como se vê nenhum beato ou imbecil. E que seus críticos, os negadores da Parapsicologia, também costumam a impugnar a História, o Direito, a Filosofia, a Psicologia, a Sociologia... e tudo quanto ultrapasse a Química, a Física e a Biologia. Portanto não atribuamos maior valor a esse arremedo de Vaticano, cúria romana ou partido comunista...

                                   Principiam como sempre criticando a metodologia. Naturalmente...

                                   Porém se a metodologia de Croockes, Lodge, Richet, Kerner, Deleuze, Grasset, Gibier, Rhine, Soal, etc é defeituosa e falha quanto as pesquisas no campo da parapsicologia, por que não haveria de ser igualmente falha, displicente e ineficaz nos campos em que ordinariamente trabalharam e obtiveram tantos resultados e premiações... Afinal não são os mesmos agentes operatórios... Se foram tão ruins, idiotas ou ainda perfeitos imbecis quanto o controle das experiências metapsíquicas como poderiam ser sábios, prudentes, profícuos e bem sucedidos no controle das demais experiências que realizavam... Gostaria que alguma sumidade em cientificismo me explicasse isso...

                                    Acaso as balanças, medidores, etc não eram muitas vezes os mesmos...

                                    Ademais os observadores pertenciam a praticamente todas as áreas do mundo científico: Pois haviam psicólogos  e psiquiatras como Freud, William James, James Hyslop, Thouless, N Fodor, Cazzamali, Geley, Tamburini, Morselli, Srenck Notzing, Jung. Médicos como J R Buchanan, Osty, B Wiesner, Gurney, Roubaud, Th Bret, R Tischner, J Maxwell, Lombroso, P Baragnon, Paul Gibier, Richet, G Forni, Grasset, Baraduc, Kerner, etc Filósofos como Aksakoff, Hodgson, F Paronelli, Owen, Myers, E Boirac, Vezzani, E Bozzano, Carl du Prel, Ballou, Hartmann e Driesh. Biólogos como A R Wallace, J B Rhine Ochorowicz. Químicos como Robert Hare, Butlerov. Warcollier, Chevreul e W. Croockes. Físicos como Zollner, Finzi, M Thury, Ermacora Oliver Lodge. Astrônomos como Flammarion, Schiaparelli Gerosa. Matemáticos como Augustusde Morgan, Schepis, Dellane e De RochasPedagogos como Robert Tocquet. Literatos como Erny, Mirville V Sardou. Um nobre como o Barão de Guldenstubbé. O político Agenor de Gasparin.

               Apenas para ser suscinto cito aqui os nomes de quase sessenta intelectuais atuantes nos mais diversos campos do saber - O que é absolutamente relevante devido aos diferentes nuances de visão! - os quais, em que pesem as diferenças de compreensão, admitem todos, sem exceção, a realidade dos eventos que classificamos como paranormais ou metapsíquicos. 

                No entanto, para os cientificistas e positivistas, da escola dos srs Max Dessoir, Heuzé, Randi Dennett... Não passam, todos eles, de um bando de ingênuos ou tontos enganados por alguns espertalhões semi analfabetos.


                 Continua -  



quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

Por que 'Ela só pensa naquilo...' - O propósito de Damares Alves e da Continência...

Não me julgo fanático, exceto pela liberdade.

Compreendo assim que livremente assumida a continência sexual ou o celibato, representem valores dignos de respeito. Assim se alguém gerencia ou controla sua sexualidade sem tornar-se neurótico ou por ter um propósito/sentido mais elevado, quem sou eu para critica-lo? Nem posso deixar de encarar o que chamam de sexismo i é a super valorização da dimensão sexual como algo negativo. Quando afirmamos que a sexualidade não deve ser satanizada/negativizada mas encarada com naturalidade não queremos dizer com isto apresentar o sexo como supremo valor da vida humana ou a sexualidade como seu aspecto mais importante. Para nós a sexualidade, mesmo quando encarada com naturalidade, sempre será parte da vida, não a vida. Nós não assumimos a posição de um Marquês de Sade, deplora-mo-la, tanto quanto deploramos o maniqueísmo. Uma coisa é o corpo ser aceito, outra negado e outra idolatrado... fugimos aos extremos.

No entanto, enquanto parte, defendemos uma sexualidade livre e isenta de pre conceitos.

E quanto a continência ou ao gerenciamento da vida sexualidade, encara-mo-lo como possível valor apenas quando livremente assumido pelo sujeito a partir de suas conclusões, i é, apenas quando é significativo para ele e jamais como algo imposto por alguém ou mesmo pela sociedade.

Como fator formativo da personalidade humana a dimensão sexual da vida deve ser considerada com todo cuidado e certamente ser gerenciada pelo sujeito. Claro que no setor familiar da Sociedade serão oferecidos ou mesmo impostos certos tipos de conduta como desejáveis, isto a guiza de educação. Desde que não haja excessos, como a agressão, temos um fenômeno normal. Certamente que a partir daí podem resultar seríssimos problemas. Tal no entanto é o curso da vida, ao menos em seus primeiros passos. Agradeça a natureza ou a Providência aquele que teve a sorte de obter pais ou educadores amorosos, liberais e pacientes. Os demais só tem a chorar...

No entanto para além da infância e da adolescência, é normal e justo que o homem adulto, na posse de sua liberdade, reconsidere os princípios e valores recebidos, mormente quando lhe parecem já sufocantes, já tacanhos; e quando produziram em si determinados problemas ou patologias psíquicas, assim traumas, bloqueios, fobias... Pois tudo isto e muito mais pode produzir uma sexualidade artificial, reprimida ou excessivamente limitada. Então é justo que, apesar das ameaças dos padres arrogantes ou dos pastores imbecis, a pessoa se reavalie e reconstrua a si próprio, questionando a educação sexual que recebeu.

Normal que os pais controlem - até certo ponto e apenas com determinados meios - a sexualidade dos filhos e não trataremos mais disto. Parece um direito ou uma necessidade natural, mesmo quando sofra os mais terríveis abusos por parte de pais neuróticos.

Agora por que raios aspiram os padres e pastores (No tempo presente estes antes de todos)- Por vezes os reis, presidentes, generais e patrões... gerenciar a sexualidade alheia?

Já disse que sexo é poder e que o exercício da sexualidade implica relações de poder, mais talvez que de afeto... Controlar a dimensão sexual do outro é controlar o outro, é domina-lo, é dispor dele. Quando alguém dispõem do poder de uma Nefer Nefer de 'O egipcio' (Mika Waltari), de uma Dalila, de uma Lais, de uma Gruchenca... estebelece-se a relação senhor/servo, uma escravidão. A dependência afetivo/sexual pode ter a força de correntes e cadeias, advertem o padre e o pastor, partindo da fina psicologia do antigo testamento, cujo fundo talvez reconheça a grande força ou o grande poder da líbido sobre o sexo masculino. Não vou entrar aqui nos termos da relação Homem, Mulher e Líbido ou dependência -

Sucede porém que a mesma relação por assim dizer 'se reproduz' sempre que outrem, seja padre ou pastor, passa a direcionar a sexualidade alheia. Também aqui, por meio de uma continência ou de uma abstinência imposta (Na qual muitas vezes não se vê o mínimo sentido.) por uma autoridade externa, estabelece-se uma relação de dominação e poder, mesmo porque, quem admite ser guiado externamente quanto a própria sexualidade dificilmente estabelecerá limites ou fronteiras quanto a qualquer tipo de controle externo, concedendo em ser dirigido por completo i é quanto a todos os setores da vida. Uma pessoa dominada por outra quanto a todos os setores da vida, tendo abdicado de sua liberdade, converteu-se num boneco ou numa marionete.

Voluntariamente assumido por uma pessoa adulta a Continência ou o Celibato podem ser libertadores  e contribuir no sentido de constuir-se uma personalidade heroica, no pleno sentido da palavra. Já dissemos: Controlar, dominar ou gerenciar a concupiscência ou pulsão (Impulso) sexual, transferindo esta energia para outro setor qualquer da vida e escapando a neurose, é quase uma obra divina.

Abdicar artificialmente da sexualidade por imposição externa, além de ser a porta de entrada da neurose e da insanidade, pode estabelecer uma relação desigual de poder e assim dar vezo a um controle moral, econômico, social e político. Generais, técnicos de futebol, demagogos politiqueiros, patrões ambiciosos, etc sucedem cada vez mais ao charlatão ou déspota religioso, buscando impor a transferência de energia, e obter um time ou exército vitorioso ou uma maior produção de bens...

Felizmente patrões, técnicos, ideólogos, etc não dispõem do mesmo poder que os padres e pastores ou dos meios de um General. E o atleta, o proletário, o afiliado e mesmo o soldado (Fora da caserna) sempre poderão farrear e burlar ou mentir. Os líderes religiosos apenas podem possuir a alma e o coração do homem, mesmo quando o ameaçam com os míticos fogos do inferno... e é aqui que o controle obtém sucesso e se torna absoluto. Caso o lider decrete: Vocês, meus fiéis, transarão ou farão sexo assim e assado (Estabelecendo um roteiro ou receita em nome de Cristo), a situação esta decidida e aqueles que concordam sinceramente convertem-se em matéria plástica... como cera quente.

Nem se trata de chegar ao celibato ou a abstinência provisória absoluta. Basta que as formas sexuais sejam dadas ou definidas por outrem no sentido de permitido e não permitido. Admitido este tipo de moralidade temos o controle. Talvez por isto o Verbo Jesus praticamente não revindicou autoridade sobre a sexualidade humana ou apresentou seu Evangelho como um Kama Sutra, dum Deuteronômio ou de um Sahi (Hadith), recusando-se a fazer o jogo dos oportunistas e ambiciosos e confiando no poder da verdade. Quando leio o Evangelho, buscando mostras de controle sexual e falhando em encontra-lo, não poucas vezes consolida-se minha fé na Divindade deste Jesus que tem tão pouco em comum com os manipuladores de homens e demagogos.

Tornando ao tema em questão, depreende-se do quanto foi escrito e do fato segundo o qual, não possui a sociedade política sólidos e profundos conhecimentos psicológicos a respeito da personalidade humana, a ponto de, tal e como os pais e responsáveis, gerenciar a sexualidade alheia ou mesmo educa-la, impondo qualquer tipo de padrão comum ou coletivo. Os pais exercem tal gerenciamento por necessidade absoluta, dentro dos limites de seus lares. E cada lar assume um tipo de olhar, lei ou padrão distinto, não cabendo a sociedade ou ao poder político selecionar ou padrão ou julgar o tema. Mormente quando devem estes jovens obter a autonomia, fugindo inclusive a autoridade paternal. De modo algum poderia o Estado assumir este caráter paternal ou paternalista - a menos que o velho Filmer estivesse correto rsrsrsrsrs - apresentando-se como cuidador de um rebanho de adultos, aos quais pelo contrário convém dirigir todos os assuntos do Estado, desde que principiem por obter a autonomia que os caracteriza como pessoas humanas e não como vil rebanho de alimárias!

Alias a simples ideia implícita no projeto do Estado anti liberal brasileiro educar sexualmente os jovens, sugerindo-lhe modelos de conduta, já pressupõem a intenção de gerenciar e uniformizar e assim de dominar o futuro cidadão, convertendo-o em simples tutelado, impedindo-o de atingir a autonomia e consequentemente frustrando os ideais liberais e democráticos. É uma refinada e oculta forma de controle e opressão imposta por um governo híbrido ou amorfo, parte militarista e parte economicista liberal, inspirado nos modelos irracionais e sectários importados dos EUA.

terça-feira, 3 de outubro de 2017

No 'inferno' do 'Amar é'




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Levante a mão quem ainda se lembra do álbum de figurinhas 'Amar é'.

Caso você seja dos anos setenta ou mesmo oitenta certamente ainda lembrará do simpático casalzinho castrado...

Época da Sarah Kay, da menina moranguinho, dos animais fofinhos, etc tudo muito bonitinho e encantador. E é claro que os namoradinhos do 'Amar é' não podiam fugir a regra...

Exatamente por isso eram desenhados muito moralmente ou seja sem os 'asquerosos' órgãos sexuais. Nem o menino tinha pênis nem a menina tinha vagina, eram ambos completamente lisos ou tapados, i é, sem buraco algum.

Orifício por onde fizessem o número um ou o número dois não havia e ficamos lá pensando se comiam ou bebiam qualquer coisa, e por onde saiam os refugos - Pela boca? Pelo nariz, ou pelas orelhas? A pergunta bem pode ter ocorrido a qualquer criança do nosso tempo (anos 80) e premiada lá com algumas palmadas por parte desses pais educadores que já não usavam a 'vara de marmelo'.

Eu como menino 'bíblico' ou crente só pude conhecer a 'Amar é' através de meus amiguinhos pagãos, que costumavam cola-las em seus cadernos e - pasmem, pasmem sim - havia sido orientado a não fixar os olhos em tais figurinhas, pelo simples fato de ostentarem corpos nus!

E como disse não havia ali sequer vestígios de órgãos sexuais ou qualquer coisa que insinuasse um pênis ou uma vagina! Era ambos castradíssimo e sem embargo disto, 'imorais'. Ao menos para parte da boa Sociedade.

Jamais pude esquecer o comentário feito por uma velha senhora diante de uma banca de jornais em cuja parte externa o proprietário havia colado um cartaz promocional das figurinhas:

-- Viu Minguinho (tal meu apelido de menino) a que ponto chegou esta sociedade (nem sabia o que era sociedade)? No meu tempo não se ostentavam corpos nus desse jeito, vou falar com o seo Morgado para não colar esse tipo de coisa na Banca.

Tá certo que a senhora em questão era de outro tempo... Tão certo quanto o menino e a menina serem lisos e castrados, e não haver qualquer sinal de, digamos, 'malícia' nas figurinhas. Exasperou no entanto muita gene mais nova e não estou convencido de que ainda hoje não exaspere algumas pessoas, especialmente os fanáticos religiosos... Sempre em guarda contra o corpo, a nudez e a sexualidade humanas.

Nem estou suficientemente convencido de que parte da Sociedade atual seja ainda mais fechada do que aquela dos anos 80...

Reeditado o álbum 'Amar é' em nossos dias, será que venderia mais??? Será que não fariam autos de fé pelas esquinas. Alegando que o casalzinho de castrados é decididamente imoral ou pecaminoso...

Uma coisa é certa meu senhor. Há quem se sinta incomodado com as simples linhas ou com o esboço pictórico de um corpo nu. No passado dizia-se nu artístico e não me parece que fizessem tanta bulha em torno dele quanto hoje...

Problema aqui é que não se tratam de casos isolados ou de pessoas psicologicamente desajustadas. Aparentemente essas pessoas melindradas são normais. O que temos aqui é a produção intencional de uma certa cultural maniqueísta ou puritana...

Dirá você que estou fazendo tempestade em copo dágua uma vez que a produção desse tipo de cultura anti corporal ou assexuada é produção que remonta há séculos.

Indubitavelmente meu querido, indubitavelmente. Consideremos no entanto que vivemos num mundo pós freudiano direcionado cada vez mais para a aceitação do corpo, do sexo e da nudez, não em termos de valores supremos (como querem muitos), mas certamente como algo natural.

Consideremos que o passado século, em que pesem exageros e abusos, foi um tempo de avanço. A tendência a que me referi acima era um agregado persistente, mas condenado, ao menos a longo prazo, a desaparição. As tendências mostravam isto...

Portanto o que me assusta ou incomoda é a retomada feroz desse tipo de discurso ou dessa produção cultural na mais larga escola. O que estamos assistindo, ao menos aparentemente, é a retomada de ideais e modelos maniqueus e puritanos que não só confinam com islã como preparam seu advento em nossas sociedades ocidentais. Há todo um discurso negativo ou pecaminoso em torno da nudez ou da sexualidade e cujo objetivo é produzir um generalizado sentimento de culpa entre as pessoas, especialmente entre as mulheres... o fim desse discurso é que após o corpo experimentar certa degradação ou a beleza declinar sucede o arrependimento, a conversão e por fim túnicas, icabs, burkas, shadores, etc como forma de penitência.

Que tais pessoas optem por ocultar seus corpos decrépitos deveria ser assunto de ordem privada. Lamentavelmente no entanto, assistimos a toda uma reação contrária ao direito dos demais membros da sociedade exporem seus corpos ao menos por parte de algumas dessas pessoas 'convertidas' a alguma religião qualquer... De fato elas não estão nem um pouco convencidas de que a tais pessoas assista o mesmo direito que assistiu a elas durante a juventude. Não é simples questão de arrependimento mas também de egoísmo inconsciente expresso pela forma clássica: Se não ouso mais mostrar meu corpo ninguém mais deveria poder faze-lo. Em tais situações as pessoas que ousam mostrar seus corpos passam a ser odiadas e quando não insultadas ou agredidas.

A parte da sociedade que se esconde o corpo e a sexualidade parece não se dar bem com a outra parte, seja a sexista ou a que busca viver com naturalidade, tornando-se ativamente hostil. Assim entre os que não vão a praia devido a questão da nudez costumam sentir-se molestados porque os demais vão e isto pelo simples fato de serem influenciáveis, covardes e não terem coragem para fazer o que querem. A pessoa que assume um princípio moral ou crença sinceramente e que busca vivencia-lo em máximo grau, via de regra não se preocupa com o comportamento alheio, apenas com o seu. A preocupação com o comportamento alheio em termos de Psicologia, denota sempre um insatisfação subjacente, desconformidade, insegurança e, é claro rancor. Rancor por achar-se obrigada a viver uma vida que não gostaria de viver.

Em termos de cultura no entanto o ponto de partida desta postura intolerante é a produção de um sentimento de culpa, relacionado com a retomada de um discurso maniqueísta ou puritano cujo objetivo é satanizar o corpo físico, a nudez e sobretudo a sexualidade humana. O que me suscita minha reflexões não é a sobrevivência circunstancial desde discurso enquanto mero agregado persistente mas sua decidida retomada em alguns contextos da sociedade brasileira, do que resultou toda esta polêmica assustadora em torno do homem nu lá no Masp.

Lamento por Fernando Sabino, autor impagável da Crônica 'O homem nu' já não estar mais entre os vivos para escrever um segundo conto ambientado lá no Masp...

Afinal, desta vez ao menos, é o mesmo povinho que leva os filhos no colo, durante os carnavais, para assistirem 'mulatas' (a expressão aqui é mesmo para despertar choque) semi nuas ou nuas em pelo, rebolando e se arreganhando na passarela... E quem se choca???

Tudo bem que pela primeira vez cobriram a globeleza com um vestido...

Homem branco rebolando nu em pelo foi o que a Globo jamais cogitou por.

A simples imagem da mulher negra nua, pobre, favelada, sem oportunidade na vida... estar ali se arreganhando diante de um montão de machos caucasianos com seus filhinhos impecáveis nos colos, é tão perversa que me faz lembrar as velhas vitrines de zoológico em que colocavam tipos humanos primitivos.

Se é mulher, negra ou morena, pobre, etc rebolando em cima de uma garrafa pode, é bonito... Agora basta expor a nudez de um homem branco, simplesmente sentado num lugar fechado para produzir exasperação... Meu Deus onde estamos???

Ah mais haviam crianças lá....

Ok, mas foi a exposição realizada para esse tipo de público?

Quem levou? Quem são os responsáveis? Que pretendiam eles? São seus filhos???

E se os pais quiseram levar as crianças ao evento para familiariza-las com a nudez, segundo a opinião deles, o que você tem a ver com isto??? São seus filhos??? Então você quer total liberdade para educar e criar seus filhos, surrando-os com a vara ou espancando-os por qualquer motivo e para os outros pais liberdade alguma???

Digo isso porque criança alguma foi posta ali pelo produtor do evento ou raptada!

Estavam ali porque foram conscientemente conduzidas até aquele lugar pelo poder paterno que vocês tanto endeusam em causa própria.

Alias quando o menino Bernardo foi assassinado pelos pais após ter procurado ajuda, qual a exasperação de vocês??? NENHUMA???

Vejam a disparidade!!!

Claro que a lei bem poderia, e é alvedrio seu, fixar uma idade mínima para a assistência do evento. Agora proibi-lo pelo simples fato de contar com a exposição de um Nu, de modo algum, de forma alguma. Não existe nada, absolutamente nada no nu que cause dano ao outro e se alguém adota o ponto de vista contrário não vá a exposição, não compre 'Amar é', não manuseie material pornográfico as ocultas, etc Uma vez que aqueles que encaram a nudez com naturalidade ou como parte da vida assiste o direito de contempla-la livremente.

Mas a contemplação da nudez é um pecado ou uma imoralidade.

OPINIÃO SUA.

Não minha, nem de outros tantos milhões de cidadãos honestos e trabalhadores que não teem problema algum de aceitação com relação a seus corpos.

Agora se pensa assim conduza-se de modo coerente, ao invés de pretender comandar os outros porque ainda há cidadãos livres nesta porra dispostos a não se deixar comandar por gente autoritária e controladora como você.

Se a questão é as crianças, que a justiça estabeleça um limite de idade quanto ao acesso a tais eventos. Claro que todos os cidadãos e todos os pais deverão obedece-los, como você deve obedecer a lei menino Bernardo e cessar de espancar seu filho ou apodrecer na cadeia. Se a questão é a lei, comece cessando de educar seu filho com a vara de marmelo ou de tortura-lo.

Agora quanto a exposição e acesso a nudez, cidadãos adultos e maduros não precisam ser tutelados por zelosos moralistas de fancaria. Vão viver seu azedume e sua amargura sem importunar os outros!

Não pensem que estou defendendo, como os esquerdopatas sem causa, a dimensão artística deste nu ou deste exposição de arte moderna, a qual deploro como psicologista, relativista, subjetivista, estúpida, etc Não sou nem pretendo ser partidário dessa arte degenerada a que chamam de moderna, sou pelo clássico, decididamente. E em questão de nu prefiro uma Vênus de Milos.

A questão a ser ponderada não é repito, a dimensão artística da produção, a qual bem pode ser negada ou questionada. Não sou dos que iriam a uns exposição de arte moderna, mesmo para ver o Gianecchini em pelo, palavra não iria. O foco da questão é a nudez e a aceitação do próprio corpo, pressuposto absolutamente necessário para a construção de um personalidade normal, sadia e equilibrada. A negação do corpo, da nudez e da sexualidade é o ponto de partida para o desenvolvimento de uma série de neuroses e distúrbios psicológicos, e francamente este mundo já esta cheio de anormais e de seres sem consciência explorando a anormalidade alheia com propósitos financeiros...

Comecei lembrando das coleção 'Amar é' com o simples traçado de corpos nus lisos e tapados. E termino formulando a seguinte pergunta: Será que no Brasil de 2030 alguém terá coragem de criar algo semelhante ou de reeditar o velho 'Amar é'??? Eis uma pergunta aparentemente tola que demanda nossa reflexão urgente! Que rumo estamos tomando e como será o Brasil do futuro?