sábado, 6 de abril de 2013

O anarquismo de Murray Bookchin



Ontem eu li o opúsculo de Murray Bookchin: Comunalismo: uma dimensão democrática do anarquismo. Um livreto muito bom, o autor é claro e escreve num estilo de fácil compreensão bem diferente de certos marxistas e reacionários que acham que quanto mais complicado melhor.

O autor começa seu livro falando das definições de democracia, comunismo e anarquia que perderam seu real significado com o tempo porque esses termos foram adulterados por ideologias burguesas e totalitárias de esquerda, também o anarquismo sofreu uma distorção, mas não é de hoje, isso vem desde Max Stirner anarquista individualista. O anarquismo nasceu socialista, embora alguns tenham distorcido o conceito de anarquismo do mesmo modo que a democracia já não significa democracia, porque o poder do povo está nas mãos de uns poucos eleitos que são chamados representantes do povo.

Murray Bookchin critica esse anarquismo para adolescentes, esse passatempo para jovens alienados e que pretendem cultivar o ego acima de tudo ou transformar o anarquismo numa espécie de misticismo.

Noutra parte, Bookchin fala brevemente dos erros dos liberais (Adam Smith, David Ricardo, Stuart Mill) e também de Marx que em certo sentido partilhava desse erro, isto é, querer reduzir o social ao econômico. Bookchin desmonta a tese do livre-mercado mostrando que isso não existe, que os indivíduos não são livres porque são dirigidos pelas "leis inflexíveis do mercado".

É importante salientar que o autor em questão nutre uma profunda veneração pela democracia grega e diz que não podemos julgar o passado com os olhos de hoje, apontando os defeitos da democracia grega que eram os seguintes: estrangeiros não podiam participar da vida política, nem escravos nem mulheres. Mas isso, foi fruto do tempo e mesmo assim para a época esse foi um avanço tremendo porque no mediterrâneo essa parte do mundo era governada por reis, não havia cidadania. Bookchin entende que devemos estender essa democracia grega para nossas cidades e acabar com essa falsa democracia que é o governo representativo.

O autor tece duras críticas a certos grupos anarquistas que se dirigem pelo consenso, pois esses anarquistas acham que se uma maioria decide algo e um não acata, isso é uma tirania contra a minoria mesmo que seja a minoria de um só. Segundo o autor tudo deve ser discutido amplamente e a minoria tem o direito de falar e defender suas opiniões num debate exaustivo tendo até a possibilidade de reverter a situação a seu favor, mas terminadas as discussões todos devem acatar o que a maioria decidir. O consenso aponta para o individualismo, querendo que a sociedade seja dissolvida no indivíduo, mas esses indivíduos esquecem que são seres sociais e não podem existir enquanto pessoas sem a sociedade. O dissenso de acordo com Bookchin é bom e saudável para que haja troca de ideias caso contrário esses coletivos e sociedades não passarão de cemitérios ideológicos.

Para Bookchin a liberdade individual tem que estar sujeita à liberdade da sociedade, a liberdade de um não pode colocar um grupo em risco por causa de seus caprichos. Com isso a liberdade social não tem a liberdade de oprimir o indivíduo em questões particulares, ambas as liberdades devem se equilibrar para formar uma sociedade harmônica.