sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Cota

Um assunto muito polêmico é o que trata das cotas para negros em universidades ou em concursos.

Devemos nos inquirir qual é o fim das cotas, para que servem, caso queiramos ser coerentes.
Por isso a postagem abaixo segue os padrões de diálogo feitas por Platão.


- Mas dar cotas aos negros não é chamá-lo de burros?
- Quem diz isso é a burguesia. Os negros não são burros e precisam das cotas.

- Por que precisam das cotas?
- Para corrigir uma injustiça histórica. Pois os negros foram tirados à força de suas terras pela sifilização civilização cristã. Trabalharam como escravos até quase o fim do século XIX. Quando foram "libertos" pela "generosa" princesa Isabel. E quando os negros foram libertos graças à "benevolência" da princesa, eles não foram indenizados nem foram contratados por aqueles que foram seus senhores. Saíram das fazendas apenas com a roupa do corpo. E foram para onde? Para os lugares onde se encontram as grandes favelas, este assunto já foi tratado aqui com maestria pelo professor Domingos, aqui.
Toda injustiça tem que ser desfeita, isso chama-se satisfação. Os negros foram espoliados, roubados, enfim explorados, logo o sistema de cotas não é acepção de pessoas, como querem os idiotas. Não, o sistema de cotas não é um privilégio, mas justiça. Se essa injustiça tivesse sido corrigida ainda no império (que durou pouco mais de um ano após a abolição) ou nas primeiras décadas da república os negros não precisariam das cotas.

- Ah, mas os negros hoje tem as mesmas chances que os brancos, e além do mais tem brancos pobres.
- É mesmo? Não é isso o que diz o estudo da Dieese, pelo contrário afirma que os negros mesmo tendo a mesma escolaridade que brancos ganham menos. Então lhe pergunto: Que bosta de igualdade é essa? Se o salário é desigual entre negros e brancos, quanto mais o acesso à educação.

- O negro se estudar pode competir de igual para igual com o branco.
- Sei, com o branco que estuda no Objetivo, que estudou nas melhores escolasb e teve os melhores professores.
- Mas há brancos pobres, então por que cotas?
- Se fosse me provar que alguma vez na história do Brasil tivemos oficialmente escravidão branca, então eu mesmo serei contra o sistema de cotas. O que eu sei é que os negros não foram indenizados, não foram contratados com o fim da escravidão, pelo contrário os grandes fazendeiros contrataram italianos, e por mais que sofressem não eram escravos e não sofriam os preconceitos que os negros sofrem até o presente dia.
- Eu tenho olhos azuis e tenho ascendência negra, então eu tenho direito ao sistema de cotas?
- De modo algum.
- Por que?
- Você já foi chamado de crioulo, de macaco e de outros nomes ofensivos ao povo negro?
- Não. Então você não é negro. Além do mais diga-me, você seria escravo no século XIX no Brasil escravocrata?
- Não.

- Mas o sistema de cotas acirra ainda mais o racismo.
- Por que diz isso, acaso antes das cotas os brancos eram mais tolerantes com os negros?
- Não. Mas acho que vai piorar.
- Ah, vai piorar se corrigir uma injustiça e se ajudar que os negros realmente tenham direitos iguais.

- Mas isso é passado. Águas passadas não voltam atrás.
- Engano seu, a justiça não é baseada no presente mas no passado. Os tribunais não jugam o que acontecerá, ou o que acontece, mas o que aconteceu. Seguindo sua lógica, o casal Nardoni não deveria ser punido, uma vez que a morte da Isabela é passado, como se o crime tivesse deixado de existir. Essa sua lógica destruiria a justiça por inteira.
- E os judeus que sofreram na Alemana nazista não deveriam ser indenizados?
- E quem disse que não foram ou estão em vias de serem?
- Mas passado é passado.
- Quer dizer se alguém lhe assaltar você não vai prestar queixa, porque quando for fazer a queixa o assalto já será coisa do passado, certo?
- Não. Mas isso traz sérias complicações.
- E por trazer "sérias complicações" devemos deixar as coisas no pé em que estão e deixar a desigualdade reinar?
- Não, mas existem outros meios?
- Quais?
- ........

- Mas dar vagas para negros nas universidades não é chamá-los de incapazes, de incompetentes?
- Como disse acima os negros ganham menos que brancos, então significa que devem trabalhar mais que os brancos, sendo assim tem menos tempo de estudar, deve ser isso o que você chama de incompetência.
- Estou confuso e não sei o que pensar.
- Pense no que é certo, no que é justo e nada mais.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Marx não morreu!

Navegando pela internet e pesquisando ora sobre o grandioso Marx ora sobre o capitalismo encontrei alguns vídeos maravilhosos, sobre Marx e o marxismo.

O ator Fenton Wilkinson interpreta Karl Marx da obra do historiador Howard Zinn.

Vídeos para todos os que desejam entender a Marx e sua obra, para os que acham que entendem de marxismo e também para os fanáticos que acham que Marx é um profeta e sua obra uma espécie de revelação.





"Capitalismo Uma História de Amor" - Documentário de Michael Moore

Capitalismo Uma História de amor é um documentário fascinante de se assistir. É um vídeo obrigatório para quem é educador, para quem se preocupa com os destinos de sua nação e do mundo, um vídeo obrigatório para cientistas, religiosos e ateus. Enfim um vídeo para quem gosta de filosofia, para quem gosta de questionar porque as coisas são como são.

Já assisti ao vídeo e realmente a sagacidade de Michael Moore suscita cada vez mais minha admiração por sua pessoa e obra. Quem assistiu Farenheit 9/11 e Sicko sabe do que estou falando.

No que documentário que o leitor irá assistir poderá ver como Moore desmascar o capitalismo e mostra que o verdadeiro terrorismo é aquele que é produzido pela burguesia reinante. Mesmo não sendo marxista ele dá uma lição sobre economia, creio eu, que se Marx fosse vivo, recomendaria este filme para quem quisesse entender o que é o capitalismo e como funciona.

Um tema tratado por Moore é o cristianismo, ele mostra que a burguesia adulterou a mensagem de Cristo, Moore procura alguns padres e estes lhe mostram como o capitalismo é avesso ao cristianismo. Moore ainda faz uma sátira a caricatura de Cristo inventada pelos fariseus hipócritas que são os burgueses.
Não vou dissertar mais sobre o filme, assista o leitor e conclua de per si, como disse Jesus: "Quem tem ouvidos, ouça".
__________________


Disclose.tv - Capitalismo - Uma História de Amor_1-2 Video




Disclose.tv - Capitalismo - Uma Historia de Amor_2-2 Video

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Vote Tiririca pior do que tá não fica.



Eu não acreditaria se não visse o vídeo. De Gaulle tinha razão quando disse que "O Brasil não é um país sério". É por isso que muita gente não gosta de política, porque transformaram a política em politicalha. E o horário político que deveria ser sério se torna um show ora religioso ora leviano com humoristas falidos.

Um partido que aceita Tiririca como candidato é um partido de merda 5ª categoria, que já disse nas entrelinhas a que veio. O partido que o aceitou é o Partido da República que é uma fusão do antigo PL e do PRONA, mas a ideologia do partido continua sendo a do Partido Liberal. Tinha que ser da direitalha!!!

Claro que um partido que aceita um candidato inepto como o sr. Tiririca, não tem compromisso nenhum com a nação. O candidato a deputado federal confessou a sua ignorância ao dizer: ""O que faz um deputado? Eu não sei! Mas se você votar em mim, eu descubro!".

Se o Tiririca for eleito, então tenho que dar razão a frase atribuída a De Gaulle.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Diágoras de Melos

Diágoras de Melos é um vulto da história da filosofia que me fascina, era ateu, mas sabia como combater o fanatismo. Não é como muitos desses ateus que tem faniquitos fazendo do ateísmo a religião dos sem deus. Quem escreve esta postagem é um cristão ortodoxo copta mas que é marxista e evolucionista, que aceita a ciência e que não vê no que a fé cristã possa ser incompatível com a ciência, até porque se assim fosse, Dobzhanski teria abandonado a Igreja Ortodoxa, uma vez que era cristão ortodoxo russo. E Ernst Mayr disse sobre Dobzhansky: Vocês sabiam que Dobzhansky, que eu considero o maior evolucionista do século passado, se ajoelhava e rezava para Deus à noite, antes de dormir? Mas não é dele que eu quero tratar, mas de Diágoras de Melos.

O filósofo de quem eu vou falar viveu no século V a.C, era um verdadeiro pedagogo. Certa vez levaram-no a um templo e um homem lhe disse: "Veja Diágoras essas imagens são os ex-votos daqueles que escaparam dos naufrágios, aqui eles cumprem o que prometeram aos deuses. Replicou o pensador: Gostaria de ver os ex-votos dos que morreram afogados, pois no auge do desespero acredito que fizeram votos para salvar-se".

De outra feita fez lenha com uma imagem de Héracles (Hércules) e disse: "Eis o décimo terceiro trabalho de Héracles, cozinhar nabos para Diágoras".

Diágoras não negou abertamente a existência de Deus ou de deuses, mas deu a entender que se existem não se preocupam conosco. E ainda mostrou que os que morrem em desespero fizeram a mesma coisa que os sobreviventes.

Quando ele fez lenha com a estátua de Hércules, foi apenas para mostrar que não existem imagens milagrosas, pois se assim fosse, ele deveria ter sido fulminado pelo pai dos deuses: Zeus. Bom como cristão, eu venero ícones, mas não acredito em ícones milagrosas, elas são como quaisquer objetos e estão sujeitas as leis naturais, mas venero ícones pelo que representam para mim, assim como uma fotografia de minha falecida mãe, representa a que amei (e que ainda amo), mas como objeto não tem valor e nem é portador de milagres. Eu mesmo acho que os ícones ditos "milagrosos" deveriam ser destruídos para que assim sejam destruídas as superstições das pessoas.

Não sei se Diágoras tinha a intenção de levar o povo ao ateísmo ou se queria que a religião fosse mais próxima da realidade possível, todavia creio que o seu ateísmo é uma ajuda para todas as religiões, ajuda para que se tornem moderadas. Creio que algumas críticas dos ateus são válidas e mesmo que as suas intenções sejam outras, as religiões podem fazer o seu mea-culpa e seguir pelo caminho do equilíbrio.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Católico não vota em Dilma




Católico não vota em Dilma é o que se vê nas redes sociais como o Orkut Mas por que católico não vota em Dilma? Por que ela vai instaurar a perseguição religiosa? Não, não vai. Por que ela vai oprimir os pobres com os quais Jesus Cristo se identificou? Não, necessariamente. Então por que cargas d'água católico não vota em Dilma? Porque ela é favorável ao aborto.

Então para os católicos basta o candidato ser contra o aborto que ele é bom candidato, mesmo que desvie verbas públicas, mesmo que tenha uma política excludente, mesmo que deixe a maioria da população na miséria. Tudo isso pode o político, o que não pode é ser pró aborto.

Eu sou contra o aborto, exceto em caso de anomalias ou em caso de perigo de morte para a mãe. Mas eu não posso me espelhar em mim, pois não sou "a medida de todas as coisas", é o povo quem deve decidir a esse respeito.

É um pensamento tacanho não votar em Dilma porque ela é pró aborto, como se isso mudasse os rumos da nação. Os catoliquitos se posicionam contra o aborto não porque entendam que isso é um crime, mas porque a instituição (igreja) condena e excomunga os pró-aborto. Esses antiabortistas nem tem argumento para defender sua posição. São contra pelo simples fato de que o papa é contra, os cardeais e bispos são contra, logo são contra também.

Os catoliquitos preferem votar no José Serra que não se posicionou a favor do aborto, entretanto tem uma política excludente, neoliberal, que manda bater em professores, que reprime greves, que foi contra os direitos do trabalhador na constituinte de 1988, etc..

Ora, não veem esses alienados que se um não abortista se elege, não significa que deixará de existir o aborto? Pelo contrário, sendo Serra um neoliberal, os abortos clandestinos aumentarão, por causa do desemprego e da miséria ao qual ficará exposto grande parcela da população brasileira.

Esquecem-se esses fanáticos não passam de meia dúzia de gatos pingados que a nação brasileira ainda é majoritariamente católica, e que será a maioria dos católicos quem mui provavelmente elegerá a Dilma. então, como explicam esses senhores que católicos não votam em Dilma? Insatisfeitos com o Brasil? Catoliquitos tradicionalistas, o Vaticano os espera!

Do tempo no horário eleitoral gratuito

Dizem que vivemos num país democrático, mas não acredito nisso. Vivemos sim, num país plutocrático, plutocrático pois quem manda e desmanda nesse país são os donos do capital. A democracia no Brasil é uma farsa, e essa farsa se mostra a pior ditadura ao fazer o povo crer que vive numa democracia. Não temos nem liberdade, nem igualdade e muito menos fraternidade, que eram os ideais da Revolução Francesa.

Diz-se que aqui no Brasil todos são livres e que há igualdade. Então vejamos se isso é verdade mesmo.
Um exemplo fácil de ser demonstrado e que desmonta a falácia da democracia é o horário eleitoral gratuito. Os presidenciáveis terão tempos diferentes para expor seus projetos. Não são todos presidenciáveis? Não são todos iguais? Sim, são todos iguais, "mas alguns animais são mais iguais que os outros". Os que candidatos com maior tempo poderão seduzir de forma mais eficaz os seus telespectadores, poderão persuadir seu público. Essa oportunidade (tempo maior) não foi dada aos candidatos "nanicos", como bem demonstra o artigo do Congresso em Foco.

É evidente que o tempo influencia, pois o telespectador será bombardeado por muito mais tempo pela Dilma e pelo Serra do que pelos outros candidatos que tem um tempo irrelevante. E que pode fazer um candidato à presidência da república com 55 segundos de tempo na televisão? Como se vê é uma luta covarde e desigual. Com menos de um 1 minutos os candidatos não tem como apresentar seus projetos. Cadê a democracia da justiça eleitoral?

São 9 candidatos à presidência e o eleitor teria liberdade de escolha se o tempo fosse dividido igualmente entre eles, mas na verdade o eleitor não tem a liberdade de escolher, ou melhor, sua liberdade foi reduzida a escolher entre o pior (José Serra) e o ruim (Dilma).

A igualdade entre os candidatos se resume a um mero blá blá bla e a liberdade do eleitor é uma ficção.  Aí depois veem os demagogos e falam que Cuba é uma ditadura e que lá não há liberdade. Não! Liberdade temos aqui no Brasil!!!

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Lição como castigo

A escola é vista pelos alunos como um lugar de torturas mentais, a impressão que se tem lá, é o que o tempo para. São 4 horas de estudos que parecem ser 8 ou 12. Mas se a escola é vista desse jeito é porque a escola é de fato assim. Fila para entrar, fila para ir ao recreio, fila para voltar, ficar sentado durante quase 4 horas, não conversar, responder a chamada, e o mais importante fazer as lições.

Os professores via de regra veem as cópias e as lições intermináveis como uma forma de castigo, e isso é triste. As lições deveriam ser motivo de prazer. Quando uma certa turma é bagunceira o professor põe-se a encher a lousa de exercícios ou manda que seus alunos copiem várias páginas do livro didático, para que possa desse jeito conseguir o silêncio de seus alunos.

Tenho visto, vários deseducadores professores, orientadores e diretores fazer esse discurso, que se a classe é bagunceira tem que "meter lição na lousa" e que se "vier aluno em véspera de feriado vai escrever até a mão inchar, assim da próxima vez ele não aparece na escola". Com isso os professores demonstram que a escola é um lugar de tortura, que alunos são bem-vindos e que os professores não gostam ou não sabem ensinar.

É por isso que os alunos não gostam de aprender, porque os professores lhes mostram a lição não como prêmio, mas como castigo. O discurso dos professores em geral é este: "Baguncem, pois aí vou encher a lousa de lição".

Como queremos ter alunos motivados se nós mesmos os desmotivamos? Se nós lhes mostramos que estudar é chato e ruim, e só merece fazer lição quem bagunça muito? Triste, não?

sábado, 7 de agosto de 2010

Trepadinha rápida no elevador

Do elogio e da gratidão

Quando acertamos, ninguém se lembra. Quando erramos, ninguém se esquece.


Este ano meus colegas de trabalho e eu tivemos dificuldades em lidar com um aluno de um 6º ano. O aluno em questão era indisciplinado, praticava bullying, tinha baixos rendimentos e faltava muito. Esse aluno foi advertido várias vezes e sempre apresentou um comportamento rebelde. A diretora e todos os professores desse aluno se reuniram com a mãe, estando o aluno presente, e posso garantir que o aluno foi bombardeado por todos os professores, não tinha um professor que não tivesse queixa. A mãe, é claro, ficou desolada.

Depois da bronca coletiva que o garoto levou, ele ficou quieto, melhorou e isso aconteceu antes do recesso escolar (férias). Eu tinha notado que esse aluno tinha melhorado antes das férias e que após as férias, ele era outro, não bagunçava, respetava os professores e mais, participava das aulas. Fiquei contente e o elogiei, e o incentivei para que continuasse assim, o garoto ficou feliz pelo elogio e pelo incentivo.

Como a mudança operada nesse aluno já tinha algum tempinho, resolvi procurar a coordenadora pedagógica e contei o que estava acontecendo com o aluno, então aproveitei a oportunidade para pedir à coordenadora que chamasse a mãe do garoto, não pra que levasse bronca, mas para que fosse parabenizada e o seu filho fosse elogiado.

A coordenadora foi até a sala do aluno e contou para ele, que eu o tinha elogiado e que tinha chamado a sua mãe, o garoto só faltou explodir de tanta felicidade.
A mãe veio à escola e a coordenadora pedagógica e eu conversamos com ela, e como eu havia apostado com meus botões, a mãe iria tratar melhor o filho e o mesmo, iria melhorar ainda mais.
No dia seguinte o aluno me contou que sua mãe havia feito um bolo e conversou muito comigo, eu o havia conquistado.

Só fiquei triste porque somente eu, o elogiei, o parabenizei e o agradeci por colaborar com seu comportamento e participação nas aulas. Os outros professores só massacraram o aluno sem dó nem piedade, mas quando ele acertou, só eu percebi. Isso me lembra aquela passagem do evangelho no qual Jesus cura dez leprosos, mas somente um volta para agradecer. Prefirimos ver e criticar o erro alheio do que elogiar as ações boas e certas. Mas aonde eu quero chegar? Chegar na transformação das pessoas através do amor e da compreensão, eu creio que o amor, a compreensão pode transformar as pessoas.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Cognição e afetividade

O médico Henri Wallon demonstrou mais que suficientemente que a aprendizagem está ligada ao afeto. Como professor/educador tenho isso bem claro, mas os sistemas de ensino, não. Eu sou professor contratado e tenho minhas turmas que ano que vem não serão minhas, e se continuar como contratado, pegarei novas turmas com as quais não tenho nenhum vínculo.

É duro para um(a) professor(a) construir um vínculo quase durante um ano inteiro e quando chega no ano seguinte, ele(a) perde seus alunos para outro(a) professor(a), assim como o(a) outro(a) professor(a) perdeu seus alunos.

Tudo o que foi construído a duras penas, com sacrifício é desfeito num piscar de olhos. Todo o esforço do professor foi por água abaixo. E aí no ano seguinte tem que começar tudo de novo, a partir do zero. E quando este vínculo está começando a ser construído, chega o fim do ano e ele é destruído.

E essa situação não acontece somente com professores contratados, mas também com efetivos. Porque certos professores estão mais interessados em ter um melhor horário do que ter vínculo com seus alunos, ou pode ser o caso que a turma mude de horário e aí os professores não podem continuar a acompanhar o progresso de seus alunos.

Se a escola pública com toda essa lenga-lenga das SEDUCS da vida, ou das Diretorias de Ensino, realmente quisessem revolucionar o ensino, a primeira coisa que fariam é obrigar os professores a terem vínculos com seus alunos. Pois a convivência entre professores e alunos, cresceria e ao fim do ciclo, professores e alunos seriam amigos, mais ainda, uma segunda família.

Se os professores (PEB II - Ensino Fundamental II) pudessem pegar turmas de 6ºs anos (antigas 5ª séries) até os 9ºs anos (antigas 8ª séries) criariam vínculos afetivos com seus alunos, eles conheceriam as vidas e as realidades de cada um de seus alunos e saberiam como lidar com cada um. Mas isso é impossível, durante um ano letivo, impossível por causa desse troca-troca de professores, pois os alunos sempre veem os professores como seres distantes, como estranhos e quando começam a ver como amigos, tudo se desmancha como um castelo de areia derrubado por uma onda.

O vínculo afetivo não é construído em 10 meses, leva tempo. Mas os sistemas (des)educacionais pouco se importam, pois esses pedagogos de gabinetes, esses secretários de educação, provavelmente nunca tiveram em uma sala de aula.

Com o vínculo afetivo, haveria menos violência nas escolas, haveria menos indisciplinas, pois os alunos veriam sempre os professores como uma espécie de familiares. Agora, digam-me como os alunos respeitarão os professores que vêem num ano e no outro ano não?