segunda-feira, 19 de outubro de 2015

A democracia, as revoluções e a cultura - Tréplica: Resposta ao professor Fernando

Essa tese é a tese de Marx que acredita que a revolução aconteceria nos países industrializados pela pauperização de quase todo o povo, acreditava que o capitalismo se destruiria por si mesmo graças as condições históricas mas se assim era por que Marx escrevia, por que participou da AIT? Por que seus discípulos formam partidos? Por que querem implantar a revolução à força? Se a história é a protagonista da própria história, onde fica a liberdade dos indivíduos? Somos então joguetes desse ser deificado pelos historicistas?  Se o sr. Domingos acredita mesmo nos processos históricos por que ataca com tanto afinco o islamismo e o neo-pentecostalismo? Ele não entende que são as condições históricas que vão destruir o fanatismo religioso? Que ele nada pode com seus discursos e escritos? Não compreende que não pode avançar na história? Pois é, ao criticar o fanatismo religioso do islã e neo-pentecostal ele cai em contradição é o caso aqui em que o Domingos hegeliano-marxista refuta o Domingos polemista sem que eu precise refutá-lo.

Ao identificar-me com os deterministas mecanicistas ou marxistas ortodoxos comete o profo Fernando erro capital.

A menos que o nobre colega seja escravo de um pensamento binário para o qual existem apenas os extremos do materialismo mecanicista e do idealismo revolucionário. Não posso cre-lo...

Sabe muito bem que existem uma terceira via ou um grupo não alinhado.

O dos possibilistas, condicionalistas ou realistas.

O qual opõem-se tanto ao materialismo mecanicista que ignora a ação da pessoa humana, quanto ao idealismo revolucionarista, que ignora as condições materiais dadas pela cultura.


O realismo busca conciliar os dois fatores: das condições dadas pela História e da livre iniciativa do homem.

Merecem os marxistas ortodoxos ser reprovados com absoluta justeza por apresentarem o ser racional como um joguete nas mãos da natureza ou do processo histórico, contra o qual nada pode.

Menos reprovação não merecem aqueles que acreditam no poder ilimitado da vontade humana, especialmente da vontade individual e que é dado a indivíduos ou a pequenos grupos de pessoas mudar RADICALMENTE o curso da História. Os extremos se tocam, o vício é o mesmo, o veneno é idêntico... Uns nada concedem ao homem: os deterministas; outros tudo concedem ao indivíduo ou a pequenos grupos: os voluntaristas ou idealistas.

Não estou com uns nem com outros.

Como Vidal de La Blache e Toynbee não me alinho...


Estes homens geniais apontaram que a grande civilização que veio a aflorar na antiga Grécia constituiu-se devido a dois fatores:

- O elemento material ou condicionante natural que foram os portos e montanhas.

- A existência de uma comunidade dinâmica.

Assim se haviam algumas outras Penínsulas semelhantes, estas não serviram se suporte a civilizações tão brilhantes por falta de um elemento humano ativo ou dinâmico.

Agora tampouco poderíamos prescindir dos portos e montanhas ou do condicionante material em termos de civilização grega.

Estamos portanto diante de uma interação dada entre o elemento material ou condicionante e o elemento humano que é a causa eficiente.

E NÓS NÃO ATRIBUÍMOS AO PROCESSO HISTÓRICO O PAPEL DE CAUSA EFICIENTE!!!

Os mesmos mestres citam ainda o exemplo da Revolução industrial.

Aqui temos mais uma vez diante de nós:

- O elemento material ou condicionante natural que são as reservar de carvão.

E os elementos imateriais, ideais ou humanos:

- O capital primitivo ou de reserva, que remonta a expropriação das propriedades eclesiásticas pelos burgueses e nobres durante a reforma protestante e o éthos individualista alimentado pelo mesmo movimento religioso.

Fosse o solo inglês pobre de carvão de que modo teríamos uma Revolução industrial sem combustível?

No entanto se o carvão fosse por si só suficiente para determinar a dita revolução, por que cargas dágua são sucedeu simultaneamente no Reno, entre a França e a Alemanha?

Simples: porque os elementos humanos ou culturais eram outros.

O que queremos dizer é que os dois fatores precisam encontrar-se e interagir i é agir juntos: o material ou histórico/cultural, que é o condicionante e o humano ou volitivo que corresponde como já dissemos a causa eficiente.

Não negamos o poder da ação humana DENTRO DOS LIMITES DADOS PELA CONDIÇÃO MATERIAL. O homem inserido no processo histórico e em comunhão de sentido com ele PODE SEMPRE FAZER ALGO, mas não pode fazer tudo ESPECIALMENTE QUANDO SEPARADO DOS OUTROS HOMENS.

Nem preciso dizer que os grupos humanos quanto maiores são mais força tem no sentido de imprimir mudanças ao rumo da História. Uma coletividade, um povo, um sociedade enquanto forças conscientes que visam determinado objetivo podem atuar fortemente.

O mesmo no entanto não se dá com a ação isolada de individuos ou pequenos grupos, cuja ação será sempre menos impactante. Individuos isolados não mudam o mundo material segundo critério da vontade.

É quanto negamos: a ideia de um poder mágico emprestada a ação de indivíduos ou elites. As forças que alteram a História dentro de certos limites são sempre sociais e coletivas.

De fato eu não creio em qualquer tipo de solução atual, rápida, breve, mágica ou radical face ao fanatismo religioso.

É produto do processo histórico e resíduo cultural suja gênese já apontei no artigo anterior.

Tais fatores são culturais e só podem ser combatidos a longo prazo numa perspectiva educativa ou educacional.

Precisamos em comunhão com o processo histórico, alterando os princípios e valores, produzir uma cultura não fanática ou não teocrática.

Do contrário lei alguma, exército algum, polícia alguma, poder ou força alguma em termos materiais logrará conter os fanáticos e impedir a edificação da Sociedade teocrática.

Jamais sustentei como os Césares ou com Diocleciano que as crenças religiosas, o fanatismo, o éthos teocrático poderá ser contido ad infinitum pelo poder das armas...

Por isso tenho preconizado ações pedagógicas ou educativas contra os fanáticos religiosos e não ações revolucionárias, violentas ou truculentas.

Se queremos ser radicais atingindo a raiz dos fenômenos temos de chegar a cultura, a produção da cultura.

Acreditar que qualquer elemento da cultura material possa conter um fenômeno que diz respeito a esfera da cultura imaterial ou ideal presente no imaginário das massas equivale a clamoroso absurdo.

A bem da verdade estou consciente quanto a nulidade de meus esforços, caso não encontre apoiantes.

O que busco antes de tudo é expandir a consciência social apontando as possíveis causas do problema e propondo algumas soluções.

Mas não me iludo acreditando ser 'salvador' de qualquer coisa...

Redenção é processo cultural que se dá no coletivo. Limito-me a fazer minha parte tornando esta percepção coletiva.

Antes de tudo exerço proselitismo ideológico.

Estou fazendo uma mera tentativa... talvez de conter apenas o desenrolar de um processo inevitável.

Neste caso nossa civilização será aniquilada pelo desenvolvimento e afirmação da cultura teocrática, tal e qual a antiga Roma foi aniquilada pelo processo de produção escravocrata, pelo Cristianismo e pelo advento dos povos germânicos.

Caso as críticas que assumimos e fazemos nossas - a respeito do capitalismo - não sejam ouvidas e levadas a sério que futuro devemos esperar?

Talvez estejamos apenas prolongando a agonia da civilização ou protelando o fim de um moribundo ligado a aparelhos...

É possível, pois ignoramos o impacto que nosso discurso causará no corpo social e as atitudes que este corpo social haverá de tomar futuramente.

O que esperamos é justamente isto, que nosso diagnóstico seja abraçado por um número cada vez maior de cidadãos até ganhar força social e se ganhar força social, produzir algum efeito.

Uma vez que nossa analise parte do concreto temos viva esperança de que encontrem favorável acolhida entre outras mentes brilhantes e corações honestos. Se vierem, um dia, a nortear o comportamento das massas e da sociedade, certamente auxiliarão no sentido de embargar ou conter o processo de degeneração social porque passamos.

Se escaparemos a esta grande crise é o que não sabemos.

Nós acreditamos sim que HOMENS UNIDOS E EM COMUNHÃO SOCIAL, possam ser agentes do processo histórico e até determina-lo dentro de certos limites impostos pelo meio material e cultural.

Não cremos que o homem, especialmente quando associado a outros homens por meio de ideais, seja prisioneiro do meio material ou da cultura.

Mas também não cremos que indivíduos isolados possam definir ou guiar os rumos da humanidade. Não cremos que indivíduos 'sensacionais' possam mudar o curso da História. Não cremos que a História seja feita por um conjunto de homens geniais...

E por isso não cremos nesses grupinhos de revolucionários ou contra revolucionários elitistas que com armas nas mãos acreditam poder alterar radicalmente a realidade vivida.

Cremos no poder da educação. Sobretudo quando exercido sobre as coletividades ou massas humanas.

Estamos portanto longe dos dois extremos:

Dos marxistas que nada concedem a vontade humana.

E dos idealistas e voluntaristas que tudo concedem a vontade individual ignorando os condicionantes históricos.

O homem nem é prisioneiro nem é completamente livre, é uma possibilidade... e tanto mais forte é esta possibilidade quanto homens movidos pelos mesmos princípios e valores atuam conjuntamente. Aqui a vontade humana, numa dimensão coletiva, ganha força.

Cremos em transformações radicais, que toquem a raiz da cultura e não em soluções superficiais como armas, bombas, munições, etc...

O que não atinge o imaginário comum da humanidade não altera radicalmente a realidade.

Ps Os protagonistas da História são os homens unidos ligados pelas mesmas crenças, motivos, aspirações... são as organizações humanas por meio das quais os cidadãos atuam conjuntamente.

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