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domingo, 19 de março de 2023

Psicologia, psicanálise, Freud e a questão da multiplicidade de existências - Reflexões sobre a obra de Hermínio C Miranda 'A memória e o tempo' Edicel 1984 - Parte VIII



 Parapsicologia e Epistemologia



            Agora imaginem os leitores - Se o advento da autêntica Psicologia (James E Dittes sequer precisou ser genial ao relacionar Thouless com Freud - Embora pudesse relaciona-lo do mesmo modo com Wertheimer, Kohler, Koffka e toda Psicologia profunda.) espantou os ideólogos materialistas, imaginem então a aparição de um conhecimento precipuamente empírico ou experimental... 

            Foi essa nova área do conhecimento cognominada Psicologia supranormal por Enrico Morselli, metabiologia ou psicobiofisica por F Cazzamali, Metapsíquica pelo prêmio Nobel Charles Richet e enfim Parapsicologia por Max Dessoir com o posterior Placet de J B Rhine. 

            
Vejamos agora em que circunstâncias surgiu. Pois por si mesma é a História da Parapsicologia bastante curiosa.

             Ao que parece o interesse por esse tipo de fenômenos e investigações foi acionado pelo  austríaco Franz Anton Mesmer um dos pioneiros quanto a exploração de certas técnicas de controle ou manipulação psicológica como a auto e a hétero sugestão, esta última por meio do sono hipnótico.
             

             Do quanto realizou esse Mesmer podemos dizer que parte dos fenômenos ou resultados obtidos eram reais e que a etiologia em questão veio a receber posteriormente o nome de Psicosomatose. Quiçá houvessem também alguns fenômenos parapsicológicos por assim dizer residuais. 

               Já em 1778 Mesmer solicitou que as curas por ele realizadas fossem verificadas pela Sociedade Real de Medicina de Paris, obtendo a negativa por meio de seu diretório. Contrariando o princípio científico do exame os sábios recusaram-se a examinar o que Mesmer - Supondo um fluído sutil. - cognominava Magnetismo animal. Mesmo assim ele recorreu a diversas outras instituições, obtendo sempre a mesma resposta: Os cientistas recusavam-se a ir contra os princípios admitidos e assumindo uma postura dogmática recusavam-se a investigar. Devo dizer que o mesmo se havia sucedido em Viena. 

                Afinal eram os tempos em que os materialistas De Holbach, Clothes, Helvetius, Cabanis La Metrie pontificavam na França. 

                Por fim a 18 de Setembro de 1780, a Faculdade de medicina de Paris, em sua Assembléia geral, repudiou as opiniões de Mesmer com animosidade e desdém, chegando inclusive a excomungar o Dr D'Eslon, por se haver discípulo seu. Redarguiram os apoiantes de Mesmer acusando os adeptos da medicina tradicional de terem condenado o curandeiro austríaco apenas porque ameaçava tirar os pacientes ou clientes que não conseguiam curar. Stengers, 1995 fala numa estratégia de desqualificação.

               Finalmente em 1784 uma Comissão da Academia de Paris, nomeada pelo próprio Rei e formada por Bailly, Sallin, Borie, D'Arcet, Le Roy, Bory, Lavoisier, Francklin e Guillotin repudiou a tese dos fluídos - Porque não era perceptível aos sentidos humanos, dizia Bertrand já em 1826 - Mas reconheceu a sugestão. Da mesma maneira a Comissão da Sociedade Real de Medicina - Composta por Poissonnier, Caillie, Mauduyt, Andry Jussieu
 repudiou a existência dos fluídos - O grande Jussieu o entanto admitiu as curas e relatou situações de hiperestesia ou mesmo de telecinesia corporal. 

                  Temos aqui que, por primeira vez na História das ciências, o reconhecimento oficial de um fenômeno psico somático produzido pela sugestão - Tal o veredito do redator Bailly: "É a imaginação, essa potência ativa e terrível, que opera os grandes efeitos que se observa com espanto nos tratamentos físicos." (1826/2004a ps 111 e sg)


               Por sinal o fato de que as origens mais remotas da Psicologia e da Parapsicologia remontem a figura controvertida de Mesmer - O qual, segundo algumas fontes, veio a tornar-se charlatão. - tem servido como motivo para os positivistas ou cientificistas argumentem contra ambas e repudiem a cientificidade delas. 

                Esqueceram-se esses péssimos estudantes de História que a origem da Astronomia foi a astrologia, que a origem da Química foi a Alquimia e que a origem da medicina foi o embalsamamento de caráter religioso ou o curandeirismo - Sem que qualquer uma delas deixe de ser Ciência, de modo que a origem de uma Ciência ou área do conhecimento é absolutamente irrelevante.

                 Tornemos porém a Mesmer. Pois os fenômenos obtidos por ele principiaram a ser estudados seriamente pelos idos de 1807 pelo Sr Mqs de Puysègur na monografia "Du magnétisme animal..." a qual se seguiram mais quatro publicações. 

                               Segundo o historiador Henri Hellenberger "Puységur foi um dos grandes contribuidores esquecidos para História das ciências psicológicas." (1970, p 72) Pois reconheceu como principal agente do mesmerismo a vontade do magnetizador. Ele estudou o sonambulismo juntamente com Deleuze, o qual testemunhou sua gratidão para com ele no prefácio de uma de suas obras editada em 1825 sic - (1826)

               Já em 1813 são editados as "História crítica do magnetismo animal" Mame, Paris - 2 Volumes do naturalista François Deleuze, o qual em 1834 editou umas memórias "Sobre a faculdade da previsão"  talvez o primeiro estudo sério sobre a pre cognição e portanto o primeiro estudo na área da Parapsicologia, matéria que até então - Por polêmica que era. - ficará a margem daqueles estudos.


               Em 1818 o Dr Martorelli, auxiliado pelo Barão Du Potet realiza a primeira extração dentária indolor em paciente hipnotizado e experimenta diversos outros procedimentos dolorosos sem que os pacientes sintam mínima dor.

               Já em 1821 são os estudos em matéria de Psicologia retomados com toda força pelo futuro presidente da Academia Real de Medicina, Henri. Marie Husson, Alexandre Bertrand J C Anthelme Recamier - Com Du Potet e Robouam - assistidos por outros trinta médicos. Esses relatos de experiências são frequentemente encontrados em diversos livros de Psicologia, destinados a exemplificar a psico somatose. Como resultado dessas pesquisas Bertrand publica, em 1823, o "Traité du sonambulisme et des différentes modifications qu'il presenté" foi este sucedido pelo "Êxtase" editado três anos depois i é em 1826. - Tais os primeiros estudos verdadeiramente científicos sobre esses fenômenos até hoje postos em dúvida por alguns opinões. 

                 Nas décadas seguintes Du Potet foi interessando-se cada vez mais pelos fenômenos estranhos ou pela Parapsicologia, isso a ponto de - A exemplo de muitos outros como: Nus, Mirville, Vesme, Figuier, Grasset, etc - propor uma História natural da magia. 

                  Em 1837 G P Billot publicou suas investigações e sua correspondência com o citado Deleuze. 

                   Aqui um importante aparte, pois convém observar que o arguto Schopenhauer opinou ter sido a descoberta de Puységur uma das descobertas mais importantes para a História das ideias humanas. 

                   Do outro lado do Reno tais investigações principiaram quando, em 1830, o médico alemão Justinus Kerner, publicou - No livro intitulado "Die Seherin Von Prevorst..." (A vidente de Prevorst.) - um estudo de caso (Feito desde 1825) sobre os fenômenos estranhos que acometiam a sonambula Frederica Hauff. Foi seguido pelo Barão de Riechenbach o qual publicou seu relatório sobre os fenômenos estranhos em 1845.

                    Até aqui a maior parte das explicações propostas eram de teor naturalista embora, não materialista e giravam em torno de um suposto magnetismo, da força Od ou ódica, etc 

                     Quase que imediatamente após a fase mesmérica ou magnética -E cerca de trinta anos após as primeiras investigações na área da Psicologia e da Parapsicologia. - inaugurou-se a assim chamada fase espírita, ainda que não doutrinária. (Pelo simples fato de ser anterior a Edmonds e a Kardec). Começou ela no ano de 1848, em Hydesville (EUA), com as irmãs Fox. A princípio eram apenas umas batidas que correspondiam a Sim ou Não. Posteriormente o sr David S Fox associou o alfabeto a tais batidas, o que corresponde a origem mais remota do tabuleiro de ouija.

                        Cerca de 1849, pelos idos de Novembro, principiam as mesas a dançar, dando início a uma nova fase a das 'Table moving' ou Tables tournantes', as quais não tardaram a ser investigadas por Mirville, Roubaud, Thury, Chevreul, Babinet, Faraday, Baragnon, Gentil, De Gasparin, Eugène Nus, Guldenstubbé, Forni, Pellegrini, D'Ourche, Mapes, Hare, R N Wallace, A Morgan, F C Varley, Barkas, Chambers, Gully, Chevillard, Vacquerie, Mme Girardin, Victor Hugo, Owen, Sardou, etc

                     
A esse tempo, apesar da atribuição de tais eventos a ação de espíritos desencarnados e da existência de mensagens, era o espiritismo adoutrinário. Principiando a doutrina a ser criada no ano de 1853, ocasião em que o juiz W Edmonds juntamente com T Dexter publicam a obra intitulada 'Spiritualism' em N Y. Apenas quatro anos depois (Em 1857) Allan Kardec publicou o seu 'Le livre des spirits.' em Paris. Na verdade tanto Edmonds quanto Kardec foram precedidos por Andrew Jackson Davis ('Livro dos espíritos' 1848) L A Cahagnet ('Vida futura, arcanos desvelados' 1848) - 

                      A partir daqui é importante estabelecer aqui uma preciosa distinção - Naturalmente que os pesquisadores ou investigadores: Sejam eles metapsíquicos ou espíritas estão de acordo quanto o óbvio i é quanto aquilo que é sensível, manifesto ou empírico: A realidade dos fenômenos ou se preferem - Na expressão de Amadou (Da parte dos parapsicólogos) - ao menos de alguns raros fenômenos que fogem ao que comumente chamamos normalidade. Divergem porém, via de regra, quanto a explicação etiológica ou causal dos mesmos, pois enquanto os espíritas postulam - Acriticamente - quase sempre a intervenção de um agente espiritual ou espírito desencarnado, os parapsicólogos - Por vezes, acriticamente, como o Pe Quevedo SJ - postulam a suficiência de poderes ou forças mentais i é a uma origem natural (Naturalista).

                         Há no entanto preciosas exceções -
                         

                         Assim o profo Whately Carrington de Cambridge, após ter realizado as primeiras investigações sobre telepatia com desenhos que demonstraram a realidade da pre cognição, veio a admitir, por inferência lógica, a sobrevivência post mortem. Assim o extremamente crítico e exigente Harry Price concluí pela mesma hipótese, sugerindo inclusive a possibilidade de que tais mentes possam possuam as mesmas capacidades que possuíam em vida, sendo portanto capazes de influenciar outras mentes e de atuar no mundo físico. Samuel Soal da Universidade de Londres chegou a mesma conclusão após examinar o som das vozes dos sensitivos incorporados. Por fim J F Rhine, que nos anos 60 havia opinado negativamente, em obra posterior - O Novo mundo da mente, acabou por admitir que ao menos alguns fenômenos demandam a existência ou ação de uma entidade extra corpórea consciente. 
                         
                         De minha parte, quero esclarecer que após ter examinado, ao cabo de trinta anos, as obras de Richet, Bozzano, Aksakoff, Sudré, Warcollier, Amadou, Heredia SJ, Silva Mello, Rhoden, Granja, Imbassahy, Rhine, Quevedo SJ, Lepicier, Sagan, etc além das memórias específicas de Flamarion (As casas mal assombradas A morte e seu mistério), G Delanne (Aparitions matérialisées des vivants et des morts - Paris 1909), Gurney, Myers e Podmore 'Phantasms of de living, London, 1882), etc assumi uma posição intermediária - De Rhine - a qual expressei já diversas vezes: A prevalência
 
majoritária - Mas de forma alguma absoluta. - de causas naturais ou mentais (Explicação), sem excluir no entanto, que ao menos alguns fenômenos, bastante raros (E de comprovação um tanto problemática.) tenham sido provocados por espíritos. 

                            Portanto, tal e qual alguns autores romanos e protestantes, considero que ao menos alguns dos fenômenos verificados e descritos não podem ter sido produzidos por humanos (Exceto se admitimos a doutrina aberrante do inconsciente coletivo ou da pan cognição absoluta.) sendo manifestamente sobrenaturais e portanto, segundo meu ponto de vista, causado por humanos desencarnados. 

                             Agora a questão principal não é esta, pertinente a interpretação ou a compreensão e a causalidade, e sim a questão atinente a realidade dos fenômenos ou a metodologia de pesquisa, a experiencialidade e o controle. Eis o ponto, por assim dizer, crucial. Pois implica optar por falsos princípios metafísicos ou ideologias queridas ou pela empiria i é a sensação, a a percepção, a observação, a experiência. 

                              "Contra fatos não há argumentos." é confissão que partiu do próprio pai do positivismo Auguste Comte. E assim o é - Lealdade absoluta a experiência e as favas com as opiniões, inda que emitidas por grandes cientistas, pois continuam sendo opiniões.

                               No caso a única via de escape para os cientificistas são o Kantismo ou o ceticismo, com os quais flertam já a um bom tempo - Criando mais uma mixórdia ou panaceia modernista. Nada animador... Haja visto que um deles acaba de fazer "Mea culpa" reconhecendo que essa beleza de ceticismo cientificista tem alimentado movimentos como o negacionismo vacinal...

                                Então o que temos de fazer e de honestamente fazer é muito, muito simples: Decidir entre o empirismo ou o materialismo i é entre fatos observáveis e uma Ideologia. E pouco importa caso esses senhores aleguem que parapsicologia não é ciência, pois pessoa alguma precisa ser parapsicóloga ou cientista para observar ou compreender a seriedade de um teste. 

                                 O quanto devemos saber é que temos três prêmios nobeis dedicados a esse tipo de investigação - W Croockes, Oliver Lodge Charles Richet, como se vê nenhum beato ou imbecil. E que seus críticos, os negadores da Parapsicologia, também costumam a impugnar a História, o Direito, a Filosofia, a Psicologia, a Sociologia... e tudo quanto ultrapasse a Química, a Física e a Biologia. Portanto não atribuamos maior valor a esse arremedo de Vaticano, cúria romana ou partido comunista...

                                   Principiam como sempre criticando a metodologia. Naturalmente...

                                   Porém se a metodologia de Croockes, Lodge, Richet, Kerner, Deleuze, Grasset, Gibier, Rhine, Soal, etc é defeituosa e falha quanto as pesquisas no campo da parapsicologia, por que não haveria de ser igualmente falha, displicente e ineficaz nos campos em que ordinariamente trabalharam e obtiveram tantos resultados e premiações... Afinal não são os mesmos agentes operatórios... Se foram tão ruins, idiotas ou ainda perfeitos imbecis quanto o controle das experiências metapsíquicas como poderiam ser sábios, prudentes, profícuos e bem sucedidos no controle das demais experiências que realizavam... Gostaria que alguma sumidade em cientificismo me explicasse isso...

                                    Acaso as balanças, medidores, etc não eram muitas vezes os mesmos...

                                    Ademais os observadores pertenciam a praticamente todas as áreas do mundo científico: Pois haviam psicólogos  e psiquiatras como Freud, William James, James Hyslop, Thouless, N Fodor, Cazzamali, Geley, Tamburini, Morselli, Srenck Notzing, Jung. Médicos como J R Buchanan, Osty, B Wiesner, Gurney, Roubaud, Th Bret, R Tischner, J Maxwell, Lombroso, P Baragnon, Paul Gibier, Richet, G Forni, Grasset, Baraduc, Kerner, etc Filósofos como Aksakoff, Hodgson, F Paronelli, Owen, Myers, E Boirac, Vezzani, E Bozzano, Carl du Prel, Ballou, Hartmann e Driesh. Biólogos como A R Wallace, J B Rhine Ochorowicz. Químicos como Robert Hare, Butlerov. Warcollier, Chevreul e W. Croockes. Físicos como Zollner, Finzi, M Thury, Ermacora Oliver Lodge. Astrônomos como Flammarion, Schiaparelli Gerosa. Matemáticos como Augustusde Morgan, Schepis, Dellane e De RochasPedagogos como Robert Tocquet. Literatos como Erny, Mirville V Sardou. Um nobre como o Barão de Guldenstubbé. O político Agenor de Gasparin.

               Apenas para ser suscinto cito aqui os nomes de quase sessenta intelectuais atuantes nos mais diversos campos do saber - O que é absolutamente relevante devido aos diferentes nuances de visão! - os quais, em que pesem as diferenças de compreensão, admitem todos, sem exceção, a realidade dos eventos que classificamos como paranormais ou metapsíquicos. 

                No entanto, para os cientificistas e positivistas, da escola dos srs Max Dessoir, Heuzé, Randi Dennett... Não passam, todos eles, de um bando de ingênuos ou tontos enganados por alguns espertalhões semi analfabetos.


                 Continua -  



quarta-feira, 15 de março de 2023

Psicologia, psicanálise, Freud e a questão da multiplicidade de existências - Reflexões sobre a obra de Hermínio C Miranda 'A memória e o tempo' Edicel 1984 - Parte II

Principiou essa fatídica guerra quando o ateu e materialista S Freud, ousou não apenas aderir mas justificar o modelo dinâmico de mente - Inaugurado por Th Fechner - que constitui sua glória. 

Freud foi tributário de um grande número de cientistas e pensadores. Haja visto que Aristóteles já havia levantado a questão da catarse e por assim dizer do psicodrama em suas obras. Serviu-se igualmente de Nietzsche, Ambroise Auguste Liébault, Hipollyte Bernheim e Breuer evidentemente.

Para os fisiólogos materialistas, desde De Holbach, Helvetius, Cabanis, C Vogth, Moleschott e sobretudo Broussais, a mente inexistia ou era produzida pelo cérebro. Toda vida mental era para eles produzida por interações neuronais, como se uma sinfonia fosse produzida apenas pelos instrumentos. 

Freud não apenas inválida esse esquema grosseiro e absurdo, pautado no dogma da monocausalidade, como demonstra que seu modelo dinâmico exerce clara influência sobre o elemento físico ou o corpo - Estabelecendo cientificamente que a mente é capaz de atuar sobre o corpo físico. 

Foi um rude golpe vibrado sobre tantos quantos, seguindo por fila de mão única asseveravam que toda e qualquer doença mental era resultado de uma lesão cerebral. 

Mesmo quando posteriormente Wagner Jauregg demonstrou o óbvio: Que lesões cerebrais afetam as faculdades mentais provocando 'doenças' a demonstração oposta, de Freud - Alias anterior a ele! - permaneceu de pé, uma vez que demonstrações posteriores são de todo inútil para invalidar as anteriores, desde que devidamente documentadas e, ininterruptas.

Por isso, as posteriores ou mesmo concomitantes demonstrações de que um sensitivo tenha fraudando não basta para invalidar as pesquisas que constataram - Por meio de testes realizados com metodologia séria e meios de controle rigorosos. - em testes anteriores. A generalização é sempre infundada uma vez que do fato de alguém ter fraudado certas vezes jamais se pode concluir e menos ainda demonstrar que fraudou sempre - Marquem isto!!!

Se a parlenga do Maddox ou do Dennett, apresentada entre os nossos por Silva Mello (Muito antes - Pois ele partia de Max Dessoir e Paul Heuzé) tem produzido certo impacto a razão é uma só: O absoluto despreparo filosófico da modernidade e da pós modernidade. No caso dos romanos e protestantes cultores da Filosofia tudo quanto há é fanatismo - Embora o Cardeal Lepicier e alguns outros autores papistas (Honestos e preparados!) tenham advertido os fantoches do positivismo - Como o Padre Heredia (O capelão de Daniel Loxton!), P Heuzé, R Amadou, O Quevedo! - de que ao menos alguma parte dos fenômenos em questão eram reais. Vejam pois como bem andou o genial Padre Huberto Rohden, ao declarar (Tal e qual Houdini) que alguns fenômenos eram infalsificáveis...

Tornemos no entanto a Freud. Desde Freud o que chamamos fenômenos psico somáticos continuam a ser verificados...

Mais do que seu construto - A Psicanalise - e conceituação estrutural posterior, adquiriu Freud sua merecida fama por firmar de modo definitivo o conceito de Inconsciente, definido como um repositório dinâmico situado num nível habitualmente inacessível a consciência ou por baixo dela.

Não se trata naturalmente da memória, embora seja algo intimamente relacionado com ela e que dela dependa.

Que a memória de nossas experiências constitui-se uma espécie de registro indestrutível e colossal era algo mais ou menos sabido já antes de Freud.

Todavia bem poderia tratar-se de um arquivo morto, formal ou inoperante e portanto de pouca importância.

Percebeu Freud que pelo contrário, tal arquivo era vivo ou dotado de vida própria, qual fosse uma personalidade autônoma ou um setor tanto mais profundo de cada pessoa. 

Pode o modelo freudiano ser comparado quer a um manancial hídrico quer a uma simples cebola.

Imagine um rio subterrâneo, o qual em determinados terrenos aflora sob a forma de fonte ou pequeno charco, para em seguida tornar as profundezas e desaparecer. Agora considere que esse rio é nossa humana condição - As fontes e charcos que assomam a superfície equivalem a nossa consciência, a zona imediatamente abaixo - Até onde podemos levar o braço! - é o subconsciente (Ao qual podemos ter acesso com certos esforços e assim lembrar ou recuperar as informações!) tudo quanto permanece habitualmente inacessível a consciência é o Inconsciente propriamente vivo.

Agora os behavioristas - Dando show de antropocentrismo beócio! Como seus primos fenomenologistas! - declaram que não existe inconsciente porque não é manifesto a consciência, porque não o temos continuamente diante dos olhos, etc 

Pífia alegação... Pois aquilo que é habitualmente inacessível a consciência em seu estado normal bem lhe pode ser acessível esporadicamente num estado de anormalidade qual seja uma febre, a sonolência, a ação de certas drogas ou a hipnose. Não se trata portanto de algo eternamente inacessível - Como o Castelo do João do Pé de Feijão ou a terra do nunca! - e sim de algo comumente inacessível porém extraordinariamente acessível.

Por isso não somente sua existência mas sua atuação e influência foram suficientemente demonstradas e inúmeras ocasiões a que damos o nome de experiências.

No entanto os ideólogos positivistas ou behavioristas não podiam sofrer que a mente comportasse um agregado dinâmico de ideias ou entidades imateriais, e tampouco que atuassem poderosamente sobre o corpo físico, controlando os nervos e fluídos em que viam a realidade de toda vida mental. Era pois algo demasiado forte para as mentalidades materialistas, algo que não podiam admitir.

Desde então Freud e o freudismo ou a psicanalise suscitaram ódio mortal nos cientificistas...

Isto a ponto daquele ateu, que foi o homem mais genial de seu tempo - Em que pesem as puerilidades humanas! - jamais ter sido contemplado com mísero Nobel por parte de seus irmãos de ateísmo e incredulidade. 

Freud foi supinamente boicotado, inclusive pelos marxistas, os quais de pronto perceberam o significado de suas ideias para o querido materialismo. Freud foi imediatamente classificado por eles como pária ou infiel.

Afinal um esquema materialista da 'mente' só poderia ser formal, mecânico... jamais dinâmico e muito menos envolver um mundo vivo povoado por ideias...

Errou Freud certamente quando atribuiu a seus complexos uma existência universal ou para além de determinadas estruturas sociais (De modo que seus complexos se tornam metafísicos.) - Como demonstraram M Mead e Malinowksy e como deu a entender a não menos genial Karen Horney. Errou quando concebeu o pan sexualismo - Um erro alias perdoável em tempos de repressão moralista ou puritana. Errou ainda quando pretendeu analisar o mundo onírico através de um roteiro. Errou miseravelmente ao imaginar que a virtuose musical fosse produzida pela contemplação auditiva dos peidos pelo bebê... Errou, e errou.

Porém que é mais humano do que errar...

Por isso convém dizer que Freud também acertou muito, quiçá bem mais do que a média. Falível, porém genial... postulou que as pequeninas crianças possuem uma pronunciada dimensão sexual - O quanto basta para exasperar meus amigos marxistas, não menos que o espiritista Hermínio C Miranda - para não mencionar os papistas e os protestantes... E no entanto assim o é e nem precisaríamos de Freud para sabe-lo.

Agora são as pequeninas crianças sexuadas devido a fatores invencíveis de ordem biológica ou devido a fatores de ordem cultural. Dificilmente poderiam ser tais fatores meramente culturais em tempos nos quais a sexualidade humana era rigorosamente oculta e reprimida... Havendo que admitir um certo elemento biológico que tentavam suprimir - O que nos leva de imediato ao tema da fixação, do completo, do trauma e da neurose... Todos interconectados.

O problema aqui - Entre Psicólogos e Psiquiatras, no que diz respeito a neuroses e neuróticos ou psicóticos e psicoses é até bastante simples: A exceção dos casos precipuamente somáticos devidamente tratados - Por meio de cirurgia ou ingestão de hormônios. - todos os demais enfermos (Cuja etiologia fugia ao corpo i é os psico somáticos!) eram, como são, sistematicamente sedados. 

Explico - Em todos os casos em que os fenômenos eram de origem psíquica ou mental propriamente dita, o tratamento oferecido pelos maravilhosos psiquiatras era por assim dizer sintomático, pois consistia em suprimir os sintomas por meio de sedativos. Noutras palavras em narcotizar o pobre paciente... O qual jamais saia desse estado lastimável.

Ainda hoje, entre as pessoas comuns, que recorrem a certos psiquiatras sem saberem ao certo o que tem, é comum o emprego da palavra dopar. Alias por não querer serem dopadas é que elas fogem dos psiquiatras... Existe inclusive livros bastante elucidativos sobre o tema escritos por psiquiatras de renome, como o Dr Guido Palomba. (A decadência da Psiquiatria ocidental.)

Claro que há bons psiquiatras que fogem a regra geral. 

Muitos no entanto, por não admitirem que certa enfermidade mental foge a seu compete-se, continuam dopando apenas... 

Perceba o leitor que suprimir sintomas não equivale a suprimir determinada enfermidade e assim cura-la.

Ademais toda e qualquer medicação produz efeitos colaterais adversos, torna-se ineficaz com o passar do tempo, etc 

Desde que Freud inaugurou sua metodologia e procedimentos - Aperfeiçoados pelas dissidências! - principiaram os neuróticos ou ao menos alguns deles (Certos pacientes, presas de certas formas de neuroses são curáveis e foram curados!) a obter algum alívio ou mesmo a cura. A Psicologia, a psicanalise ou as diversas psicoterapias tem de fato curado muitos daqueles que a não ser elas seriam dopados e conduzidos a uma existência vegetativa. 

No frigir dos ovos ou considerando aquilo que realmente importa, a vida vivida, o alívio ou a cura dos pacientes a Psicologia tem obtido sucesso através de seu modelo dinâmico e imaterial, evidentemente porque tal modelo está de acordo com a realidade. Já o outro modelo, quanto mais irredutível e contumaz, mais tem falhado e redundado no ato de simplesmente dopar aqueles que qualifica como enfermos incuráveis.

Concedo que antes de qualquer abordagem psicológica o ideal seria que o enfermo passa-se de fato por um Psiquiatra competente que lhe escrutina-se o corpo ou o cérebro por meio de raios X, tomografias, exames de sangue, etc até encontrar alguma carência ou lesão e trata-la. Todavia, caso tal escrutínio não desse em nada e o corpo se apresenta-se como absolutamente saudável ou normal, tenho que seria GRAVE DEVER seu, como médico e pessoa, encaminhar o dito paciente a um verdadeiro Psicólogo, de modo ao examinar-lhe a mente - Onde certamente se encontra a origem do mal. - diagnostica-lo com eficácia e trata-lo. 

Lamentavelmente esse trabalho colaborativo e totalizante é quase sempre frustrado pelos preconceitos do psiquiatra, o qual, assumindo uma postura irredutível, raramente admite que aquela enfermidade foge a seu compete-se e passa a dopar o infeliz do paciente - Tornando a psiquiatria cada vez mais desacreditada.

Perceba portanto que a ideologia ou visão de mundo do médico não é inócua face ao bem estar do enfermo, bem podendo ser nociva.

Acaba ou psiquiatrismo sectário, nutrido pelo positivismo, pelo cientificista ou pelo materialista, ou acaba-se a psiquiatria.

Mesmo porque falsas curas somáticas sempre podem ser explicadas pelo princípio psicológico e mental da auto sugestão. Já as verdadeiras curas provocadas pela terapia psicológica são irredutíveis a quaisquer explicações ou teorias behavioristas ou psiquiátricas, pois prescindem sempre da noção de autonomia da mente. 









Psicologia, psicanálise, Freud e a questão da multiplicidade de existências - Reflexões sobre a obra de Hermínio C Miranda 'A memória e o tempo' Edicel 1984 - Parte I

Ao passar por uma Banca de Jornais - Esta convertida e Bazar enquanto outras tantas foram convertidas em mini Shoppings por obra e graça do mundo digital. - avistei uma pilha de livros velhos, da qual extraí um bom número de volumes interessantes, dentre eles uma brochura esverdeada, de umas cento e cinquenta páginas e intitulada 'A memória e o tempo'. Nem é preciso advertir de que a comprei e também os mais volumes interessantes, num total de vinte e poucos.

Havia, dentre eles, a Biografia completa do sr Kardec por Zeus Wantuil em três alentados volumes, dos quais eu havia tido um só e perdi há muitos anos. Diversos volumes de Parapsicologia, alguns volumes do Herculano Pires, um do Bozzano, etc E como disse fiz a ceifa.

Quiçá alguns tenham já concluído: Quanta baboseira ou que desperdício... Julgo porém que, ao contrário do genial Karl Sagan, diriam a mesma coisa da Odisseia de Homero, do Teatro de Sófocles ou da República de Platão. Refiro-me aos materialistas crassos, aos positivistas inveterados e aos cientificistas a exemplo do falecido Mário Bunge, enfim de toda essa gente que jamais fora capaz de escrever uma opereta medíocre ou um draminha satírico - Gente tão alienada quanto a outra gente que tanto gostam de criticar.

A exceção das baboseiras esotéricas - Que se embrenham pelos campos da História, da Geografia ou da Astronomia. - divulgadas por Churchward, Posnansky, Braghine, Donnely, etc leio praticamente tudo. 

Há mais de trinta anos tomei por divisa está pequenina frase: "Examinai tudo e ficai com o que proveitoso é." e dela não me aparto. Tanto isto é verdade que, mesmo não sendo adepto das Ideologias ateísta e materialista, bem como da mística positivista. contínuo a ler diversas publicações congêneres tendo em vista garimpar algumas coisas boas e formular uma visão de mundo, quanto possível mais equilibrada.

Naturalmente que leio muito Freud, o qual apesar de seus erros, alguns dos quais aberrantes - ainda me encanta. E Darwin, e Marx, e Weber, e Malthus, etc na medida em que a leitura dos clássicos me permite. Nada do quanto seja humano ou mesmo natural me é indiferente...

Claro que a exceção da fé Cristã não respeito Ortodoxia ou sistema algum - Embora admire certos construtos como o de Sócrates, o de Aristóteles, o de Malthus e o de Max Weber - pelo simples fato de saber que não existem seres humanos infalíveis... Sou sinceramente Católico Ortodoxo por julgar que tal sistema, quanto a sua parte mais íntima (A dogmática) seja divina ou Revelada por Deus. No campo da própria Teologia sou já rebelado e portanto suspeito...

Portanto não creio em ortodoxias, sistemas fechados, místicas secularizadas ou igrejolas humanas... 

Concordo portanto com os agnósticos, filhos de Huxley, quando apresentam o ateísmo e o materialismo como são i é como elaborações metafísicas e tão metafísicas quanto o teísmo e o espiritualismo, pelo simples fato de ultrapassarem os dados imediatamente sensíveis em sua rude simplicidade. Excluída a reflexão racional (Metafísica) impugnada pelo rude escocês, só nos resta silenciar sobre todos esses assuntos ou calar a boca...

E não concordo menos com os espíritas, quando apontam o materialismo dos cientificistas, como igualmente ideológico e não como científico. Especialmente no que tange os domínios da Psicologia - Aqui o estrago e a tragédia são muito maiores! 

Podemos admitir sem maiores problemas que a exceção da Psicologia, a ciência ou as ciências são materiais pelo simples fato de que o campo devassado por elas é a materialidade. Cumpre-nos repetir aqui a lição do agnosticismo: Uma coisa é ter a ciência, de modo geral, como material e outra por materialista; pois ali cumpre com seu escopo> Investigar a matéria, enquanto aqui, ultrapassa a si mesma e a seu escopo, predicando - Sem mínima legitimidade! - que nada há para além da dimensão material do ser, predicação que foge tanto ao empirismo como a ciência...

Criticam os marxistas quando invadem o campo das ciências humanas, a começar pela História e pela Geografia, introduzindo sua Ideologia grande parte ideativa ou metafísica (Weber!) e sem embargo disto, imitam-nos - O Dawkins, o Harris, o Dennett e outros - invadindo o campo de ciências que por definição são exatas ou naturais e introduzindo opiniões metafísicas como se empíricas fossem ou como tivessem dado com o princípio materialista na gema do ovo ou com o ateísmo na partícula do Argônio... Mas onde encontraram e isolaram tais 'elementos''... E como os formularam sem o auxílio da 'razão' impugnada por Hume.

Bem aventurados os materialistas e ateus que não se fantasiam como cientistas, céticos ou positivistas assumindo o caráter metafísico de suas crenças mais queridas. No entanto em tempos nos quais é a Filosofia sistematicamente repudiada e a honestidade escasseia tal postura se torna rara.

Ateísmo e teísmo, materialismo e espiritualismo, etc não são questões religiosas - Que se resolvem por meio da fé ou de livros autoritativos. - e menos ainda questões científicas a serem solvidas num gabinete científico ou laboratório e sim questões de ordem metafísica a serem examinadas e julgadas por cada pessoa com máxima liberdade > Embora para tanto deva haver preparo i é investigação, pesquisa, estudo ou leitura.

Vender tais lucubrações por elementos científicos, como faz a ralé positivista até os dias de hoje, é pura e simples falta de caráter.

Por isso os espíritas e alguns romanos tem plena razão ao denuncia-los, respirando indignação inclusive.

Tanto pior o resultado dessa falsa propaganda no campo daquele tipo de conhecimento que é por assim dizer o único que foge ao estrito campo das demais ciências: A Psicologia...

Principiou a falsa ciência 'materialista' na França, com o ideólogos De Holbach, La Metrie e Clothes, dentre outros... Asseverando que NÃO HAVIA imaterialidade alguma e que a existência do espírito era falsa. Tudo quanto havia era matéria ou materialidade... Tal o materialismo crasso, formal e mecanicista dos quais muitos teóricos acharam por bem desprender-se no decorrer do século XIX quando a barquinha começou a fazer água.

No entanto os resistentes ou 'ortodoxos' asseveravam, de geração em geração, que na geração seguinte, a inexistência do espírito ou a fábula do imaterial seria rigorosamente demonstrada num laboratório. 

O primeiro foi Broussais, o francês... o qual chegou a declarar - Como Branly um século depois - que caso testificasse qualquer evento de natureza imaterial NÃO ACREDITARIA rsrsrs Após ele foi a vez do comunista Joseph Dietzgen, o qual tendo declarado que a ciência havia demonstrado experimentalmente o princípio do materialismo, foi advertido e corrigido pelo próprio Engels. Pouco depois Engels declarou que os comunistas não eram materialistas formais ou crassos pelo simples fato de não negarem a existência do imaterial e sua interação com o material inclusive. Por fim assomou o inteligente Lênin, o qual numa obra de inegável valor 'Materialismo e empiro criticismo' e opinou que não tardaria muito tempo para que o princípio materialista fosse empiricamente demonstrado.

A questão é que desde aquele tempo, a geração de Engels, os dois campos tiveram que reformular o conceito de materialismo tendo em vista sua sobrevivência no âmbito das ideias. Pois conforme a ciência progredia se tornava cada vez mais difícil o óbvio, que era a existência de um elemento imaterial ou espiritual. Eram os tempos de Ch Darwin, o qual demonstrou o princípio da Evolução no campo da biologia, abrindo novas perspectivas, das quais se aproveitaram diversos pensadores, como um Spencer por exemplo. 

A recomposição deu-se justamente nesse sentido, da evolução - A princípio existia, apenas o elemento material (Daí monismo materialista.) o qual, a cabo de um lento processo evolutivo, se foi depurando ou tornando menos denso (Espiritualizando...) até dar origem ao espírito ou ao imaterial... Portanto se havia algo de imaterial ou espiritual no mundo esse algo teria se originado a partir do elemento material, pelo que o material seria a origem de tudo. Creio que tal construção remonte inclusive a Lucrécio, mas não sei exatamente.

Em meio a tantas revoluções ou transformações o conhecimento da mente não pode deixar de cindir-se em duas correntes não apenas distintas mas rivais: O que ora chamamos Psiquiatria e a que ora chamamos Psicologia... sabendo que está última remonta a Th Fechner e Wundt e que a primeira não teve dificuldade alguma em ser reconhecida como legítima ou científica. 

Outro o caso da segunda....

Importante salientar que ainda hoje, em pleno século XXI, há ideólogos - Positivistas, cientificistas, materialistas... - que repudiam não apenas a parapsicologia, como a psicanalise e até mesmo a psicologia não colonizada ou não behaviorista, como construtos semelhantes as diretrizes comunistas ou a astrologia... Um sujeito de rara inteligente como Popper, inclusive, enredado por Hume, lançou a Psicanálise, a parapsicologia e a Evolução das espécies no mesmo balaio que a astrologia e as diretrizes marxistas, o que nos possibilita antever o caráter sectário desde tipo de mentalidade.

Outros positivistas lançam ainda História, a Filosofia, a Jurisprudência... no mesmo balaio, de modo que só seria ciência o que eles querem e do jeitinho que querem, e isso mais de século após W Dilthey ter pulverizado seus preconceitos sectários. 

Para que a crença querida do materialismo seja científica toda ciência precisa ser materialista...  Portanto caso o campo científico em questão - Pelo simples fato de ser humano e não sideral, mineral ou vegetal. - destoe do materialismo cessa por isso mesmo de ser científico ou respeitável. Engenhoso não...

Que pensem assim os físicos e químicos e ainda alguns naturalistas por serem reducionistas e paladinos da monocausalidade com as bençãos do capelão Ockhan bem se compreende. Agora que tais prejuízos se tenham afirmado no campo da Psicologia, que é uma ciência da mente, é bem outra coisa...

Durante a segunda metade do século XIX, o conflito não estourou abertamente devido as personalidades conciliadoras e respeitáveis dos já citados Fechner e Wundt. Tratava-se de um conflito apenas latente, em que a Psicologia nascente era muito mal vista e encarada com suspeição enquanto a Psiquiatria era muito bem acolhida pelos líderes cientificistas. 

Assim até os idos de 189... ou até a última década do século XIX. Período em que, após a morte de J M Charcot, a controvérsia Salpêtrière - Nancy tendia a serenar. Foi no entanto quando justamente tornou-se universal. Pois junto a Charcot estava um jovem ateísta e presumidamente materialista, S Freud, e do outro lado do Reno, Wagner Jauregg e Emil Kraepelin. 

O quanto podemos dizer é que nesse período - Ao menos até a criação do behaviorismo por Watson! - surgiu um divisor de águas entre Psiquiatria e Psicologia que possibilitou a plena expressão da última. E tal se deve, paradoxalmente, a S Freud. É com Freud que a Psicologia desprende-se, como deveria, da psiquiatria ou da determinação somática unilateral para postular a existência de fenômenos psicosomáticos. 

Até hoje, um século depois, ainda podemos testemunhar a rivalidade existente entre essas duas áreas - Psiquiatria e Psicologia, as quais para o bem dos seres humanos, deveriam caminhar juntas. A resistência no entanto é quase sempre mais viva nos domínios da Psiquiatria, partindo obviamente dos cientificistas, animados pela ideologia materialista. O resultado disto é a rejeição seja da Psicologia ou da Psicanalise por eles, e o reconhecimento exclusivo - Por motivos que nos parecem óbvios. - dessa Psicologia esvaziada e aparente chamada behaviorismo.

O behaviorismo é sempre bem vindo por qualquer psiquiatra pelo simples fato de negar a mente e por extensão qualquer coisa de imaterial ou espiritual. 

Antes da criação desse ente aberrante chamado behaviorismo, era a Psicologia repudiada em bloco por parte significativa de psiquiatras.




sábado, 4 de fevereiro de 2023

Considerações em torno do que seja Sociedade.




Vez por outra, de quando em quando, costumo ler algum 'manuel', digo, Manual de Sociologia - Também leio os de Filosofia, de Psicologia ou de Pedagogia > E há alguns muito bons (Guido de Rugiero, Jaspers, Thonard... Th Ribot, Wundt... Herbart, Comenius, Backheuser, etc). 

Por hora estou lendo "El hombre y la gente" de Ortega Y Gasset - Revista de Ocidente, Madrid, 1958, juntamente com a edição das Epístolas de Caio Cecílio Segundo, o 'Plínio' Jovem ou Jovem Plínio - Estranha mistura ao que parece... Se bem que não da para confundir o escritor latino com o humanista espanhol. 

Todos sabem que considero Gasset um dos nomes mais representativos em termos de genialidade, juntamente com Freud, Adler, Darwin, Weber, Malthus, Sorel, Decrolly, Hitchcock, Valéry, Horney e Goodall. 

Quem quiser adicione o nome de Marx. Sua crítica foi positiva mas, penso eu, sua construção positiva ou 'solução' de muito pouco valor, e o comunismo se nos parece tão desastrado quanto o capitalismo.

Outros desejarão adicionar um Einstein ou um Fermi, aos quais de fato não faltou genialidade.

No entanto, confessadamente socrático, penso ser patético ou até calamitoso, o caniço pensante explorar o universo - Das partículas elementares as grandes estrelas, passando pelo fundo dos oceanos. - sem conhecer suficientemente a si próprio ou explorar a mente que dita nosso comportamento e tudo comanda.

Sim, em tempos de Ética, de crise e de suicídio comum (Em termos de espécie.) temos que questionar absolutamente tudo, inclusive a prioridade em termos de conhecimento.

Pois controlar a força contida nas partículas sem comandar a si mesmo pode ser algo bastante perigoso.

Tal reflexão foi que me fez por optar pelas Humanidades e não pelas ciências exatas ou pela técnica, tão queridas a ideologia positivistas e tão lucrativas. 

Necessário registra-lo. 

Pois em nossa cultura degenerada quem opta por ganhar menos traduzindo clássicos como as Antiguidades romanas de Dionísio de Halicarnasso ou a História geral de Diodoro Sículo, ao invés de tornar-se físico ou químico, i é partidor de moléculas ou analista de substâncias é tido em conta de inepto, incapaz ou imbecil.

Chega de divagação e prolixidade, como dizia minha saudosa mestra Isamar Alcover do Amaral Loureiro> Sr Domingos, o sr é prolixo e tão prolixo como Rui - Quem me derá ser a metade ou um quarto de um Rui... Mas tornemos a Gasset, nosso Ortega.

Antes porém devo dizer que já havia lido, e há um bom tempo, A unidade social, de P A Silvestre, São Paulo, 1956, obra atualmente bastante rara sobre a percepção social em Tomás de Aquino e, por ext. nos escolásticos e contratualistas.

Curiosamente Gasset define o associacionismo com precisão: "... Que assim fosse mera combinação ou resultado de outras realidades, como os corpos são 'na realidade' mais do que combinações de moléculas e estas de átomos." p 22 a qual, substituindo-se moléculas e átomos por tecidos e células, teria sido absoluta.

Importa saber que o ilustre pensador espanhol após definir avalia: "Se como sempre se tem crido... é a Sociedade uma criação dos individuos... que se congregam e portanto se não é ela mais que uma associação, a Sociedade não tem própria e autêntica realidade e não precisamos de uma Sociologia." p 22

E foi um pensador genial, um Ortega Y Gasset, quem o disse, como que copiando trivialidade repetida nos manuéis ou manuais de Sociologia. 

Achei digno de nota ou reflexão a assertiva do Ortega.

Afinal nossos corpos são agregados de células e tecidos. O que não os priva de existência real.

Curioso isso - Que aquela treva chamada positivismo tenha produzido há um tempo introduzido materialismo mecanicista no campo da Psicologia e Metafísica muito mal feita no campo da Sociologia. 

Mais - Agregado sim, agregado e agregação. Nem por isso uma célula sozinha se converte em tecido ou corpo, menos ainda o corpo ou o tecido numa única célula. Pois de modo algum a existência do agregado basta para confundir o agregado com o todo e vice versa... A simples existência particular da célula no conjunto do tecido não a transforma a célula particular em tecido e vice versa.

Sucede porém que a simples união da célula em tecido, órgão ou corpo confere a cada um desses agregados novas propriedades, as quais não se encontram presentes em cada célula separada mas comente nos agregados: Tecido, órgão e corpo. E conforme o tipo ou forma de união assume diferentes formas é natural que cada forma possua propriedades diversas - Assim que o corpo possua propriedades que não se acham presentes no órgão ou no tecido. 

Naturalmente que há algumas propriedades comuns a todo fenômeno vivo. Como certamente há propriedades diversas na célula, no tecido, no órgão e no corpo - Pois unidade não significa identidade. Por isso dizemos que o agregado tecido difere da unidade particular célula na medida em que apresenta atributos ou propriedades diversas. Pois só pode apresentar propriedades novas e diversas na medida em que sua estrutura difere da unidade particular.

Observe que toda essa comparação estabelecida pelos positivistas em torno de fenômenos biológicos está totalmente equivocada.

Pois o considerar o corpo humano em sua totalidade como agregado de agregados - Cujo elemento mínimo seria a célula! - não reverte a Biologia, a medicina ou a realidade em citologia. Um corpo mais desenvolvido olha, ouve e fala. O corpo ouve, fala, olha, pensa, etc por meio dos tecidos e células. Há tecido apto para ativar a audição. Posso dizer no entanto que esse tecido ouve ou que células olhem ou falem - Mesmo quando pertencentes a tecidos relacionados com a visão ou a fala posso eu dizer que tais células enxergam ou falam...  O caso é que as células não possuem sistema nervoso central... E nossos corpos o possuem... E pensam...

Percebe como sendo formado por células ou sendo um agregado de tecidos o corpo não é irredutível a células ou tecido, por possuir outras propriedades e corresponder a uma estrutura diversa. Como a medicina - a Mesma medicina que reconhece ser um corpo um agregado de células é irredutível a mera citologia...

Diante disto, o quanto podemos afirmar é que a Sociedade, a modo do corpo físico, não é uma fusão de células ou pessoas, e portanto algo essencialmente diverso dos agentes que a compõem. 

Agora se não estamos diante de um novo ente ou fenômeno, produzido por fusão, só nos resta concluir que ligação entre as pessoas, a modo da ligação entre as células, se dá por conexão ou contato. 

Essa percepção é importante porque nos impede de imaginar a Sociedade como algo a parte dos agentes que a compõem ou como um organismo essencialmente distinto deles. 

E no entanto ela, a Sociedade ou melhor as diversas Sociedades, da mais elementar a mais difusa, apresentam propriedades que não se encontram nos agentes.

Impõem-se aqui outra pergunta ou questionamento, muito comum nos compêndios de Sociologia.

A qual é posta nos seguintes termos.

Se a Sociedade ou as Sociedades apresentam propriedades com que não nos deparamos nos agentes que a compõem é justamente porque a natureza do agente e da Sociedade são distintas. 

Claro que há alguma diferença entre os agentes e a Sociedade.

Será no entanto uma diferença essencial ou ontológica, no sentido de que a Sociedade seja algo totalmente diversa dos agentes ou alguma outra coisa ou apenas um estado diverso apresentado pelos agentes.

Teríamos assim o indivíduo hipoteticamente isolado do corpo social ou num Estado pré social (Quiçá ante histórico ou primitivo!) - Veremos que o homem não social, em qualquer momento histórico, é uma ilusão - e o humano em Estado social tal como o conhecemos. 

Ocioso dizer que o 'social' precede a própria existência do fenômeno humano. Porquanto nossa espécie aparece já num contexto social ou num contexto social pré humano legado por outras espécies de primatas. 

Jamais houve Homo ou Homo Sapiens a parte de uma organização social, exceto se confundamos, maliciosamente, a Sociedade com o Estado.

O homem de Rousseau, bem se vê, é um ser imaginário, se, como se pensa ou crê, postulou a existência de indivíduos isolados ou separados uns dos outros antes de um contrato que tenha dado origem ao grupo social mais primário. Rousseau só cessa de ser perfeito idiota caso consideremos que seu contrato da origem ao Estado ou a Sociedade política...

Podemos portanto supor ou presumir que a questão sequer toque a forma ou a estrutura do conjunto ou grupo social mas apenas AO MODO E EXTENSÃO DO CONVÍVIO: As Sociedades apresentam propriedades diversas entre si e ausentes no 'indivíduo' conforme o contato seja mais íntimo ou mais extenso. 

Então não temos porque imaginar uma transformação essencial.

Nem por isso fica a Sociedade sendo irrelevante e menos ainda a Sociologia, pelo simples fato de que apresenta propriedades com as quais não nos deparamos nos humanos que tentam, em certa medida, viver a parte delas. 

A conclusão aqui já foi antecipada pelos sociologistas de Comte e também de Durkheim, este por sinal um homem de grande mérito. Tinham esses autores - Sobretudo o segundo em sua acirrada polêmica travada com Gabriel Tarde.- receio de que caso a Sociedade não formasse um ser essencialmente diverso dos seres que a compõem, reverteria a algum tipo de Psicologia, marcadamente em Psicologia social. E esse temor, mais ou menos fundamentado no século XIX, refletiu em toda essa construção, no sentido de afirmar-se que a Sociedade constituía um organismo totalmente a parte de seus agentes pessoais. 

Bom bater nessa tecla, sobre os estragos feitos pela Ideologia positivista no campo dos conhecimentos humanos ou das humanidades - Cujo valor científico e objetivo contínua sendo negado por seus janízaros até nossos dias > Mais de século após a morte de Wilhelm Dilthey (Esse gigante do Espírito!!!). O epílogo dessa invasão da psicologia pela Ideologia materialista (Sob o termo de positivismo ou ciência.) foi essa pasmaceira chamada Behaviorismo > De Watson e Skinner até G Roth  e o queridinho dos ateístas (Dalkins, Denett, etc) S Pinker. 

Certo é que a destruição ou negação da mente equivale a destruição ou suicídio da Psicologia, pela simples negação de seu objeto de estudos, que é a mente (cf Fechner, Wundt, etc). Caindo a psicologia nos domínios da Biologia e revertendo a Psiquiatria. Pois tudo no Behaviorismo conduz a Psiquiatrismo...

Outro o caso dos sociologistas, os quais sempre temeram que admitido qualquer nível de influência da pessoa não diretamente associada na 'engrenagem' social ou como se queira, nos fatos ou fenômenos sociais, ficava comprometida a própria Sociologia. 

E no entanto essa mesma pessoa capaz de interagir com o construto social e de altera-lo é ela mesma, grande parte, resultado de interações sociais e um ente social e não um indivíduo isolado, porquanto a existência de um indivíduo isolado, que nada deva ao grupo social, é um ente abstrato e ilusório. 

Perceba-se o óbvio - A Sociedade ou o grupo social plasma a condição de todos os seres humanos e todo ser humano é em parte resultado de interações sociais diretas e indiretas. Por outro lado algumas pessoas, satisfazendo certas condições sociais dadas e externas a sim, são capazes de alterar essas condições ou de interferir na dinâmica social. E é justamente essa intervenção ativa de alguns humanos que altera as estruturas sociais, as quais doutra forma sendo externas, formais e mecânicas seriam fixas, constantes e irreformáveis - A exemplo das reações físicas e químicas. A Sociedade se transforma justamente porque não é engrenagem fechada e impermeável a ação humana.

Por mais que atribuamos esta ou aquela propriedade específica aos diversos grupos sociais seria absurdo admitir que os grupos sociais possam alterar a própria dinâmica ou transformar a si mesmos, impondo novos sentidos, a parte dos agentes que lhes conferem existência. 

A Psicologia social caberá investigar o quanto o fenômeno humano recebe do corpo social. A Sociologia Pessoal como e em que condições um agente humano qualquer é capaz de alterar a dinâmica social e a Sociologia examinar as propriedades dos grupos ou fatos sociais em si mesmos bem como a estrutura dos grupos citados.

Tais as reflexões que me foram suscitadas pela leitura de Ortega Y Gasset.





sábado, 7 de agosto de 2021

Os 'católicos' (Apostólicos romanos) TridentiProtestantes - Resposta ao Sr Paulo Cogos

Como Católico Ortodoxo sempre fui e sou favorável não a missa tridentina porém a Missa medieval, de S Pedro ou de S Gregório, filho da tradição, fiel, coerente e portanto adversário de qualquer inovação ou mudança no plano da adoração ou do culto.

Distingua-se - Sempre encarei com franca simpatia o ideário tradicionalista ou lefrevista em torno da adoração tradicional. Porém, quanto os tridentinos em si há muito que cessei de simpatizar com eles, chegando as vias da ojeiriza. 

Pois me parecem semelhantes as árvores estéreis e secas, as quais não produzem frutos bons. Paradoxalmente por via do moralismo ou do puritanismo de matriz calvinista tornaram-se eles estéreis quanto as obras legitimamente Cristãs... E a beleza do ritual, sendo malbaratada, não tem produzido frutos neles.

Leitor de Lefrevre, de George de Nantes e outros tradicionalista, inclusive do velho H Delassus, ao qual, ao menos em parte não faltava razão, assumi a tradição 'in totum', condenando o sifilização em sua totalidade e não apenas pragmática ou fingidamente ou seja quanto ao que me agradasse ou desagradasse. Compus apenas com a democracia ou com o liberalismo político (Que tornou-se exacerbado em mim.) após ter lido Leão XII (Refiro-me a sua 'reprimenda' a Albert de Mun.) e acompanhando-o e, em seguida com o liberalismo religioso ou com o direito dos seres humanos exercerem a liberdade religiosa, isto por força da Tradição, graças a meus estudos quanto a literatura patrística.

Quer dizer isto que com Lefevre e fiel ao pensamento lefreviano ou tradicional jamais assimilei este elemento exógeno e estranho do 'liberalismo econômico', alias parte essencial da cultura moderna e protestante. Isto ao contrário da oportunista e leviana TFP, que serviu de modelo a este tradicionalismo incoerente e enfermiço florescente no Brasil. Venenosa foi tal inspiração... 

Triste saber que entre nos Brasileiros foi o ritual antigo adotado por questões de exterioridade ou ritualismo e não de vida espiritual. Uma vez que a autêntica fé e a religiosidade apostólica não faz negociações... Entre nós no entanto os adeptos da seita, distorcendo por completo os ensinamentos de Leão XIII e da tradição da Igreja como um todo, mancomunaram-se com o liberalismo econômico, assumindo seus postulados anti Cristãos e ocupando-se em criticar apenas o comunismo. Digo, não apenas pouparam como apoiaram ativamente este modelo econômico materialista de origem protestante. O que não foi feito sem graves consequências em termos de proximidade com concepções e métodos protestantes ora importados dos EUA, os quais evidentemente fogem por completo a Ética Cristã e a lei do Evangelho.

É como se para dar combate a Marx ou melhor a Lênin tivessem recorrido a Maquiavel... O que equivale a expulsar Belzebu com Belzebu. Pois não precisamos de mentiras, calúnias ou difamações com que reprochar o comunismo ou quaisquer culturas de morte e quanto damos combate ao comunismo e a quaisquer culturas de morte, devemos faze-los como Cristãos Católicos i é com ética ou honestamente. Sintomático que nossos 'tracidionaleiros' do Brasil tenham reproduzido o que há de pior numa propaganda calvinista que se torna luterana. (Quem for capaz entenda o trocadilho.) - Nossos TFPentelhos trocaram a solida crítica dos Pes Chambre e Calvez por toda essa miséria protestante e sectária. E a geração atual segue pelo mesmo caminho tenebroso.

Afinal a questão da TFP e de todas as seitas que dela procedem era conservar a todo custo o monopólio da terra ou a propriedade improdutiva das famílias ricas e não pugnar pela fé de nossos ancestrais e, menos ainda, assumir a vida Cristã em sua totalidade e profundidade - O que tampouco parece ser pauta dos nossos Tridentícolas de missa dominical.

Por mais que como Ortodoxos defendamos o ritual ou o ofício litúrgico e, entre nós a missa tridentina ou a Missa petrino/gregoriana jamais defenderemos um Catolicismo Ortodoxo (Ou um romanismo.) de missa dominical. Uma coisa é ir a missa aos Domingos quando não haja impedimento sério, outra dizer que tal e suficiente para ser Bom Cristão ou resumir a prática religiosa a ida da família a missa, isso seria bom para o Luteranismo, jamais para o Cristianismo antigo, Católico, Ortodoxo ou tradicional... Tampouco seria Ortodoxia ou Catolicismo (ou sequer papismo) assumir uma moralidade pessoal estrita ou puritana advinda do protestantismo, pois o que teríamos a qui e o que temos aqui é Calvinismo e ainda protestantismo. 

Digo isto, marco e pontuo, porque sob auspícios da cultura protestante e individualista (Muito próxima do liberalismo econômico.) já a partir do século XVIII mas principalmente a partir do século XIX, surgiu no seio da igreja apostólica romana ou entre os apostólicos romanos uma ideia nova e essencialmente falsa segundo a qual bastava ao papista (Insinua-se isto hoje no seio do Catolicismo ortodoxo com grande sucesso.) ir a Missa, sozinho ou em companhia da família, aos Domingos ou mesmo diariamente, rezar, comungar e viver uma moralidade individual no seio de sua família, ou isolado face a comunidade, para ser um excelente Cristão. Tal a gênese do que começa a esboçar-se como Ideologia libera economicista 'católica' (A expressão é absurda, ímpia e herética!). 

No entanto - Afirmo-o como Bacharel em História - remonta esse novo modelo ou ethós 'católico', a reforma protestante (Cujo teor foi, desde o princípio individualista.) jamais a Idade Média e menos ainda a Antiguidade, ao padrão apostólico, ao Evangelho ou mesmo a antiga cultura israelita... períodos e modelos sócio culturais nos quais nada encontramos em termos de isolamento ou individualismo. A começar pelo século XVII, caso recuemos cada vez mais no tempo, vamos deparando com um romanismo cada vez mais social, gregário, solidário, fraterno... Ou com o papista integrado em sua comunidade e em comunhão orgânica com sua comunidade. O que é perceptível no mesmo no Anglo Catolicismo até o século XVIII ou ainda até meados de 1830, tendo sido memorável primeiramente a briga do arcebispo Laud contra as ambições da burguesia calvinista no século XVII e ainda a luta das paróquias e do espírito paroquial face a movimentação de pessoas exigida pelas fábricas até 1830. Isto quando a um modelo em parte contaminado pelo individualismo protestante. Que dizer então de um Portugal ou de uma Espanha nos século XVI, XV, XIV - Nada, nada de liberalismo econômico ou mesmo de isolamento social por parte dos Cristãos e sim de profunda conexão.

Foi dissimuladamente ou por meio da literatura protestante que o ideal sacrílego, anti tradicional e anti medieval do isolamento burguês ou das famílias burguesas em seus 'paraísos artificiais' desconectados da realidade social infiltrou-se na igreja romana - Partindo daí inclusive o modelo de guetos, digo, de bairros luxuosos onde passaram a viver os ricos, distante dos pobres, isoladamente, como que para não ve-los. O que entre nós culminou nas favelas onde os demais batizados morriam de fome sem que os bons Cristãos se preocupassem. Esse ideal egoísta e criminoso de isolamento foi assimilado. Não partiu nem podia ter partido da igreja romana. A partir do século XVIII e principalmente do século XIX (Com um modelo vitoriano posterior a 1830) que consolidou-se a ideia perversa de um Cristianismo de missa dominical i é limitado a algumas horas de reza ou de cerimonial separado da vida Cristã. 

Lamentavelmente os papistas (Como nossos Ortodoxos do tempo presente.) não tardaram a concluir - Com Lutero e Calvino, e os protestantes - que não precisavam ser Cristãos enquanto patrões, mas apenas dentro de seus lares ou apenas nos templos durante as missas... A abominável constatação é que não era necessário ser Cristão com o vizinho, com o funcionário público ou com o empregado. E criou-se uma moralzinha cristã apenas para a família ou os parentes. Quanto segundo a doutrina Cristã pelo batismo somos todos parentes ou irmãos, membros da mesma família e obrigados a fraternidade. Toda essa atmosfera cultural protestante, individualista e liberal destruiu o sentido tradicional da vida Cristã, por sinal, quanto a este quesito, muito próximo do judaísmo e do islamismo. 

Sob influxo da cultura protestante foram os Cristãos, antes de tudo os apostólicos romanos, alienando-se paulatinamente uns dos outros e afastando-se dos ideais vigentes na antiguidade ou na Idade média, estes autenticamente Cristãos e patenteados pela Tradição. Até ousarem os apóstatas, a partir de apelações pífias com base nos socialismos naturalistas ou no comunismo, conceberem um capitalismo 'católico' i é apostólico romano, chegando ao cúmulo da monstruosidade. Tanto pior a situação da Igreja romana por ter ela, em seus documentos oficiais, condenado o comunismo; e descuidar de condenar o 'éthos' capitalista, por já estar condenado pela tradição sob o termo avareza ou por tocar - A condenação, apenas a sua intencionalidade e não a sua estrutura. A partir disto, parte dos apostólicos romanos concluiu, que seu éthos ou intencionalidade é aceitáve; o que não está de acordo com o ensinamento dos padres da Igreja. Seja como for essa omissão ou falta de profundidade favoreceu a manipulação que agora testemunhamos - Quanto a alguns papistas como o sr Paulo Cogos quererem batizar ou Crismar uma doutrina herética e uma prática pecaminosa, já por ser a ideologia liberal economicista materialista e individualista. Ora é o materialismo uma erro filosófico ou metafísico equivalente a heresia e o individualismo ou egoísmo um vício pecaminoso.

Seja como for o citado Cogos chegou ao desplante de indigitar S João Crisóstomo - Do qual possuímos diversos Sermões contra os ricos ou avarentos! - como partidário de uma entidade cultural que originou-se a partir da heresia protestante, incorrendo por isso mesmo em anacronismo. E foi tão anacrônico quanto K. Marx ao transplantar o conceito de classes para a Antiguidade ou a I Média...

Remetemos ao sr Cogos a obra 'Porque a igreja condena os ricos' publicada pela Ed Paulinas nos anos oitenta ou a qualquer Patrologia como a Badenhawer, a Tixeront, a Cayré, a Altaner/Stuiber, a Drobner, etc se é que já folheou alguma dela. Afinal quem escreve estas linhas teve já a oportunidade de folhear a L. E. Du Pin, Lipomanno, Possevino, Tricalet, etc sem jamais deparar com misera linha em torno do liberalismo economico.

E quem diz que os antigos padres tinham conhecimento dessa ideologia bem poderia escrever, com a mesma seriedade, que entendiam os padres de programas de computador ou ainda que usassem aplicativos... 

Sr Cogos, nos bancos da academia aprendi que posso discordar de determinado autor ou mesmo antipatizar com ele porem jamais atribuir a si o que jamais ensinou, pois e deslealdade.

Melhor seria o sr assumir com os neo papistas ou com um neo ortodoxo impugnado por mim, que a tradicao da igreja ou melhor que a Divina Revelacao, e por ext., a autoridade de Jesus Cristo, do Evangelho, da Cristandade, nao toca a producao ou as relacoes economicas. Ficando tudo isto num setor afora ou aparte da Religiao, qual, portanto, regularia a si mesmo. Destarte sua face de positivista (E portanto de heretico.) viria a plena luz do dia. Na medida em que o sr estaria assumindo o principio anti Cristao e anti etico do MNI. 

Nao fundamentalista, sr Cogos, admito a vigencia do MNI quanto as ciencias de fato exatas ou nao humanas e mesmo assim no plano da Teoria. Pois as certas experiencias cientificas que tocam a vida humana ou animal embrenham-se pelo caminho da etica, assim pelo caminho da etica revelada. Deveria portanto o sr comecar demonstrando que a economia sob aspecto algum e uma ciencia humana, o que foi ensaiado ja, em que pese a miseria, por um colosso como Pareto. Por que o sr nao gasta seu precioso tempo desenvolvendo as teses de Pareto ao inves de perde-lo invadindo terreno que nao e seu, como o da Patristica e o da Patrologia. Por isso vou responder-lhe - Como se diz `Na lata` - Sapateiro, nao passe dos sapatos... Outra possibilidade fecunda para o sr e alegar que sua igreja ou qualquer outra igreja apostolica (Nao me venha com seitas protestantes e claro.) ou o Catolicismo Ortodoxo como um todo, jamais pretendeu exercer sua autoridade no campo da economia ou regular as atividades economicas executadas por seus filhos. Advirto-o no entanto que entrando o sr por essa outra via, como Historiador ecelesiastico que sou, vou remete-lo ao Bulario de Jaffe... Compreende???

Liberalismo economico. Que piada sr Cagos, perdao, digo Cogos... Das duas uma> Como pessimo aluno de Socrates ou do Estagirita o sr nao sabe conceituar o que seja liberalismo economico ou jamais leu palha dos Padres da Igreja ou das Enciclicas de seus lideres, os papas... o que seria leviandade de sua parte. Caso essa atividade humana que e a economia nao tocasse a etica e assim a divina revelacao `Rerum novarum` nao passaria de inutilidade... Da mesma forma Pio XI teria gasto toneladas de tinta e resmas de papel em vao. Percebe como o sr apresenta os membros mais ilustres de sua religiao como beocios, por discorrerem amplamente sobre algo que foge a compentencia deles??? 

Por que seus papas nao se contentaram em recomendar aos fieis a leitura de um Ricardo ou de um Bastiat... Por que nao rechearam suas Enclicas com luminosas citacoes de Molinari ou Mises??? Tens a resposta da Igreja nas entrelinhas sr Cagos, digo Cogos... Igreja apostolica alguma, Igreja tradicional alguma, Igreja historica algum pode deixar de revindicar autoridade no plano da Economia ou da etica, por avalia-la como uma atividade humana conectada as outras e nao sob o falso prisma positivista do isolamento. Pelos simples fato que a ciencia e o conhecimento de modo geral nao e produzido de forma compartimentada como imaginam os filhos de Litree.

Torno no entanto ao inicio de minha critica - Sua afirmacao e monstruosamente anacronica. Nem o sr poderia apontar-nos seriamente qualquer modelo social individualista anterior ao protestantismo no entorno do Mediterraneo ou na Asia. O desafio esta lancado e o sr deve ser um excelente historiador, do contrario consiga um bem bom para debater publicamente comigo, pois ja lhe digo que nao sou comunista ou anarquista (O que alias e publico e obvio - Pois sou bem reconhecido como culturalista!).

Desde ja no entanto ensaiarei uma aula gratis - Tendo se manifestado o Verbo Encarnado Jesus Cristo para criticar ou censurar os israelitas e suas crencas ou para demolir o judaismo antigo, ao menos quanto a um ponto esteve nosso Jesus de pleno acordo com eles, i e, com os antigos judeus e precisamente quanto a organizacao social deles que era gregaria, fraternalista ou solidaria. Conhecida e a preocupacao do hebreu para com outro hebreu, o sentido de conexao ou de identidade, enfim a dimensao social da vida... Notorio que esse ideario tenha sido assumido pelo Cristandade e transmitido de geracao em geracao a todas as epocas e idades futuras ate o advento do protestantismo no Norte da Europa, o qual rompe com a autentica tradicao Crista, inventa ou cria um novo modo de ser e produz um outro padrao cultural cada vez mais assumido pela igreja papa e enfim pela ortodoxia, o que alias podemos descrever com uma simples palavra> Apostasia. 

Sr Cagos ou melhor Cogos, a infiltracao do principio espurio do egoismo ou do individualismo na Cidade de Deus ou na Republica Crista a partir da reforma protestante corresponde a Historia de uma apostasia, nem mais nem menos. Pois toda distorcao do ideal Cristao, qualquer abreviacao em torno do sentido Cristao ou ainda qualquer tentiva reducionista em termos de consciencia Crista devera ser definido em termos de apostasia essencial, e o protestantismo e seu comeco ou ponto de partida.

Foi do protestantismo que partiram absolutismo, jansenismo, capitalismo, kantismo (Subjetivismo e relativismo), moralismo puritanismo, etc enfim todas essas poluicoes. Dai o ecumenismo pratico e perverso dos tridenticolas em termos de cultura - Hipocrita, fingido e ainda mais grave que o ecumenismo teorico da TL. Ecumenismo de esquerda e de direita, tudo farinha do mesmo saco e anti papista ou anti Catolico. Ortodoxo ou papista jamais assume idearios, principios, valores, elementos ou projetos protestantes, como bem sabia o Duque de Guise ou Garcia Moreno. O Cristao apostolico jamais apoia uma politica inspirada no americanismo ou um presidemente associado a um bando de pastores parasitas e venais. Aqui nao ha aproximacao, negociacao ou acordo possivel.

Concedo aos romanos e quica a alguns ortodoxos o privilegio da neutralidade, do afastamento, da alienacao. Enfim o direito de nao se intrometer ou de nao opinar. Como ex protestante jamais cessarei, por um instante, de denunciar como falsos os romanos ou os ortodoxos que assumem pautas ou elementos da cultura protestante, uma vez que nos Cristaos temos nossa propria orientacao, nossa pauta e nosso ideario. Ou ja viram os srs misturar a agua com o oleo???




sábado, 31 de julho de 2021

Tempo de assistir 'O tempo' ou porque Shyamalan não será indicado para o Oscar...



Tirei hoje um tempo para assistir 'O tempo', o novo clássico - Isso mesmo, um clássico, pois toda 'obra prima' nasce já sendo um clássico. - dirigido M Nigth Shyamalan.

A bem da verdade, absorvido por minha leitura das obras de Platão, ignorava que estivesse ele dirigindo um novo filme. No entanto, ao passar pelo Cinema existente no Shopping center de minha cidade, deparamos com o cartaz.

Diante disso, revi meus planos para o Sábado e decidi assistir ao Novo filme, descrito pela vendedora de bilhetes com um filme de 'Suspense' - E de fato ai temos um filme do mais puro suspense, compreendido como mistério. Nem por isso deixa de ser ele de terror. Não porém daquele terror estereotipado e banhado a sangue como 'O massacre da serra elétrica'. Tampouco de um terror sobrenatural e manjado a semelhança de 'O exorcista'. Não. Nada disto, aqui o contexto é outro e, pasme, há narrativa ou concatenação. Aqui temos uma trama, no sentido de que faz oposição a uma urdidura. 

Aqueles leitores nossos que acompanharam-nos até aqui temos de advertir que talvez haja Spoiler. 

Portanto se ainda não assistiu 'O tempo' para de ler este artigo e corra ao Cinema. E não, não estamos recebendo qualquer comissão pelo convite. O quanto aqui fazemos é em benefício da cultura geral, do raciocínio, da Ética, da formação pessoal, etc de não a custo de 'vil metal'.

Não perca portanto a oportunidade de deliciar-se com o tempo, filme feito não para pessoas medíocres mas para gente que pensa ou para seres pensantes. Pois é obra que estimula o pensamento no mais alto grau.

Eu assisti e posso dizer desde já que foi, ao menos para mim, uma experiência tão marcante quanto a que tive ao assistir "Elysium", "O preço do amanhã" ou "V de Vingança". Os quais até hoje são presença obrigatória em meus artigos, aulas, palestras, etc Especialmente quando versam sobre Ética, virtude, moralidade, dilema, ciência, etc

Antes de tudo não creia que o diretor se atrapalha ou embaralha com qualquer coisa. 

Não são 'O Tempo' ou seu diretor que se embaralham. Não - O quanto fazem eles é decodificar para nós uma realidade atrapalhada ou um mundo embaralhado.

Pelo contrário, é 'O tempo' filme de rara acuidade Psicológica e Social, capaz de captar perfeitamente a mentalidade de um psicopata ou canalha que pensa a si mesmo como mocinho, herói ou redentor da humanidade. Em 'O tempo' esta presente o espírito venenoso e sorrateiro de Maquiavel com suas terríficas consequências. Como também esta nele, e é precisamente o que faz dele um marco ou uma obra exponencial, vigorosa resposta a premissa positivista segundo a qual a Ciência nos dará uma Ética, o que alias vem já prometendo há quase dois séculos...

Será que de fato dos laboratórios e tubos de ensaios saíra uma Ética superior a que nos foi dada por Sócrates ou pelo Evangelho (Disse Evangelho não Cristianismo e menos ainda bíblia.)???

Não, não me impressionei com a capacidade de certas pessoas fazerem o mal (Embora quase sempre socrático não creio que a maldade humana seja sempre expressão da ignorância do bem. Todavia conduzido por um otimismo ingênuo e tosco, cheguei a crer que os homens tivessem consciência de seus crimes ou algum vestígio de culpa. "O Tempo" no entanto reconduz-nos a realidade da vida vivida na qual os criminosos não apenas vangloriam-se do que fazem como apresentam-se como beneméritos. 

Assim o é... Fazer o que? Pois enquanto uns possuem sentimentos inconscientes de culpas infundadas outros são simplesmente debochados, insensíveis e cruéis no mais alto grau... 

Talvez se observar com atenção a morte do segundo personagem e de seu cão alguém consiga intuir o desenrolar da trama... O que leva um idoso a morrer antes dos outros? Que leva um cãozinho a perecer primeiro?
 
A partir de 'O tempo' você começará a entender porque os ateus e materialistas apreciam tanto a doutrina no ideologia do Caos, e qual o sentido dessa ideologia. 

Em seguida se lembrará talvez do misterioso 'Triângulo das Bermudas', agradecendo aos céus ou a Providência porque ele não e outros locais do gênero não possuem existência real. Afinal nossa existência, mesmo sendo bizarra, poderia ser ainda mais bizarra e monstruosa. Amorosos céus...

Nada mais reconfortante saber nosso mundo natural e uniforme. 

Para além disto há também material para uma boa reflexão existencial em torno de um casal de jovens, de seu bebê e da morte acidental. 

E como se não bastasse há ainda uma lição de amor em termos de vínculos, cumplicidade e resgate, com direito a heroísmo e quem diria, a um final feliz. Como a ensinar-nos que em meio a mais densa treva pode haver alguma luz...

Há enfermidades - Esquizofrenia, Alzheimer, cegueira, tumor, epilepsia, etc Num quadro de temporalidades, mortes, aparências, engano, amizade, afeto, educação, etc elementos muito bem relacionados uns com os outros e que fazem deste filme, como registrei a princípio, um clássico.

Após terminar de assistir a 'O Tempo' talvez nos tornemos pessoas mais prudentes, quem sabe prudentes como as serpentes e aptos para saber que 'Quando a esmola é demais o santo desconfia' ou se ferra... Pois o preço de um paraíso oferecido de mãos beijadas bem poderá ser um inferno de dor...

Opino no entanto que 'O tempo', devido a seu sentido Revolucionário - Não para comunistas e anarquistas ou no sentido usado por eles! - passará batido. Não contará o apoio das galinhas que não botam ovos, i é, dos críticos e quiçá sequer seja indicado para o Oscar. Pois sem querer ele destapa um cloaca ou boeiro demasiado fétido.

De fato temos uma produção que nas entrelinhas questiona o espectro, ainda vivo e presente, do cientificismo ou do positivismo. 

Claro que uma produção que questiona tais valores não poderá ser bem acolhida por uma mídia movida a grana ou por uma cultura econômica 'evolutiva' ou progressivista. 

"O tempo" como já disse não é uma produção ingênua, mas crítica, e que crítica uma parte ainda essencial - e mitológica - de nossa cultura. 

E como o genial ateniense dizia que antes de buscar conquistar o universo devemos conhecer e dominar a nós mesmos há humanismo na nova produção de Shyamalan. Sendo essa obra mais um testemunho artístico a respeito dessa inversão a que chamamos civilização. 

No entanto não se preocupe se após ter assistido 'O tempo' você não conseguir perceber tudo isso de uma vez. Caso perceba alguns dos elementos apontados já saíra mais rico e melhor... E por fim, sempre poderá reassistir o filme, uma, duas, três ou até mais vezes, que bem merece.

Eis o quanto queríamos registrar sobre "O tempo", seu diretor e seu significado.

Bora partir para o Cine mais próximo e assistir Shyamalan???

 




quinta-feira, 15 de julho de 2021

A metafisicalização das verdades e a deturpação da realidade.

Nobre é a busca pela verdade e preciosa sua aquisição.

Há mais de milênio e meio disse alguém que toda e qualquer verdade procede, ao menos remotamente, do Espírito divino.

De fato qualquer verdade, por ínfima e humilde que possa parecer é como que uma cor ou tom no caleidoscópio do infinito.

Da combinação química presente no molho béarnaise e da formula da água as complexas fórmulas matemáticas que exprimem a realidade da física, assim a Teoria da Relatividade.

Agora por belas e majestosas que sejam certas verdades matemáticas expressas por gênios como Tales ou Pitágoras, Euclides ou Arquimedes, Euler ou Gauss, tem elas seu próprio lugar ou espaço no plano da realidade. 

E mal fica que um Pareto as queira transplantar a fina força para o plano da economia com a esfarrapada desculpada de que é a economia uma ciência exata e assim tão matemática como a física.

Como mal fica a matematicização total iniciada por Descartes e completada por aqueles (Dentre todos por Comte.) que, a modos de novos Pitágoras, aspiraram levar as fórmulas newtoneanas a Filosofia, a Biologia, a Geografia, e assim por diante. E daí surgiram sistemas ideológicos aberrantes.

Não que deseje increpar as matemáticas apenas. Que os matemáticos, face os religiosos, os biólogos, o sociólogos e outros foram humildes. 

Comecei pelos matemáticos e ideólogos matematicizantes, geralmente de inspiração positivista, apenas para obter exemplos.

A partir dos quais a escamoteação da realidade ficasse suficientemente clara, e se pudesse perceber o processo de metafisicalização urdido pelos ideólogos inconsequentes.

O qual consiste em detectar uma verdade qualquer situada em determinado campo da realidade e estende-la a todos os outros campos, qual fosse, um princípio universal capaz de tudo explicar quando na verdade mística e obscurece a contemplação da realidade.

E é esta manobra tão aberrante a ponto de que, quando certo fato nela não se encaixa, destoando do esquema, bastar para que o dito fato - E outros mais - seja negado. E negam-se fatos que são verdades em nome da teoria ou do esquema querido. 

Partindo da fé religiosa por exemplo, que é, do ponto de vista Cristão Ortodoxo e Católico, imutável e autoritativa, concluiu certo grupo, representado de modo geral pelos integralistas, que também a organização política e social deva ser imutável e autoritativa ou autoritária, isto a ponto de apresentarem seu monarquismo ou despotismo e seu conservadorismo tosco como espécie de dogmas de fé (O que de fato converte-os em heréticos.). Quanto ao papismo já disse que o insuspeito Joaquim Pecci ou Leão XIII, desferiu rude golpe sobre tais homens desorientados ao declarar, como era esperado e justo, que a organização democrática é perfeitamente compatível com a fé, o que é igualmente válido quanto a fé Ortodoxa ou qualquer Igreja apostólica. 

Já quanto o conservadorismo tosco, que é um pensamento rasteiro e falsa apreensão da dinâmica social escusado seria que um papa romano, patriarca, Bispo, presbítero ou clérigo qualquer o refutasse.

Afinal quem autorizou tais pessoas a ultrapassarem os limites do sagrado e aplicar as notas que pertencem exclusivamente a revelação divina, a realidade sublunar e as instituições humanas. Agora porque a Revelação divina é autoritativa e divina desde quanto as instituições políticas e sociais devem ser autoritativas e divinas? Nada mais ímpio do que divinizar o humano, pois é aproximar-se da idolatria. 

É o quanto basta sobre nossos irmãos desorientados. 

Passo agora os agostianianos e heréticos da mesma cepa, representados por Calvino e por diversas seitas protestantes, os quais estendem sua crença ímpia sobre a corrupção total da natureza humana e a inexistência do livre arbítrio ou o determinismo sagrado a realidade vivida como um todo. 

E tocando a questão da epistemologia advogam que o homem nada pode saber fora da Revelação, posto que os sentidos e a razão enganam-no. Pronto temos o ceticismo...

Agora como é o homem um ser sempre depravado, apesar da graça e do batismo, é necessário que seja objeto de uma educação repressora. Pronto temos o moralismo ou puritanismo.

E como mesmo essa educação não basta para redimi-lo precisamos de uma estrutura eclesial ou secular com que fiscaliza-lo e disciplina-lo, mantendo-o sob controle. Pronto temos o autoritarismo.

E como todo esse ordenamento procede da fé imutável temos o conservadorismo.

E como a experiência e a reflexão nada são, a ciência - Especialmente se oposta aos mitos judaicos do antigo testamento. -  tampouco vale alguma coisa - Pronto temos o negacionismo, do qual procedem criacionismo, geocentrismo, terraplanismo, etc 

Agora veja como temos aqui um perfil ideológico bem definido procedente do agostianismo/calvinismo com sua antropologia e psicologia estendidas a diversas outras áreas da existência.

E não é para admirar que a mesma criatura que se recusa a reformar a Sociedade ou a moralidade, após ter reformado muito mal o Cristianismo ora pretenda reformar a História, a Geografia, a Física, a Química, a Biologia, a Psicologia e todos os conhecimentos sólidos e seguros aduzidos pelo gênero humano.

É toda uma escolástica de matriz religioso parte parte de um dado equivocado.

Pois aqui não se trata de verdade alguma. No entanto mencionamos a tragédia, por ser correlata ao fenômeno que relatamos quanto a profanação da verdade.

Ainda no plano religioso dos erros temos o princípio individualismo canonizado pelo protestantismo já em seus primórdios, o qual foi sendo sucessivamente secularizado e aplicado a outros campos da realidade pelos protestantes. De que resultou uma economia individualista a que chamamos liberalismo econômico ou capitalismo. Uma negação da política, a que chamamos anarquismo, especialmente a partir de Stirner. E uma proposta 'ética' que conservou o termo individualismo com Ayn Rand, havendo quem por força de coerência sejam protestante, capitalista, a anarquista e individualista - Assim um ANCAP. E temos pessoas com esse perfil nas Igrejas Ortodoxa e romana nas quais as normas e regras são totalmente opostas a esta visão, por partirem de um princípio diametralmente oposto ao individualismo, como o solidarismo ou fraternalismo.

No entanto essa infecção ideológica saiu de controle, deixou seu campo - que era o protestantismo, um campo religioso - e contaminou diversos outros, produzindo alias um sistema de cultura, tanto mais firma nos EUA e tanto mais preciso sob a forma ANCAP, que é produto final de tudo isso.

A partir do anarquismo, surgiu esse negacionismo iconoclástico radical, adversário de todas as instituições e não apenas da política, o qual estendeu-se ou alastrou-se a quase todas as áreas da realidade como uma espécie de rival do conservadorismo. E se o conservadorismo, sem fazer mínima distinção entre bem e mal ou entre o que merece e não merece ser conservado segue seu caminho, o anarquismo, assumindo um progressivismo virulento de origem metafísica, vai pelo extremo oposto. 

No plano institucional esse anarquismo (A que Sorel credita o mérito de o te-lo em conta de incoerente. Rappoport) negou-se a inserir-se onde quer que fosse: Parlamento, sindicato (Sorel, Kropotkin e os seus o fizeram por conta e risco e enfrentaram o repuxo da 'Ortodoxia'.), escola, igreja, etc apregoando a deserção do mundo e a destruição completa do mundo burguês por meio de uma Revolução não poucas vezes sangrenta. Pouco mais tarde completou o anarquismo seu trajeto e coroou sua visão totalizante com a negação da cultura teórica: Da Filosofia, assim da gnoseologia; da ciência, assim da epistemologia e enfim da estética, negando o passado em sua totalidade. Aqui encontrou-se ele com o ceticismo, em parte já secularizado e com o relativismo/subjetivismo kantiano tributário de Lutero e assim de Agostinho. Sem averiguar as possíveis fontes de suas crenças carregou e trouxe consigo o anarquismo, um travo pessimista quanto o passado do homem, no qual viu apenas opressão.

De modo que o partindo da negação do parlamento ou do politico e passando pela negação das instituições atuais, chegou o anarquismo a manifestar-se e impor-se como modelo ideológico completo, aqui sustentando posições céticas e relativistas, ali posições anarquistas (Vide a posição de Feyerabend quanto a pesquisa científica.), e por fim quanto as artes, posições psicologistas que ajudaram a criar essa arte sinistra que é a arte moderna, alias com grande dose que pragmatismo burguês advindo da cultura capitalista. 

Podemos dizer assim que o espírito anarquista alastrou-se pelo universo e consolidou-se em diversas áreas que sequer faziam parte da proposta primitiva. E produziu-se como dissemos uma visão anarquista totalizante, um óculos ou uma lente a partir da qual se busca ver o mundo através da mesma perspectiva e manter certa dose de coerência.

O que queremos dizer ao fim deste artigo é que elementos das matemáticas cartesiana e newtoneana, da Revelação Cristã ou da heresia agostiniana e enfim da postura anarquista - E são apenas alguns exemplos - foram recortados ou descolados e inseridos artificialmente noutras tantas áreas da existência ou do conhecimento de modo a tudo explicarem ou darem origem a visões de mundo que obscurecem a própria realidade. Daí resultaram diversas ideologias ora reinantes como o positivismo, integralismo, o puritanismo, o conservadorismo, o autoritarismo, o determinismo, o negacionismo científico, o irracionalismo, o ceticismo, o negacionismo social, o psicologismo, o modernismo estético, etc todo esse cipoal que não poucas vezes se enlaça e encontra, complicando ainda mais a compreensão e consequentemente a exposição das ideias.






domingo, 1 de março de 2020

Nótulas sobre o pensamento contemporâneo

- Como já dissemos nem Descartes nem Spinoza foram iconoclastas no sentido de negar por completo o passado ou o pensamento antigo. Criaram algo novo, novos espaços e setores, os quais todavia conectaram aquele passado. Tampouco Hume ou mesmo La Mothe Vayer, assim Montaigne criaram algo que fosse radicalmente novo, remontando sempre aos céticos do passado ou a tradição agostiniana. Kant é quem criou algo de novo ou um novo sistema, merecendo ser classificado como Copérnico ou Lutero da Filosofia. Foi ele que, buscando elaborar uma solução de compromisso entre o ceticismo e o dogmatismo, produziu o idealismo transcendental ou crítico condenando o exercício da Metafísica ou melhor da Teodiceia e buscando justificar o conhecimento derivado do empirismo, do que resultou a ideologia positivista. Buscou assim Kant evadir-se ao materialismo, ao espiritualismo, ao teísmo e ao ateísmo, lançando as bases do agnosticismo.

No entanto este mesmo Kant, enquanto pensador do conhecimento ou gnoseológico, fugiu a simples empiria e praticou a especulação metafísica. Resulta disto que não repudiou a Metafísica como um todo, e que fez um recorte, focalizando sua crítica na Teodiceia i é em Deus e por ext na imortalidade da alma, com o objetivo de apresentar tais problemas como intangíveis ao intelecto e assim como insolúveis. Agora por que fez Kant este recorte, fixando arbitrariamente (Onde achou ou quis.) as "Colunas de Hércules" da reflexão? Para dar competente resposta a indagação acima devemos ter em mente que esse tão aclamado Kant era Luterano - Jamais rompeu formalmente com essa fé - e que Lutero, irracionalista e fideísta (Agostiniano), tinha Aristóteles, a Filosofia greco romana, o pensamento clássico, a Teodiceia naturalista e a própria razão em conta de seus principais inimigos (Mais do que o Papa romano). Lutero queria tudo atribuir a fé e Kant seguiu-o, atribuindo o tema de Deus a religião, a fé ou aos livros religiosos, e dando todos os antigos gregos por perfeitos estúpidos. Kant foi um imitador de Pirro no sentido de buscar justificar metafisicamente ou filosoficamente um preconceito de origem religiosa, no primeiro caso o Luteranismo e no segundo o Busdismo... a dinâmica é a mesma - A Epoché continua sendo budista (Assim a ataraxia) e o fideísmo gnoseológico continua sendo luterano, sem que haja verdadeiro conteúdo filosófico em tais afirmações. No primeiro caso temos apenas uma mutilação arbitrária e no segundo uma fuga face a reflexão filosófica. (cf Kant e a Teologia)

- Quanto a linguagem ou expressão, bastante complexa, com que nos deparamos na obra de Kant há muita crítica injusta e destemperada. Que hajam graves contradições - Apontadas com habilidade pelo Pe Thiago Sinibaldi - em seu pensamento é assente e demonstrável, que tenha cunhado expressões ocas nos parece exagerado e injusto. Kant visava dar golpe de misericórdia na escolástica (A qual recusava-se a estudar - O que nos parece bem pouco filosófico). Para tanto foi a suas fontes mais remotas i é a Aristóteles (Campeão da Teologia natural) cujo vocabulário técnico, bastante complexo, adota e assume. Kant não tem culpa de que os modernos ou pós modernistas ignorem supinamente o aparato conceitual aristotélico.

- Resta dizer que quem é por Kant, esta em conflito aberto com tudo quanto o antecede, assim com Parmenides, Anaxágoras, Sócrates, Platão, Aristóteles, Speusipos, Straton, Dikaiarkos, Xenócrates, Crantor, Zenon, Antioco, Cícero, Sêneca, Filiponos, Eurígena, Aquino, Scottus, Phleton, Ficcino, Pomponnazi, Telésio, Erasmo, Bacon, Descartes, Spinoza...

- Outro é o caso de Hegel, metafísico confesso, o qual prosseguiu decididamente na senda traçada por Leibnitz, construindo expressões ainda mais grotescas, pomposas e vazias (cf Schopenhauer)  Criou uma Filosofia de bolha de sabão ou bexiga, a custa de tais expressões sem sentido e disto resultou outro sistema bastante aclamado em torno do Estado, o qual a partir de um lento processo imanente identifica com o pensamento divino. Deste homem confuso e desorientado partiram todos os idealistas alemães como Fichte, Schelling e aqueles tão criticados por Marx na 'Ideologia alemã', cada qual apresentando uma versão própria da 'filosofia' e pagando tributo a um subjetivismo desbragado. A reação, como não poderia deixar de ser, foi a 'inversão' de Marx, i é, em termos já de materialismo/ateísmo ou de positivismo. Em certo sentido Hegel, pela via da compulsão, conduziu a metafísica alemã ao colapso e a morte, fortalecendo a posição dos kantianos e marxistas.

- Marx, não se satisfazendo com a metafísica materialista mecanicista dos iluministas franceses (Helvetius e De Holbach), adicionou alguns temperos hegelianos e a partir de uma análise histórico social, formulou sua doutrina do materialismo dialético. O preconceito materialista seja sob um ou outro rótulo, cegou-o e desviou-o para sempre de um são realismo. Ele jamais pode reconhecer, em pé de igualdade com as forças materialistas de produção, o potencial concreto das ideias fossem ou não religiosas. Concedemos que deparou com uma Sociedade materialista e economicista e com uma religiosidade - Representada pelo protestantismo - derrotada e servil... No entanto este encontro não justifica a generalização abstrata com que pretendeu, a partir desta realidade particular ou específica, explicar todo processo histórico, desde a História primitiva, incluindo a Antiguidade e a I Média. Fugiu aos limites do simples recorte e metafisicou.

A simples existência dos mártires Cristãos dos primeiros séculos ou da substituição do paganismo antigo pelo Cristianismo, a dinâmica do islamismo ou do Japão e China budistas e o significado do socratismo deveriam te-lo alertado a respeito de suas precipitações. Especialmente após Fustel de Coulanges - Antecipando Weber, Graves, Dawson, Butterfield e Voeglin - ter publicado sua monumental 'Cidade antiga'.

- Atenuando as críticas nem sempre justas e sensatas de Popper convém admitir que a obra de Marx possui dois aspectos: Um objetivo ou como dizem científico que é sua análise crítica do capitalismo mormente representada pelo Capital. Esta não apenas permanece válida como foi utilizada por J M Keynes. O outro aspecto parece fugir a sua orientação - Não a nossa! - materialista, pré positivista, anti metafísica, etc é seu apelo a uma normatividade ética ou ideal ou seu futurismo. Marx, ao contrário dos demais empiristas/materialistas ressente, ao fim de tudo, uma influência Socrático/Cristã. Pelo simples fato de não contentar-se com uma realidade dada (O que é) tida em conta de injusta, ousando crítica-la e substitui-la por uma outra ordem, a qual só pode ser derivada de princípios ou valores ideais. Disto resultou a Ideologia Comunista, a qual apesar de seus equívocos monstruosamente bizarros, foge ao conformismo anti ético e até cruel de seus críticos ateus, materialistas, positivistas e cientificistas. Ora os humanistas e Cristãos, mesmo discordando quanto aos métodos propostos por Marx e seus colaboradores, não podem acompanhar os ateus, materialistas, positivistas e cientificistas quanto a aceitação passiva de uma realidade ingrata ou injusta. E por isso, em que pesem os erros gravíssimos do comunismo, ousam declarar que a posição de parte de seus críticos é ainda pior e mais grave.

- Já aludimos diversas vezes ao erro de Freud. Como Marx ele fugiu aos limites do recorte e dando com uma realidade cultural ou particular, abstraiu do tempo do tempo e do espaço, elaborando uma metafísica pan sexualista posteriormente emendada ou reformada com base nas sensatas críticas elaboradas por seus ex discípulos. De modo que num determinado momento o próprio Freud - Sem jamais retratar-se formalmente - rompe com o paradigma sexualista e admite outros princípios de regulação. Sua abstração metafísica, como a de Marx, é grotesca. Não seu método ou o caráter relativo de suas constatações, menos ainda o resultado de sua crítica ao puritanismo/moralismo vigente. Claro que a partir de suas críticas parte da Sociedade passou ao extremo contrário, i é a um sexismo desbragado, com sérias consequências sociais, políticas e culturais. Em que pese este desvio continuamos buscando utopicamente por um padrão de equilíbrio em que a sexualidade humana seja aceita com naturalidade, mas, sem ser deificada ou exaltada acima de tudo.

- Darwin alias é anterior a Freud. Porém queríamos estabelecer uma conexão entre o erro de um e de outro. Darwin não pertence aos domínios da Filosofia ou do pensamento abstrato posto que pesquisador ou naturalista. Era ele um homem do empirismo. No entanto sua formulação teorética - já antecipada por Lamarck, St Hillaire e outros - não poderia deixar de incidir sobre todos os domínios do pensamento humano - Psicologia e teologia, passando pela economia e pela sociologia. Foi a partir dele que o naturalismo converteu-se num paradigma, mais do que a própria evolução. Assim ele coroa a obra de Copérnico, Agricola, Newton, Hutton e Buffon/Lamarck/St Hilaire, demonstrando que o corpo humano esta inserido na ordem natural e que também este homem vaidoso não passa de um animal, ainda que racional. Não é o centro do universo, tampouco o centro da terra e sequer o centro da vida. Destarte terá este homem de procurar sua particularidade gloriosa na capacidade perceptiva e racional para a reflexão e para a apreensão das verdades metafísicas. A Filosofia é que lhe trará o sentido especial que sempre buscou por caminhos errados. É este homem um dentre tantos animais, vagando sobre um grão de pó na periferia do espaço... E no entanto, como dizia Pascal nos 'Pensamentos', tem consciência de si ou pensa, enquanto que nem Júpiter, nem o Sol, nem Arcturo tem consciência de si ou capacidade para pensar. É um caniço, um verme, um grão de poeira ou uma átomo perdido na imensidão do universo, e ainda assim caniço, verme, poeira ou átomo pensante...

- Einstein, o qual jamais supos que sua teoria física da relatividade geral fosse gnoseologicamente relativa ou duvidosa, demoliu o mito do espaço absoluto. Tudo quando temos em nosso universo é uma relação entre corpos em movimento. Neste universo que se expande ou amplia tudo esta em movimento, pois o estado de repouso é relativo a certas situações vividas por nós humanos. Este computador bem pode estar em repouso com relação a mim... Move-se no entanto caso esteja eu num trem. Move-se com as placas tectônicas, com o planeta, com a galáxia, com o universo... Tudo é movimento. E o tempo uma propriedade deste universo em expansão. Por isso nosso referenciais de tempo são relativos a terra ou ao sol, não absolutos. Quiçá o aspecto mais interessante da teoria da relatividade geral não seja a teoria em si - Simples dedução com base nas experiências feitas por Morley em 1881 - mas sua expressão (Tomada a Descartes e Newton) em termos matemáticos cujo sentido e exatidão pouquíssimos intelectuais foram capazes de compreender.