domingo, 31 de julho de 2011

O comunismo ateu e o falso cristianismo



Quando eu militava no PCB encontrei muitos comunistas que eram mais ateus do que comunistas propriamente dito. A única coisa queriam socializar era seu ateísmo e falar das coisas que solenemente ignoram. E, sendo cristão encontrei muita resistência como já tive oportunidade de escrever numa outra postagem. E por ignorarem história eclesiástica, do mesmo modo que os protestantes só falam da inquisição ou de como a Igreja era aliada da burguesia. Se lessem história eclesiástica veriam que não é bem assim, acontece que essa gente é, como diz meu amigo Tejo, (o mais novo colaborador deste blog) gente binária, que só tem duas possibilidades ou 0 ou 1.

Se ao menos esses marxachistas se dessem ao trabalho de ler a literatura patrística, Tomás de Aquino e o historiador marxista Eric Hobsbawn, eles teriam outra posição frente à religião cristã. Pois se eu cheguei ao socialismo não foi por via de Marx, Engels e Lênin, mas por via de Jesus Cristo, de seus apóstolos, dos padres da igreja e em certa medida de Tomás de Aquino, da doutrina social da igreja e também por causa da teologia da libertação. Mas quando falo que cheguei ao socialismo por meio do cristianismo, quero dizer por meio do catolicismo romano e por meio do cristianismo ortodoxo e não por meio do protestantismo (que embora tenha muitas pessoas boas) que segundo Karl Marx "é uma religião essencialmente burguesa".

Evidentemente houve e há marxistas que reconhecem que a religião cristã foi e pode ser revolucionária, cito aqui o nome de Rosa Luxemburgo com seu opúsculo "O Socialismo e as Igrejas" no qual ela se refere à Jesus como socialista assim como os apóstolos e os santos padres, por isso se prova que as igrejas ortodoxa e católica não foram sempre burguesas mas se tornanram burguesas, isto é, traíram seus princípios, mas é claro que se trata do alto clero, pois o socialismo cristão jamais cessou de existir um minuto sequer, isso só seria possível se os Evangelhos desaparecessem da literatura e se fossem pagados das mentes cristãs.

O capitalismo é essencialmente ateu, posto que não tem dias santos para guardar, os dias é que devem santificar o capital; O capitalismo não se preocupa com o homem criado à imagem e semelhança de Deus, antes o reifica, o robotiza, isto é, tira-lhe a personalidade e tudo aquilo que faz dele um ser humano. Em minha opinião não se deve combater uma ideologia ateia com outra ideologia ateia, digo não se deve combater capitalismo com o comunismo marxista-leninista, pois os regimes ateus sejam da direita e da esquerda já mostraram a que vieram: aniquilar o ser humano e a natureza.

Tenho pleno conhecimento que o comunismo ateu surgiu por uma falta grave do cristianismo, pois quando este deixou de fazer o que era seu dever, abriu brecha para os ateus marxistas-leninistas se apossarem daquilo que por direito pertence ao cristianismo e mesmo ao judaísmo vétero-testamentário: o socialismo.

Com o advento do capitalismo surgiu também o falso cristianismo, um cristianismo que apresenta um Jesus Cristo que não é o do Evangelho, que apresenta um Evangelho apócrifo, um cristianismo que defende a burguesia e o latifúndio como é o caso da TFP e das seitas mais reacionárias do protestantismo que se usam da religião não para combater o ateísmo, mas para combater o socialismo. Ora, os verdadeiros cristãos nada tem contra a crítica do capitalismo feita por Marx e seus seguidores, mas contra o seu ateísmo. Mas há burgueses que se escudam na religião cristã, para defender seus privilégios e não para defender a fé ensinada por Cristo. Esse cristianismo falsificado, made in China, é tão ateu quanto o capitalismo ou quanto o comunismo marxista-leninista e não merece respeito algum. Aliás, os que se declaram abertamente ateus merecem respeito por não se esconderem atrás de véus religiosos, filosóficos ou artístico.

Penso que os grandes propagadores do ateísmo são esses padrecos e pastorecos de 5ª categoria, que são reacionários e não oferecem uma outra via contra o capitalismo, pelo contrário ainda protegem e elogiam os burgueses que financiam suas igrejas e suas obras de pilantropia filantropia. Na verdade, o marxismo-leninismo é um protesto contra a religião que deixou de ser revolucionária, um alerta para que a Igreja Cristã retorne tão logo às suas origens. Se o cristianismo ainda tiver esse discurso burguês, vai continuar diminuindo cada vez mais e quando o capitalismo não mais precisar da religião, esse capitalismo como forma de gratidão dará um jeito de eliminar à religião e as igrejas que o apoiaram.

Os cristãos não gostam de Marx? Ótimo que leiam os Evangelhos; Não gostam de Lênin e Trótsky? Que leiam os sermões e homilias do Padres da Igreja e abandonem esse falso cristianismo que nunca foi e jamais há de ser aquele cristianismo ensinado e vivido por Jesus e seus discípulos.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Considerações sobre o PCB e a internacional comunista

"A história só se repete como farsa"
Karl Marx

"Quem não conhece a história de seu povo está destinado a repetí-la".

Militei por quase dois anos no PCB e saí como delegado para o congresso estadual em Campinas e como delegado para o XIV congresso nacional desse partido. Acreditei na ideologia do partido, pensei inclusive que havia igualdade entre os membros do PCB e não havia, triste engano.

Depois de muito ler e muito estudar percebi que os PCs do mundo inteiro reproduzem o autoristarismo e nesse ponto não há que diferenciá-los das ditaduras reacionárias dos militares da América Latina. Ditadura é ditadura, não existe essa coisa de ditadura de proletariado como bem ensinou Bakunin: "Se o proletariado se torna a classe dominante, sobre quem ela dominará? Sobre os camponeses? visto que os marxistas não gostam muito dos camponeses". (citação livre)

Eu nunca entendi porque os papas romanos e dentre eles Pio XI e Pio XII não permitiram que católicos romanos se filiassem ou sequer colaborassem com os comunistas, mesmo porque eles não tem uma moral ou melhor tem uma moral, sua moral é aquela ensinada por Maquiavel: "Os fins justificam os meios". E se os meios para conseguir tal objetivo for matar os próprios camaradas, os comunistas não hesitam, porque o único bem, a única verdade é o partido. Parafraseando São Cipriano bispo de Cartago: "Fora do partido não há salvação!". Acaso o partido comunista da Espanha não assassinou um de seus maiores quadros? Victor García García?  Os PCs da vida não são só amorais mas imorais, por não terem moral, sei que certos leitores se revoltarão com essa postagem, talvez até deixem de me seguir, ou me chamem de reacionário, de pequeno burguês, lupemproletariado e outras coisinhas mais que comunistas que pensam com intestino grosso sabem fazer. Ser chamado de reacionário por comunistas que cultivam a estatolatria é um elogio, pois como bem disse Bakunin: "Todo revolucionário se torna reação quando alcança o poder". (citação livre)

Evidentemente que a internacional comunista reproduziu todos os defeitos da ex-União Soviética, com seus banimentos, expurgos, perseguições e assassinatos. Não foram vítimas de Stálin: Bukhárin, Zinoviev entre outros?

Em minha ingenuidade pensei que um cristão pudesse ser comunista, colaborar com algum órgão político da internacional comunista, mas logo descobri ser isto impossível. Os comunistas via de regra são ateus, mas não aquele tipode de ateu tranquilo que pouco se importa com Deus ou deuses, mas daqueles ateus fanáticos, sim fanáticos porque precisam se autoafirmar como ateus e inimigos da religião. Certa vez eu fiz um curso em São Paulo e o conferencista era um desses ateus, falando a todo momento ora contra Deus, ora contra a religião e ora contra Paulo Freire que ele não engolia de modo algum por ser este um cristão e marxista. E esse cidadão me alertou que comunismo não combina com cristianismo. Um outro reclamava que o cadernos de resoluções do XIV congresso do PCB cheira a humanismo cristão, etc... Evidentemente que me senti no dever de calar a boca de todos esses pseudos intelectuais que sabem tanto de Marx quanto meu cachorro de Kant.

Ainda no congresso nacional do PCB apareceu um sujeitinho comunista distribuindo o hino da internacional que trazia uma frase bem acima do hino: "A má notícia: Deus não existe. A boa notícia: não precisamos dele". Claro que alguns camaradas mais sensíveis ao sentimento religioso de não poucos militantes protestaram contra esse gesto infantil. Mas a verdade é que esse sujeito foi muito coerente com seu pensamento marxista-leninista, os outros camaradas é que não foram coerente com seu modus vivendi.

Outro dia um amigo me contou uma anedota sobre o PCB:

"Quando o CC (comitê central) se reúne a pauta do dia é: quem vamos expulsar do partido hoje?"

Realmente é bem assim que o PCB agiu e ainda age hoje, reproduzindo o mandonismo de seu querido paizinho Stálin.

Igor Grabois, que foi um quadro do partido, homem inteligente, que vivia em prol do partido tomou um chute na bunda depois de vários anos militando no partido, a mesma coisa aconteceu com Walber Monteiro. Eles (os donos do partido) procuram pretextos para eliminar seus adversários, pois não admitem serem questionados. Não acreditam em Deus, na imortalidade da alma nem nos dogmas do cristianismo todavia criam os seus dogmas e agem como se fossem infalíveis e criticam a infalibilidade do papa romano. No fim, esses senhores acabam sendo muito mais metafísicos que o papa e seus seguidores.

Mas essa história de expulsão de militantes não é de hoje a grande escritora Rachel de Queiroz também foi vítima desse partido que reproduz o que há de pior nos partidos burgueses, a saber: o autoritarismo.
No artigo de Antonio Albino Canelas Rubim [¹] parte do 3º capítulo da tese de doutorado Partido Comunista, cultura e política cultural, apresentada à Universidade de São Paulo encontramos o testo referente à Rachel de Queiroz e nele se lê o seguinte: "A flagrante hostilidade aos intelectuais  faz com que alguns se afastem e outros sejam expulsos. Rachel de Queiroz, então militante do PC,  teve que apresentar ao partido os manuscritos de seu romance João Miguel. Analisado, considerado uma história reacionária e bpequeno-burguesa, foi proibido de ser publicado sem que mudanças na narrativa e em 30 personagens fossem efetuadas. Não concordando com a decisão do PC, a escritora publica seu romance, sendo expulsa do partido. No seu livro seguinte, Caminhos de pedras, Rachel de Queiroz romanceia os anos de "proletarização" do PC.

Os dirigentes dos PCs são tão autoritários quanto os militares do Brasil que ainda continuam com sua empáfia de elitismo e de desigualdade social. Se um mero partido, partido pequeno, sem expressão faz censura, expulsa e faz intrigas o que não fará um partido desses se chegar ao poder?

Pensemos, se Rachel de Queiroz mudasse seu romance, essa obra já não seria sua mas do partido comunista, e eu não pertenço e nem quero pertencer um partido que despersonaliza e destrói o que há de melhor no ser humano, o seu eu.

Para terminar, sou socialista, sou cristão e por ser cristão abandonei o comunismo e muito antes disso abandonei a direita carunchosa e estúpida. Enfim, os comunistas e a extrema-direita se merecem.

[¹] Ciência e Cultura (Revista da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência)  41(6): 552-565, junho (1989).