terça-feira, 27 de outubro de 2015

Minha defesa das Cruzadas

Enquanto fui pacifista extremo nutri certo preconceito e - apesar de historiador e professor - mantive certa distância do tema.

Jovem, confuso e idealista cuidava que as Cruzadas estavam em oposição ao espírito do Evangelho.

E também confundia o abuso com o uso ou os excessos com a coisa em si.

No momento em que meu pacifismo tornou-se critico e minha compreensão do sentido do Evangelho mais ampla principiei a interessar-me por elas.

Não sei se foi o não por acaso que tal interesse associou-se as pesquisas que iniciara no campo da religiosidade islâmica.

Afinal não sou daqueles que costumam dissertar superficialmente sobre temas que na verdade supinamente ignoram. Aprecio quem opina e julga com conhecimento de causa e por isso costumo a exprimir-se com propriedade ou silenciar. Quando desconhecemos a natureza de determinado assunto é o melhor que podemos fazer!

Investiguei detidamente o islã: o corão, os sahis, algumas obras teológicas clássicas como At Tabari, os heresiólogos, historiadores e enfim algumas obras de natureza crítica. Li Hourani, Le bon, Goldziher e outros...

Assim quando folheei Maalouf  'As cruzadas vistas pelos árabes' - subentenda-se: muçulmanos... - e deparei com queixas em torno da agressividade, da violência, da crueldade, etc pensei logo na jihad, que são as cruzadas ou guerras santas dos maometanos, alias sancionadas ou melhor impostas pelo Corão e a Sunah, em seguida pensei na Djazia que é um imposto destinado a humilhar as minorias religiosas, na murtad que a pena capital a que ficam sujeitos os apóstatas; nos apedrejamentos, enforcamentos e mutilações determinadas pela fik... e no quanto tudo isto é humano, benigno, nobre, elevado...

Coerência continua mandando abraços aos muçulmanos que criticam o catolicismo e aos bons muçulmanos jihadistas que gritam contra as Cruzadas.

Ponhamos então os pingos nos Is.

Existe uma diferença crucial em torno do Cristianismo e do Islamismo.

E ela diz respeito justamente a questão da paz.

Para o Cristianismo quando aliada a justiça social a paz é um grande valor, uma expressão divina.

Por isso que os povos Cristãos não estão autorizados a impor a religião por meio da força e agredir as repúblicas e comunidades não cristãs. Os cristãos como os antigos gregos - por Cristãos compreendo antes de tudo Católicos e Espíritas - inclinam-se mais a persuasão ou ao diálogo e encaram o padrão da força com suspeição.

Concluindo: O recurso a guerra (mesmo em caso defesa) não é um dogma do Cristianismo. Nosso sistema não sacraliza nem abençoa a violência, apenas aceita-a em último caso, tendo em vista a defesa ou a implantação da justiça. Não temos um dogma chamado jihad que incita-nos a agredir ou a atacar os que creem distintamente. As 'Cruzadas' não correspondem a nosso modo de agir comum, mas a uma resposta...

Uma resposta a que???

Uma resposta as condições de violência criadas pela religião muçulmana no século VII desta Era.

Ocasião em que proclamada a Jihad contra os descrentes lançaram-se os árabes islamizados contra todos os povos e nações vizinhos com o objetivo de pilha-los, domina-los e impor-lhes o islã na ponta da espada. Quem iniciou sua expansão violenta em nome da fé foram os muçulmanos, eles é que agrediram e atacaram sucessivamente os impérios Persa e Bizantino, o primeiro Zoroastriano e o segundo Cristão Ortodoxo.

Não foram os 'malvados' cristãos que iniciaram os ataques ou as agressões por motivos credais: impor a fé Católica aos pobres árabes.

Os muçulmanos é que principiaram suas cruzadas ou sua jihad tendo em vista criar um império teocrático e estender a cultura árabe até os confins da terra.

Quem iniciou esta campanha tendo em vista a arabização forçada do universo foram nossos bons muçulmanos vencedores em Qadisyha, Anadayan e Aliarmuque... e pela ponta da espada, cometendo crimes, pilhagens e devastações foram ampliando seu império cultural e religioso.

A partir do século VII duas jihads anuais passaram a ser enviadas regularmente com o objetivo de atacar e saquear as costas da Ásia menor.

Diante deste contexto de guerra permanente levada a cabo pelos bondosos muçulmanos por quase quatro século só podemos compreender as Cruzadas como uma 'guerra justa' ou como um ato de legítima defesa. Fazia-se mister frear, mais uma vez o expansionismo árabe muçulmano, agora as portas da Europa.

A Europa a seu tempo social e economicamente 'estabilizada' após a conversão dos últimos povos pagãos do Norte, podia agora, fazer frente aos sucessivos ataques do islã e buscar dar-lhes competente resposta.

Era necessário fazer as fronteiras do islã recuarem até a arábia. Recuperando os antigos territórios pertencentes ao Império Bizantino como Síria, Palestina e se possível o Egito. E criando uma barreira ou muralha de proteção entre a Europa e a Península arábica.

De modo geral podemos dizer que a ocupação e dominação muçulmana obtiveram sucesso porque parte da população cristã derrotada acreditava ser melhor para si aceitar a derrota e submeter-se aos novos senhores, inda que pertencessem a outra religião. Queremos dizer com isto que não havia qualquer mandamento em torno de uma resistência violenta e menos ainda duma jihad! Nem existe qualquer mandamento cristão que proíba os fiéis de serem governados por pessoas de outra religião.

Ainda após a acomodação do Cristianismo a política imperial, a consciência Cristã ainda era capaz de discernir entre Deus e César.

Em certo sentido a paz afirmada como valor pelo Cristianismo foi compreendida por muitos como pacifismo crasso ou mesmo passividade face ao mal e a injustiça. E esta confusão foi perniciosa.

Outro era e é o sentido dos muçulmanos, que vencidos e conquistados por governante Cristão, recusavam-se terminantemente a aceitar este tipo de senhorio, exercido por um não muçulmano. Do que decorriam sucessivas e intermináveis sedições, rebeliões, conjurações; todas estribadas no dogma violento da jihad. Para os muçulmanos a simples ideia de se viver em paz sob um governo não muçulmano, é abominável. Aceitar a autoridade de um não muçulmano é uma heresia para os adeptos do maometismo.

Temos aqui um dogma que torna os muçulmanos insubmissos além de agressivos. Não só podem como devem governar outros povos impondo a Djazia aos dissidentes. Mas não podem ser governados por não muçulmanos e viver pacificamente sob seu jugo ou tutela. Trata-se de uma fé excessivamente turbulenta, que ignora por completo os pressupostos da paz.

Os islã é uma forma religiosa que aspira ao comando da Sociedade.

Por isso que minadas pela jihad, pela murtad, pela sharia... as cruzadas falharam miseravelmente. Sendo retomado o expansionismo islâmico. Agora pelos turcos seldjucidas... que terminaram por conquistar Constantinopla em 1476, e posteriormente por penetrar o continente europeu ainda nos século XV. No mesmo momento em que era banidos do Oeste (península ibérica) entravam novamente os sectários do Corão pelo Leste, e ameaçavam de conquista em conquista tudo submeter.

No entanto mesmo após a defecção protestante. Supostamente comprada pelo sultão aos reformadores como sugere Mika Watari. Os Católicos lograram frea-la mais uma vez em Lepanto... neste dia, por toda Europa, dobraram festivamente os sinos nos campanários das Igrejas anunciando a salvação.

Já antes disto e oitocentos anos antes (732) em Poitiers, Carlos Martel contivera o avanço deles pelo Oeste. Impedindo que levassem adiante seu plano de arabização da Europa, do qual jamais desistiram por um instante, achando-se até hoje fixado em suas mentes. Forçoso é reconhecer que se não fossem Carlos Martel, os Cruzados e D João da Áustria (em Lepanto) não poderíamos estar aqui hoje escrevendo livremente e divulgando tudo quanto pensamos...

Tendo triunfado o islã na Europa estaria cortado passo a Escolástica, aos Renascimentos, ao liberalismo político e religioso, o iluminismo, ao positivismo, ao socialismo, etc... Nada do nosso ideário secularizado teria sido possível ou melhor concebido. Para bem ou para mal tudo quanto temos a nível de cultura corresponde a falhas ou a sucessos do Cristianismo... o islã não teria conhecido os mesmos sucessos, nem cometido os mesmos erros...

De modo que nossos caminhos seriam os tristes caminhos do Wahabismo e do salafismo...

Filosofia, ciência e cultura; nossas fontes e raízes pagãs constituídas em torno da imanência, da profanidade, do laicismo e da liberdade, seriam completamente aniquiladas pela sharia com sua jihad, Djzia, murtad...

Outra não foi a sorte das decantadas Luzes do Islã, definitivamente apagadas há cerca de mil anos pela Ortodoxia sunita asharita ( Al Ashari e Al Gazalli) arquitetada em torno da insuficiência ou debilidade da razão humana e da inspiração plenária ou absoluta do Corão.

Admitidos tais pressupostos todas as áreas do conhecimento humano passariam a ser definidas por citações do Corão ou dos Sahis, as quais não se poderia questionar sem tornar-se herético e ser supliciado. E tudo ficaria reduzido a questões de exegese em torno do livro!!!

Diante de tudo isto bem posso compreender que os muçulmanos fanáticos e hipócritas teçam filípicas contra as Cruzadas e a Igreja Católica, censurando-lhe a violência que a religião deles SANTIFICA!

O que não compreendo é a facilidade com que os modernos (liberais, comunistas, anarquistas, etc) costumam repetir as mesmas filípicas desde os tempos da reforma protestante. De fato foram os protestantes, que jamais ousando pensar no que seria uma Europa totalmente islamizada, pela primeira vez registraram tão amargas e ingratas críticas a seus audazes ancestrais. Os quais não pouco sangue tiveram de verter nas inóspitas regiões da Palestina para que cá estivéssemos hoje debatendo livremente tais temos num clima democrático ao invés de estarmos recitando versos do Corão diante duma madrassia...

A tantos quantos divisam algum valor na liberdade e no socialismo, na ciência e na reflexão filosófica; e que diante disto não hesitam avaliar a cultura européia - matriz de nossa cultura - como superior face a cultura fundamentalista e teocrática do islã sunita ou wahabita com suas burkas, direi que chegamos até aqui graças a Carlos Martel e as Cruzadas, e que se não fosse a resistência exercida pelos Cruzados nossa realidade não seria em nada diferente da do Sudão, do Iraque, do Paquistão...

A História de nossa Sociedade e Cultura passa pelas Cruzadas.

E nem mesmo o protestantismo teria vindo a luz caso o islã viesse a atalhar os passos do romanismo e a extirpa-lo da Europa como fez a Ortodoxia no Oriente.

De modo que até mesmo os vaidosos reformados tem uma dívida irremissível face a tais expedições defensivas.

A tal respeito confirma-se o veredito do poeta:

"O homem viu uma cobra
Pelo frio entorpecida
Teve dó dela e no seio
Lhe volveu calor e via
Porém logo que a serpente
A consciência cobrou
afiadíssimos dentes
Em seu benfeitor cravou."

Assim a atitude dos modernos para com a Igreja romana e as Cruzadas.

Aos que de nós discordam propomos a experiência de irem proclamar seus ensinamentos religiosos, sociais e políticos em Meca, Medina ou Riad...

Se sobreviverem nos daremos por plenamente convencidos a respeito da maravilhosas luzes do islã! Dizemos isto porque enquanto escrevemos estas linhas os amáveis sauditas acabam de condenar mais um Blogger ao 'tronco'...

Nenhum comentário: