domingo, 27 de julho de 2014

A escola e o autoritarismo



No mundo escolar muito se fala de educar para a autonomia, o discurso é o mesmo seja das Seducs, seja das equipes gestoras, seja dos professores, mas na prática a teoria é outra. Todos os que estão envolvidos com educação diretamente ou indiretamente falam de educar os alunos para a  autonomia mas praticam a heteronomia, são discursos vazios.

Outro dia participei de um HTPC onde minha atual coordenadora, professora Sônia Laide  pessoa a quem muito admiro propôs uma atividade para os professores, a atividade proposta foi que os professores colocassem num papel palavras que os magoaram, a maioria o fez e depois disso cada um leu as palavras que magoaram. Após isso, na lousa digital a coordenadora pôs na lousa digital palavras que a maioria dos professores emprega com os alunos, ei-las:

"Cala a boca, você não sabe de nada".

"Esse aí é um caso perdido".

"Vocês nunca serão alguém na vida".

"Por que não ficou em casa?"

Evidentemente que os professores ficaram incomodados com isso e alguns tentaram racionalizar dizendo que essas frases estavam fora do contexto, e até dando aulas de semiótica e de semântica. A maioria dos professores acha certo impor sua autoridade, se acha no direito de xingar e ofender os alunos e até de mentir dizendo que não ofendem alunos, quando são estes mesmos alunos que procuram a coordenação e a direção para que tomem as devidas providências.

Sempre falo e escrevo que o modelo escolar que nós temos é mais do que ultrapassado, é um modelo escolar do século XVIII cujo interesse era produzir  mão de obra barata para os industriários, pessoas que soubessem ler, escrever e fazer as quatro operações básicas da matemática. Por essa razão a escola manda que alunos usem uniformes, que façam filas, que obedeçam ao sinal na entrada e na saída, que tenham apenas 15 minutos de recreio, que tenham que ficar cerca de quatro horas ou mais sentados, copiando lições, ouvindo professores, sem conversar e sem contestar. Além disso tem que aguentar professores arrogantes e que muitas vezes não dominam a matéria. A triste verdade é que os alunos estão na escola para serem controlados, domesticados, adestrados para que saiam da escola como "bons cidadãos", patriotas, subservientes, enfim para que sejam rebanho de ovelhas ou vaquinhas de presépio. Não há educação para a autonomia.

Educar para a autonomia requer coragem e prática e não discursos vazios com palestrantes que nem educadores são e vem "ensinar" o que não sabem para professores e tampouco precisamos de mestres e doutores que lecionam em faculdades visto que o mundo do ensino fundamental e médio é bem diverso do mundo acadêmico.

Educar para a autonomia é dar voz aos alunos, é permitir que eles possam avaliar a escola, é permitir que façam críticas, que possam expressar suas opiniões sem medo de serem censurados. Enfim educar para a autonomia é descentralizar o poder e fazer com que o professor deixe de ser o detentor do conhecimento para transformá-lo num mediador entre o aluno e o objeto a ser conhecido.

Nenhum professor gosta de alunos bagunceiros, nenhum professor gosta que suas aulas sejam desrespeitadas, mas a verdade é que as bagunças são expressões de revoltas dos alunos (consciente ou inconsciente) que perderam suas liberdades. Os bagunceiros são os inconformados com a realidade opressora e autoritária da escola. A instituição escolar para funcionar não precisa ser uma prisão, nem um exército, nem um convento, nem uma empresa, aliás nesses moldes a escola nunca funcionou para criar pessoas independentes, esse tipo de escola só gera pessoas que vão reproduzir a ideologia do poder dominante. No entanto há escolas que realmente educam para a liberdade. Você pode conferir nos links a seguir:  Paideia Escuela Libre na Espanha, Escola da Ponte em Portugal e aqui no Brasil o Projeto Âncora.






terça-feira, 15 de julho de 2014

Fanatismo e Estado laico

Ontem à tarde eu publiquei no facebook um texto sobre um padre fanático, obscurantista e que faz cara de Santa Teresa D'ávila em êxtase e logo o perfil da Juventude do Papa compartilhou meus pensamentos e encimou com o título QUE FALTA DE RESPEITO!!


O texto que escrevi é este: Aí tem um tal de podre, ops, digo padre Rodrigo Maria, um fanático, doente, boçal ao extremo que tive o imenso desprazer de assistir um pedaço de um hangout, onde uma das frases desse infeliz é que católicos devem ser contra o aborto senão irão pra o inferno. 

Que argumentaço hein? Religião bacana essa onde deus precisa ameaçar as pessoas com o inferno eterno sendo tostadas para todo o sempre. Um deus que para ser amado e obedecido precisa de ameças. pobre deus...  


Meu argumento nem foi a favor do aborto  porque eu mesmo sou contrário ao aborto na maioria dos casos, mas não por fatores religiosos mas por fatores de ordem filosófica que explicarei mais adiante. O padre estava tentando convencer os católicos a pressionarem contra uma lei do aborto que tinha sido aprovada pelo congresso e sancionada se não me falha a memória. E ele disse que era dever dos católicos pressionarem os deputados de seus estados para que revogassem essa lei, porque o católico que se omite vai para o inferno de fogo eterno e toda aquela ladainha já conhecida. E o padre disse que católico não pode votar no PT porque o PT  é partido comunista-satânico-gayzista-feminista etc..., que tem por objetivo a destruição da família cristã. Penso que esse não seja o argumento adequado para quem quer que seja. Porque isso dá a entender que os católicos só se mostram contrários ao aborto porque a defesa do aborto leva a pessoa a sofrer para todo o sempre no inferno de fogo eterno, não tivesse a Igreja Romana a doutrina do inferno eterno ou se abolisse essa doutrina pérfida, os católicos estariam abortando aos milhões, porque o que os faz serem contra o aborto não é o amor a deus senão o medo do inferno, ou seja, os católicos que agem por medo do inferno - que não são poucos - são hipócritas, eles não querem estar com deus, só querem se livrar do inferno, mas quem os ensinou a agir dessa maneira foi a instituição à qual pertencem. 

Mas como o padreco padre deveria argumentar? Usando a filosofia tomista que é fundamentada em Aristóteles mas infelizmente não usou e não usou porque provavelmente não estudou filosofia. Aristóteles fala em ato e potência, os abortistas dizem que podem abortar o embrião  antes das formações das redes neurais porque ainda não é humano. De fato o embrião não é um ser humano em ato, isto é, no estado atual, mas tem potencialidade para vir a ser um humano se deixarem que se desenvolva. Porque todos nós, sim você (que me lê) e eu já fomos embriões e fetos já fomos seres humanos em potência e hoje o somos em ato. Então a questão aqui não é se o embrião é um aglomerado de células (claro que é) ou se sente dores (claro que não sente) mas se tem a possibilidade, o potencial para se tornar humano. Este pensamento aristotélico faz com que eu me posicione contrariamente ao aborto. Mas isso não faz com que eu seja a favor da criminalização do aborto, isso deve ser decidido pela própria sociedade através de amplos debates e de plebiscito. Antes que alguém me pergunte: você é contra o aborto em todas as situações? Não. sou favorável ao aborto quando se trata de fetos anencéfalos que terão uma sobrevida de horas, talvez de dias fora do ventre materno, praticamente já estão condenados à morte prematuramente. E, no caso de estupros, penso que é preciso se colocar no lugar da vítima, e ela que decida, mesmo se o feto se desenvolve normalmente etc... É um assunto deveras espinhoso. 

O que eu quis dizer é que o argumento dessa gente católica fanática que não tem outro argumento senão o do fogo do inferno é ridícula, sem qualquer fundamentação na realidade, do mesmo modo é ridículo o argumento que as feministas usam: "O CORPO É MEU". Eu pediria para demonstrar que órgão do corpo feminino embrião é, ou pediria para provar se é um câncer que tem que ser erradicado para salvar a vida da gestante em questão.  A conclusão a que chego é que os extremos - como escreveu Aristóteles - se tocam e que tanto os religiosos assim como as ultra-feministas tem argumentos falaciosos e inválidos que não fazem a sociedade pensar e refletir seriamente sobre isso. 

Voltando ao tema, o dono da página Juventude do Papa que sequer teve a coragem de se identificar ou de fazer o debate em minha página fez dois prints afirmando que eu e um amigo tínhamos falta de respeito com sua religião, fui em sua página debater como se pode ver pelos prints abaixo que fiz.






Por aí se vê como essa gente cuja vida gira ao redor da religião é cega, como essa gente é negacionista e como se veem como os "salvos" e os outros como "perdidos" e destinados ao fogo eterno pelo "bom deus". Ademais são criaturas que não conhecem teologia, nem filosofia e nem história. Tudo que existe para eles é sua religião e eles podem ser racistas, homofóbicos, machistas tudo com as bênçãos do "altíssimo". 

Ainda um papólico foi em minha página dizer que me denunciou e não contente veio emitir suas opiniões sobre o que penso, e claro, ainda veio oferecer suas orações por minha conversão, fui obrigado a lhe dar um tratamento de choque para não mais poluir minha página com beatismo de capela.



Os religiosos querem respeito (leia-se submissão e calar sobre tudo que diz respeito às suas crenças) mas eles não respeitam ninguém que pense diferente deles. Eles podem falar e atacar a quem quiserem e quando quiserem mas se são atacados aí é falta de respeito. Pois é, o fanatismo gera esse tipo de gente que fica vigiando o que os outros falam e escrevem para depois fazer uma cruzada contra os "inimigos de deus", além de fabricar gente hipócrita que quer liberdade para si mesmos e nenhuma para os outros. Cuidado com o que escreve e fala pois a inquisição ainda não acabou, está bem viva! Como escrevia Voltaire: " Écrasez l'Infâme"  "Esmagai a infame".

quarta-feira, 9 de julho de 2014

A copa das copas




Enquanto os governistas diziam que essa seria a copa das copas eu bem sabia que essa seleção não venceria, não chegaria ao final e olha que não entendo porra nenhuma nada de futebol. Eu desde o início fui contra essa copa porque o Brasil não perdeu hoje, o Brasil perdeu desde quando inúmeras famílias perderam suas casas para as construções de estádios de futebol e quando oito operários morreram em acidentes.

Fora essas tragédias promovidas pelo governo que lições a copa das copas nos trouxe?

1ª lição: Vaia à Dilma. Não, eu não sou governista como alguns idiotas e mal-intencionados me acusam. Mas a vaia à Dilma é tão somente porque esta pertence a um partido que posa de esquerda mas que na verdade é um partido reformista, cujo reformismo fica muito aquém do reformismo europeu com seu welfare state. Esses "politizados" que vaiaram à Dilma faz parte da classe média alta que considera o governo do PT como um partido comunista e ladrão. Sim, o PT é um partido corrupto, mas essa gente só acusa o PT de corrupção por pura cegueira ideológica.

2ª lição: Vaia ao hino do Chile. A vaia ao hino do Chile mostra como essa classe média anencéfala vê o mundo. Esse patriotismo de copa do mundo que surge a cada 4 anos e dura cerca de um mês, só produz esse tipo de gente degenerada que acha que está numa espécie de guerra e aí se acha no direito de vaiar o hino de outro país.E, tem gente que acredita que a Copa promove a solidariedade entre os povos... Isso só mostra como essa gente que sofre de nacionalite aguda é demente.

3ª lição: Xingamentos e ofensas ao jogador da Colômbia, o Zuñiga pelo Twitter: No jogo entre o Brasil e a Colômbia o jogador Zuñiga intencionalmente ou não fez com que o Neymar fraturasse uma costela e o tirou da copa. Por isso o jogador colombiano teve que sofrer insultos racistas por parte de brasileiros idiotas. Uma coisa é o jogador lesionar outro jogador e ser xingado pelo ato em si outra coisa é relacionar o ato de agressão pelo fato dele ser negro pois o racismo não atinge apenas o zagueiro colombiano mas todos os negros. Pois quando dizem que "só podia ser preto" essa gente diz que negro é mau, negro não presta e outras coisas do gênero. Mas em parte isso foi bom, porque mostra para todos os hipócritas que o mito da democracia racial no Brasil não existe e que os negros ainda são olhados como seres inferiores por uma grande parcela da população brasileira.

4ª e última lição: O patriotismo depende de ganhar ou perder a copa:  Eu não sou patriota e não gosto do patriotismo. Mesmo assim tenho que considerar que há patriotismos e patriotismos, há aqueles que são de momento, como o patriotismo brasileiro e há patriotismo como o dos estadunidenses que realmente levam à sério o seu país. Mas o patriotismo brasileiro é apenas uma caricatura do que seja de fato o patriotismo. Quando amar ou odiar um país depende de uma semi-final  de copa do mundo por aí se vê qual é o grau de imbecilização dessa parcela da sociedade brasileira e não há muito o que esperar desse povo.

De fato, essa foi a copa das copas porque acabou com o mito de que o Brasil é o país do futebol, é a copa das copas porque mostrou que o Brasil não é o país da democracia racial, porque a mentalidade da classe média é aquela mesma formada por seus pais e avós de que o reformismo é a mesmíssima coisa que um golpe comunista, etc..., mostrando assim uma classe média boçal que não sabe a diferença entre direita, esquerda, centro-direita e centro-esquerda entre outras posições. E essa é a copa das copas porque eu sou brasileiro com muito orgulho e muito amor até que o Brasil perca um jogo decisivo. É isso, nós brasileiros somos uma nação de comediantes.