domingo, 26 de junho de 2011

Dos erros



Noutro dia numa aula de geografia para a EJA eu estava falando sobre a mata atlântica e explicando que esta recebeu seu nome do oceano atlântico e que esta mata só está preservada entre São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, até aí tudo bem. Mas para que minha aula fosse mais didática possível tomei a apresentadora do Mais Você, Ana Maria Braga como exemplo e disse que ela cometeu um erro grosseiro ao confundir a mata altântica com a floresta amazônica. Aí começou a revolta de certas alunas na sala de aula com o famoso chavão: "Errar é humano". Indagaram-me se eu nunca tinha errado, confessei que sim, mas não em disciplinas de meu domínio, não quando tenho que passar informações para os outros.

O problema é que a Ana Maria Braga jamais poderia ter cometido esse erro grosseiro primeiro porque é bióloga e segundo porque é comunicadora e por isso tem uma grande responsabilidade social. Infelizmente a TV  tem o poder de transformar erros em acertos e mentiras em verdade. Claro, errar todos erram, mas errar algo que você "domina"?

Errar é humano, errar é humano gritavam exasperadas umas algumas alunas. Aproveitei o momento para fazer um pouco de filosofia e despertar essas mentes para a realidade. Então eu disse: Quando um ente querido for internado e morrer por erro médico, diga que foi uma fatalidade, diga que errar é humano; Quando um engenheiro por ter errado nos cálculos construir um prédio ou ponte e se estas desabarem, diga que o erro faz parte da humanidade ou coisa que o valha; Se um dia você for mandado embora da empresa onde trabalha e contratar um advogado e se este perder a causa por ter esquecido seus documentos, diga que errar é humano.

- O sr. não vai querer comparar um errinho de geografia com erro médico, né? Esse é um erro que nem faz diferença nem dá para perceber.
- Ah, entendi vocês estão dizendo que a aula de geografia é uma bosta, que tanto faz acertar como errar, como acertar, vai dar na mesma. Só para vocês terem uma ideia do perigo do analfabetismo geográfico:

O analfabetismo geográfico tinha – e, em parte, ainda tem – indesejáveis conseqüências práticas. Veja estes exemplos:



anos 1980, uma empresa de aviação norte americana teve enormes prejuízos ao tentar entrar no mercado brasileiro, porque servia comida mexicana em seus aviões e treinou seus funcionários em espanhol, imaginando ser esse nosso idioma.

A maior rede de comércio varejista também fracassou em seus primeiros anos de negócio no Brasil, pois entulhou suas lojas com artigos impróprios ao nosso clima e aos nossos hábitos: roupas para esquiar, agasalhos para o frio do Alasca, tacos de beisebol, etc.

FONTE: (VESENTINI, José William. “Sociedade e Espaço: geografia geral e do Brasil”. São Paulo: Ática, 2005, p. 9 – 11).


Errar é humano, mas todos os erros tem suas consequências, pense nisso.


sábado, 18 de junho de 2011

Polícia traidora de classe?



Outro dia provoquei polêmica no Twitter (novidade né?), simplesmente porque eu disse: "Se a polícia entrar em greve, eu protestarei. Uma categoria que serve à burguesia, que lambe suas botas não merece aumento de salário".


Fui retwitado por três pessoas que compartilharam de minha opinião, mas provoquei indignação de um cidadão, justamente porque ele é ou se diz policial. Conversei (teclei) com o twiteiro longamente acerca do que eu disse e o mesmo quis defender as posturas da polícia à todos custo. Quem duvidar de mim, pode clicar nas fotos e verá os recados que me endereçou.
 
Expliquei-lhe que sou professor e não posso estar ao lado de quem cumpre ordens injustas reprimindo greves de professores com balas de borrachas, gás lacrimogêneo e bombas de efeito (i)moral. E realmente não posso estar ao lado de quem sendo trabalhador trai a classe trabalhadora cumprindo ordens da burguesia e defendendo o patrimônio dessa mesma burguesia, como se a razão de existir da polícia fosse defender a burguesia.
 
Então o policial twiteiro escreveu: "@Fernando_Felix_ isso é questão político-partidária. PM cumpre determinação da Justiça e a anseios do Governo. Injusto, mas Legal".


O que ele quis dizer com isso? Que a polícia não quer saber da justiça, que ela foi feita para cumprir ordens e cumpre ordens de quem está no poder. Isso quer dizer que se o Hitler ressuscitasse e chegasse a ser governador de São Paulo, do Rio de Janeiro ou de qualquer outro estado da unidade federativa, a polícia o obedeceria sem questionar, mesmo que fosse injusto, pois o injusto pode estar dentro da lei e se é da lei é legal, como pensa o casuísta em questão. Fica claro e mais claro que uma manhã de verão com o sol em todo o seu esplendor que a polícia não serve aos interesses do povo, mas da classe dominante, a polícia que é composta de trabalhadores que também são oprimidos pelo donos do capital. Mas o filme Tropa da Elite já tinha mostrado o modo de pensar dos policiais quando afirmou que "missão dada é missão cumprida".

Perguntei ao twiteiro se ele não fica com  a consciência pesada por cumprir ordens injustas e de igual modo indaguei se a polícia não tem o poder para desobedecer ordens arbitrárias, ao que respondeu que a polícia apenas cumpre ordens e também a frase a seguir:

"@Fernando_Felix_ A 1ª coisa que a gente "entende" quando entra pra polícia é q; NEM TUDO Q É LEGAL É JUSTO E NEM TUDO Q É JUSTO É LEGAL".

Ou seja, de acordo com o policial, sua categoria não existe para defender o que é justo, mas o que é legal mesmo que essa legalidade seja injusta. Se reprimir e matar sem terras, por exemplo, é legal que importa que seja injusto? Se reprimir uma greve justa por melhores condições de trabalho e por melhores salários é legal pouco importa que seja injusta, pois a polícia não existe para fazer a justiça, mas para defender o que é legal. E se espezinhar o trabalhador está dentro da lei, isso é duplamente legal, pela lei e pela diversão.

Se a categoria dos policiais não consegue pensar no que é certo ou errado, se não consegue dar  sua solidariedade aos outros trabalhadores, se não tem capacidade para enfrentar o governo depondo suas armas e praticando a desobediência civil contra uma ordem arbitrária para que então precisamos de profissionais que traem sua própria classe?