terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Tomás de Aquino e a astrologia

Li em certas publicações que Tomás de Aquino acreditava na astrologia, li mas não dei crédito, então fui investigar. Sim, é verdade Tomás de Aquino acreditava em astrologia mas não da forma como crêem os astrólogos. Até porque desde a antiguidade astrologia e astronomia sempre andaram de mãos dadas, ainda mais na Idade Média, não se fazia distinção entre uma e outra. Tomás acreditava que um corpo celeste pode influenciar corpos terrestres, mas não as almas que eram dotadas de razão e livre-arbítrio. Por exemplo, um astro poderia deixar alguém com gripe, mas a decisão de trabalhar ou folgar cabia à razão do enfermo dotada de livre-arbítrio e não sendo influenciada pelos astros. Como os astros não eram dotados de inteligência por conseguinte não poderiam influenciar as inteligências humanas.
Apesar da astrologia ser uma grande parvoíce, Tomás de Aquino soube resgatar a liberdade humana do determinismo e fatalismo. Quem se sentir à vontade poderá pesquisar na internet ou em livros se o que eu disse corresponde à verdade ou se estou contando histórias para boi dormir.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Acho que tenho um pé no pelagianismo

No século V houve uma disputa entre Santo Agostinho e os pelagianos (seguidores do monge Pelágio). Pelágio afirmava que nós (descendentes de Adão e Eva) não herdamos a culpa de nossos primeiros pais, mas tão somente o mau exemplo dos mesmos. Dizia que haveria morte, mesmo que o primeiro casal humano não tivesse pecado, porque a morte é algo natural. Também afirmava que o homem poderia se esforçar para fazer boas obras. Pelágio não negava a graça só minimizava a sua importância. Para ele o batismo de crianças não era importante e que as crianças batizadas e as não batizadas iriam para o mesmo céu. Já Santo Agostinho que era um bom homem, mas não bom teólogo pregava a importância da graça, e dizia que as crianças não batizadas arderiam no inferno para todo o sempre! Também pregou a predestinação que causou tantas dores de cabeça à Igreja e que sua doutrina foi ampliada e renovada por João Calvino de um modo mais terrível. Agostinho cria que todo homem era convertido por Deus, e que isso não dependia de agente externo, embora pudesse ajudar. Ele acreditava numa espécie de iluminação que o Mestre Interior ensinava como se depreende do seu opúsculo De Magistro, e foi Santo Agostinho que sem querer ajudou o protestantismo, pois as doutrinas de Lutero são alicerçadas no agostinianismo. Por exemplo o livre-exame é uma conseqüência do ensino sobre a iluminação interna e sobre o Mestre Interior. Ora, Lutero concluiu, se eu posso ser iluminado e entender as Escrituras não preciso da Igreja e todos os fiéis possuem o sacerdócio universal não precisando nem de mediadores nem de intérpretes.

Um pouco da vida de Pelágio

Não temos muitas coisas sobre Pelágio, e o que temos é a visão de seus inimigos: Santo Agostinho, S. Jerônimo entre outros.

Mas sabemos que Pelágio era um monge bretão e que vivia na pobreza, era considerado um santo ainda em vida e era amigo de São Paulino de Nola, de Demetríade e de Juliana entre outros grandes personagens da época.

Pelágio foi considerado ortodoxo no Oriente, mas Agostinho venceu e hoje colhemos seus frutos amargos.

Timeo hominem unius libri

A frase que dá nome a este texto é atribuída à Tomás de Aquino, e em português significa: "Temo o homem de um livros só". O que o grande pensador quis dizer com isso? Segundo os críticos, ele quis dizer que temia aquela pessoa de pouca cultura e de poucos livros ou mesmo de um só, mas que conhecia bem a fundo a sua especialidade. Daí seria melhor conhecer uma só coisa profundamente do que conhecer muitas coisas superficialmente.

Já outros interpretam essa frase acerca das pessoas que se apegam a uma opinião, cujo horizonte é estreito e não aceita outra opinião, e nem tem coragem de ler outro tipo de literatura, como é o caso dos fanáticos religiosos que são homens de um único livro, por exemplo: cristãos fundamentalistas que só aceitam a Bíblia e os mulçumanos que só aceitam o Corão. Eu tenho medo do homem de um livro só, porque para ele tudo está na Bíblia e o que não está na Bíblia é falso. Ele não aceita a Teoria da Evolução simplesmente porque em seu livro diz que Deus criou o universo em 6 dias. Outros homens de um livro só, não trabalham no sábado porque esse mesmo livro diz que é pecado transgredir esse dia. Os homens de um livro só odeiam a ciência porque ela revela que grande parte de seu livro é baseado em mitologias e contém erros históricos e geográficos. Claro que a ciência não quer dizer que a Bíblia, o Corão ou a Triptaka não são sagrados. A ciência apenas demonstra que esses livros não são manuais de história, geografia, biologia ou de geologia.

É preciso reverter essa situação e fazer com que nossos jovens (falo de jovens porque os velhos já estão perdidos em sua ignorância e certezas) sejam pessoas de muitos livros. De uma cultura universal e rompam as barreiras da alienação, assim criarão uma sociedade mais tolerante ou menos intolerante.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

A história de Sam

Dedico esta história a minha querida amiga Simone Abreu, uma das pessoas mais humanas que conheci no mundo virtual.

Para início de conversa esta história é verídica, não vou dizer como muitos por aí, que é uma história baseada em fatos reais, porque todos os fatos são reais, não existem fatos irreais.
Anteontem fui passear pelos sebos da cidade vizinha e como de costume fiquei horas à fio no sebo e não me dei conta do horário. Fui até o ponto de ônibus e tomei o coletivo, assentei-me num banco da frente e folheava os livros que tinha acabado de comprar. Termina aí a minha curta história e se inicia a história de Sam, o protagonista da história que vou contar.

Atrás de mim estavam duas senhoras conversando, como o tom era mais ou menos alto, pude ouvir e prestei atenção porque o diálogo era deveras interessante. Vou tentar reproduzir a conversa do modo que ouvi, confiando assim em minha memória.
- Como vai o Sam?
- Ele está bem, agora ele toma gadernal para controlar os ataques.
- O que é gadernal?
- É um remédio para controlar os ataques que ele tem.
- Antes ele ficava na rua para brincar, mas agora não pode porque ele além de ter ataques está cego. (até aqui eu pensava que se tratava de uma criança ou de um adolescente).
Foi o veterinário que passou esse remédio e o Sam vai ter que tomar pelo resto de seus dias.
- Coitadinho.
- Quando eu chego em casa ele faz a festa, mesmo cego e doente, ele bate a cabeça na parede devido à cegueira.
- Então você nem pode sair, viajar?
- Não. O Sam para mim é como um filho, cuido dele, levo-o ao veterinário, etc... Antigamente, eu passava os fins de semana na casa de meu filho, e deixava alguém cuidando do Sam. Meu filho não gosta dele, mandou eu sacrificar o Sam, dizendo que esse cachorro é um peso porque está velho e doente. E que se eu mandasse sacrificar, eu teria minha liberdade de volta. Então, eu lhe disse, e se fosse eu que estivesse velha, doente e cega, você mandaria aplicar a eutanásia em mim que sou sua mãe? Não queira se comparar - continuou o meu filho - com esse saco de pulgas! Sabe, isso me entristece.
- Ah, mas seu filho é jovem, depois ele aprende.
- Jovem nada tem 32 anos, é casado e tem uma filha.
- Toda vez que ele vinha a minha casa, ele dizia que a fábrica de sabão agradeceria se eu sacrificasse o Sam. Falei para o meu filho, não fala isso, porque Deus pode lhe castigar. E ademais você não é amigo do Sam, mas o Sam é seu amigo, ele gosta de você, mesmo você não gostando dele. Eu nunca vou abandonar o Sam, não vou sacrificá-lo, vou cuidar dele até o fim, e se um dia eu não puder cuidar dele, vou procurar uma ONG ou alguém que possa cuidar dele para mim. O Sam é meu amigo, nunca me abandonou. Você alega que eu não viajo que não aproveito a vida, saiba que o Sam não é um peso, sou muito feliz por cuidar dele. Quando ele era saudável, quando era filhote você gostava dele, se lembra?
- Ah é, também acho que quem maltrata animais pode ser castigado por Deus.
- Eu tenho tanto medo de sair, deixar o Sam sozinho, porque o médico me disse que ele pode ter um ataque cardíaco a qualquer momento. Mas o veterinário sempre me fala que o Sam é um vitorioso, porque venceu a cinomose, e mesmo tendo esses ataques e a cegueira, ele tem muita vontade de viver.

Aqui fechei o livro pus na sacola plástica junto aos outros, levantei-me e toquei o sinal para descer no próximo ponto. Olhei para a simpática senhorinha, disse-lhe que fiquei comovido com sua história e que partilhava em grande parte de suas opiniões e por fim disse-lhe que o mundo seria bem melhor se todos pensassem como ela acerca desse aspecto. Despedi-me e desci em meu ponto, admirado e feliz por saber que podemos aprender tantas coisas numa breve viagem de ônibus.

A história que contei é verdadeira, o diálogo aconteceu mais ou menos assim, minha memória selecionou apenas aquilo que achou essencial, portanto o relato em sua essência é verdadeiro, embora o diálogo seja verossímil.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Ainda falando em livros

Ontem falei um pouco sobre a história dos livros. Fiz uma comparação entre a Idade Média e nossos tempos. Tinha dito que as pessoas de hoje tem acesso aos livros e podem adquiri-los. Qualquer pessoa hoje pode ser mais culta que os antigos.
o homem contemporâneo só não lê porque não quer ou por ser analfabeto, pois até deficientes visuais lêem em braile. O homem de hoje dispõe de bibliotecas, sebos, brechós e da internet. Se ele não tem dinheiro para comprar ou não quer gastar com livros, ele pode fazer download de e-books gratuitos (livros eletrônicos). Há centenas deles na internet. Hoje as pessoas tem um acesso praticamente ilimitado do conhecimento, como nunca houve na história da humanidade.
Caro leitor na Idade Média muitos queriam ler e não podiam seja porque eram analfabetos, seja porque dispunham de pouco dinheiro ou porque o livro era considerado perigoso para a "fé e os bons costumes". Hoje temos livros de sobra e liberdade para ler e a maioria das pessoas não quer ler. Tristes tempos, em que a ignorância voluntária é enaltecida!

domingo, 14 de dezembro de 2008

Até o advento da imprensa os livros eram artigos de luxo



Os livros sempre foram artigos de luxo na história da humanidade, isto é, até o advento da imprensa. Os livros eram caros porque eram manuscritos, eram cópias feitas à mão, e na idade média eram os monges quem copiavam os livros e os enfeitavam com iluminuras. As vezes a cópia de um livro poderia demorar até anos, e isso dependia da qualidade do papel, da tinta empregado, se era escrito por um monge ou se havia revezamento. Tudo isso encarecia a obra. Jacques Verger diz em sua obra, Os livros na Idade Média:

"Sem refazer aqui toda a história do livro medieval, convém antes recordar que sua confecção e circulação são sempre cercadas por múltiplos obstáculos que lhes tornavam difícil o acesso.O primeiro e principal obstáculo era de ordem econômica. O livro custava caro. Esse custo vinha, antes de mais nada, do preço do suporte. Um livro requeria grande quantidade de pergaminho (de acordo com o formato do livro, obtinha-se de dez a dezesseis folhas por pele) e o pergaminho era um material oneroso. A difusão do papel chiffon, ocorrida na Espanha desde o século XII, na França no XIII, permitiu baixar o preço. Mas é somente no século XIV e, sobretudo, no XV que o uso do papel se difundiu largamente no domínio do livro manuscrito. Com igual superfície, calculando-se a partir de documentos franceses, o papel podia tornar-se cinco vezes mais barato que o pergaminho no século XIV e até treze vezes mais barato no século XV, graças à melhoria das técnicas de papelaria e à multiplicação das oficinas de papel. Mas em outros lugares, especialmente na Alemanha, a diferença foi, sem dúvida, menor.De qualquer modo, o ganho sobre o preço total do livro permanecia relativamente limitado, na ordem de 10 a 20% somente em relação às obras em pergaminho. A relativa modéstia desse ganho permitiu a esse tipo de livro guardar uma posição suficientemente sólida, visto que muitos letrados parecem ter tido um preconceito desfavorável contra o livro de papel, julgado, ao mesmo tempo, menos nobre e menos sólido, sobretudo para os textos importantes e para obras pelas quais o dono se apegava, desejando transmiti-las aos descendentes.Na realidade, o fator principal do elevado preço dos livros era o custo da cópia. Os bons copistas eram raros. No final da Idade Média, os scriptoria monásticos haviam perdido o essencial de sua importância e a maior parte dos escribas seriam, doravante, artesãos profissionais que se encontravam principalmente em grandes cidades, especialmente aquelas que abrigavam uma clientela importante, quer dizer, as capitais da nobreza e as cidades universitárias. Mesmo deixando de lado o caso dos livros de luxo ornados de miniaturas, verdadeiras obras de arte destinadas sobretudo aos prelados, aos grandes senhores e aos reis, a confecção de livros tomava tempo. Os bons copistas trabalhavam lentamente> por volta de duas folhas e meia por dia, em média. Por outras palavras, em um ano, um bom copista produzia apenas cinco livros de duzentas folhas; ou ainda, se preferirmos, para chegar a fornecer mil livros deste tipo em um ano, não se poderia ter menos de duzentos copistas trabalhando o tempo inteiro. Nas cidades universitárias, onde mestres e estudantes tinham necessidade de muitos livros, mas dispunham de limitados recursos financeiros, procurou-se reduzir a um mínimo o preço de revenda dos livros: pequenos formatos, linhas apertadas, escrita mais cursiva, multiplicação das abreviaturas permitiam economizar o pergaminho ou o papel, sempre ganhando um pouco de tempo de cópia. A adoção do sistema de pecia, que acelerava a rotação dos exemplares a serem reproduzidos, permitia igualmente melhorar a produtividade dos escribas, sempre preservando a qualidade dos textos postos em circulação".

O autor continua e nos ensina que: "Nessas condições, acredita-se que muitos escolheram uma solução bem menos onerosa — mas que não garantia mais a correção dos textos transcritos —, que consistia em encomendar a qualquer copista "amador" — um capelão necessitado ou um estudante pobre, por exemplo — a cópia do livro desejado.O problema do preço real dos livros medievais é uma verdadeira pedra no caminho dos pesquisadores. (...) Algumas conclusões relativamente seguras, entretanto, impõem-se (deixo aqui de lado os livros de luxo das bibliotecas principescas). (...) Inicialmente, os preços dos livros eram extremamente variados. Os mais caros, geralmente as grandes Bíblias ou os volumes glosados dos Corpus Iuris Civilis ou do Corpus Iuris Canonici, custavam uma dezena de livras de Tours (para tomar uma unidade de medida francesa). Mas existiam, ao lado disso, inúmeros pequenos volumes, por vezes sob a forma de simples cadernos soltos, nos quais se anexavam "anotações" de cursos, alguns fragmentos de questões disputadas, de sermões, de breves tratados práticos etc. eram vendidos por algumas poucas moedas.Em seguida, os preços parecem haver variado praticamente do simples ao dobro, conforme se tratassem de livros novos ou livros de segunda mão. O mercado de livros de segunda mão era, com efeito, muito ativo, especialmente nas cidades universitárias, onde ele era alimentado pelas obras colocadas à venda por estudantes em necessidade ou deixando a universidade, por aqueles que emprestavam sob penhor, pelos colégios se desvencilhando de seus exemplares repetidos, por herdeiros liquidando a biblioteca de algum tio cura ou cônego, etc.Pode-se em tais condições, estabelecer o "preço médio" do livro medieval? (...) Talvez seja interessante notar que em Paris, por volta de 1400, o "preço médio" de um livro correspondia aproximadamente a sete dias de "salário e pensão" de um notário ou secretário do rei; nessas condições, vê-se que qualquer personagem (ora, há que se recordar que os notários e secretários do rei eram em Paris, no final da Idade Média, com os conselheiros do Parlamento e os professores da universidade, os principais donos de bibliotecas privadas) praticamente não teria podido, mesmo considerando a compra de livros em um quarto de seus proventos — hipótese evidentemente otimista — adquirir mais de duzentos e cinqüenta volumes em vinte anos de carreira. Na realidade, a mais importante das bibliotecas privadas parisienses cuja composição conhecemos, aquela do escrivão do parlamento Nicolas de Baye, nessa época, em 1419, permanecia bem abaixo dessa cifra teórica, com 198 volumes dos quais uma parte foi adquirida por doação ou herança".

O que era uma grande e boa biblioteca naqueles tempos? Segundo Verger: "Entre os próprios homens de saber, as coleções de livros possuíam importância variável. A biblioteca de um estudante, ainda que abastado, não ultrapassava praticamente, em média, uma dúzia de volumes: os livros de estudos fundamentais, de um lado, uma ou duas coleções de textos religiosos, de outro. Seus professores, que tinham necessidade de uma pequena biblioteca pessoal para preparar seus cursos, eram um pouco melhor aquinhoados e possuíam, para além das "autoridades" de base, um determinado número de comentários e tratados modernos; isso representava, no mínimo, cerca de trinta livros. Contudo, alguns mestres, mais ricos ou de espírito mais curioso, possuíam bibliotecas que alcançavam ou até ultrapassavam uma centena de volumes. Foi igualmente com essa cifra média de uma centena de volumes que se organizaram as bibliotecas de homens do Parlamento de Paris por volta de 1400. Tais cifras não eram sensivelmente ultrapassadas, a não ser nos casos de verdadeiros bibliófilos (como o escrivão Nicolas de Baye ou, cinqüenta anos mais tarde, Roger Benoîton, antigo notário e secretário do rei que manteria orgulhosamente o catálogo comentado de 257 livros de sua coleção pessoal), ou de personagens que haviam acedido a altas funções (...)".

E os livros eram preciosos tesouros como se pode ler no texto que se segue do mesmo autor: "Os proprietários de bibliotecas consideravam-nas verdadeiros tesouros e as tratavam com o maior cuidado. O valor de um livro era, para um homem de saber, simultaneamente simbólico e material. Cuidadosamente conservados dentro de um cofre ou armário, os livros proclamavam a ciência de seu proprietário. Freqüentemente adquiridos junto a livrarias de universidades, por vezes despachados com altos custos de Paris ou de Bolonha, os livros eram indissoluvelmente ligados aos estudos e aos diplomas. A entrega de um livro ao candidato não era um dos gestos rituais das cerimônias de doutorado? Por outro lado, toda biblioteca de alguma importância possuía um alto valor de mercado. Ela representava uma forma de entesouramento, um capital tanto intelectual quanto financeiro que se pretendia legar aos seus herdeiros, se eles empreendessem seus próprios estudos, fosse num colégio, fossem em alguma igreja. Os juristas sempre se bateram para que os livros não fossem computados quando os oficiais do imposto vinham avaliar seus bens móveis; a seus olhos, esse privilégio não era apenas uma apreciável vantagem fiscal — porque não era raro que tais livros representassem, em valor, a metade ou mais do capital imobiliário — mas também o reconhecimento público da nobreza do seu saber e das atividades que eles exerciam a título de sua competência intelectual. Não mais do que as armas do cavaleiro, os livros do doutor não deveriam recair nas malhas do imposto".

Verger diz que entre o século XIV e XV tanto as bibliotecas de reis como de igrejas e mosteiros não chegavam a dois mil livros: "Primeiramente, as bibliotecas principescas. Na altura da morte do rei da França Carlos V (1380), sua "livraria" do Louvre contava com pouco menos de 1300 volumes; no século XV, o duque de Bourgogne Filipe, o Bom teria tido uma biblioteca com cerca de 880 livros. POr seu turno, os papas de Avignon enriqueceram sem cessar suas coleções de livros. Eles possuíam mais de dois mil quando morreu Urbano V, de acordo com um inventário de 1369. (...) As bibliotecas dos príncipes e dos pontífices eram abertas ao público? Seu catálogo preciso deixa supor que pelo menos os familiares do soberano, seus visitantes distintos e seus conselheiros políticos tinham acesso a elas.Vinham, em seguida, as bibliotecas das catedrais, dos mosteiros e dos conventos. Tratava-se, em geral, de antigas coleções que, excetuando-se as dos religiosos mendicantes, não foram especialmente enriquecidas no final da Idade Média, mas haviam sido extremamente importantes (mais de 300 volumes em Notre-Dame de Paris em finais do século XV, 486 na catedral de Reims em 1462, e mais ainda nos mosteiros: por volta de 1450-1460, havia cerca de 1600 volumes em Saint-Denis ou em Claraval na França, 1100 em Monte Cassino na Itália, 800 em Melk na Áustria, etc.); a conservação dos manuscritos mais antigos lhes era bem assegurada. Seria lá, como constataram os humanistas italianos "editores" de autores antigos, que teríamos a maior chance de descobrir manuscritos particularmente veneráveis, remontando, algumas vezes, à renascença carolíngia. Mas de resto, tais bibliotecas eclesiásticas eram, sobretudo, ricas em textos religiosos e em livros litúrgicos que não eram necessariamente úteis para os homens de saber. Aliás, nem se sabe ao certo se elas eram completamente abertas a outros leitores que não fossem os cônegos e frades que serviam essas igrejas ou aqueles mosteiros".

Pois é, naqueles tempos a ciência ainda engatinhava, os livros eram escassos e caros, e se cuidavam dos livros como se cuida de tesouro. Eu sou bibliófilo, sim amo livros. Que contraste! Hoje os livros são baratos e todos (ou pelo menos muitas pessoas) tem acesso aos livros! Imagine dileto leitor se Carl Sagan vivesse na Idade Média e que tivesse sido aceito com todo o seu conhecimento científico, quem poderia comprar um livro manuscrito dele? Um rei? Um chanceler? Um bispo? As pessoas reclamam que não tem dinheiro para comprar livros, porque são caros? Então por que não vão aos sebos, brechós e bazares da pechincha? Já vi livros bons e raros sendo vendidos por R$ 1,00. Quanta inveja eu não causaria aos antigos e pudesse voltar no tempo com minha modesta biblioteca!!!!

Naquela época livros eram fortunas, hoje são lixo!!!!! Não valem nada. Quem se muda de casa, trata-os de jogar fora, falo isso porque já vi cenas como essas quase que diariamente. Quando uma coisa dessas aconteceria na Idade Média? Um dia passeando, notei que dentro do saco de um lixo tinha um livro, não agüentei de curiosidade e abri o saco e lá estava um livro de Michel Foucault. Tristes tempos esses em que se jogam no lixo livros de filósofos, sociólogos, psicólogos e de cientistas no lixo.

Hoje, muita gente reclama que a Santa inquisição queimava livros, mas ninguém percebe como se jogam livros no lixo hoje, como carrinheiros enchem suas carroças com livros que vão ser rasgados e prensados. Naquela época queimavam-se livros porque se consideravam obras perigosas, hoje os livros não são considerados perigosos, simplesmente são desprezados, ignorados e vão para a inquisição do Ferro Velho e do lixão!!!

A Idade Média nunca ignorou os livros, nisso são superiores a nós!

Os textos de Jacques Verger se encontram neste site: http://escritoriodolivro.com.br/historias/idademedia.html

O que é um bom livro?

Quantas vezes eu quis conhecer pessoas de quem eu não pude ser contemporâneo. Quantas vezes quis saber o que pesavam, o que conversavam e como viviam. Mas deles fui separado pelo tempo, pelo espaço e pela língua que falavam, muitas delas mortas. Mas há um modo de conhecer o que essas pessoas pensavam, o que falaram e como viveram. Como? Pode alguém me perguntar, ao que respondo: através dos livros. Sim os livros são mensageiros do passado, mensageiros e intérpretes fiéis, que preservam o mais importante de seu autor ou de seu biografado.

Mesmo nos dias de hoje as vezes gostaríamos de conhecer intelecetuais célebres, mas eles nos são inacessíveis por vários fatores e o principal dentre eles é o dinheiro. Então podemos conhecer o pensamento desses intelectuais por meio de seus livros. E creio que os livros são a melhor forma de conhecê-los, porque o livro é seu pensamento puro, objetivo, fruto de reflexão, por isso um pensamento elaborado, amadurecido. Porque o livro ou um artigo ( mesmo uma carta) obriga o escritor a refletir, a buscar uma linguagem mais objetiva e simultaneamente didática.

Então um livro, aliás um bom livro é algo que muitas vezes atravessa os séculos, e nos liga ao seu autor ou ao biografado a quem admiramos. Se o espaço e o tempo nos separam dos grandes pensadores do passado, o livro rompe a barreira do tempo e do espaço e torna vivos esses titãs do pensamento.

No caso dos autores dos dias atuais somos separados pelo espaço e aí está o livro para diminuir a distância entre o admirado e o admirador, entre o leitor e o escritor. E através do livro temos não um contato superficial, o que poderia acontecer se conhecêssemos nossos ídolos pessoalmente, mas um contato profundo, conhecemos o pensamento de nossos autores estimados em sua integridade, em sua pureza! E s livros preservam seus pensamentos quando os autores que prezamos não mais existirem e a posteridade se beneficiará, assim como eu me beneficiei com a leitura de Homero, Virgílio, Clemente de Alexandria, Orígenes, Basílio de Cesaréia, João Crisóstomo, Descartes, Marx, Darwin e Freud entre outros.

Então, o que é um bom livro? Uma boa conversa com quem morreu e com quem está vivo, uma conversa agradável e erudita a qualquer hora do dia e em qualquer lugar.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Doutores de Orkut

As comunidades do site Orkut se tornaram um circo, desde que o Orkut escancarou a porta, qualquer um pode entrar no site e também nas comunidades. Eu participava ativamente de comunidades de filosofia, de educação, psicologia e de divulgação científica. Deixei de participar, primeiro porque qualquer sujeito que tenha orkut e que esteja participando das comunidades das quais eu participava, podia escrever o que bem entendesse mesmo não entendendo nada do assunto.
Recordo-me com grande pesar do tempo que gastei com os idiotas de plantão, refutando-os com argumentos racionais e lógicos. Lembro-me do quanto eu gastava minhas horas pesquisando em cima dos livros, para um idiota que nunca leu um livro na vida, falar-me: eu não concordo com esse autor, tal doutor está errado, eu acho que é assim, essa é a minha opinião, etc... E mesmo quando você argumenta, seu êmulo retruca xingando, se valendo do ad hominem e de outras infantilidades. Eu até pensava que essas comunidades eram sérias, e que os moderadores fariam alguma coisa, mas ledo engano. Não estou dizendo com isso que não existam boas comunidades no Orkut, nem que todos os moderadores são incompetentes ou coniventes com a algazarra.
O problema é que no orkut qualquer iletrado é mestre, qualquer semi-analfabeto é doutor e qualquer ignorante um imortal da Academia Brasileira de Letras. E esses idiotas que poluem o Orkut com suas imbecilidades são parasitas que ficam o dia inteiro navegando pelo site. Não lêem um livro, um jornal, um gibi sequer! E com uma arrogância everestiana posam de sábios e se põem a escrever suas sandices.
Foram esses motivos que me levaram a criar este blog que é o meu espaço, onde posso escrever sobre o que bem entender, onde posso desenvolver um assunto sem ser interrompido ou aborrecido pelos doutores de Orkut. Ainda participo do Orkut porque tenho amigos inteligentes e cultos por lá, e eles valem a pena. Entro nas comunidades para me divertir com os dispartes da massa ignorante. RIDENDO CASTIGAT MORES.

Livreiros e bibliomaníacos

Há no mundo duas espécies de homens que lidam com livros: os livreiros e os bibliófilos. Os primeiros vêem os livros como negócio e os últimos vêem como aquisição de conhecimentos. Faço parte do último grupo.
Sou um rato de livrarias, sebos, brechós e de de bazares da pechincha e mesmo de ferro-velhos. Onde há livros, lá estou eu. Tenho lidado com os vendedores de livros mais estranhos que o leitor possa conceber. Vou contar alguns casos. Na cidade onde moro há alguns livreiros ridículos, é deles que vou falar, só não citarei nomes por causa da ética. Um desses vendedores de livros usados, queria a todo custo me empurrar livros de esoterismo, dizendo que era bom, apelando para a capa. Sendo que ele mesmo não leu o livro. Como é que sabia que ele não tinha lido o livro? Simples, um vendedor que leu tal ou qual livro aborda o tema ou os temas do livro.
Há um outro livreiro, pior que o primeiro, cuja ignorância é abissal. O negócio dele e vender. O cliente que freqüenta seu sebo não fica à vontade, primeiro porque os livros estão todos empilhados de modo desordenado, quase não há espaço físico e caso queira tirar um livro de um dos montes, o cliente corre o risco de ser soterrado por uma avalanche de livros e ainda de levar uma bronca do livreiro que é tão educado e fino como os homens da caverna. Esse livreiro, é mister dizer, é analfabeto ou semi-analfabeto, não tem noção alguma de literatura. Não sabe a diferença entre um livro didático e um não didático. A seu ver todos os livros são iguais: tem capas, páginas e letras, é o quanto basta para ser um livro. O primeiro livreiro ainda finge conhecer o conteúdo das obras que deseja vender, esse nem sabe fingir. Quando se mostra alguma cédula para esse livreiro, ele se dispõe a ajudar o cliente com a maior boa vontade. E vai à cata de tudo quanto é livro, e vai oferecendo com essas palavras: "Olha, leva este livro aqui é muito bom, olha como ele é bonito". Essas palavras foram dirigidas a mim. Eu estava procurando livros de filosofia, mas de bom grado tomei o livro das mãos do livreiro para verificar do que se tratava, e o livro que ele me ofereceu era de engenharia. O infeliz não sabe o que é filosofia mui provavelmente sabe ler, se lê, lê pouco, o básico.
Outra mania horrorosa que ele tem, é escrever o preço do livro na capa com esferográfica, o que faz que o livro perca o seu valor no mercado dos livros usado. Que mundo engraçado, pessoas que nunca leram um livro são livreiros e possuem milhares de livros; e os que amam os livros muitas vezes não podem comprar porque lhes falta o dinheiro!