sexta-feira, 23 de outubro de 2015

O fetiche das marcas

Dizem alguns que as palavras teem poder.

Creio que tenham mesmo sobretudo quando belas.

Multidões deixam-se arrebatar facilmente pela beleza dos discursos.

Hitler discursava muito bem, abusando dos gestos e da teatralidade.

O Pe Antonio Vieira encantava multidões de homens e mulheres tal e qual o flautista de Hamelin encantava ratazanas...

Sobretudo quando associada a uma argumentação racional e as ações a palavra torna-se poderosa.

Outro no entanto é o sentir do vulgo.

O qual ainda teima a encarar certas palavras como mágicas.

A semelhança do abracadabra ou do põem-te mesa!

Cuidam que uma ou algumas palavras sejam capazes de alterar a realidade.

Que pensamento excepcionalmente tenha a capacidade para atuar além dos sentidos e de alterar alguns elementos isolados da realidade, não ouso nega-lo.

Agora que uma simples frase ou palavra tenha o condão de acrescentar algo a um objeto, discordo e nego.

Não é repetindo Glória, amém ou aleluia que transformaremos papel em pedra ou madeira em ferro...

Longe de mim negar a finalidade ética da prece enquanto modo ou maneira de entrar em contato com o sagrado e alimentar o bem e a virtude.

Creio piamente que a fé imaculada é capaz de remover as montanhas do ódio, da maldade, dos preconceitos que entulham os corações da maior parte dos homens, levando-os a amar, compreender, perdoar, etc

Para quebrar as montanhas 'reais' ou abrir tuneis não usamos a fé, do contrário a invenção da pólvora teria sido inutil.

Para restabelecer a saúde das pessoas recorremos a médicos, tratamentos, aparelhos, medicamentos, dietas, etc e não a orações. Do contrário o governo, deixando de contratar padres, pastores, rezadores, taumaturgos, etc no lugar de médicos estaria malbaratando nosso dinheiro!

Para que manter um hospital das clínicas de existe de fato um Davi Miranda???

Para que gastar tanto dinheiro com laboratórios, experiências, pesquisas, etc se há um  ministério de cura???

Na verdade, por mais que seja dolorido a certos ouvidos ouvi-lo, o que temos é auto sugestão, hipnose, transe... e consequentemente a supressão provisória dos sintomas ou a cura das enfermidades de fundo PSICO somáticas, i é causadas por algum trauma ou bloqueio emocional.

Davi Miranda no seu santuário possuía milhares de cadeiras de rodas ou óculos; isto só prova uma coisa: que conseguiu impactar emocionalmente aquelas pessoas e curar-lhes a mente por meio de seus rituais, coisa que qualquer psicólogo poderia fazer sem apelar a Deus ou a Jesus obtendo os mesmos resultados.

Doenças reais ou físicas diagnosticadas e atestadas por laudos foi que não curou.

Habitualmente alguns sintomas são eliminados, dando ao enfermo a impressão (falsa) de que esta curado. Diante disto ele deixa de tomar os medicamentos ou tratar-se. Passadas algumas semanas cessa o efeito da sugestão, o estado de saúde do enfermo agrava-se e ele vem a óbito.... os idiotas no entanto continuam declarando que aquela pessoa, já morta, fora curada!

No entanto as pessoas querem crer que são magicamente curadas, pois querem ter esperança.

Não conseguem aceitar que passam mesmo a luz das palavras de Cristo!

Falta-lhes fé no mundo vindouro e por isso desejam perpetuar a existência neste plano físico.

E apegam-se de tal modo a ilusão dos milagres e das falsas curas que nada é capaz de demove-las.

Assim como Daisy Osborn morrem esvaindo em sangue jurando que estão curadas!

Abandonam a vida como qualquer ateu ou materialista... juram no entanto que foram agraciadas e que sobreviverão aquela 'crise'...

Tal o apego que nutrem pela vida mortal.

Não, elas não compreenderam a mensagem central do Evangelho e via de regra de todas as religiões e crenças: que esta nossa existência no plano material não passa duma peregrinação ou dum estádio provisório do ser.

Não somos daqui... não pertencemos a este lugar.

Apenas estamos a caminho... passamos por uma fase.

Como a pupa que se converte em mariposa.

A luz desta mensagem a morte, mesmo sendo feia, adquiri um significado positivo.

Para os que partem fiéis a lei do amor a morte não passa duma ascensão.

Passam para o outro lado da ponte.

Onde como declara Sócrates haverão de reencontrar seus queridos e de viver em paz.

Logo não a necessidade alguma de prolongar definitivamente a existência por meio de recursos extravagantes que fujam a natureza.

É absolutamente normal desejar ficar com os queridos que aqui estão, se para tanto contarmos com o adjutório da natureza, digo da medicina.

No entanto por que Deus conhecendo muito bem os limites desta fase, haveria de prolonga-la burlando as leis naturais que ele mesmo estabeleceu?

Seria absurdo.

Por isso mesmo que o Evangelho bem compreendido não acena com tais promessas, dignas apenas dos materialistas.

Assim quando esgotarem-se os recursos naturais o bom Católico deve estar preparado para ir ao encontro de seu Senhor animando-se de viva esperança.

Que os carnais paguem aos pastores por falsas esperanças e falsas curas alimentando o charlatanismo e aumentando seus débitos espirituais.

Temos a esperança de que até o corpo que adormece provisoriamente com o Cristo será um dia restaurado. Quanto ao espírito vivo que de Deus emanam, este jamais pode perecer...

As massas no entanto tombam na superstição do fetichismo e atribuem as palavras dos pastores poderes mágicos.

Por afinidade eletiva no entanto mesmo os irreligiosos costumam tombar miseravelmente no mesmo erro.

Passando o fetichismo por um processo de secularização e sendo transferido para os objetos ou coisas materiais.

Perde-se a fé, progride-se de alguma maneira, no entanto permanece-se atrelado a uma fetichismo naturalista, em que o objeto da cura sai de cena, mas a atmosfera de misticismo sobrevive.

Neste momento a religião dos milagres converte-se no misticismo da palavra ou melhor da marca.

Imaginemos dois copos de água, um abençoado pelo pastor e outro não, ambos os copos são bebidos, um pelo fanático outro pelo homem comum, qual o resultado disto???

Caso ambos sofram de câncer e tomem os mesmos medicamentos a doença, salvo a peculiaridade de cada organismo, seguira o mesmo curso. Demonstrando que entre a água benta e a não benta não ha diferença alguma, pois a fórmula e os componentes da água permanecem sendo os mesmos e, com ou sem benção ela limita-se a matar a sede daquele que a ingere.

Assim as palavras vãs e supersticiosas do pastor de fato nada acrescentam aquela água, e menos ainda a um medicamento que atua por si mesmo.

O enfermo todavia pensa e crê que aquelas palavras ditas pelo pastor acrescentam algo aquele copo dágua tornando-o especial!

Segundo o padrão mágico fetichista ele julga que as palavras são perfeitamente capazes de alterar a natureza das coisas!

Tomemos agora o homem irreligioso, indiferente, deísta, agnóstico, materialista ou ateu, mas enfeitiçado pelo mercado ou melhor pela propaganda.

Ouve dizer que a Coca Cola seja melhor do que Pepsi porque é Coca, ainda que a fórmula seja a mesma!

E recusa-se até mesmo a provar a Pepsi porque lhe disseram que não é Coca!

Uma questão de palavras!

Capaz de bloquear a verificação.

Não muda a realidade da bebida.

Atua no entanto na mente do consumidor, predispondo-a a considerar a dita bebida superior a todas as outras apenas porque porta determinado nome.

Consideremos agora uma camisa.

Temos o mesmo tecido e o mesmo corte.

Aqui feita por uma mãe prendada, que sabe costurar... Ali oferecida pela fábrica Tods, e com o emblema ali gravado.

Ambas a peças são absolutamente iguais! No entanto a maior parte dos jovens recusar-se-ia terminantemente a usar a peça de roupa feita com carinho pela própria mãe; optando por aquela que tem um emblema com o nome fixado, e jurando de pés juntos que aquela peça é superior ou melhor!

E por que?

Porque trás um nome!

Mas o um nome acrescenta algo a coisas ou objetos exatamente iguais?

Nada, absolutamente nada.

De fato uma marca determinada pode até ser melhor do que as demais. Isto no entanto não depende da marca mas da qualidade do produto, o qual alias permanece sendo o mesmo caso a marca ou o emblema seja removido. Então para sabermos qual peça de roupa é mais confortável ou resistente existe apenas um critério: prova-las todas!

Pois pode ser e sempre pode ser, que a marca alardeada seja inferior a uma outra que não goza de tanto prestígio e portanto enganosa.

Sempre poderemos ser enganados por palavras escritas ou faladas.

A única possibilidade de aquilatarmos a verdade é por meio da experiência ou do uso.

O fetiche da marca no entanto é capaz de tornar as pessoas resistentes a experiência.

Elas sempre poderão alegar que confiam na marca X, mesmo que as demais peças ou produtos sejam similares.

Ficam condicionadas a comprar apenas Maizena e não qualquer outro tipo de amido de milho... a adquirir Bom bril e não qualquer outro tipo de palha de aço. Como se o nome daquele produto adquiri-se poder ou força por si mesmo...

Poderia até adquirir idoneidade moral, numa sociedade em que a propaganda fosse feita de boca e boca e não negociada. Nós no entanto fazemos parte de uma sociedade em que a propaganda é paga ou comprada, e, logo; numa sociedade em que o anunciante declara o que quer, jurando por todos os deuses que seu produto é superior a todos os outros.

Fica evidente que numa sociedade cuja propaganda seja paga as pessoas deveriam exercer sua criticidade testando os produtos ou melhor dizendo experimentando.

Elas no entanto transferem sua fé do livro ou do pastor para o mercado ou a propaganda paga, permanecendo crédulas e pagando por nomes que nada adicionam aos objetos.

Antes compravam milagres, agora compram cigarros, latas de cerveja ou automoveis; mas continuam acreditando que a marca ou o nome acrescenta algo ao produto. Ou crendo numa propaganda que limita-se a palavras...

Antes o nome era Jesus e as palavras glória ou aleluia, agora Tods, Quick silver, adidas, etc o princípio é exatamente o mesmo.

A ideia de que as palavras adicionam algo a coisa em si.

Quando nada adicionam.

Claro que outras tantas pessoas adquirem as tais roupas ou coisas de marca como sinal de posição, superioridade ou prestígio. Para destacarem-se das demais, que não podem arcar com o custo da tal marca ou compra-la.

Aqui a roupa ou o calçado deixou de cumprir com sua função natural apontada por Sócrates (nas Memorabilia de Xenofonte) que é a de proteger do frio, do calor, da chuva ou das asperezas e insalubridade do terreno, para assumir uma função artificial que é separar os elementos da sociedade segundo o critério externo da aparência.

É esta dinâmica que leva-nos a priorizar a aparência a realidade, o traje a pessoa, o ter ao ser; corrompendo nossa visão de mundo.

Não quero dizer que devamos descuidar da aparência ou do asseio e do conforto, não é isto. O que quero dizer é que acima de tudo isto devemos considerar a razão e a livre vontade como apanágio supremo e específico dos seres humanos. Traje é importante mas vem em segundo plano, devendo como já foi dito corresponder a uma função natural do que a critérios de exceção.

Neste sentido podemos classificar como anti humano etiquetar as pessoas, rotula-las, julga-las tomando por base suas roupas 'sem marca'. Aqui seria julgar a casca pelo miolo...

A roupa de fato precisa estar - salvo compreensíveis exceções determinadas pelas circunstâncias - limpa e bem cuidada. Mas nem por isso precisa ser cara, luxuosa e de marca como Sócrates fez reparar ao sofista Antifonte.

Priorizar o traje ou o que é pior uma marca ou palavra ao invés do ser ou da coisa em si é corresponder aos interesses financeiros do mercado sacrificando parte de nossa natureza como o espírito investigativo.

Tomada em si mesma a cultura da marca deve ser encarada como um fetiche que só trás proveito aquele que a vende ou anuncia. Uma vez que poderíamos pagar um preço bem menor por um produto melhor de marca não famosa... ou mesmo sem marca (Uma vez que a qualidade se sustenta por si só, sem a marca!). Pagamos assim por um nome ou por uma palavra, a qual como vimos nada acrescenta ao ser.

E nossa mente ainda que irreligiosa permanece presa a um tipo de misticismo irracional.

Salva-mo-nos do pastor para cair nas mãos do empresário ou do marketeiro...

Então ainda temos de percorrer um longo e penoso caminho!














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