sexta-feira, 13 de junho de 2014

Santo Antônio o casamenteiro



Provavelmente o título da postagem chamou sua atenção porque provavelmente você é católico(a) praticante ou nominal devoto(a) de Santo Antônio ou ainda não tem religião mas simpatiza muito com o santo. Mas esse Santo Antônio folclórico nunca existiu a não ser no imaginário popular e dos padres boçais ou mal-intencionados. Não, Santo Antônio não era casamenteiro, nem milagreiro, não mil vezes não. Antônio era nome de profissão religiosa, seu nome verdadeiro era Fernando, Fernando de Bulhões e era português, era cônego de Santo Agostinho, quando viu frades menores se impressionou com seu estilo de vida e ele abandonou tudo para ser seguidor de São Francisco. Quem quiser ler mais sobre a vida do santo de Pádua poderá ler aqui.

Não quero destacar aqui nesta postagem o taumaturgo e tampouco o casamenteiro, alvo de superstições de mulheres supersticiosas. O que eu quero destacar é o homem comprometido com o Evangelho, com a vida de Jesus Cristo, comprometido com os pobres, pobres estes com os quais Jesus Cristo se identificou (Ver Mat 25,31-45). 

Santo Antônio não era esse santo romantizado ou esse santo milagreiro que os padres ensinaram para ocultar o verdadeiro antônio, o Antônio socialista, o Antônio revolucionário, o Antônio que conseguiu que uma lei fosse aprovada em benefício daqueles que tinham dívida, essa lei não permitia que uma pessoa fosse presa por causa de dívidas. Eu já escrevi sobre Santo Antônio neste blog e caso queira ler a postagem mais antiga pode clicar aqui

O frade minorita não poupava aqueles que exploravam os pobres, pelo contrário ele fustigava os ricos e dirigia duras palavras contra aqueles que enriqueciam através da usura. É uma pena que os católicos não conheçam esse grande heroi de sua igreja, a verdadeira vida de Antônio poderia inspirar muitos jovens a viver essa vida evangélica e fazer reviver dentro da Igreja Católica esse espírito franciscano que tanto faz falta no mundo de hoje.  Por isso resolvi escrever sobre os sermões desconhecidos de Santo Antônio, sobre suas palavras que foram ocultadas para não melindrar os ricos e poderosos e é o que vamos ver a seguir. As palavras de Santo Antônio estão em negrito.

Os pensamentos dos ricos deste mundo são guardar as coisas adquiridas e sua solicitude em adquirir outras; e por isso ou raramente ou nunca neles se encontra a verdadeira contrição; e assim incorrem na morte. 10º Sermão festivo - Quarta-feira de cinzas

O povo despedaçado é o povo dos avarentos e usurários. Assim como as aves e as bestas dilaceram o cadáver, também os demônios despedaçam com a avareza o coração do avarento ou do usurário; daí a palavra de Naum: "Ai da cidade sanguinária toda cheia de mentira e de extorsões: não se afastará de ti a rapina" [Na 3,1] (...). Os raptores e os usurários, porque roubam o alheio, são chamados cidade sanguinária (...). Os avarentos e os usurários, infectados com o veneno da avareza, tem sede do alheio. O sangue dos pobres é frio (...); a pobreza e a nudez não permitem aquecê-los, mas, quando o calor da necessidade apertar,  então invadem, emprestam para lhes sugar o sangue. Ai, portanto da cidade sanguinária toda cheia de mentira, etc. a mentira reside na língua, as extorsões no coração, a rapina na mão. 6º Sermão festivo Epifania do Senhor

A pertinácia constrói a sebe (...); os usurários ensinam seus pequeninos a praticar usura e a dar saltos de usura em usura. Pousam nas sebes da pertinácia, no frio da sua malícia, porque nem querem restituir o alheio nem regressar à penitência. 9º Sermão festivo - Cadeira de São Pedro


Os textos podem ser encontrados no Google Books no livro O pensamento social de Santo Antônio.



quinta-feira, 12 de junho de 2014

Revista Exame: O capitalismo é injusto!



Outro dia ao passar em frente de uma banca de jornal vi a revista Exame exposta com uma capa amarela bem chamativa com uma pergunta em letras garrafais: Por que o capitalismo é tão injusto? Isso foi no mínimo insólito já que a revista defende a economia de mercado, isto é, o capitalismo. Como estava de passagem e com o dinheiro contado não comprei a revista, à noite ao chegar em casa depois de um dia de trabalho, pesquisei na internet para ver se encontrava o artigo e me deparei com o artigo do Rodrigo Constantino: Até tu, exame? Ou: O capitalismo é mesmo injusto? Onde o colunista da Veja mostra toda a sua desonestidade e parcialidade, pois ele próprio confessa despudoradamente: "Ainda não li a reportagem, pois a revista não chegou às bancas aqui perto e não sou assinante. Mas meu choque com a capa sensacionalista já é suficiente para escrever este desabafo. O capitalismo é mesmo injusto?" O mínimo de imparcialidade que se requer a quem faz uma crítica a um livro ou artigo é que tenha lido o artigo ou o livro em questão para depois falar com conhecimento de causa e atacar as falhas do articulista/escritor, coisa que o economista da Veja não fez. Em seu artigo, Constantino desfere vários ad hominem e usa de todas as falácias possíveis ao falar de Marx e do socialismo. Ele não faz uma análise econômica, filosófica ou sequer sociológica, apenas diz que socialistas são invejosos e querem tomar dos ricos o que estes conseguiram com muita labuta. Suas palavras mais parecem um sermão de um pastor adepto da teologia da prosperidade, cujo deus não é mais Iahweh mas o deus mercado com sua mão invisível. 

O economista da Veja não faz uma análise sequer superficial apenas lança ad hominem e tenta justificar o capitalismo criticando os modelos socialistas marxistas-leninistas, como se criticar o socialismo acabasse justificando o capitalismo. Se ele tivesse lido o artigo da revista não teria escrito tanta besteira (ou talvez escrevesse vai saber...). Pois os autores da matéria reconhecem que o capitalismo trouxe benefícios, mas dentro desse modelo ele acaba mais por prejudicar do que ajudar a humanidade. 

Mas vamos ao que interessa de fato, vamos ao artigo da revista Exame, que diferentemente do sr. Rodrigo, eu li. O artigo só mostrou aquilo que já é sabido por toda a esquerda o capitalismo beneficia poucos em detrimento de milhões. Mas a revista não é socialista e nem o artigo é revolucionário como faz transparecer o economista da igreja liberal. Aliás, a revista Exame além de seguir a economia de mercado como disse acima, é da editora Abril da mesma família da Veja. 

Na página 37 lê-se: Um estudo da OCDE, grupo que reúne as nações amais ricas, ilustra bem esse ponto. O trabalho examina uma série histórica bem menos ambiciosa do que a de Piketty. Foca no que aconteceu desde meados da década de 90, mas conclui o mesmo: a desigualdade vem subindo nos Estados Unidos - e também no Canadá, na Alemanha, na França, no Japão, na China, na Índia e na África do Sul. "Na quase totalidade dos países ricos e na maioria dos em desenvolvimento, a maré elevou todos os barcos nas últimas décadas. Mas os iates subiram mais do que nos barcos menores", diz o sérvio Branko Milanovic, que foi economista-chefe do departamento de pesquisa do Banco Mundial por 22 anos e, ao lado de Piketty, é considerado um dos maiores especialistas no assunto.


Só falta o Rodriguinho falar que a o OCDE é comunista, socialista ou coisa parecida, o que não duvido vindo de um colunista da Veja que sequer ler o que pretende refutar. 

Enfim a revista faz uma breve excursão pela geografia ao abordar porque alguns países crescem com a economia do mercado e outros sofrem recessão, a revista Exame abordou que muitas indústrias migram dos EUA para a África, ou da Europa para a Ásia, então se os países ricos perdem os países pobres ganham, isso porque as indústrias estão pouco se lixando para os que perdem seus empregos pois está em busca de mão de obra barata para extrair lucros cada vez maiores. 

A revista ainda mostra (ainda na página 37) como ao longo da segunda metade do século XX a desigualdade aumentou entre os salários dos empregados: Na década de 50, os presidentes das maiores empresas americanas embolsavam 20 vezes mais do que a média do mercado. Hoje, ganham 200 vezes mais. Mas há casos extremos. Mark Parker, presidente da fabricante de material esportivo Nike, leva para casa um salário mais de 1000 vezes maior do que a média da companhia. De certa forma, esses executivos passaram a ser tratados como celebridades do mundo do showbiz.  
O artigo mostra que em certa medida a competição pode ser saudável mas se levada ao extremo é algo doentio: A partir de certo ponto, a desigualdade se transforma num problema econômico grave. Ela pode ser comparada ao colesterol: existe a boa e a ruim. A desigualdade positiva é aquela que incentiva as pessoas a estudar com dedicação, trabalhar e empreender. Histórias inspiradoras de empreendedores podem ter um efeito multiplicador sobre milhões de pessoas. A desigualdade negativa é a que impede a mobilidade social. Em situações assim, o status social dos pais é determinante sobre o futuro dos filhos. Por ter uma educação melhor, os filhos dos mais ricos ficam com os melhores empregos - como se fossem lugares cativos. Os filhos dos pobres acabam,  na melhor das hipóteses, brigando pelos empregos que sobram. 
Os defensores do livre mercado dizem que a competição estimula o crescimento da economia e que a competição é justa, eu até concordo com essa tese desde que haja igualdade de condições. É como se numa corrida de 100 metros um atleta tivesse uma vantagem de 50 metros à frente dos outros. Que competição é essa? Que chances os outros terão?

E que todos deveriam ter as mesmas chances não é coisa de socialista, comunista ou anarquista, mas de filósofos iluministas como Denis Diderot e a revista Exame na página 38 escreve: "Pensadores como o francês Denis Diderot, ao longo do século 18, engajaram-se na defesa que todos tinham  de ter as mesmas chances de participar da vida econômica e política - um objetivo incrivelmente atual. "Se uma criança passar a infância morando numa casa enorme e andando num carro de luxo porque seu pai e sua mãe são bem-sucedidos, não há o que dizer. Do ponto de vista da sociedade como um todo, o problema é se o dinheiro da família conseguir dar uma grande vantagem educacional a essa criança, diz Michael J. sandel, professor de filosofia da Universidade de Harvard e autor do influente O que o dinheiro não compra - Os limites do mercado. E é exatamente essa a discussão de hoje. 
Nos Estados Unidos, quem nasce na base da pirâmide social  tem cerca de 40% de chance de permanecer por lá, um número alto se comparado aos 25% da Dinamarca. É daí que alguns economistas dizem, em tom de brincadeira, que se alguém quiser viver o sonho americano é melhor mudar para Copenhague.  

O que o artigo da revista Exame diz não é nenhuma novidade  para pedagogos, sociólogos, etc... Uma criança que tem pais que leem, que tem acesso aos livros e a cultura em geral será evidentemente  mais bem colocada no mercado de trabalho do que a outra que não teve essas oportunidades, e, claro, o homem é fruto do meio, portanto ele reproduzirá tudo aquilo que o meio tiver feito dele.  Claro, que há pessoas que conseguem com muito esforço  superar esses condicionamentos, mas não conseguem sozinhas, conseguem se tem alguém que acredite nelas e que as estimule, o que não é o caso de todas as pessoas. 

É fato que um filho de uma pessoa bem-sucedida também será bem-sucedida e nisso tem razão a sabedoria popular quando diz que filho de peixe, peixinho é. O artigo da revista Exame escreveu: os filhos de médicos, advogados, engenheiros e administradores têm 12 vezes mais chances de ser médico, advogado, engenheiro e administrador do que o filho da empregada doméstica. 

O capitalismo não é só injusto é também ineficiente e não sou eu quem o diz, nem Karl Marx, nem Bakunin, nem Kropotkin e nem o secretário-geral do partido comunista, quem faz tal afirmação é a revista Exame que se baseou até em estudos do FMI (será que o FMI foi cooptado pelos comunistas?): A desigualdade de oportunidades não é apenas injusta - ela gera ineficiências do ponto de vista econômico. Em economias nessa condição, há um desperdício enorme do talento de parte da população, gente que poderia estar produzindo muito mais. Uma hipótese cada vez mais aceita entre os economistas é que países mais desiguais tendem, no longo prazo, a ter taxas decrescimento menores. O balanço de estudos feitos até agora aponta nessa direção. Redistribuição, Desigualdade e Crescimento, publicado em  fevereiro por três economistas do FMI, é o último deles. O trabalho faz uma análise de 153 países por várias décadas e conclui que os menos desiguais registram uma elevação maior do PIB. 

Como é delicioso ver o capitalismo desmascarado por uma revista capitalista, como é bom ver uma revista que não precisou recorrer a Marx ou outros socialistas. Que se baseou até em economistas do FMI. Pois é, chorem liberais caricatos, chorem!!! Chorem reacinhas, chorem!!!!

Fonte: Revista Exame. Edição 1067. Ano 48 nº11      11/6/2014

terça-feira, 10 de junho de 2014

A direita também é a favor das cotas raciais




É isso mesmo o que você leu no título da postagem: a direita também é a favor das cotas raciais. Você não se enganou, a direita também é a favor das cotas raciais, de modo invertido, é claro.
Segundo o Dieese o negro ganha menos que o branco mesmo tendo o mesmo tempo de estudos, e o que vem ser isso senão uma cota às avessas? Outros tipos de cotas com que os negros são "premiados" são os preconceitos por parte de policiais e seguranças de grandes estabelecimentos como lojas e supermercados. O simples fato de ser negro corrobora para que este seja um suspeito em potencial. Outro tipo de cotas que os reacionários dão para os negros é a inferioridade econômica e já que estes são inferiores devem continuar como porteiros, domésticas, etc... Como bem se vê as cotas para negros existem há muito tempo e não foram criadas pela esquerda como querem os reacionários de plantão. O que a esquerda fez foi apenas corrigir erros, injustiças e acabar com o preconceito racial feita pela cotas raciais da classe dominante, da classe média alienada e dos inocentes úteis.

Se negro pode ganhar menos só pelo fato de ser negro, se negro pode apanhar de seguranças, se pode ser revistado pela polícia só porque é negro, por que o negro não pode ter direito a vagas nas universidades públicas?

Nunca vi um olavete, um anarco-capitalista, um neo-liberal atacar as cotas da desigualdade entre brancos e negros. Nunca vi reclamarem da injustiça pelo fato dos negros ganharem menos que brancos, pelo fato da população jovem e negra da periferia ser morta indiscriminadamente pela polícia principalmente a militar.  Quer dizer as cotas das castas podem e devem ser mantidas mas as cotas que tentam sanar as injustiças e diminuir o racismo essas não podem mais existir porque segundo os "filântropos" da reação: "as cotas aumentarão o racismo". Ora, mas não são as cotas desses imbecis que dizem que médicas cubanas tem caras de empregadas domésticas que aumentam o racismo e o desprezo pelos negros? Como assim as cotas raciais da esquerda promovem o racismo? Querer que negros tenham acesso às universidades públicas é racismo? Querer que negros possam ser médicos, advogados, engenheiros é racismo? Acabar com essa desigualdade social para que os negros não sejam mais tratados como párias é racismo? Quer dizer então que negros ganhando menos que brancos não é racismo? Quer dizer então que é justa a competição entre um negro que ganha menos e um branco que ganha mais, mesmo ambos tendo número de anos em estudo?

Realmente é muito interessante a tese de que as cotas raciais propostas pelos socialistas e por todas as pessoas de boa vontade promovem a desigualdade racial, é digna de ser estudada por psiquiatras para saber que tipo de demência afeta os cérebros de pessoas que fazem tal afirmação.