quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Reflexões críticas em torno de Jacques Ellul

Jacques Ellul como ele mesmo disse, havia sido durante a juventude leitor de Celso, De Holbach, Renan e outros críticos do Cristianismo. Em 1940, anos vinte e dois anos, aderiu ao Cristianismo, tombando todavia na superstição protestante...

Não sei até que ponto assimilou o protestantismo. Ao fim da vida no entanto, parece ter desesperado por completo de qualquer estrutura eclesial e apresentado o Cristianismo como a suprema traição ao espírito de Cristo, o que até certo ponto e medida corresponde aos fatos.

Nada tenho em absoluto contra os Cristãos honestos e sinceros que desejam permanecer alheios a quaisquer instituições eclesiásticas. Exceto se sua fé ou teologia for protestante. Minha perspectiva, ainda que não eclesiástica ou anti eclesiástica permaneceria sendo Católica ou girando em torno de princípios e valores Católicos...

Por mais que possa parecer estranho a alguns, julgo que seja perfeitamente possível conciliar o Espírito ou sentido Católico com uma rejeição provisória a estrutura da Igreja ou duma Igreja contaminada pelo espírito protestante e/ou cooptada pelo espírito do Capitalismo. Neste sentido podemos falar numa 'greve' espiritual ou num boicote as formas deturpadas de Catolicismo, sem nos afastarmos da fé ou da vivência Católica em termos de caridade, justiça, lealdade, veracidade, etc

Claro que na perspectiva Católica esse repúdio a estrutura eclesiástica será sempre provisório e otimista. Animado pela firme esperança de que a estrutura da igreja será reformada ética e doutrinariamente, não num sentido protestante, mas no sentido oposto, segundo a norma e regra da tradição.

Folgo até que grande parte dos Católicos desertasse desses cultos protestantizados e dessa fé teórica ou fideísta exigindo de seus pastores e prelados um retorno as tradições ancestrais, uma retomada de consciência, uma restauração da cultura... em termos de Catolicismo. Implicaria isto uma série de medidas aparentemente contraditórias, mas, unitárias em termos de cultura e consciência histórica:

A revalorização do padrão simbólico de culto, o repúdio aos mitos judaicos contidos no antigo testamento, a substituição do padrão fetichista dos milagres por um padrão Ético em termos de finalidade, a reconciliação com o semi pelagianismo ancestral e consequente reabilitação da vontade humana, a revisão da doutrina das penas eternas, a desconstrução de todas as formas de preconceito, a afirmação da justiça social e condenação do liberalismo econômico, a negação do relativismo ecumênico, a resistência ao fetichismo criacionista, etc

Todos estes elementos estavam ao menos potencialmente presentes no Catolicismo do século IV desta Era. O qual é por assim dizer a Era de ouro ou zênite do Catolicismo. Só um retorno radical ao sentido histórico ou patrístico do Cristianismo será capaz de salvar-lhe a ele e a própria civilização européia da crise porque passa.

É um objetivo nobre.

Que justificaria uma 'greve espiritual' ou boicote por parte dos Católicos conscientes.

Nem deixariam eles de ter acesso a elementos Católicos.

Uma vez que podem ter calvários, oratórios e livros de piedade em suas próprias residências.

E sempre poderão servir a Jesus Cristo nos pobres e injustiçados.

Nem poderão deixar de obter a graça sacramental caso mantenham a boa vontade e o sentido de comunhão.

Desassociar-se das estruturas contaminadas e dos maus católicos tombados no solifideismo luterano é antes uma necessidade.

Não se trata de negar a estrutura visível ou material da igreja bem como sua dimensão imanente, mas de pressionar os membros dessa estrutura a reverem seus pontos de vista. Os Católicos cuja fé é pura não só podem como devem mostrar seu descontentamento face a semelhante estado de coisas.

A situação atual justifica plenamente o abandono provisório de uma estrutura eclesiástica protestantizada!

Neste sentido, funcional e provisório, nos podemos sim alienar de toda e qualquer estrutura eclesiástica e apesar disto como dizia Bernanos: amar a Igreja e sofrer por ela, conservar o sentido estrito de ortodoxia, alimentar a fé ancestral! O que não podemos sacrificar, com Jacques Ellul, é justamente a fé, a teologia e a orientação Católicas. Aqui ficamos sempre conservadores...

O protestante Ellul conserva sua fé... Nós também conservamos a nossa fé...

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