terça-feira, 24 de novembro de 2015

Filmes inspirados em H P Lovecraft

Li antes de tudo a 'Antologia ilustrada do folclore brasileiro' da Edigraf. Desta coleção faziam parte diversos contos sobrenaturais de Minas, Rio, São Paulo, Mato Grosso e Goias. Tinha doze anos de idade e até hoje releio alguns destes contos como a 'Missa dos mortos', a 'Procissão das almas', o 'Negro dágua', etc

A partir de então interessei-me sobre o tema. No ano seguinte, adquiri e devorei o recém publicado 'Contos de assombração' da Ática. Era este volume uma coletânea de que faziam parte contos de diversos países Sul americanos como a 'Mulata de Córdoba', a 'Saiona', etc

Devido a uma série de circunstâncias cessei de ler tal gênero de obras pelo espaço de uma quinze anos. Foi o preço que paguei por uma formação intelectual esmerada. Nada de romances, nada de literatura, apenas um pouco de poesia (clássica ou acadêmica é claro) de quanto em quando... Os romances, contos, etc - inclusive Machado de Assis - haviam de esperar...

Retomei a leitura dos contos, romances e ficção há coisa de uns doze anos...

Buscando recuperar o tempo perdido.

Assim sendo, entre um Machado e outro, de permeio a um 'Quincas Borba' e um 'Memórias póstumas de Braz Cubas' fui retomando o 'terror'.

Uma das primeiras obras que li após o prolongado jejum foi a 'Vênus de Ille' de Merimeé.

Foi uma leitura impactante...

Fazia-se mister recuperar o 'tempo perdido'.

Assim pouco tempo depois li 'O castelo de Otranto' de Walpole.

E sucessivamente diversos contos e narrativas de Poe, Kliping, Doyle, Bierce...

Entremeados pelas 'Histórias' de: Frank de Felitta, Stephen King, etc

Devorei dentre outros: o 'Fantasma da Opera' de Leroy, o 'Drácula' de Stocker, o 'Romance da múmia' de Gauthier, 'Os ancestrais' de Kline, o 'Espírito do mal' de Blatty, o 'Horror em Amityville' de Anson, os 'Mortos vivos' de Straub (meu autor predileto)...

Foi quando descobri H P Lovecraft.

Coisa de uns seis sete anos. Convidado para avaliar e adquirir um espólio dei com o título sugestivo "O que sussurrava nas trevas e outros contos". Era um volume dos anos 60... comprei-o juntamente com os mais e levei para casa.

Passados alguns dias larguei o estudo habitual da Sociologia ou da Filosofia para 'distrair', tomei o volume de contos do tal H P Lovecraft e comecei a ler. Era noite e posso dizer que varei a madrugada... a 'aurora dedirosea surgiu matutina' e lá estava eu vidrado no jovem autor norte americano.

Nos dias que se seguiram a leitura destes cinco ou seis contos comecei a pesquisar sobre o autor e sua obra, em termos de biografia e bibliografia.

Disto resultou a aquisição de mais uma coletânea em espanhol e do Ch Dexter Ward.

Habituei-me assim a ler Lovecraft e penso ter lido já umas vinte obras suas mais ou menos.

Procuro conter-me para não esgotar a fonte duma vez já que nosso homem não escreveu mais do que cinquenta e duas obras.

Muitas das quais filmadas!

O filme 'A bolha assassina' por exemplo inspirou-se no conto 'A cor que caiu do céu', 'Beyond' ou do além (1985) tem por base o conto homônimo de H P Lovecraft. Congo é em parte uma adaptação da narrativa 'A verdade sobre o falecido Arthur Jermyn e sua família' e Re animator uma versão de Herbert West - reanimator. 'Nevoeiro' inspira-se tanto em Stephen King quanto em Lovecraft. 'O legado de Waldemar' dirigido pelo genial Jose Luis Aleman é uma obra emblemática.

Temos assim seis bons filmes para degustar...

O essencial é Lovecraft, há no entanto pitadinhas ou temperos de Poe, King, Maugham, etc o que torna cada um deles ainda melhor.

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

O significado de Eduardo CUNHA

Há quem diga que Eduardo Cunha é o pior que podemos imaginar ou pensar em termos de política nacional. Mas não é não... Mais tenebroso e sinistro do que Cunha é o significado de Cunha e Cunha tem significado, ah isso tem...

Cunha tem significado, Cunha tem motivos, Cunha tem razão de ser...

E isto sim é amplamente assustador.

No frigir dos ovos o Brasil já conheceu um bom número de políticos execráveis ou demagogos. Tivemos um Carlos Lacerda, tivemos um Fiuza, um João Alves, um Barbalho, um Arruda...

Cunha no entanto parece ser o mais maquiavélico e inescrupuloso de todos.

Pois tudo tem feito, absolutamente tudo, para manter-se no poder...

E sua sanha pelo poder, sua cara de pau, seu atrevimento, parece não conhecer limites.

Assim enquanto registramos estas linhas para a posteridade, lá esta o elemento, mexendo seus pauzinhos e intrigando 'legitimamente' com o objetivo de interferir no conselho de ética, cujo relator acaba de condena-lo!

Tendo a opinião pública, o povo e a maior parte do elemento político contra si, ainda assim o sujeito acredita ser direito seu ocupar a presidência do parlamento; em seu próprio nome...

Muito democrático...

Num momento em que se fala tanto em Ética. Ética pra cá, ética pra lá... não se compreende o pôrque deste sujeito ainda não ter sido defenestrado em 'nome da moral e dos bons costumes'.

Por menos, muito menos queriam defenestrar a presidente...

Contra qual inexiste a mínima evidência em termos de corrupção ou improbidade...

Cunha não conseguiu explicar satisfatoriamente a existência de quatro milhões depositados na Suíça e mesmo assim não estamos ouvindo o rufar das panelas e os gritos de indignação.

Ética ou probidade é coisa que se deve exigir de todos os homens públicos.

Não apenas deste ou daquele, pertencentes a tais e tais partidos...

Cobrar uma postura ética deste não cobrar daquele é absolutamente anti ético.

Subordinar as exigências da ética ou da moralidade a imperativos partidários ou ideológico equivale a mergulhar de cabeça no abismo profundo da imoralidade!

Hostilizar alguém porque venceu honestamente as eleições numa perspectiva democrática, derrotando nosso candidato e fazer ouvidos moucos a um cidadão que dia após dia tem intimidado seus denunciantes e recorrido a chantagem é o cúmulo da hipocrisia e do farisaísmo.

Cade as marchas contra o homem que emporcalha a consciência política brasileira?

Cadê os gritos de 'Fora Cunha' ecoando do Iapoque ao Chuí?

Não os escuto ou pior, se os escuto, partem apenas da odiada esquerda.

Diante disto como ousam acusar-nos de simpatizar com a mesma esquerda???

Definitivamente não é a odiada esquerda que esta mancomunada com o bandido engravatado a ponto de te-lo blindado até o momento presente com objetivos puramente demagógicos; implementar um golpe!

Afinal, não fosse esta esperança imunda e suja, de sabotar nossa democracia, Cunha já teria caído a muito tempo, estando a alma de milhões e milhões de cidadãos brasileiros lavada! No entanto lá está o criminosos presidindo um parlamento e testificando perante todo mundo civilizado que esta pais não é um pais sério.

Num pais sério Cunha estaria mesmo é atrás das grades trancafiado numa masmorra de segurança máxima!

E no entanto este meliante, ameaça, grita, ruge, e ousa intimidar seus contrários com uma impudência jamais vista no cenário da História pátria.

Diante disto cumpre perguntar que faz Cunha assim tão seguro e quais sejam as fontes de sua insopitável arrogância?

Ide a um certo 'site de relacionamentos' e analisai a página do homem!

Tal como o Bililixo de S Vicente - O homem que fez o município afonsino recuar quinhentos anos na história - Cunha tem apoiantes e apoiantes fiéis, denodados, fanáticos...

Cunha como Felicianus tem fãs, como Bolsonaro tem fãs!

Não no juqueri ou em Itapira, mas livres, leves e soltos!

Diante disto como admirar-se de que Hitler, Stalin, Bush e outros tantos 'monstros' tenham seus fãs???

Tal o homem, tal seus heróis...

Como vai baixo o ideal de consciência deste nosso povo, como vai baixo!

Consola-nos imaginar que se trate de psicopatas.

Natural que psicopatas identifiquem-se com psicopatas.

Triste, triste seria imaginar ou supor que uma pessoa normal identifique-se com alguém que disse serem os negros amaldiçoados ou com alguém que sustenta publicamente a inferioridade da mulher, embora tenha nascido de uma e não de um macho...

E no entanto Bili, Felicianus, Cunha, Everaldo, Campos, Bolsonaro, Russomano, etc - ou seja o que há de pior ou de mais imundo na política nacional - e seus eleitores respiram uma atmosfera comum, a atmosfera do fundamentalismo religioso.

Todos os canalhas acima citados estão diretamente relacionados com a máfia dos pastores, a indústria da fé, a teologia do capitalismo, o charlatanismo religioso, o curral da fé, o cabresto sagrado, o pensamento teocrático...

B B B - Boi, bala e é claro Bíblia, ou seja, a justificativa ideológica do latifúndio e da bala!

Cunha resiste meus bons amigos porque mesmo sendo réu confesso, ainda assim conta com o apoio da sinistra bancada 'evangélica' - a mesma que deu suporte ao canalha do Marcos Felicianus na legislatura anterior, apoiando-o até o fim - das seitas pentecostais, da maior parte de seus líderes e de boa parte desse povo imbecil ou desavergonhado...

É ir as páginas do ulemá e conferir: Dr Cunha esta sendo perseguido pelos 'infiéis'! Dr Cunha esta sendo perseguido pelo diabo! Satã não irá vence-lo Dr Cunha! Dr Cunha é perseguido por sua fidelidade a palavra de deus! Dr Cunha é vítima de calúnia por parte dos inimigos da fé... e por ai vão as lucubrações dos fanáticos...

Cunha rouba, as provas são manifestas, mas.... mesmo assim é vítima pelo simples fato de cristalizar em torno de si os sonhos e esperanças teocráticos acalentados pelos fanáticos...

A incoerência aqui salta a vista. Pois são forçados a apoiar um ladrão e mentiroso com o objetivo de implementar uma pauta conservadora e moralista... Agora que moral há no roubo ou na mentira???

Mas o Dr Cunha defende a família!!! Dirão eles...

No entanto este mesmo Dr Cunha rouba, mente, intimida...

O que nos faz duvidar seriamente da família...

A família abstrata e metafísica do Dr Cunha prefiro a honestidade, a veracidade, a cordialidade...

Mesmo sem a familiazinha bonitinha com seus escândalos escabrosos a honestidade, a justiça, o bem, a caridade, a solidariedade, a veracidade e outros valores cuja presença não somos capazes de ver em seus defensores, permanecem belos!

Sim, pois esta família precisa de um substrato material que a mantenha e sustente! Eles no entanto, CUnha e seus comparsas, votaram pela terceirização, ou seja, pela servidão de nossas famílias! Pela miséria, pela fome, pela necessidade, pela proletarização!

Agora por que Cunha e seus amiguinhos, paladinos da moral e dos bons costumes, aderiram a causa da terceirização?

Simples amigo leitor: porque a terceirização aumentaria a miséria, a miséria aumenta o desespero e o desespero serve de alimento a superstição, ao charlatanismo a alienação pentecostal. Garantindo o sustento dos pastores parasitas...

Tal e qual os supostos protetores ou policiais, também os pastores lucram com a miséria e suas consequências: a violência, a insegurança, o desemprego, a ignorância, a necessidade...  Uns e outros assemelham-se aos cogumelos que alimentam-se de estrume e outras sujidades.

Num mundo ideal, mais justo e fraterno, sem violência ou miséria policiais, soldados e pastores teriam de trabalhar honestamente como qualquer um de nós...

Neste sentido para eles e seus aliados políticos aumentar as condições de miserabilidade ou tornar as vidas dos trabalhadores mais difíceis é e será sempre um bom negócio.

Trata-se evidentemente de um objetivo odioso, e; sem embargo, rentável.

Mesmo porque parte dos dízimos ou ofertas doados pelos pobres coitados será usada para financiar as campanhas os políticos alinhados com a igreja ou para financiar o 'cabresto sagrado'...

O que nos leva a outro tema relacionado com o Cunha e sua base: o financiamento de políticos por empresas e indústrias... 'pequenas igrejas grandes negócios' passam a investir nas candidaturas dos homens de deus, enquanto que os candidatos laicistas ficam chupando os dedos... E já sabemos porque eleição após eleição a bancada religiosa não cessa de aumentar. Afinal a propaganda é a alma do negócio e o dízimo a melhor maneira de compra-la.

Não nos enganemos, estamos diante duma verdadeira máfia político religiosa por meio da qual as ofertas doadas pelos fiéis acabam servindo para financiar as campanhas dos pastores e seus aliados, sabotadores da democracia e paladinos do pensamento teocrático.

A pergunta aqui é: Como poderão os candidatos laicos, alinhados com o pensamento democrático e livre, fazer frente a este mecanismo a um tempo credal e a outro financeiro???

A César o que é de César e a Deus o que é de Deus!

Precisamos lutar por uma legislação que ponha freio a tal mecanismo, fiscalizando a origem das doações as campanhas e assegurando que os dízimos dos fiéis não possam servir a tal propósito, mas a um propósito de caráter sagrado ou religioso.

Proibir o financiamento das campanhas por instituições de caráter financeiro, sejam empresar, indústrias ou igrejas é já um primeiro passo e por isso Cunha forcejou o mais que pode para impedir a aprovação desta emenda.

Afinal ele mesmo é acusado de ter enfiado dinheiro público nos bolsos da assembléia de deus... o que obviamente não fez de graça!

Importa, para milhões de fanáticos, que Cunha representa a vontade POLÍTICA de seu deus ou seja, a pauta conservadora...

Em nome dos preconceitos bíblicos: machismo, adultismo, homofobia, capitalismo, racismo, escravismo, etc Cunha torna-se herói mesmo sendo ladrão, mentiroso, chantagista...

Perceba amigo leitor como o óculos colorido do fanatismo tudo distorce e subverte!

Mesmo sendo o que é, um criminoso, arrogante, golpista, mentiroso, etc Cunha torna-se santo pelo simples fato de ter uma Bíblia em suas mãos ou de públicas salmos em suas páginas de relacionamento.

Concluindo: o problema não é o Cunha e sim o que esta por detrás do Cunha ou com o Cunha.

O problema é este padrão de pensamento segundo o qual alguém torna-se necessariamente honesto santo por comungar da mesma fé ou por defender os mesmos princípios.

O veneno é precisamente este!

Cunha tem apoiantes não porque é honesto ou bom, nobre ou virtuoso mas apenas e tão somente porque assume determinada pauta e torno de alguns princípios e valores comuns.

Assim eles já não enxergam o homem por pior que seja mas apenas a pauta, no caso a pauta moralizante e conservadora.

E não elegem o homem, mas a fé, a pauta, o discurso, a teoria...

E ao elege-las elegem um ladrão, um criminoso, um meliante...

E mesmo diante de todas as evidências jamais cedem.

Pois os pastores e lideres religiosos, não cessam de apresentar aquele sujeito como perseguido pelo diabo, como vítima, como mártir, como santo e digno de todo apoio.

"Os pagãos combatem este homem de deus porque não desejam viver sob a lei da palavra de deus!!!" é o que costuma proclamar em seus covis...

Resulta disto toda uma política abstrata, romântica. teórica, idealista... sempre infensa aos direitos do trabalhador, a qualidade de vida, a justiça social, ao bem comum. O pior tipo de política, a mais inutil, a mais perniciosa, a mais demagógica.

Sempre que a religião aproxima-se da política e associa-se a ela devemos esperar o pior tipo de política. É o que estamos a assistir no Brasil do tempo presente e caso a política brasileira não tome outros caminhos, no caso essencialmente laicistas, haveremos de ver ainda muita coisa pior do que o Cunha.

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

São Vicente: domínios de BILILIXO

Resido em S Vicente desde que nasci há cerca de quarenta anos.

Minha mãe foi uma das primeiras moradoras do Bairro do Catiapoã, adquirindo propriedade em 1944, ao próprio Vicente Gil. Meu falecido pai foi um dos fundadores e diretores da S M do bairro do Catiapoã, tendo aqui chegado em 1947.

Por esse tempo apenas as partes dianteira e média deste bairro (até o Bar do papagaio - R João Maria Horta) haviam sido ocupadas e ainda assim esparsamente de modo que Chico Sopa, Vicente Gil e alguns outros ainda mantinham seus sítios e 'casarões', haviam veredas, capões, cômoros, lagoas, rios, riachos, etc Os principais lotes estavam voltados para as grande artérias: O caminho do Catiapoã, hoje Av Pérsio de Queiroz, onde meus pais tinham seus respectivos imóveis e Tnte Durval do Amaral.

Quando nasci, na primeira parte da década de setenta, a situação era bem outra, pois havia já água, luz, telefone, etc metade do bairro estava já pavimentado e sua totalidade loteado. As partes inferior e as laterais - junto aos canais - haviam sido ocupadas irregularmente pelos assim chamados 'favelados'... e nada havia de natural no lugar. Tudo estava já completamente urbanizado, apenas os lotes mais antigos e maiores, como os dos meus pais possuiam grandes quintais com jardim, horta e pomar, o que hoje constituí um luxo.

Quando eu era rapazinho ainda menor de idade, havia grande insatisfação a respeito da administração municipal, ocupada pelo sr Sebastião Ribeiro da Silva, isto após as administrações progressistas e operosas de Bierrembach, Koyu e Reis. A administração Ribeiro da Silva foi catastrófica e recordo-me de que os bairros, como Jockey, parque S Vicente, Catiapoã, V Melo, etc estavam completamente abandonados.

Tenho consciência disto porque meu falecido pai, já aposentado costumava 'rondar' a cidade quase que diariamente e sua 'magrela' e eu com ele. Também liamos os jornais 'A cidade de Santos' e 'A tribuna' diariamente, topando com reportagens quase que diárias abordando a triste situação da cidades, a insatisfação dos populares, as denúncias e escândalos quase que diários...

Sucedeu-lhe ao que me lembro, o filho da portuguesa da padaria (o açougue de meus falecidos tios era quase ao lado) 'O reizinho' (ex prefeito Reis) o qual de fato encontrou a prefeitura municipal completamente falida ou seja sem fundos. O Erário era insuficiente pelo que engenheiro Reis pouco pode fazer, havia pego um autêntico abacaxi e tanto desgastou-se que pouco depois de ter deixado seu cargo veio a óbito.

Entrementes o abacaxi havia passado a meu amigo L C Luca Pedro, o Luca; cuja esposa era irmã do Pe Carlos Arthur. Como pertencia ao PT grandes esperanças havia sido depositadas nele, tendo em vista o desempenho de Telma de Sousa, então prefeita da cidade de Santos. Aqui no entanto eram bem outras as condições, encontrando-se o erário vazio. Além disto nossos oligarquias tradicionais nutriam verdadeiro ódio ao PT (muito semelhante ao que testemunhamos hoje em diversas partes do Brasil!) e este ódio suscitou uma série de maquinações, intrigas, tramoias; em suma num verdadeiro boicote dirigido com finalidades politicas pela oposição; isto com o objetivo premeditado de fazer sangrar o PT e desmoralizar a administração Luca, o que de fato foi feito. Graças a certos conciliábulos secretamente urdidos, pactos, negociatas, formou-se uma frente ampla contra aquele prefeito e um de seus membros foi o então vereador Márcio França, pouco depois lançado como candidato a prefeito face a uma administração trabalhista completamente desgastada.

Havia ademais a necessidade de opôr a administração petista ora problemática de Santos (gestão Davi Capistrano ) uma gestão dinâmica em S Vicente a ponto de influenciar as próximas eleições em Santos e deslocar o PT daquela cidade. Márcio França foi eleito e tornou-se este homem destinado a mostrar brilho em S Vicente e obscurecer a administração petista da cidade vizinha. Este foi o segredo do seu sucesso... precisava fazer sucesso! Sendo assim contou com o apoio das oligarquias tradicionais, de todas as oposições, de todos os setores hegemônicos, dos burgueses, dos clubes e conciliábulos... após oito anos as finanças estavam mais ou menos recuperadas.

Os comerciantes interessados em obter máximo apoio abriram suas bolsas, o governo de S Paulo (PSDB) o principal interessado em remover o PT da administração santista, também abriu suas arcas... e Márcio brilhou como deveria, a ponto de influenciar as eleições em Santos e acabar duma vez com o PT. E como estivesse bem articulado com os setores dominantes desta cidade e mais ou menos a serviço do governo estadual, pode governar com relativo sucesso por duas vezes deslumbrando parte da população pelo simples fato de que a cidade encontrava-se limpa, as escolas bem administradas, a saúde estabilizada, a econômica próspera, etc

Em comparação com as três administrações anteriores a situação fora indubitavelmente melhor.

Daí seu sucessor ter sido igualmente reeleito. Assim o PSB manteve-se a testa deste município por cerca de dezesseis anos, de 1997 a a 2012. Apenas nos dois últimos anos da administração Tércio Garcia deu esta administração algumas amostras de desgastes. Nada no entanto fazia lembrar os Caos anterior a 1997.

Em 2012 graças a uma 'reviravolta' foi eleito, contra todas as expectativas, o sr Bililixo.

Não votei nele, pelo simples fato de estar relacionado com a assim chamada política confessional ou religiosa e também por pertencer ao PP.

Também não votei no sr Caio França por questão de ordem ideológica. Ademais jamais me associei a grupos ou facções.

Votei em branco, mas não com orgulho.

Esperava que os França obtivessem vitória fácil

Por isso as vezes sinto remorso.

Talvez ao menos desta vez devesse ter apoiado os França, afinal nada é pior, COMO ESTAMOS VENDO, do que a tirania religiosa.

BILILIXO  é prova manifesta de que os religiosos fanáticos ignoram supinamente que seja o bem comum.

No entanto em ninguém votei. Muitos também não votaram.

BILILIXO foi esperto, granjeou o apoio de todos os lideres fundamentalistas desta cidade e a adesão de todas as suas ovelhas. Graças ao curral da fé ou cabresto religioso conseguiu em questão de semanas humilhar o poder da família França.

Não simpatizo com os França. Não sou alinhado, mas independente.

No entanto não comemorei, não vibrei, não me senti feliz... pelo contrário, fiquei bastante preocupado e temi...

Pouco tempo depois aqueles que riram dos França tiveram de engolir seus sorrisos.

Durante todo este tempo, até o dia de hoje, abstive-me de escrever qualquer coisa sobre a administração BILILIXO. Isto para não passar por fâmulo ou lacaio da família França...

Não sou lacaio de quem quer que seja ou melhor dizendo, lacaio sou da justiça.

Como cidadão prudente e historiador cauteloso limitei-me a observar toda esta sujeira em surdina, comparando-a com tudo quanto estudará ou testemunhara a respeito do passado deste município.

E assistindo de boca calada ou em silêncio o martírio de meus irmãos.

Refiro-me aos demais conterrâneos que nasceram ou vivem no município afonsino bem como a nossos funcionários públicos.

Afinal nem estes podem viver ou trabalhar sem receber nem podem aqueles ser servidos sem que estes trabalhem.

Assim se os funcionários não são devidamente pagos os servições cessam e a cidade para.

Por outro lado exigir que os funcionários trabalhem sem receber ou em detrimento de garantias auferidas por lei equivale a restabelecer a escravidão.

Tal parece ser o intento do prefeito BILILIXO o qual, quiçá a luz de seu amado velho testamento ou torá, pretenda restabelecer entre nós o escravismo 128 após a princesa Isabel ter abolido a Lei áurea.

Exigir que uma pessoa trabalhe sem receber sr prefeito é o mesmo que escraviza-la.

Pouco importando caso o sr emprega a chibata ou ameaças de demissão; a coerção física ou moral não deixa de ser coerção.

Importa apenas a finalidade objetivada pelo sr: obrigar o funcionário a trabalhar sem receber.

Pois todo operário é digno de seu salário, alias de um salário justo e não de esmola.

Se o cidadão ou particular que constrange pessoas a trabalhar para ele responde por explorar o trabalho escravo por que raios uma prefeitura ou qualquer setor do governo teria o direito de faze-lo impunemente? Desde quando as prefeituras e prefeitos estão cima da lei? Desde quando é lícito a prefeitos e prefeituras é lícito cometer crimes.

Pois bem o que o prefeito Bililixo esta fazendo ao reter o salário dos funcionários ou exigir que trabalhem sem receber a remuneração a que fazem jus é pecado que brada aos céus e crime abominável!!!

Com que direito vem ele a público exigir que seus credores continuem a trabalhar e a trabalhar de graça para a prefeitura?

Desde quando alguém pode ser obrigado a trabalhar de graça???

Funcionário não é voluntário e não prestou concurso para fazer caridade.

Tratam-se de pessoas que tem família, despesas, contas a serem pagas e que por isso precisam receber seus salários em dia sendo dever seu paga-los!

Agora se o sr não lhes paga, o mínimo que podem fazer é entrar em greve ou paralisar os serviços.

Diante disto a que título vem o sr a público incriminar funcionários que estão a revindicar seus direitos e direitos que são sagrados?

O malfeitor ou caloteiro aqui no caso, é o sr.

E por ser prefeito - podia mesmo ser governador, presidente, rei, sei lá eu mais o que - não deixa de ser caloteiro e nem se pode colocar acima da lei.

Ousarei dizer mais sr Bililixo: agradeça por estar em S Vicente, cidade que lastimavelmente é digna de si, pois em outros locais mais civilizados o bom povo ocuparia os prédios públicos após desmantelar tanto a prefeitura quanto a câmara que o protege.

Noutros locais o sr e seus apaniguados seriam caçados como ratos!

Mas S Vicente é S Vicente, havendo estúpidos que trabalham ser receber enquanto o sr jura por todos os santos ou de pés juntos que pagou tudinho!

Diante destas centenas de palermas que trabalham de graça para o sr fico-me a perguntar quantos não foram recomendados ou indicados pelo sr e seus aliados???

Que S Vicente sempre tenha sido e seja ainda um gigantesco cabide de empregos infestado por parasitas é assaz sabido por todos. Nem devemos estranhar que haja gente trabalhando sem receber ou de graça e ainda olhando atravessado para os companheiros que lutam por seus direitos.

Não. Felizmente não me incluo no número deles. Do contrário já teria tentando é dar-lhe uns bons bofetes para ensinar-lhe a parar de ser moleque.

Tive a felicidade de pedir minha exoneração há mais de dez anos, bem antes do sr ocupar a prefeitura.

Já naquele tempo pouco pagava aos profissionais da educação e cultura; no entanto, justiça seja feita, ao menos pagava em dia. Ademais a caixa de previdência funcionava perfeitamente...

Naturalmente que S Vicente continua pagando pouco a seus professores e artistas. Hoje no entanto parte deles sequer recebe este pouco!

E a belezoca do prefeito ainda se atreve a declarar que vai cortar-lhes o ponto!

Santa hipocrisia...

Tal a situação caótica desta cidade.

Pois o CREI sequer funcionava na semana passada e a maior parte das escolas e creches estavam fechadas...

Hoje são os funcionários da CODESAVI que entram em greve.

Sobre a condição da primeira Vila do Brasil pouco há que se falar.

Diria que se converteu na primeira cidade lixão do Brasil.

Há três anos que há lixo por todos os lados, inclusive nos bairros mais chiques e sofisticados... lixo nas calçadas, esquinas, terrenos vazios, orlas das avenidas, etc, etc, etc Lixo e mais lixo a cada dia, lixo acumulando-se, toneladas de lixo, necro chorume, fedor, ratos, baratas, urubus... é coisa impressionante de ser ver e quem vem de Santos ou S Paulo fica boqueaberto.

Cerca de uns três meses havia um monturo a céu aberto atrás da Vila de S Vicente na Pça João Pessoa!

Jamais vi algo semelhante durante qualquer outra época. Nem nos tempos de Sebastião, Reis e Luca houve tanto mas tanto lixo, porqueira, sujidade...

BILILIXO é a imagem viva de sua cidade...

E CRISE sua palavra mágica! CRISE EM SUA BOCA SABE A DOCE...

Importa agora por o dedo no fundo da ferida e tentar compreender qual seja o sentido do BILILIXO porque BILILIXO tal como Eduardo CUNHA possui um sentido que devemos por a luz.

Há cerca de vinte anos talvez, pouco mais pouco menos, o mesmo BILILIXO, então simples vereador, forcejou por remover um emblema ou imagem da tal senhora aparecida que encontrava-se exposto numa entidade beneficente, cujo espaço havia sido doado por algumas pessoas caridosas com a condição de que os emblemas religiosos lá fossem mantidos.

E como lá estivessem há gerações lá deveriam permanecer fossem quais fossem uma vez que nossas leis não retroagem. O homem fanático no entanto tudo fez para remover o dito emblema. Não pode no entanto consuma-lo devido a brava reação não só dos papistas mas de toda gente tolerante e pacífica, como eu mesmo. Ouve grande oposição e BILILIXO saiu derrotado, tornou-se no entanto líder e herói dos fundamentalistas e teocráticos. Foi um golpe político de mestre disse eu a um amigo na ocasião.

Afinal vivemos numa república de estúpidos em que parte da população preocupa-se muito mais com a remoção ou melhor com a SUBSTITUIÇÃO de emblemas, quadros ou estátuas, DO QUE COM A A FOME, A JUSTIÇA, A LIBERDADE, O BEM COMUM...

Coisa triste mas há por todo este pais e especialmente em S Vicente pessoas que atuam politicamente com o único propósito de obter privilégios ou benesses para suas agremiações religiosas. É monstruoso mas real tanto aqui como no Estado e na Nação a quem cuide fazer política com o intuito de engrandecer determinadas seitas religiosas, pondo o poder a serviço da fé ou buscando amancebar a crença com o estado...

Pois o mesmo BILILIXO que mostrava-se indignado com o emblema da Santa há vinte anos atrás, ora, ao dar entrevistas a TV, pavoneia-se com sua Bíblia de merda, o emblema dos protestantes em pleno paço municipal além de ter fixado em sua sala um quadro com a mesma temática confessional. O que demonstra cabalmente que esse fariseu hipócrita jamais lutou pela democracia ou o laicismo ao pretender remover o emblema papista, mas apenas e tão somente por suas próprias crenças buscando substituir os símbolos papistas por símbolos protestantes ou cruzes por Bíblia, que é a maior aspiração dessa infeliz bancada evangélica.

Apenas por isso mesmo sendo laicista não apoiamos a esses fanáticos religiosos que desejam remover os símbolos romanos, por suspeitar e crer que desejam substitui-los pelos seus próprios símbolos, a exemplo das praças Bíblicas e do dia da Bíblia... No entanto uma vez que - por uma questão de vaidade -  aspiram ter seus símbolos publicamente fixados era de se esperar que ao menos tolerassem os símbolos dos outros!

Agora vá propor a qualquer um desses fariseus hipócritas a construção de uma estátua de Iemanjá para ver só???!!!??? Praças em homenagem a sua reforma querem, bem como dia da Bíblia rsrsrsrs É por isso que oponho-me a institucionalização de qualquer feriado religioso no tempo presente bem como a edificação de qualquer monumento religioso com o dinheiro público. Agora não podemos fazer exceção a Bíblia ou a reforma protestante como querem os facínoras porque a lei deve ser para todos e a igualdade para todos. Nem poderíamos substituir o dia 12 de Outubro pelo dia da Bíblia!

Importa saber que BILILIXO não só logrou eleger-se graças ao adjutório religioso, como cogita em candidatar-se a reeleição.

Agora que esperanças concretas pode ter um péssimo administrador como ele; um caloteiro, um demagogo???

Quem em S Vicente tendo o juízo perfeito haveria de votar nesse traste???

Simples: todos os fanáticos desta cidade que não são poucos, que encaram BILILIXO como servo de deus (!!!) e seus opositores como possessos do Diabo! Toda gente que tem a mente obscurecida e dominada pelos pastores! Todos os cagões que tremem diante de castigos, maldições, anátemas, infernos, etc Toda essa gente que vota em bloco ou as carradas segundo a ordem do clero pentecostal!

Diante disto como poderiam faltar esperanças a BILILIXO.

O qual há poucos meses, um dia após ter ido assistir culto na IURD, mandou colocar uma caçamba de lixo na porta da seita (eu mesmo vi e soube do porque no dia seguinte!) embora outras instituições religiosas e laicas tivessem solicitado a instalação de caçambas há mais de dois ou três meses, e nada... privilegiou assim a Universal pelo simples fato de seitas como ela constituirem um depósito ou celeiro de votos para demagogos como ele.

Evidentemente que se trata de um 'favorzinho' apenas... e ficamos aqui imaginando quais sejam os favorzões exigidos por esses cobradores de dízimos que são fornecedores de votos ao BILILIXO ao CUNHA e a toda esta máfia religiosa.

Apoiar o BILILIXO e o CUNHA apenas pela fé é que não apoiam, gente como Malafaia, Everaldo, Campos, Felicianus, etc não da ponto sem nó. Visam o poder. Não o poder pelo poder ou pelo dinheiro apenas, como os profanos ou incrédulos, mas com o objetivo de oprimir os demais membros da sociedade ou controla-los, o que constitui a suprema desgraça ou o pior.

BILILIXO nada faz porque pouco ou nada precisa fazer uma vez que os votos virão magicamente por via confessional.

Cunha e os membros da funesta bancada 'evangélica' nada precisam fazer em termos de propostas ou projetos, uma vez que os votos virão por imposição ou decreto.

Pastor mandará e ovelhas votarão escudadas pela fé ou religião.

No passado nossos ancestrais souberam classificar e dar combate a tais atos sob o nome de clericalismo.

Hoje no entanto as palavras fé ou religião parecem tudo justificar: fraude, extorsão, TENTATIVA DE DOMINAR OS DEMAIS MEMBROS DO GRUPO SOCIAL, etc

No entanto que democracia há nisto, numa pessoa decretar em nome de seus deuses em que candidato as demais devem votar???

Tudo quanto posso ver nisto são os tentáculos sujos e asquerosos do pensamento teocrático.

BILILIXO e São Vicente, a pobre S Vicente são a contraprova, e demonstram cabalmente quão pernicioso e destrutivo é este tipo de política. Cunha é a mesma contraprova desta péssima política maquiavélica no Parlamento...

Ou repensamentos nossa política na dimensão do laicismo ou veremos este país mergulhar no Caos como S Vicente.







quinta-feira, 5 de novembro de 2015

O acúmulo de bens materiais a luz da Filosofia antiga

Cuidam os liberais estúpidos que a primeira objeção contra o acumulo de bens materiais tenha partido dos Comunistas ou de seu patriarca Karl Marx.

Nem pode a mediocridade ou melhor nulidade liberal fugir ao vezo de tudo atribuir aos tais comunistas, Marx, Engels, Lênin, etc

De minha parte ja era socialista convicto, bem antes de ter ouvido falar pela primeira vez em tais nomes pelo simples fato de ter encontrado nas páginas do Evangelho os seguintes mandamentos:

  • NÃO JUNTEIS tesouros neste mundo onde a traça e a ferrugem devoram os elementos, mais forcejai por juntar um tesouro incorruptível no mundo celestial.
  • NÃO PODEIS ADORAR A DEUS E AO DINHEIRO.
  • É MAIS FACIL UMA CORDA PASSAR PELO FUNDO DE UMA AGULHA DO QUE UM RICO ENTRAR NO REINO DOS CÉUS.

E como ex protestante eu já estava imunizado contra o vício do livre examinismo que consiste em atribuir as palavras de Cristo, sentido diverso ou mesmo oposto, ao que lhe é próprio e de distorcer sua mensagem.

Diante disto também não me deixei enganar facilmente pelo livre exame exercido pelo clero papista, apenas mais sutil, por estribar-se em 'tradições' eclesiásticas forjadas durante a Idade Média por clérigos de idoneidade suspeita.

No entanto a igrejas romana prestou-me imenso serviço por ter colocado em minhas mãos as tradições genuínas dos padres antigos, cujas raízes tocam a mais remota antiguidade. Refiro-me a publicação da ed Paulinas  'Por que a igreja crítica os ricos', que consiste numa coletânea de passagens tomadas as obras dos antigos elderes da igreja, sobre a riqueza, a pobreza, a justiça, etc

Este contato com a genuína tradição e alma do Catolicismo foi que consolidou para sempre minha orientação social em torno dos ideais justicionistas.

Foi da tradição da Igreja Católica, de deus evangelhos, de seus Bispos e de seus escolásticos que recebi o espírito anti economicista ou anti liberal a que tenho permanecido fiel até o tempo presente. Moço novo eu nada sabia sobre Marx, Engels, Kautsky, Plekanov, Lênin, etc Alemães e russos eram até então um mistério para mim e minha mente encontrava-se firme presa a Jerusalém, Damasco, Antioquia e Alexandria. Eram Newman, Montabembert, Pressensé, que eu lia...

No entanto como o Cristianismo, no dizer que Orígenes e outros,  fora direcionado as massas grosseiras e incultas, julguei ser necessário completar, alargar, aprofundar minha formação.

A quem me dirigi?

Aos comunistas??? A Nietzsche, Stirner, Rand, Heidegger, Delleuze, Derrida, Foucault, Sartre e demais profetas da modernidade?

Sou eternamente grato a igreja romana e ao padrão Católico por ter-me guiado a Atenas e me matriculado na Escola de Sócrates.

Jesus conduziu-me a Sócrates. (consequentemente a Platão e a Aristóteles) Assim pude aprofundar minha formação Ética, contemplando minha condição de ser racional.

E lá também topei com a mesma condenação ao acúmulo desmedido de coisas materiais.

Adquiridos em prejuízo da educação filosófica.

Desde então pude observar que o frade mendicante da Idade Média, fustigado sem misericórdia pela látego da Burguesia ascendente e pela nova religião protestante, limitava-se a reproduzir as denuncias levantadas pelos ANTIGOS CÍNICOS face a uma sociedade cada vez mais seduzida pelo brilho das falsas riquezas. Todas as críticas e escárnios empregados pelos 'neo' humanistas e protestantes contra os frades não passavam de reedição das velhas críticas que os hedonistas e materialistas da antiguidade haviam lançado contra Diógenes, Crates e toda escola.

Então, ainda mais uma vez, somos levados a enfiar o dedo dentro da ferida...

Não se importando com o sangue e o pus...

E como extremo sempre produz extremo... nada mais natural que o mundo do luxo e do supérfluo produzir um mundo paralelo de miséria. O qual tornando milhões de homens e mulheres prisioneiros de suas necessidades básicas impede-os por assim dizer que cultivar o estudo da Filosofia ou de buscar a verdadeira religião... oprimidos e esmagados pelas exigências da materialidade e da vitalidade nem se pode negar quão pouca seja a liberdade de tais criaturas. E quão longe achem-se do bem, da verdade e da beleza...

Nem podemos nós buscar qualquer valor ou benefício numa miséria que lhes é dada ou melhor imposta pelo sistema e a qual não podem fugir facilmente. Antes devemos encarar este tipo de miséria dada ou imposta como verdadeiro crime.

Todavia há também neste cenário um tipo de miséria CRÍTICA ou virtuosa livremente adotada por pessoas sensíveis e solidárias: assim o cínico dos tempos antigos, assim os monges do Catolicismo... os quais até mesmo da vida sóbria e moderada abrem mão com o objetivo de cultivar apenas e tão somente a sabedoria, apontando a uma sociedade enferma quais sejam os verdadeiros objetivos da existência humana. Consideram-se o cínico e o monge verdadeiramente livres e desimpedidos na mesma medida em que não se deixam afetar pela aspereza, o frio, o calor, a fome, a sede, os apetites, os desejos e a vontade e sempre podem tomar as atitudes que melhor convém no momento.

Por estarem tais pessoas afeitas de certo modo a dor, ao incomodo e a morte e consequentemente privadas do temor da morte, podem sustentar sem maiores receios a nobre e excelente causa da justiça ou porém-se a serviço do bem e da verdade sem temer as represálias com que os tiranos costumam punir aqueles que ousam resistir-lhes, a saber a privação, a tortura e a morte... Eis porque os déspotas e senhores sempre temeram acima de tudo ao Filósofo e ao Monge; as únicas categorias de pessoas capazes de resistir-lhes por terem superado o temor do sofrimento e o medo da morte.

Nem se pode negar que tal gênero de pessoas: que nada receiem da dor e da morte sejam capazes de falar livremente, declarando face aos poderes deste mundo quais sejam seus pensamentos e de se opor a qualquer ordem ou mandamento que não seja justo!

Antes de tudo é escravo o proletário ou trabalhador porque tendo constituído família - as vezes por imposição da própria sociedade - deve suprir as necessidades básicas da esposa e dos filhos e nem pode pensar em deixar de faze-lo, seja quais forem as condições. Assim a esposa e os filhos são como elos de uma cadeia que tornam-no dependente do sistema, e do sistema que o oprime não pode desligar-se por causa deles! Agora outra é a situação daquele que tendo triunfado dos apetites sexuais e subjugado-os ao talante da vontade, a ninguém quis ligar-se e a ninguém gerou. Agora por estar só é livre para fazer aquilo que julga ser necessário...

Imensamente mais grave e triste é a situação daquele cuja família assumiu uma mentalidade burguesa em torno das necessidades artificiais impostas pelo consumismo.

Este cobiça um carro novo por ano, sua esposa por uma nova cozinha por ano, o filho por um computador novo por ano e a filha por um celular de ultima geração... ali até o cachorro e o gato são servidores do deus Mercado. Agora como um homem destes ou uma mulher destas haverão de ser dependentes de um determinado salário ou escravos do trabalho???

Creem ser livres e felizes mas perdem o contato um com o outro e com os próprios filhos. Infeliz desta família contemporânea que só se encontra pela noite para dormir pesadamente ou nos fins de semana e feriados! Nem vejo que vantagem há em ter família apenas para os fins de semanas ou feriados!!! O trabalho aqui fica com a maior parte do tempo, em razão das despesas ou dos gastos, com o supérfluo e artificial e não com o necessário ou fundamental... Quantas pessoas endividadas e escravizadas passam a maior parte do tempo distante de seus filhos!!!???!!!

Que liberdade é esta?

Permitam-me questionar este tipo de felicidade esquisita,  na esteira alias dos antigos cínicos.

Parte de vocês vivem falando a respeito da família e exaltando-a até os céus, para... sacrifica-la as exigências do trabalho, do econômico, do mercado!

Sim, em nome de gastos inúteis, em nome do supérfluo e do luxuoso, alienam suas liberdades e exilam seus pobres filhos em creches, escolas ou sei lá mais o que, acreditando ou fingido crer que tal gênero de vida lhes faça bem. Mas não faz, pois o que os filhos desejam antes de tudo é a presença ou a companhia de seus pais!

Filhos não querem babás, professores, tranqueiras, etc precisam acima de tudo dos pais!

Mas os pais nunca estão, pois sempre estão trabalhando para pagar dívidas ou honrar despesas.

Neste caso trabalham para que? Para o bem estar de seus filhos??? Não, mas para o bem estar das empresas, do mercado, da economia... Pois esta mania de adquirir o que não é necessário beneficia apenas o econômico... Ficando a família, o cônjuge e os filhos a ver navios...

E não havendo contanto, morre o afeto e desfazem-se as famílias...

Tudo graças a que?

As exigências do trabalho, a jornada de trabalho, as imposições do mercado, aos gastos, as despesas; enfim a este consumismo acrítico que leva famílias inteiras a adquirir um montão de coisas de que não precisam.

Agora levassem nossas famílias um regime de vida mais sóbrio, crítico, equilibrado e são; quais seriam os efeitos concretos deste regime de vida?

Menos gastos, menos dívidas, menos dependência, menos escravidão e consequentemente mais liberdade, mais autonomia, mais tempo para passar com o cônjuge e os filhos alimentando os laços do afeto e cultivando a verdadeira intimidade.

Não se trata aqui do pai ou mesmo da mãe não trabalharem.

Trabalhar é necessário.

Trata-se apenas de não ser mais um prisioneiro ou refém do trabalho.

Em tempos de Dilma posso até aconselhar as famílias a gastar menos para fazer uma reserva ou poupança tendo em vista o futuro. Para que não se tornem reféns, escravos, bonecos nas mãos de seus patrões; ousando falar com eles livremente e e revindicar seus direitos: suas férias, a recusa de fazer hora extra, o descanso dominical; enfim tudo quanto possa redundar num contato maior com a família.

É necessário colocar as necessidades da família acima das necessidades do trabalho. Para tanto porém faz-se mister romper com o padrão do consumismo acritico, com o fetiche TER, com a mania de comprar coisas mais caras ou desnecessárias. Claro que jamais se poderá fruir do mesmo nível de liberdade que um cinico ou um monge; mas sempre será possível ampliar a esfera da própria liberdade. destruindo os laços artificiais de dependência.

Se o filósofo e o monge são capazes de viver em estado de necessidade ou carência voluntária não seremos nós capazes de contar nosso consumo passando a viver sobriamente?

Especialmente se sabemos que este novo regime de vida nos faria mais livres.

Menos dependentes do salário, do emprego e do mercado; aos quais oferecemos a maior parte de nosso tempo e boa parte de nossas vidas.

Possibilitando uma redistribuição do tempo e um contato mais próximo com a família, instituição que tanto encarecemos com palavras mas que não valorizamos verdadeiramente, subordinando a outro tipo de relação.

Então eu acredito que devemos por diante de nossas vistas o exemplo daqueles homens e mulheres que esforçaram-se por quebrar todos os laços artificiais e impostos para viver uma vida mais natural e livre. 

Não nos enganemos... não é possível servir bem ao dinheiro e a família, um aqui ficará mal servido.

Nossas famílias estão muito mal servidas justamente porque são servidoras do dinheiro.

Não é o dinheiro que tem servido as famílias.

Famílias é que tem sido alienadas pelo poder do dinheiro, por falsas necessidades econômicas, por exigências inumanas de um mercado... famílias é que tem sido desestruturadas e destruídas pela mística do consumismo, pelo endividamento, pelos gastos e pela nova escravidão!

Como Marx disse e com razão absoluta disse: Os comunistas não precisaram bradar contra a família tradicional, encontraram esta instituição completamente arruinada pelo liberalismo econômico e suas exigências.

Muito antes que o sociólogo barbudinho tivesse registrado as palavras acima a gente do campo e os padres romanos ja haviam publicado este diagnóstico e proclamado a incompatibilidade entre a organização tradicional da família e a ordem urbana ditada pelo capitalismo!!!

Não foi o comunismo que atrelou nossas famílias ao carro triunfal do deus mercado, foi o capitalismo. Este sistema é que separou Pai, Mãe e Filhos enfiando cada qual numa fábrica ou setor diferente da mesma fábrica! Foi o capitalismo que drenou-lhes as forças, comprometeu-lhes a saúde,  que barbarizou-lhes o caráter, obscureceu-lhes a razão... este sistema é que retirou-os do lar, alienou-os a natureza, contaminou-lhes o ambiente e exilou-os num mundo artificial de feiura controlado pelos ponteiros de um relógio.

Separou a família do ambiente, separou os trabalhadores da corporação, os familiares do lar, etc tudo fragmentou, isolou e dividiu para poder com mais facilidade dominar.

Não sou e jamais serei contra o trabalho da mulher.

No entanto se em tempos passados um só é que trabalhava para sustentar a todos, porque raios hoje, os dois não podem trabalhar menos e permanecer cada um certo tempo em casa junto dos filhos?

Tópicos de filosofia grega: adiaphoras ou bens naturais?

Uma das questões mais discutidas pelos filósofos gregos e romanos diz respeito a categoria de coisas a que classificaram como adiaphoras ou neutras moralmente falando.

Assim a saúde, a beleza, a riqueza, a fama, e seus opostos a enfermidade, a fealdade, a pobreza e a obscuridade.

Convém no entanto adiantar que se tratam de coisas diferentes; pois enquanto a saúde e a beleza e seus contrários não dependem da livre vontade, a riqueza conquistada e a glória adquirida pertencem a esfera da atividade livre.

Distinguamos portanto, da saúde, da beleza e de seus contrário a riqueza e a glória e seus contrários, reservando o exame destas duas últimas situações para outra ocasião.

Implica saber se saúde e beleza, enfermidade e feiura correspondem a algum tipo de bem, ou se são de fato coisas neutras, i é, adiaphora.

Para tanto convém esclarecer que até mesmo os adeptos da 'adiaphora', como Crisipo de Soli, admitiam que as pessoas comuns ou sem trato filosófico costumavam referir-se a tais condições dadas como a bens.

Não estamos querendo dizer com isto que tais bens possuam 'valoração' moral ou ética derivada da livre vontade. Não escolhemos nascer saudáveis, enfermos, belos ou feios. Tratam-se de condições dadas pela natureza e dela recebidas. Outro é o caso das enfermidades produzidas por qualquer tipo de excesso relacionado com a fruição dos apetites sensíveis. Estas podendo em certa medida ser evitadas podem vir a possuir uma conotação moral.

Por outro lado não é por pertencer a a esfera da natureza que tais 'elementos' deixam de ser bens. Bens naturais, comuns, remotos e condicionais. Naturais devido a seu caráter não volitivo. Comuns porque saúde ou enfermidade, beleza ou feiura correspondem a estados compartilhados por imenso número de pessoas. Remotos porque não pertencem a esfera superior da moral ou da ética e condicionais porque a ausência deles impede ou dificulta o acesso aos bens superiores ou o exercício da vida virtuosa.

Assim a vida ou a existência é bem primário ou primordial na medida em que concede acesso a todos os outros bens, a plena realização das potencialidades, a aquisição da virtude e a perfeição moral. Neste sentido, enquanto condição 'sine qua nom' aos demais bens não pode a vida deixar de ser encarada com um bem. Um bem de categoria ou caráter inferior, no entanto um bem. Em que pese ser mal utilizado por alguns.

Assim os apetites sensíveis são bens na medida em que concorrem para a conservação da vida.

Assim a integridade física dos sentidos também corresponde a um bem na medida em que nos permite entrar em contato com a realidade e conhece-la. Nem podemos deixar de encarar a falta da visão, da audição, do olfato, do paladar ou do tato, como verdadeiros males na medida em que servem de obstáculo a assimilação da realidade. Uma vez que o fim de nossa existência é a aquisição do saber a cegueira e a surdez não podem deixar de serem males por limitarem nosso acesso ao saber e assim a dor quando intensa e constante a ponto de dispersar a concentração dos sentidos e impedir o aprendizado.

Não se tratam de bens em si mesmos ou de bens absolutos; mas de bens na medida em que servem de acesso a outros bens. Assim de bens relativos. Pois sempre se pode fazer mal não apenas da vida e da saúde mas até mesmo dos conhecimentos relativos a natureza. Por isso que o conhecimento é bem relativo na medida em que esta de acordo com a natureza e não absoluto, pelo fato de sempre poder ser usado para causar dano ou prejuízo ao semelhante.

Tampouco podemos descrever a enfermidade ou a fealdade como males absolutos pelo simples fato de não nos poderem induzir a cometer injustiça ou prejudicar nossos semelhantes.

Antes a dor física em algumas situações tem tido o condão de fazer com que alguns homens descartassem a opinião materialista, aproximando-se do Uno e abraçando a virtude. Ora uma dor capaz de tornar o homem reflexivo e consequentemente melhor merece ser classificada como um bem. Porquanto de algum modo dispôs o sujeito ao sumo bem.

Nem podemos negar que qualquer categoria ou tipo capaz de aproximar os homens da perfeição moral, converta-se ela mesma num bem por conexão ou relação com o bem. Tudo quanto serve de acesso ao bem supremo, merece ser considerado bom. Assim as adiaphoras nada tem de neutras ou de inuteis, antes correspondem a algum tipo de bem quanto a ordem da natureza, e ascendem na escala do bem na medida em que aproximam o homem de seu fim mais excelente que é a posse da virtude.





quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Tópicos de Filosofia grega - Ética: a virtude e o prazer; em busca da síntese.

Exposição



Segundo Aristóteles o homem existe para a felicidade: "A felicidade é o bem para que tendem todos os outros atos e o impulso intencional de nossas motivações." .Esta doutrina recebeu o nome de Eudemonismo, pois toma a felicidade por fim.



Ora esta definição comum em nada nos satisfaz uma vez que os próprios hedonistas admitiam ser a Felicidade o bem maior ou a destinação final dos atos humanos. Importa saber o meio porque tal fim era atingido ou aquilo que tornava o homem verdadeiramente feliz.



Aristóteles, aqui seguindo a Platão e a Sócrates, classifica os atos aptos para produzirem a felicidade como VIRTUOSOS. Para Sócrates, Platão, Xenócrates, Aristóteles, etc a felicidade esta diretamente relacionada com a ARETÉ ou virtude.
Consideravam ainda que existiam diversos tipos de virtudes e procuravam organiza-las hierarquicamente. Sócrates e Platão ao que parece colocam a Justiça em primeiro lugar. Já Aristóteles colocava em primeiro lugar a contemplação da verdade pelo intelecto ou a posse do conhecimento. 

Crisipo, Seneca e Epicteto, estoicos, indicaram igualmente que o fim último da criatura racional fosse a posse da felicidade. A qual segundo o fundador da Escola era atingida pela prática da virtude ("O verdadeiro Bem pode consistir apenas na posse da virtude!"), compreendida por eles como qualquer ação empreendida em coerência com a natureza (Cleanto de Assos). Agir naturalmente ou segundo a natureza era para eles, agir virtuosamente. Enfatizavam no entanto a posse da serenidade ou impassibilidade, mesmo diante de situações dolorosas ou trágicas.

Os estoicos não podiam encarar a dor física como mal supremo ou mesmo como mal, mas como adiaphora ou coisa neutra. A respeito da saúde, da beleza, da glória, da riqueza, da doença, da fealdade, da obscuridade e da miséria i é dos bens/males naturais ou transmitidos, costumavam declarar a mesma coisa. Esta proposição foi ao que parece tomada a Platão Espeusipo. Xenócrates parece ter sido o primeiro a classifica-las como bens inferiores ou de segunda classe, isto na medida em que eram virtuosamente administradas em comunicação com os bens superiores.

Crisipo opinava que as pessoas vulgares e hostis a Filosofia tomavam tais dadivas naturais por bens preciosos, acrescentando que o sábio apenas deles se servia com moderação, subordinando-os a uma direção virtuosa ou que não se deixava afetar por eles. 

Os cínicos mantiveram a opinião de Platão ou Sócrates. 

Já os hedonistas sustinham que a felicidade tinha sua causa na fruição do prazer.



Mas não estavam de pleno acordo a respeito de qual gênero ou categoria de prazeres estava posto para a aquisição da felicidade.

Assim Arístipo de Cirene, pupilo de Sócrates, afirmou que a fruição dos apetites carnais ou sensitivos como comida, bebida e atividade sexual constituíam o sentido da vida humana e que a dor, incluindo a dor física, correspondia ao mal supremo. Teodoro de Cirene e Exegias também assumiram este ponto de vista.

Escolasticamente cumpria verificar quais fossem os prazeres mais intensos e duradouros.

Epicuro também afirmou o prazer como sumo bem a ser desejado pelos mortais. No entanto sua ideia de prazer parecer ser bastante afim da ideia aristotélica de Felicidade, de modo geral ele associa este prazer espiritual ou felicidade não apenas com a ausência da aponia ou dor física mas sobretudo com a ataraxia, definida como imperturbabilidade da alma adquirida por meio do auto controle. O sábio estabelecia uma espécie de hierarquia de prazeres, fruindo cada qual deles com certa moderação até que já não podia ser atingido pelas circunstâncias exteriores a si.

A princípio Epicuro parece ter dado bastante valor a saúde corporal, posteriormente no entanto parece ter colocado a amizade acima dela, o que ainda aqui reporta a Sócrates.

Já o estóico Cleanto de Assos parece ter chegado as vias do maniqueísmo, classificando a fruição do prazer como "Oposta a natureza" e "Nociva" 



Desenvolvimento

O primeiro aspecto que nos chama a atenção aqui é a convergência de sentido entre Felicidade e Prazer.

Nem podemos deixar de encarar a Felicidade como algo agradável ou prazeroso.

Tudo quanto podemos dizer é que a Felicidade corresponde a um tipo de prazer tanto mais complexo e refinado. Um tipo de aestesis ou sensação difusa na pessoa como um todo e presente tanto no intelecto quanto no corpo físico. Uma espécie de prazer considerado pelo intelecto e consequentemente ampliado e aprofundado, chegando a constituir um 'estado de espírito' ou modo de ser.

Podemos defini-la ainda como um bem estar ou consciência de bem estar.

Seja como for nenhuma destas definições afasta-se demasiadamente da noção de prazer ou deleite.

A felicidade é sempre algo deleitoso, agradável ou prazeroso e nem podemos pensar doutro modo ou maneira.

Assim se compreendemos felicidade como prazer, a tão decantada oposição entre eudemonismo e hedonismo perde toda sua força.

Examinemos agora a questão dos prazeres.

Para que não tomemos a felicidade pelo que não é.

Antes porém convém analisar a questão da conformidade das ações com a natureza.

Isto porque da satisfação de algum instintos parece quase sempre resultar uma sensação prazerosa.

De fato os instintos parecem estar voltados para determinados fins, grosso modo para a contemplação de certas necessidades imperiosas ditadas pela natureza, a qual para estimular esta contemplação, decretou que a satisfação de tais necessidades correspondesse sempre a uma sensação prazerosa.

Assim após a satisfação de cada apetite resulta uma sensação deleitosa ou certo bem estar.

Do ponto de vista da natureza é o prazer grande benefício. Pois sem este tipo de sensação os organismos em sua fase mais primitiva e inconsciente, quiçá não se sentissem impulsionados a satisfazer suas necessidades essenciais, de que resultariam graves consequências. Nem podemos deixar que reconhecer que a satisfação dos apetites é benéfica tendo em vista a manutenção da vida corporal ou física, e que esta é condição 'sine qua nom' para o exercício da virtude.

De tais relações resulta que ao menos remotamente o prazer apetitivo, sensório ou corporal é um bem enquanto ponto de partida necessário para a posse de outros bens. É bem relativo, secundário e remoto mas mesmo assim um bem como anteviu Xenócrates. Nem se pode, dentro do quadro geral da vida, classifica-lo como Cleanto, ou seja, como um tipo de mal.
No entanto quanto a criatura adulta, desenvolvida, racional e livre também não podemos encarar a fruição dos prazeres apetitivos como o bem supremo ou a chave da felicidade. Cumpre advertir no entanto que de certo modo a felicidade esta relacionada com os ideais acalentados pela pessoa ou com a mente.

Assim para a mente carnal, limitada, vulgar, grosseira, primitiva, etc o ideal de felicidade poderá consistir na fruição dos prazeres apetitivos ou sensoriais e resumir-se em comer, beber e procriar; isto pelo simples fato de ignorar outras possibilidades ou tipos de prazer, quais sejam os de categoria intelectual ou ética. Nem todas as pessoas, por uma questão de formação, são capazes de deleitar-se ao contemplar uma quadro ou escutar uma sinfonia. São incapazes de frui-lo ou de percebe-lo porque não foram educadas para isto... e isto não faz sentido para elas. Concentraram suas energias nos apetites e assim só são capazes de captar os prazeres produzidos pela satisfação dos mesmos.

Quero dizer com isto que alguns tipos de pessoas podem ser sentir felizes ou auferir uma sensação de bem estar apenas com o beber, o comer e o transar; e nem podemos declarar que a felicidade delas seja menor ou inferior a que é sentida por nós ao contemplar um edifício de linhas harmoniosas ou a assistir um espetáculo teatral. Não há um aparelho com que se possa mensurar a felicidade. O máximo que podemos dizer é que somos capazes que fruir uma gama maior de prazeres, parte dos quais ignorados por elas.

E como a felicidade fruída por elas não contempla todos os aspectos do ser ou da personalidade - ignorando o racional e o ético - podemos cogitar que a nossa seja mais vasta e constante. Quanto a dor já atinamos ser boa em algumas circunstâncias. No entanto é certo que dela fugimos e mais ainda da enfermidade, a qual sendo crônica ou incurável não pode ser classificada como algo bom. Tampouco podemos concebe-la como um mal absoluto, mas apenas como um mal relativo caso não nos leve a praticar voluntariamente uma ação prejudicial ou danosa.

Uma coisa parece certa: aquele que aprende a fruir outras formas mais refinadas de prazer como a contemplação do belo (música, teatro, poesia, etc) ou a amizade parece ter encontrado meios com que aliviar os tais males relativos procedentes do corpo físico. E quando o corpo físico declinar terá feito boa provisão... queremos dizer com isto que bem poderá consolar-se da insensibilidade do paladar, da frigidez ou da impotência sexual ouvindo belas canções, compondo poesias, pintando, desenhando, esculpindo, exercendo voluntariado, etc Assim não ficará exasperado, como aqueles que perdendo tais sensações ficaram privados de todo e qualquer tipo de sensações prazerosas.

Eis porque é proveitoso ampliar desde cedo o sentido do prazer.

Por outro lado não podemos deixar de reconhecer que mesmo a fruição dos prazeres apetitivos numa perspectiva natural comporta certos riscos ou perigos que devem ser considerados por ocasionalmente exigirem de nós a abstenção, a contenção e consequentemente o treino ou adestramento, caso desejamos evitar o mal maior da dor, o desastre ou a ruína. Nem sempre a criatura racional poderá satisfazer os apetites alheio a quaisquer circunstâncias de carater externo, o que nos encaminha mais uma vez a questão da hierarquia dos prazeres e da temperança ou sobriedade.

Caso nos tornemos escravos dos apetites por força do prazer e do bem estar podemos sempre estar entrando por um caminho áspero. Daí a necessidade de certo auto controle, resistência ou autonomia; enfim certa dose de liberdade. Na qual pode estar nossa redenção ou melhor preservação.

Todos precisamos de água para beber e devemos bebe-la de tempo em tempo sob pena de perecer. No entanto caso tenhamos acesso a algum tipo de água contaminada faz-se mister evita-la e buscar por qualquer outra reserva ainda que sejamos prezas da sede. Em tais conjunturas os que por hábito resistirem e forem capazes de esperar por outra provisão, no caso saudável; terão escapado a morte ou a algum tipo de enfermidade dolorosa... é sempre mais vantajoso esperar um pouco mais e ingerir água pura do que água suja, mas isto dependerá sempre do hábito.

O mesmo se dá com o alimento.

Aqueles que passarem por situações de fome ou privação por um tempo determinado após o qual haverão de receber alimentos bons, muito lucrarão de durante o tempo da privação abstiverem-se de alimentos venenosos, deteriorados ou contaminados pelas mesmas razões acima expostas.

Por fim quem de nós haverá de negar que é melhor abster-se de transar do que transar com pessoas enfermas sem preservativo??? Expondo-se a contrair AIDS ou Hepatite...

Mesmo em caso de dúvida seria melhor abster-se.

Tendo em vista futuras situações de dor e morte.

Concluímos certificando que nem sempre a fruição do prazer e a decorrente sensação de felicidade ou bem estar corresponderá a um verdadeiro bem, uma vez que deste bem decorrerão males muito maiores! No caso apenas a abstenção ou a privação equivaleria a um verdadeiro bem.

Epicuro foi quem intuiu tais coisas ao declarar que era melhor fugir a excessos ou exageros quanto a satisfação dos apetites e a decorrente fruição do prazer durante a juventude, tendo em vista a conservação da saúde por mais tempo, especialmente durante a velhice.

Este pensador parece ter percebido que a concentração na fruição do prazer pelo prazer, desvinculada dos fins naturais a que tendem e a satisfação da necessidade, parece parece estar relacionada com a deterioração precoce do corpo físico ou com a perda da saúde e a consequente manifestação da enfermidade e da dor. Inferindo que a fruição dos prazeres apetitivos devia ser exercida moderadamente ou em conexão com seus fins. Assim dizia Sócrates o que come deve ter em vista não apenas o sabor mas antes de tudo a satisfação da fome e o que bebe ter em vista não o gosto mas a extinção da sede. Classificava os que bebiam sem ter sede e os que comiam ser ter fome, jungidos pelo gosto ou pelo paladar como escravos dos sentidos.

Não se trata aqui de negar o prazer na perspectiva de Cleantes e dos maniqueus, mas apenas e tão somente de situa-los no contesto mais amplo da existência e do fenômeno humano. O que se contesta aqui é do comer, beber ou transar encarados como sentido da vida. Assim a gula, a embriaguez ou a lubricidade e não a alimentação ou a sexualidade.

Em tais casos é necessário manter uma visão sóbria e equilibrada. E contemplar o homem como um todo!

Importa saber que não podemos confundir - como Aristipo, Teodoro, Exegias e os modernos - a posse da felicidade em sua acepção mais ampla e profunda com a fruição descontrolada dos apetites ou o prazer sensorial.

Podemos admitir que no contesto de uma vida virtuosa, ela corresponda a um bem de condição inferior, mas não ao bem superior ou a virtude, uma vez que esta só existe no plano da liberdade ou da escolha. Aqui apenas o celibato tocaria a virtude, caso fosse posto a serviço das virtudes superiores como a causa da justiça por exemplo. Mesmo enquanto opção livre esta 'virtude' jamais deixaria de ser um meio para tornar-se virtude em si mesma.

E sempre alguém poderia cultivar a vida celibatária tendo em vista consagrar-se a atividades viciosas. Como aquele que se torna-se celibatário tendo em vista amealhar mais dinheiro e juntar fortuna superior a dos demais.

É o que temos por hora a declarar sobre o prazer, o bem, a virtude e a felicidade.

Resta-nos agora examinar a questão da utilidade.





O PEC 99/2011 e a deslaicização do Estado Brasileiro

Folgam os protestantes em apresentar seu sistema religioso como paladino de todas as liberdades modernas e com isto, ao cabo dos séculos, tem atraído a simpatia dos liberais mais ingênuos.

Embora folguem de interpretar livremente a Bíblia, ou seja, de forjar suas próprias crenças tomando por base o entendimento que eles mesmos teem da Bíblia - o que de modo algum é a Bíblia - os protestantes jamais puderam encarar com bons olhos aqueles que fazendo uso da mesma liberdade, descartam a autoridade da Bíblia. Torce-la a vontade... massacra-la... deturpa-la... manipula-la... é perfeitamente lícito ou melhor absolutamente necessário! Arrenega-la não...

De minha parte, como ex protestante, penso que a Bíblia seja mais honrada por aqueles que a negam do que por aqueles que a interpretam assim tão livremente a ponto de ser possível sustentar qualquer coisa - escravidão, racismo, estatolatria, machismo, homofobia, adultismo, intolerância, capitalismo... - em seu nome. Se eu acreditasse na divindade da Bíblia jamais poderia crer que sua interpretação pudesse ser atribuída a todos os homens sem distinção!

Apresentam-se os protestantes como principais advogados ou defensores do livro justamente porque lhes dói a consciência e sabem ser seus piores adversários. É graças ao biblicismo estreito, ostentado por eles, que muita gente boa faz pouco caso do livro... Verdade seja dita: a igreja antiga tinha pudor! E sabia que a maior parte dos seres humanos tinha pudor ou inteligência... O protestantismo apostou na estupidez humana e por algum tempo conheceu relativo sucesso entre os idiotas. No entanto como é impossível enganar todos durante todo tempo... Arruinou-se o Reino da Bíblia.

A Igreja antiga, mais realista, ocultava certas partes menos nobres do antigo testamento, já 'facilitadas' pela tradução dos LXX. Os latinos jamais puderam compreender bem o sentido da Septuaginta. Apresentaram-na e apresentam-na ainda como tradução, quando trata-se na verdade duma adaptação, isto mesmo duma adaptação a mentalidade dos antigos gregos. Adaptação sem a qual os gregos jamais teriam se aproximado dos livros judaicos tendo em vista sua vulgaridade ou grosseria.

No entanto como em larga escala, mesmo esta adaptação mostrava-se insatisfatória, socorreram-se os primeiros padres Cristãos, a exemplo de Origênes, da exegese simbólica ou alegórica, que Filon, escolarca hebreu de Alexandria, tomara aos platônicos. Outra não é a estratégia empregada pelo Pe Jouffroy, face aos questionamentos de Pecuchet, nos 'Patetas iluminados' de Flaubert: Moisés abrindo os braços em cruz é figura de Jesus Crucificado, o cordeiro encontrado por Abraão entre os espinhos é figura de Jesus Crucificado e coroado de espinhos, Jacó ferido no lado pelo anjo é figura de Jesus ferido no lado pelo centurião... 

A tentativa, centrada no dogma Cristão, até que foi excelente e nobre. Apenas não condizia como o sentir original do autor, sendo portanto falsa... Era no entanto uma falsidade bela, em comparação com a realidade feia do sentido literal.

No entanto o que não podia 'adaptar' ou alegorizar, a igreja sabiamente ocultava... poupando seus fiéis.

Assim a espiritualidade romana ou 'Católica' pode passar a largo dos bebes lançados contra os rochedos, das ursas que devoraram os meninos, do sanduíche de esterco degustado pelo profeta, do tamanho dos pênis dos egipcios, etc

Diante de tantos mitos, fábulas e narrativas grotescos a igreja antiga preferia silenciar. Sabia que insistir a respeito redundaria em incredulidade. Nossos coevos sabem ser infinitamente mais idiotas do que os medievos... por menos nossos ancestrais teriam lançado o papado as urtigas; como a humanidade dia após dia vem lançando a Bíblia e o protestantismo.

O protestantismo foi intemperante na medida em que pretendeu impor aos cristãos a Bíblia toda, literalmente recebida, como dogma de fé. Antes de conhecerem a Bíblia toda de capa a capa os estúpidos acreditaram que o negócio era vantajoso e que seria melhor acreditar no livro 'caído do céu' do que nos trinta e poucos dogmas propostos pela tradição apostólica ou pelo papa romano.

Atalhou-lhes a candura da crítica Bíblia, a partir da qual puderam ter acesso a versão hebraica não depurada, e... desde então os que dignaram-se a pensar perderam a fé, enquanto que os demais - refugiados em alcouçes como a assembléia de deus ou pocilgas como a CCB - tiveram de acostumar-se a ser classificados como tontos ou imbecis!

Afinal, continuam jurando de pés juntos, em pleno século XXI, que um homem adulto pode viver por três dias dentro do ventre de um peixe! Que existem um mar superior acima dos céus! Que os anjos de deus desceram a este nosso mundo para coabitar com mulheres! Que de semelhante conúbio nasceram gigantes! Que o Everest foi coberto pelas águas do dilúvio! Que os dinossauros jamais existiram ou morreram afogados! Que uma jumenta foi capaz de falar! Que Goliath foi assassinado por três pessoas diferentes! Que os antigos israelitas ofereceram e não ofereceram sacrifícios da jau no deserto....

Creia cada qual como quiser e no que quiser... outra coisa é querer exigir que os outros encarem-no como um homem sério ou instruído.

Da caturrice protestante em torno de todos estes dogmas mil vezes mais toscos e estúpidos que os dogmas do papa, é que surgiu a incredulidade contemporânea.

Os protestantes no entanto jamais puderam perdoar os incrédulos ou aqueles que negaram-se a endossar os ensinamentos da Santa Bíblia.

E apesar do discurso oportunisticamente liberal, destinado a atrair os Católicos liberais ou os liberais de modo geral, jamais deixaram de acalentar o sonho puritano ou ortodoxo de 'propor' e sancionar leis Bíblicas ou destinadas a honorificar a Bíblia e a humilhar os laicos, isto é, os que não creem.

Todas as vezes que os papistas ou liberais mais atilados, lançaram-lhes este sinistro projeto em face, os pastores brasileiros juraram pela mesma Bíblia que tudo não passava de calúnia, fruto da maldade, e que eles, protestantes, eram os mais fiéis partidários das liberdades democráticas E OS MAIS SINCEROS PALADINOS DO LAICISMO!!!

Passados uns cinquenta anos no entanto, damos com o PEC 99/2011, destinado a POR A FÉ em pé de igualdade com o conhecimento natural ou científico e a BÍBLIA no mesmo nível que a Constituição.

Se bem que cada república conheça uma só lei e que o fundamento desta lei deva ser sempre natural para ser laico!

A bancada protestante ou evangélica no entanto cuida por outro fundamento e um fundamento particular: a Bíblia...

E sabemos por lição de História onde tais iniciativas costumam dar...

Não se trata aqui de PERMITIR que os religiosos vivam a sua moda ou maneira, PELO SIMPLES FATO DE QUE JAMAIS FORAM IMPEDIDOS DE ASSIM VIVER POR FORÇA DE NOSSAS LEIS.

A lei brasileira, ao contrário das leis Mosaica e Maometana ou seja da Torá e do Corão, jamais pretendeu proibir alguém de repousar no sábado, de peregrinar a Meca, de evocar os espíritos dos ancestrais, de cultuar representações... ou tencionou constranger alguém a consumir carne de porco, beber sangue, trajar determinado tipo de roupa, ouvir jazz, casar com pessoas do mesmo sexo, abortar, etc A lei não interfere no que diz respeito a vontade pessoal dos cidadãos. É liberal e daí sua grandeza!

Esta lei a todos reconhece o direito de viverem como bem entenderem e de regular suas vidas por meio de seus livros sagrados, desde que abstenham-se de causar dano ou prejuízo aos semelhantes.

Que desejam então nossos fundamentalistas uma vez que nossas leis reconhecem-lhes o direito de viverem como bem entendem???

Como já controlam o Congresso, mas não o STF, e estão dispostos a tentar passar LEIS retiradas de sua Bíblia, precisam passar a PEC 99/2011. Do contrário todas as leis fundamentadas na Bíblia serão declaradas CONFESSIONAIS, anti democráticas, anti constitucionais e invalidades pelos juízes do STF. Daí a necessidade da bancada fundamentalista esmagar o STF. Enquanto o STF deter a primazia, toda e qualquer lei fundamentada na Bíblia, estará sob ameaça.

Considere agora caro leitor que o objetivo da lei num país democrático não é regular o privado, intervindo na vida pessoal do cidadão e cerceando sua liberdade. Mas ampliar ao máximo a liberdade NA ESFERA DO POLÍTICO OU DAS COISAS COMUNS. Trata-se aqui de criar e atribuir direitos naturais e não de imiscuir-se nos domínios da vida privada.

Agora justamente porque a lei diz respeito a esfera da Política ou das coisas comuns é que deve partir de fundamentos NATURAIS tais como demandas sociais, experiencialidade, razão, etc JAMAIS DE FONTES RELIGIOSAS OU LIVROS SAGRADOS. Sob pena de ser sobrenatural e religiosa, chocando-se com o caráter PLURALISTA, democrático ou LAICO DO ESTADO. Não pode a lei tomar por base determinado registro sagrado pelo simples fato de que a sociedade é composta por elementos ou cidadãos de diversas crenças ou fé, cada qual com seu livro sagrado e os mesmos direitos.

Não compete ao estado ou a esfera do político emitir juízo sobre determinado livro religioso concedendo-lhe um status privilegiado. Nada mais oposto ao caráter laico do estado, face ao qual todas as religiões e crentes são absolutamente iguais.

No entanto o esforço da bancada protestante consiste justamente em arvorar a Bíblia ou o livro, como fonte válida no sentido de pautar nossas leis e regular as vidas de todos os cidadãos. Eles até creem que a Bíblia seja em todos os sentidos superior a nossa Constituição e que nossa Constituição deva ser substituída pela Bíblia deles. Nutrem tais pretensões mesmo constituindo minoria religiosa... imaginem só caso viessem a constituir maioria? Agora no plano político estão bem articulados em torno deste proposito.

Agora que significa propor leis inspiradas ou pautadas na Bíblia?

Significa tomar por padrão social a sociedade proto israelítica do século IX a C restringindo ao máximo todas as liberdades, garantias e direitos dos cidadãos e implementando uma série de preconceitos monstruosos.

Implica querer regular ou controlar a vida dos outros ou de todos a partir de sua própria fé ou pontos de vista. Todos deveremos conformar externamente nossas vidas com o antigo testamento ou a torá de Moisés, crendo ou não nela! Nada mais sujo, arrogante e opressor! Devemos respeitar a Bíblia mesmo sem crer nela porque eles assim exigem, querem e determinam. Entendeu???

Por meio do PEC 99 2011 os protestantes estão exigindo a submissão ou a capitulação da sociedade laica apenas de modo mais sutil que os muçulmanos com sua sharia, e alias, abrindo esta senda para os futuros radicais islâmicos deste país ou facilitando as coisas para eles!
Observemos o que diz o relator deste capicioso projeto: "O STF expressa um preconceito contra argumentos de ordem religiosa dando preferência a argumentos científicos."

Qual o significado disto?

Que o SFT deveria apreciar os argumentos de NATUREZA SOBRENATURAL, CREDAL ou RELIGIOSA com a mesma seriedade que encara os argumentos DE NATUREZA NATURAL ou CIENTÍFICOS, NO QUE CONCERNE A FORMULAÇÃO DAS LEIS. Sim, pois não estamos tratando da ordenação da vida privada mas da coisa pública ou de nossas leis.

As leis no entanto como são feitas para todos devem estar por questão de necessidade fundamentadas na esfera COMUM da NATUREZA, e não da esfera PRIVADA ou PESSOAL da SOBRENATUREZA.

A ciência satisfaz plenamente esta questão na medida em que não é uma religião ou uma fé fundamentada na  autoridade de um livro ou dum homem, mas uma ideologia fundamentada nas capacidades da percepção e do raciocínio, as quais são comuns a todos os seres humanos: ATEUS, CRENTES, MUÇULMANOS, ESPÍRITAS, BUDISTAS, PROTESTANTES, CATÓLICOS, HINDUS, ETC

De fato este tipo ou gênero de conhecimento faz sentido para pessoas pertencentes a credos e ideologias bem distintos uns dos outros. Apenas certo número de muçulmanos e protestantes fanáticos, tendo em vista suas opiniões caprichosas, é que negam-se a reconhecer o espaço próprio da ciência e aspiram por impor suas concepções disparatas a todos os demais seres humanos! Isto no entanto já não é questão de mera estupidez mas de arrogância e dominação.

Não é porque meia dúzia de idiotas tomam a Bíblia ou o Corão por critério científico, que seremos obrigados a concordar com eles e SUBSTITUIR O PADRÃO COMUM DA CIÊNCIA POR SEUS QUERIDOS LIVRINHOS TENDO EM VISTA A FORMULAÇÃO DE NOSSAS LEIS.

As leis deduzidas da ciência, da experiencialidade e da razão apenas é que satisfazem o quesito democrático da neutralidade religiosa. Neste sentido o objetivo da PEC 99 2011 é justamente introduzir o primado da Bíblia, profanando o equilíbrio religioso, promovendo a intriga, sabotando a paz... Uma vez que cada religião pretenderá usar seus livros com o intuito de erigir novas e estranhas leis! A menos que o MONOPÓLIO POLÍTICO SEJA CONCEDIDO A BÍBLIA PROTESTANTE... e que os demais cidadãos deste país curvem-se face a tais exigências...

Até o dia em que os protestantes, como já fizeram no século XVI, façam decretar leis iconoclásticas e demolir as igrejas romanas, anglicanas, ortodoxas, as tendas de umbanda, os templos budistas, hindus, etc

É necessário examinar o passado, pensar no futuro e opor-se decididamente a projetos como o 99 2011, cujo extremo fim serão novos autos de fé, inquisições, violações de direitos, etc

terça-feira, 3 de novembro de 2015

Reflexões sobre os postulados éticos da antiguidade Clássica

Não foi apenas Deus que segundo declaram morreu...

Nem sei como existindo poderia ele ter morrido ou como poderia ter morrido inexistindo, no entanto...

Compreenda-se que 'morreu' metaforicamente a ideia de Deus, alias aquilatada como genial por Bertrand Russel, na medida em que uma parte dos homens tem aderido ao agnosticismo ou a indiferença face ao tema de sua existência ou inexistência e outra parcela, bem menor, ao ateísmo.

Negar que o agnosticismo avance não podemos.

Não se trata aqui de um negar dogmaticamente a existência do Sagrado; mas de pura e simplesmente considerar a questão insolúvel, irrelevante ou supérflua.

Agora esqueceram-se de declarar nossos cronistas que a Ética também parece ter morrido.

Dostoievsky foi quem de modo mais eloquente reeditou a relação - Deus Ética - em tempos mais próximos... sabemos no entanto que já havia sido explorada e esgotada por I Kant e antes dele por Voltaire, Russeau, Leibnitz, Descartes, Bacon, entre os modernos. Suas fontes mais remotas no entanto remontam a nossa herança greco romana, a Antistenes, Sócrates, Diógenes de Apolônia, etc

Embora os emancipados desta geração limitem-se a rir debochadamente diante de raciocínios que reputam tão rasos e miseráveis, eles fazem parte de um lugar comum assaz explorado por nossa tradição filosófica até Nietzsche, During, Marx, Dietzgen, Freud, Sartre, Camus... quando o tema de deus foi declarado inadequado ou proclamado tabu.

Desde então a Ética carunchou e apodreceu como sói as batatas...

Claro que o nome Ética continuou a ser empregado.

Afora os positivistas e cientificistas fanáticos poucos atreveram-se a questionar a existência da moral ou da ética.

Houveram mudanças radicais...

Assumindo a nova ética um caráter individualista, subjetivo e relativista muito semelhante aquele que lhe fora atribuído pelos sofistas.

Justamente com Cristo, a Virgem, os Santos e todas as 'fanfarronices' do Cristianismo, também Sócrates e Platão, se quem que gentios e adoradores dos deuses imortais, receberam um pé na bunda ou melhor nas bundas...

Disse Sócrates que no futuro a humanidade reconheceria não ter feito ele mal algum. Já Xenofonte e Platão cogitavam que num futuro não muito distante todos haveriam de convir que jamais havia vivido homem tão sábio e virtuoso quanto o filho de Sofronisco e Fenarete... dois mil e quatrocentos anos depois no entanto... a intelectualidade contemporânea parece ter dado ganho de causa aos sofistas!

Invertemos, subvertemos... importa ter mantido o nome Ética, afinal as mentiras convencionais devem ser mantidas religiosamente, como dizia Mestre Nordau.

Sem mentiras convencionais fica difícil viver assim como vivemos...

Assim discutimos sobre nossos interesses, defendemos o que nos agrada, sustentamos aquilo que desejamos ou queremos e a tais exercícios de vã retóricos atribuímos o nome de ética.

Afinal em que consiste a ética contemporânea, oferecida pelo materialismo, ateísmo e mesmo agnosticismo senão na defesa do 'utilitarismo individualista', nome pomposo com que crismamos nosso egoísmo?

Perguntem ao Stirner, ao Nietzsche, a Ayn Rand e virão a saber que é ética contemporânea, isenta de elementos deletérios ou Cristãos. Nem puderam Benthan e Mill postular um utilitarismo social ou gregário sem que fossem representados como 'beatos' e escarnecidos. De fato nada na ordem natural constrange-nos a sacrificar os interesses individuais pelo interesse social. Eventualmente tal se sucede, como testifica Kropotkin no 'Apoio mútuo', mas nem sempre... Ademais se tais ocorrências não constituem lei tampouco tem o poder ou a força de constranger a criatura racional e livre.

Estou de pleno acordo com o pensador russo no sentido de que não podemos mais permanecer atidos a uma Ética religiosa, particularista e sectária. Nem por isso, com Dostoievsky, satisfaço-me com esta nova ética agnóstica ou ateística. Torno assim mais uma vez ao ideal ético do iluminismo ou melhor dizendo da Grécia antiga, este por sinal construído não em torno duma entidade situada fora do mundo ou para além do mundo, mas em torno duma entidade presente no mundo e em comunhão com ele.

Grosso modo o que distingue a ética antiga da nova ou a ética dos antigos gregos desta ética contemporânea é o desinteresse e o interesse.

Quando os antigos gregos refletiam a respeito dos grandes temas ou problemas relacionados com a Ética e sustinham esta ou aquela teoria face a qual nós, modernos, acreditamos poder tirar máximo proveito, verificamos que ele, raramente auferiam proveito das teorias que sustentavam.

Trata-se de um aspecto deveras interessante que nos conduz diretamente ao tema do amor a verdade, da busca pelo conhecimento, da livre pesquisa, da investigação desinteressada... e reputo este aspecto como um dos mais interessantes em termos de filosofia clássica.

Concentre-mo-nos na figura de Aristipo de Cirene, um dos familiares de Sócrates e desafeto constante de Platão... como é sabido de todos, concebeu ele um sistema de ética em torno do prazer apetitivo ou físico em termos de comida, bebida, sexualidade, etc Diante disto só nos restaria imagina-lo como um comilão, beberrão e promiscuo sobremodo intemperante. No entanto as descrições que dele possuímos parecem desfazer este juízo apressado... ao que tudo indica tratava-se de um homem virtuoso ou mesmo sóbrio.

Então por que raios arquitetou uma doutrina destinada a justificar a fruição dos prazeres físicos ou corporais? Certamente porque estava persuadido de que sua doutrina correspondia a realidade ou que era verdadeira... Diante disto por que não tirou maior proveito dela vivendo como um porco de Circe? Por que não tinha interesse ou melhor porque os antigos pensadores gregos não tinham o vezo de defender seus próprios interesses ou o que mais os agradava.

Argumentar em torno dos próprios interesses parecia muito pouco filosófico para aqueles homens.

O exercício da Filosofia parece ter algo a ver com o desinteresse imediato...

Não era um ato de argumentar em torno de conveniências ou oportunidades.

É justamente este viez que faz a grandeza daquela Filosofia.

Homens sustentavam teorias, ideias e opiniões, que aparentemente, não lhes propiciavam qualquer benefício ou qualquer vantagem imediata.

Sustentavam este ou aquele sistema por estarem persuadidos de que era verídico.

O padrão ou critério daqueles homens não era o proveito imediato ou uma vantagem a se tirar, mas a verdade ou o conhecimento da realidade.

Disputavam, arengavam, debatiam, discutiam, dialogavam... tendo em vista esclarecer algum ponto obscuro. E não justificar seus gostos ou seus vícios.

Filosofia grega jamais foi sinônimo de justificar algo que se fazia ou pretendia fazer. Eles não partiam de seus desejos, gostos, aspirações... tentavam antes de tudo alcançar o ideal ou saber como deviam fazer.

Os post modernos é que converteram a ética num exercício destinado a argumentar em torno das próprias ambições, gostos, desejos, aspirações... e a justificar os próprios vícios e defeitos, em particular o egoísmo. Tudo quanto temos hoje são apologias do egoísmo, sob a alcunha de individualismo.

Primeiro o homem age e depois justifica sua maneira ou modo de agir. Desde quando isto é ética?

Nenhum questionamento, problema, esforço... apenas defesa do que já se fez e pretende continuar fazendo sem cogitar em qualquer possibilidade de mudança. Afinal o homem de hoje converteu-se mesmo em medida de todas as coisas e legislador supremo para si... Como, diante disto, poderia este homem auto suficiente procurar por uma regra externa e universal de vida a qual adaptar-se???

Se constitui norma e regra para si mesmo...

Agora que elemento comum podemos ter que transcenda a política ou a democracia formal?

Elemento algum.

Pois somos individualidades específicas ou ilhas humanas cada qual com seus princípios e valores.

Diante de semelhante revindicação ou tomamos o político ou o social como único tipo de convenção destinada a nivelar a multiplicidade dos seres livres e estabelecer os limites do privado e do comum; ou reconhecemos como realidade única e irredutível esta infinidade de átomos humanos sempre prestes a se chocarem uns contra os outros...

No primeiro caso temos um estado ou uma comunidade, ou ainda um grupo soberano e inquestionável na medida em que a lei natural é obscurecida, restando apenas a lei positiva. Aqui os direitos e garantias da pessoa humana ficam em certo sentido ameaçados...  agora como postular direitos essenciais e inquestionáveis, sem fazer postular uma lei natural? E como postular uma lei ou direito natural sem tocar o problema de um Legislador natural??? Agora se o estado ou o grupo social assume o lugar deste legislador supremo ou natural quão grande não será o seu poder!

No segundo caso, do relativismo crasso ou absoluto, nem poderíamos condenar positivamente o nazismo, o fascismo, o comunismo, o fundamentalismo religioso, etc Pois o que um de nós condenasse outro justificaria... os homens passariam da discussão as vias de fato, desta a guerra, e chegaríamos ao Caos nos termos do 'Leviatã' de Hobbes... A extinção de todo e qualquer vínculo social, última e derradeira fase do individualismo, resultaria justamente no domínio do fraco pelo forte i é na tirania; ou num conflito universal.

Face a este dilema a solução mais plausível consiste em reconhecer o benefício da unidade política (em termos de uma democracia o mais direta possível) ou da lei positiva; limitada no entanto pela lei natural enquanto fiadora dos direitos essenciais da pessoa humana. Isto no entanto implica a ideia de um Legislador natural... Sem a ideia de um legislador natural ou de uma alma do mundo não há como erigir uma ética objetiva em torno da essencialidade, a Ética de que precisamos no momento presente para dar suporte ao humanismo.

Não podemos sair desta xaropada individualista ou destas justificativas em torno do egoísmo se apelar a um elemento unificador. Agora caso apelemos ao estado ou ao grupo social correremos sempre o risco de diviniza-lo ou de atribuir-lhe competência total. Neste sentido julgo mais prudente apelarmos a uma consciência ou espírito universal mais ou menos difuso nas criaturas racionais e cuja forma é a própria racionalidade.

Para que não venhamos todos a perecer faz-se mister ressuscitar o sentido da ética, o sentido antigo, o sentido clássico, o sentido perene. Para tanto talvez tenhamos de resgatar a ideia de Deus ou ao menos discuti-la com a mente aberta e isenta de preconceitos.

No próximo artigo tornaremos a Filosofia grega com o intuito de repensar algumas doutrinas formuladas no campo da Ética.





Carlyle, Taine, Marx e a questão do homem e do processo histórico

Caso abramos qualquer livro de História editado neste pais até meados dos anos 70 damos invariavelmente com o culto da personalidade em torno de uns supostos heróis, quase sempre políticos ou homens de estado. Tratam-se de personagens amiúde retiradas de seu contesto social e por isso quase que abstratas. É todo um desconsiderar das circunstâncias externas ao personagem ou dos fatores propriamente históricos.

Grosso modo o romantismo conhece apenas o poder mágico de vontade humana... aqui a realidade é norteada ou decretada por algumas vontades excepcionais e nada se sabe em termos de condicionantes; e nada se diz a respeito do meio, do ambiente, do tempo, do espaço, da cultura, da economia. Trata-se duma História mirabolante, superficial, tosca, voluntarista, individualista e portanto viciada. Segundo Marx no XVIII Brumário, tal era a perspectiva de V Hugo ao analisar o 02 de Dezembro...

Aqui temos romance, folhetim, drama, fantasia... o que quisermos; mas não História real, que os caminhos da História real são outros e bem mais complexos.

No entanto como o homem vai de extremo a extremo ou de abismo a abismo a reação não tardou a afirmar-se assumindo o caráter de um determinismo imaterialista ou cultural ou de um determinismo materialista e economicista, ambos absolutos. Aqui a própria vontade da pessoa era compreendida como epifenômeno da coerção social ou do regime concernente aos bens econômicos. Os homens eram produtos ou resultados da assimilação cultural - e portanto cópias uns dos outros - ou das relações econômicas de produção, assim sendo, de modo algum livres, mas determinados pelos fatores externos e aprisionados pelas circunstâncias. Atuavam os homens necessariamente, como peões de xadrez no tabuleiro da História, movidos por forças externas muito superiores...

A História romântica havia eliminado o fator condicionante ou seja as circunstâncias. A História positivista e posteriormente a Comunista eliminou o fator eficiente, a iniciativa humana.

Marx no entanto parece ter tido ideias bem mais equilibradas e saudáveis do que seus seguidores, a exemplo de Eugene Dietzgen. Este materialista economicista e mecanicista irredutível. Da analise de Marx sobre o XVIII Brumário (cap I) salta a vista que em Fevereiro de 1848, as conjunturas para a Revolução socialista, haviam sido dadas. Apenas não foram aproveitadas pelos comunistas ou socialistas, faltando aqui a ação do elemento humano. A qual consequentemente Marx não excluí. Outra segundo Marx (opus cit) não era a opinião de Proudhon, o qual certamente era capaz de perceber a necessidade dos dois elementos...

E continua expondo que do mesmo modo as condições para o 02 de Dezembro de 51 haviam sido igualmente dadas, e aproveitadas por Luiz Napoleão, embora fosse este, segundo o juízo de Marx, um estúpido ou imbecil. Agora nós somos da opinião oposta, julgando que é necessária certa acuidade ou superioridade, tendo em vista a percepção das circunstâncias dadas e seu aproveitamento pelo homem. Aqui cabe o gênio de Carlyle, não no alterar magicamente a história, mas em conhecer as oportunidades dadas pelo momento histórico e atuar em comunhão com ele, o que certamente não pode ser apanágio do homem vulgar.

A H Taine, o positivista heterodoxo, devemos uma das soluções ou sínteses mais interessantes. A qual engloba tanto o homem quanto as circunstâncias dadas pelo processo. Claro que em se tratando duma solução de compromisso ou meio termo, continua sendo incompreendida pelos extremistas e radicais... assim os voluntaristas imbecis classificam o sociólogo francês como determinista por ter aceito os elementos condicionantes e limitado as possibilidades da ação individual ou mesmo humana, enquanto que os materialistas economicistas classificam-no como voluntarista e idealista por ter concedido certo poder ou capacidade a ação humana, mormente quanto conjuntamente exercida.

Engloba esta síntese brilhante três elementos: um eficiente> o homem ou a vontade humana; e dois condicionantes ou se quiserem limitadores: o tempo (época) e o espaço (lugar) ou meio (ambiente). O homem ou as organizações humanas levam a História adiante na medida em que analisam o meio (tempo e espaço) compreendem a cultura e aproveitam as possibilidades oferecidas, conscientes de seus limites.

Nem deus onipotente, nem uma marionete ou robô programado mas um elemento consciente que para atuar com sucesso deve compreender as circunstâncias dadas e atuar em comunhão com elas dentro de determinados limites, para além dos quais sabe ser impossível avançar; isto é o homo sapiens na perspectiva do que posteriormente viria a ser crismado como possibilismo por Vidal de la Blache e sustentado com habilidade por Toynbee.