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quarta-feira, 5 de fevereiro de 2020

Entre a realidade e a imaginação ou como fugir do mundo sem desprender-se dele...

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Enquanto o idealista crasso, o romântico e o avoado fogem do mundo a lua sem maiores problemas, ao menos mais próximos não poucas vezes o idealista crítico, que busca transformar as estruturas de um mundo que acredita serem injustas e anti éticas, entra em crise, e perde-se. E quando digo perde-se quero dizer que ocasionalmente este homem ético e de boa vontade perde a sanidade ou até mesmo a vida, o que é imensamente trágico ou patético.

Temos aqui a morte da mais um combatente, que inspirado em Sócrates, em Cristo ou mais frequentemente neste ou naquele reformador social, o\usa afrontar o sistema ou aquilo que é dado, tendo em vista o que 'Deve ser'. E Ética sempre é isto, UMA METAFÍSICA, a respeito do que deve ser... Quem se contenta com a realidade dada ou com o que é numa Sociedade como a nossa, se são, merece o título de canalha, se Cristão de fariseu hipócrita. Não há atenuante para quem declara assumir posição neutra face a injustiça apenas porque a solução não é imediatamente apreendida por seus sentidos, mas, construída pelo intelecto consciente. Por isso o Positivismo é ainda mais abjeto do que o utilitarismo remendado com retalhos do Evangelho ou do socratismo...

Quanto aos episcopais/Católicos, espíritas e deístas estão imunizados, até certa medida, pela crença sólida na sobrevivência da alma. Frustrados aqui, sabem que estão destinados a contemplar a vitória do bem e o triunfo do amor noutra existência. Não verão aqui, mas verão o que se sucederá aqui... De algum modo contemplarão o futuro deste mundo, o que equivale a colher os frutos.

Já os que duvidam ou negam são combatentes tanto mais vulneráveis. Pois caso sua esperança não se realize antes de sua pressuposta dissolução ou antes da morte física, sabem que não contemplarão o desabrochar das sementes que lançaram ou o triunfo do bem e da justiça. Disto pode decorrer, não raramente, a angústia, produzida pelas continuas resistências - Por parte do sistema que é poderoso - e frustrações.

É destas situações limite, das sucessivas derrotas, da energia dispendida nos embates, das incompreensões e frustrações que resulta a necessidade da fuga. Foge-se ou perde-se a sanidade ou mesmo a vida. Problema não é fugir, mas desprender-se... Por vezes pequenas fugas são necessárias ou terapeuticas. Problema é abandonar a causa ou desertar, desencantar-se. Fugir algumas vezes, episodicamente, faz parte da estratégia, é sabedoria e solução.

Temos assim de alternar a luta com o mundo ou nossa atividade social e mesmo nossas atividades educacionais com algumas fugas.

Sabendo que temos de fugir saberemos para onde fugir com segurança, e não nos destruiremos. Alias mesmo os que dispõem do recurso da fé devem reforça-lo fugindo.

Por fuga equivocada e destrutiva entendemos a sexualidade exacerbada, a embriagues e sobretudo o consumo de entorpecentes i é as drogas. Tudo isto é busca pelo princípio do prazer num mundo doloroso e ingrato. Quando moderada é busca honesta e necessária. A sexualidade, encarada com naturalidade, faz parte integrante da vida e é fonte de prazer revigorante. Assim a bebida espirituosa consumida dentro de certos limites. E ainda se pode fumar Narguile SEM TABACO... Juntamente com o licorzinho, o chocolate (Alfarroba é mais sadia e tão saborosa quanto!), a macarronada de Domingo e o Temaki, poderia mencionar a boa música (Não estou a falar de funk, pagode ou gospel - Experimente Ray Coniff ou o Abba), o Teatro, o Cinema, exposições, etc Claro que tudo isto tem certo custo... Mas sempre podemos passear e assim contemplar o Patrimônio Histórico ou uma paisagem vegetal, assim a flora e a fauna. Há o cultivo de algum hoby como o colecionismo ou a prática de uma atividade como o artesanato. Tanto, tanto tipo de terapia... Assim nosso Pet, seja cão ou gato, com as bençãos de Nize da Silveira...

Todo ativista social ou militante ético político deveria dar espaço a tudo isto em sua vida, ao invés de concentrar-se casmurro e assim gastar-se, endoidecendo precocemente.

Quanto aos que após o sexo buscarem o alcool e após este o consumo de entorpecentes, tendem a avançar em medida. O fim do trajeto poderá ser o craque, uma ida sem volta. Tal o princípio do prazer imoderado ou da busca por sensações cada vez mais fortes e intensas. Passa-se facilmente de um a outro e chegasse ao mais intenso que é a química. Todavia o organismo humano sabe ser mais esperto e acomodar-se, atenuando, em certo prazo, as sensações e fazendo o viciado buscar sensações mais fortes. Caso tais sensações não sejam obtidas o resultado é o vazio, o tédio, a crise ou a angústia intolerável. O derradeiro estádio desta via é empregar doses cada vez maiores das drogas mais fortes ou combina-las ou ainda associa-las ao alcool e ao fumo, do que resultam as conhecidas overdoses e mortes de astros e estrelas, os quais usufruiam de milhões e 'Tudo tinham para ser felizes'. O artista sedento pela beleza a que serve ou representa, não poucas vezes toma este caminho. O cientista, o estadista e o reformador social não menos. Querem apressar a contemplação do ideal, e caem neste erro funesto.

A maior parte busca no princípio imoderado do prazer o remédio para a frustração. Outros, ainda mais valentões, ousados, irredutíveis... chegam, ao cabo de tantos golpes, a demência, a morte ou ao suicídio.

Por isso digo - Mister se faz fugir sem desprender-se por completo ou para sempre da realidade. Abastecer-se para retornar. Viver uma vida normal, comum ou média é muitas vezes mais indicado que o ascetismo, o qual só seria mais producente em situações de conflito aberto ou armado. No mais recomendamos a via do prazer racional ou limitado, inda que em gotas homeopáticas. É necessário contemplar o que há de belo no mundo e fruir dos bens relativos com seriedade. Sim intelectual, cientista, ativista, político/ético, artista... você precisa viver sua vida e precisa também distrair-se.

Então por que raios os artistas, cientistas, revolucionários, reformadores do que é reformável (Então não estou falando dos tais reformadores protestantes!), etc tomam aquela outra via, da morte e da destruição?

Devo dizer que em certos meios, mormente materialistas e autoritários (Que tanto exigem de seus quadros!), há um forte preconceito quanto a essas fugas episódicas ou fantasias da imaginação, que seus ideólogos costumam apresentar como formas de alienação. E assumem esta posição fanática e extremista face a via mais fecunda em termos de sanidade metal e prevenção de neuroses, o recurso aos contos, mitos, fábulas, lendas, parlendas e romances sejam orais ou escritos, assim a contação ou a leitura de estórias...

Claro que esta atividade também tem servido de prisão - E assim sendo fonte de alienação - para aqueles que nela se fixam perdendo de vista o paradigma da transitoriedade. Aquele que se deixa dominar pelo romantismo, substituindo a realidade concreta do mundo a ser transformado pela fantasia das narrativas orais ou escritas perde-se... Como perde-se o extremista que abstem-se totalmente delas, inclusive como lazer, distração, fuga episódica ou terapia. A questão é a mesma quanto o saber ou a ciência, o uso. Temos de saber quando abrir e fechar as janelas, e assim transitar da realidade a fantasia e V V.

Demos palma, sem rancor, aos Psicólogos, que estudaram a personalidade e a mente humanas. Ao menos inconscientemente assumimos o papel de felizes protagonistas daquilo que ouvimos ou contamos e de algum modo nos realizamos. Ao chegar a um final feliz, mesmo que na imaginação apenas, encontramos uma válvula de escape para as frustrações colhidas da arena da vida vivida. Na medida em que temos acesso a identificação e a transferência nos curamos de fato.

Contar ou ler é sempre representar e representar a nível de inconsciência é de algum modo realizar.

Então assuma a fantasia, engane o consciente, interaja com o inconsciente e seja feliz ao menos algumas vezes, obtendo alguns momentos ou fases mais descontraídos. Ao menos subjetivamente, porque você também possui uma dimensão subjetiva, mental ou emocional, seja vitorioso ou triunfante - Um rei, um príncipe, uma princesa ou dama... Alguém que conquista algo de relevante, um herói, cavaleiro cruzado, mosqueteiro...

E se tem o privilégio de possuir uma Biblioteca reserve uma Estante ou prateleira a distração, aos gibis, revistas, anedotários e livros de paisagens, caricaturas, contos, mitos, fábulas, lendas e narrativas... Dedique um espaço a Turma da Mônica, ao Tin Tin, ao Zagor, ao Fantasma, ao Conan, a Walt Disney, a Mafalda, a Super Mãe, etc Consagre outro tanto a Esopo, Fedro, La Fontaine, Perrault, Grimm, Andersen... As mitologias indiana, grega, nórdica, asteca, peruana... A Shakespeare, Molière, Tasso, Camões, Dante, Gil Vicente, etc Se aprecia, como eu, o terror, acolha: Lovecraft, Sheridan Le Fanu, Derleth, P. Merimeé, A C Doyle, R L Stevenson, Wilde, Bram Stoker, Kipling, Henry James, E A Poe, Stephen King, A Tolstoi, etc E ajunte também - Wells, Salgari, Maine Reid, Hall Caine, C S Forester, Haggard, Verne, etc Esta sessão em sua Biblioteca não será menos necessária em sua casa do que a caixa de primeiros socorros da dispensa! Será remédio para a mente, terapia gratuita, higiene mental e relativa garantia de sanidade mental. Vá a ela quando necessitar - fadiga mental - e use sem prender-se, intercale os trabalhos e atividades rotineiras e extenuantes com a distração. Assim será um reformador social ou militante mais produtivo e seguro.

terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

Buscando responder algumas objeções levantadas II



Nos domínios do absurdo



Isto parece aterrador, não ter mais sentido... Diz meu amigo.



Não parece aterrador, bom amigo. É... Simplesmente é.

E já lhe digo que caso este sentido necessário, dependa de algo transcendente, também este algo transcendente fica sendo absolutamente necessário. Não somos responsáveis pela questão do materialismo e o tema do ateísmo tocarem ao sentido da existência ou melhor por essas ideologias destruírem o sentido, encaminhando o homem ao nihilismo, ao absurdo e ao desespero total. Até destruírem o homem, fazendo com que abandone decididamente uma farsa que jamais devería ter sido iniciada. Julgo alias que uma doutrina cujo o fim último seja a decepção, a frustração, o tédio, a auto alienação e a neurose, deva ser revista com todo cuidado.

É o caso do ceticismo crasso, é pura teoria, não serve para a vida, não tem sentido vital, não pode ser vivido ou praticado. Assim o nihilismo...

Aqui chegamos a Camus, com sua teoria do absurdo.

Pois o caos, o acidental ou o absurdo é que se opoem ao sentido.Caso abdiquemos do sentido temos de chegar a loucura. Afinal por que qualquer outro aspecto da existência teria direção ou sentido num quadro geral de absurdidade? Michel Foucault, Gatarri, Derrida e outros não brincaram quando tentaram quebrar as barreiras entre normalidade e loucura... Se tudo é absurdo como estigmatizar a loucura. Afinal condenamos a loucura em nome de um certo sentido a que chamamos normalidade. Os pós modernistas foram coerentes ao avançarem do absurdo a anormalidade generalizada ou a loucura. 


Não fica mal ao pós modernismo e o irracionalismo negarem o sentido, como negam a própria empiria e a própria ciência segundo suas respectivas cosmovisões.

O problema aqui é o cientificista, que - apesar de Kant - afeta objetivismo enquanto acesso a certa dimensão da realidade, encontrar-se com o irracionalista e pós modernista apenas para negar o sentido e canonizar o absurdo.

Levando o absurdo a sério


Aqui outra arbitrariedade uma vez que o pós modernista nega absolutamente tudo, mergulhando no subjetivismo crasso, enquanto que o positivista faz um recorte arbitrário e nega apenas o sentido geral da existência reservando o absurdo para o fim. Sem perceber que afirmando o absurdo metafísico torna sua própria ciência absurda. E pouco se nos dá que esse mesmo homem dê com os ombros e declare: Eis tudo que temos! Afinal a ciência no tempo presente é privilégio de uns poucos enquanto as multidões que se arrastam pela terra caminham para a dissolução e o nada. Se as migalhas de felicidade de que dispomos dependem do conhecimento científico a condição humana é bastante deplorável.

Ah, mas minha ciência não é absurda! Querido caso o princípio seja acidental ou fortuíto e o fim igualmente sem sentido algum, como crer que o meio. Mas compreendo como é difícil para vocês abandonar a única consolação ilusória de que dispõem, i é a objetividade cientifica face a crença no absurdo total corajosamente proclamada pelos pós modernista.
E no entanto este homem auto consciente e racional demanda pelo sentido, busca por um sentido, persegue o sentido... como uma mariposa lança-se as chamas da lamparina dirá certo pensador ateísta.

Psicologicamente, seja para Jung, Frankl, Allers e tantos outros teóricos o encontro do sentido corresponde a própria sanidade mental e sua negação a uma fonte de neuroses.

Para um grupo seleto de seres humanos


Compreendo que pessoas saudáveis, bonitas, jovens, limpas e bem nutridas desdenhem do sentido, que afirmem ser tal busca ociosa, a razão um verme e absurdo tudo quanto nos envolva.

Desde que haja casa, comida, roupa lavada e certa felicidade a negação do sentido pode ser viável ou mesmo tentadora. No entanto a maior parte dos seres humanos vive sob condições distintas e ouso duvidar que um tal tipo de ensinamento - apto para satisfazer pessoas realizadas e felizes - pudesse ser seriamente enunciado num Hospital, num Asilo, num Orfanato ou mesmo numa Favela... A absurdidade da vida é doutrina bastante restrita e parece não contemplar as necessidades existenciais ou psíquicas da maior parte dos seres humanos.

Os termos finais da 'bela' doutrina...


Foi apenas após a trigésima cirurgia que Freud pode abdicar por completo da esperança e descreve-la como um verme, pouco antes de recorrer ao clorofórmio e deixar o palco ou picadeiro da vida.. Raras são as esperanças de que um jovem que nega categoricamente o sentido da existência chegue a extrema velhice após uma série de vicissitudes e calamidades.

Werther de Goethe sequer precisou envelhecer ou passar por problemas de ordem material para sucumbir ao peso de uma existência sem qualquer sentido, e o simples ceticismo, bem como o agnosticismo - para não falarmos em materialismo e ateísmo - tem sido suficientes para levar ao suicídio um número cada vez maior de cidadãos escandinavos. Onde um aluvião de suicídios tem acompanhado os passos da ideologia nihilista, o que por si só basta para excluir qualquer análise superficial e forçada em termos de clima, afinal o clima tem sido estável há centenas de anos e o aumento dos suicídios um fenômeno relativamente recente que tem acompanhado a cultura. Tampouco passam eles por qualquer problema mais sério a nivel de organização econômica ou social. As condições de vida são as melhores do planeta, e a taxa de suicídios também, bem como as afirmações em torno do nihilismo, do absurdo e da total falta de sentido.

No entanto para que precisariamos ir a Escandinávia quanto temos Elvis Presley, Jacqueline Onassis, Bob Marley, Janis Joplin, Michael Jackson, Amy Winehouse e outras centenas de multi milionários precipitando-se como mariposas nas chamas de uma lamparina, após terem declarado explicitamente em diversas entrevistas que a vida não possuía qualquer sentido e que a  existência era absurda, Ah mas eles se drogavam ou embriagavam... Tente peguntar-se por alguns instantes sobre o pôrque deles desejarem fugir a existência. Antes de declarar que se drogavam ou embriagavam forçados pelos genes. Psicologicamente falando a falta de sentido e a conclusão pelo absurdo tem sido uma porta a berta para o consumo de bebidas ou de entorpecentes, mas a farsa dura pouco, afinal como diz Vintila Horia, pela droga o homem encontra a si mesmo e seu imenso vazio, vazio existência, vazio de ser... E põem fim a farsa.



Mais contradições - O Homem e a ideologia inumana


O curioso aqui é que o homem olhe para dentro de si mesmo e 
demande por sentido. Olhe para fora de si e encontre teorias muito mal feitas, prontas para dizer-lhe - Não pergunte por isso! Não peça isso? Não pense nisso!

Mas, este homem não se conforma com a negação do sentido a que persegue.

Tece questionamentos. Apenas para ouvir que são imponderáveis e que deve se contentar com o fardo da própria ignorância.

Aspira por uma dimensão ética da existência. Dizem que ela não existe...

E este homem comum não pode viver absurdamente ou fazer o que bem quer. Do contrário vai preso com base em critérios éticos e morais sem 'sentido', e é morto como Ravachol...

Tudo porque alguns indivíduos ricos e bem nutridos, e felizes tem a posse das armas e do poder, uma vez que não existe bem e mal fora dos indivíduos e que somos regidos por instintos ou genes egoístas... E ainda sim punidos ou castigados quando os obedecemos irresistivelmente. Assim a legislação fala em delitos e crimes, embora uma determinação genética ou um impulso sendo natural, não possa ser criminoso.

"Te devoro obrigado por minha natureza." Eis o que diz o monstro do filme, vermes rastejantes, a uma de suas vítimas a ser devorada.

Pobre homo sapiens... pobre animal racional!

A negação da Estética e o desprezo pela beleza.


Aspira por uma dimensão estética da vida, mas; as verdades 'puras' que abraça estão desvinculadas por completo do Bem e da Beleza, são frias e feias e por isso não lhe oferecem poemas, óperas, peças de teatro, pinacotecas, partenons e catedrais; declarando tudo isto artificial, ocioso, supérfluo e absurdo. A esfinge, o Alhambra e o Tja Mahal são frutos de uma fé... As universidades europeias, como Nápoles, Salamanca, Paris, Cambridge, Oxford, Lovaina... de uma fé e de uma Filosofia, tal e qual os Dialogos de Platão. Igualmente frutos da fé são Ilíada, a Odisséia, a Divina Comédia, o Paraíso perdido, os Lusíadas, a Jerusalém libertada, a Messiada e o Orlando furioso. A paixão de S Mateus e os Oratórios de Haendel. O Duomo de Florença, a Piazza de S Marcos e o campanário de Ulm, bem como a catedral de Colônia. Para não falarmos na Hagia Sophia ou em La Madeleine. A fé inspirou as encantadoras obras de um Ary Scheffer, a mitologia a pena de um Virgílio, de um Ovídeo, de um Estácio, de um Terêncio ou de um Propércio. Foram homens de fé ou de reflexão Sóflocles, Ésquilo, Eurípedes, Plauto, Gil Vicente, Shakespeare, Corneille, Racine e Molière. Assim a sensibilidade ímpar de um Fédro, de um Esôpo ou de um La Fontaine tampouco procedeu da vossa ciência positiva ou melhor da ideologia materialista ou da metafísica dawkiniana. O cientificismo tem sido esteticamente estéril, e parece não preocupar-se nem um pouco com isto...

A negação da Ética ou o desprezo pelo bem

Escusado seria falar nos orfanatos, asilos, escolas, hospícios, hospitais, albergues, dispensários, etc que o cientificismo nem erigiu no passado nem cuida ou porfia erigir no tempo presente. É verdade de a legítima ciência empírica, produz técnica. Mas não é menos verdade que esta técnica entregue ao mercado é negociada ou vendida como qualquer outra coisa, convertendo-se a magnífica ciência que endeusa em fonte de lucro ou renda para ele. Consequentemente imensas vastidões do planeta, como certas paragens da África e da Ásia, jamais são tocadas por essa técnica arrojada. Mesmo os pobres das Américas dificilmente tem acesso a elas. Tendo de recorrer ao pastor ou ao xamã (curandeiro). Exceto quando algum grupo de religiosos ou de humanistas compram os aparelhos (a técnica) e movidos por sentimentos 'duvidosos' transportam-na a tais remotas paragens. Consciência, empatia, alteridade, identificação, solidariedade, é coisa que o cientificismo parece não produzir.

Os medievos e nós - A nossa crise


Os medievos a que costumamos lançar paus e pedras costumavam preocupar-se mais do que nós com o homem. Multidões de monges e freiras, sem asseio ou técnica buscavam servir aos enfermos e a minorar-lhes os sofrimentos. Por falta de ciência - e por isso dizemos que a ciência é muito importante - e técnica não havia recursos em abundância, mas havia boa vontade e sincero desejo de ser útil. Os recursos humanos no entanto sobejavam e a crise era meramente material. No tempo presente temos a ciência que produz uma técnica refinada e doentes morrendo as baldas sem assistência nas periferias, ruas, praças ou a fila do SUS. Temos recursos suficientes para curar muito mais gente bem como para erradicar a fome do planeta, e mesmo assim - milhões morrem de fome e outros tantos de doenças 'curáveis'. Agora qual a razão disto? Simples. Hoje sobeja m recursos técnicos e materiais e faltam recursos humanos ou boa vontade. A nossa crise é muito pior do que a medieval porque humana, produto de um egoísmo, de uma insensibilidade, de uma desumanidade e de uma falta de ética que nossa ciência é impotente para solucionar.

"A ignorância é uma benção."


Temos supostas verdades positivas ou metafísicas cientificistas mas elas estão definitivamente apartadas da Beleza e do Bem, e este homem emancipado do século XXI é um ser fragmentado.

Tudo por quanto este ser racional aspira é avaliado ficção, ilusão ou engano pelos gurus da modernidade.

Mas não chegamos ao fundo do poço. E segue o drama supremo!
Pois este homem é consciente... auto consciente. A respeito do que sonha, aspira, quer...

E do quanto lhe negam ou dizem ser utópico, pretensioso, impossível...

Imagine por um instante uma borboleta ou uma águia, que possua asas perfeitas e não possa erguer-se do solo e cortar as nuvens... Para que ter asas? Para que servem as asas???

E no entanto estes anima
is tem, muito provavelmente, o benefício da ignorância ou da inconsciência.


Acaso não será melhor ser um 'frustrado' ou um fracasso natural sem ter consciência disto?

Mas, oh azar, na evolução sofreu uma hipertrofia e brindou-nos com esse cérebro que não só sabe afetar os modos de uma mente como fazer perguntas irrespondíveis.

Ésquilo, Sófocles, Eurípedes e outros dramaturgos clássicos diriam que tudo isto é pateticamente trágico, mas nossos positivistas a tudo assistem sorrindo qual o desenrolar de umas das comédias de Aristófanes!

Uma bananeira que não produz bananas jamais conhecerá a infelicidade deste homem tolhido em suas legítimas aspirações, pois não foi amaldiçoada com o apanágio da auto consciência


Consciente este homem se sentirá frustrado e frustrado se tornará neurótico.

Equívoco consciente produzido pela sorte, pelo acaso ou pelo giro dos átomos eis tudo quanto é ele. Um acidente... Um aborto??? Não o sabemos! Ignorabimus!

Comunicar o absurdo...


 

Uma coisa porém julgo saber.
 

Dificilmente alguém que estivesse de fato convencido sobre o absurdo da existência ou o nihilismo, ousaria reproduzir-se, procriar ou por filhos no mundo a menos é claro que declare ser escravizado pelos genes. Do contrário seria cruel...

Afinal para que comunicar uma existência absurda a outrem, já diziam os sensatos Sartre e Simone. Para que prolongar a farsa???

Como dizer honestamente a uma criança que todos somos fruto de um acidente de percurso e que a vida é um absurdo? Como declara-lo a um jovem que passa por uma crise existencial.

Grosso modo os filhos desta geração esperam ser fruto de um planejamento  ou de algo previsto, desejado, acalentado e previamente amado, não duma camisinha furada ou de uma pílula que não funcionou. No entanto, como produtos da sorte ou do acaso, somos todos nós, seres humanos, resultados duma camisinha furada! E você ousará comunicar essa existência absurda a outrem???

E tudo termina pela mentira!




É ai que entra em cena ou darwinismo com sua nova ética ou o Dr Wilson, para ensina-lo que a mentira é um fator evolutivo e incita-lo a enganar seu filho, exatamente como os católicos desencontrados ensinam aos seus o mito grosseiro do gênesis ou como os demais cidadãos que ensinam seus filhos a esperar pelo Papai Noel ou pelo Coelho da Páscoa a cada ano...

Importante é que nossos filhos absurdizados continuem a mentir e mantenham a tradição da mentira, do contrário Werther encarnar-se-a outras tantas vezes sobre a terra.





terça-feira, 23 de janeiro de 2018

O ateísmo, o agnosticismo, a Kalokagatia e a morte da estética III - O sentido e as aspirações frustradas

"A existência sem a música seria um equívoco." Nietzsche 



Ao tecer suas considerações sobre o 'ateísmo' militante ou proselitista o sensato John Gray - e não o bispo Fulton Scheen (mas bem poderia ter sido ele) - publicou um fragmento bastante curto mas nem por isso pouco extenso e profundo, pelo contrário seu significado é vasto, então 'Verbi gratia':

"A crença no progresso é uma relíquia da concepção Cristã da Historia... Um ateísmo intelectualmente vigoroso começaria por questiona-la." 2011 p 332

E por ser completo ou mostrar fundamento, remete-nos a leitura de uma obra tão clássica quanto insuspeita ( Seu autor é um irreligioso confesso. ), a "Towards the ligth..." de Grayling.

Por coerência meus amigos ateus deveriam principiar abraçando a única opção que parece estar de acordo com sua ideologia - O nihilismo. Por via de escolástica ou de coerência lógica o ateísmo conduz necessariamente ao nihilismo, ou a abdicação de qualquer sentido ou direção quanto a existência humana. Claro que nossos antagonistas sempre poderão dizer, com os anarquistas, que a lógica, a coerência, a racionalidade... são formas de controle ou de dominação rsrsrsrsrsrsrs de autoritarismo enfim. Começaram tentando demonstrar racionalmente que Deus inexiste, e agora refugiam-se na palhoça do irracionalismo...

No entanto se usam de argumentação racional com o objetivo de demonstrar que não existe deus algum - e é evidente que me refiro ao Deus dos filósofos e não ao Deus da fé ou da Revelação.  - por que raios não levam essa argumentação adiante? Por que abandonam-na no meio do caminho? Por que não fazem o trajeto em sua completude?

Simples - Porque sem uma mente ordenadora, um ente organizador, um legislador supremo, uma consciência transcendente em comunhão com a Imanência, não podemos falar em qualquer sentido, direção ou tendência histórica. Toda direção supõem necessariamente um objetivo a ser alcançado e este um plano. Mas como pode haver plano sem que haja Planejador, mente ou consciência???

Concordamos com os cientificistas, ateus, materialistas, etc Não se pode discutir e menos ainda impor o 'Design inteligente' em aulas de Biologia. Teoricamente as aulas de Biologia deveriam contentar-se com os 'fatos' em sua simplicidade. No entanto, se assim o é, por que raios o Biólogo Dawkins e tantos outros teem o direito de negar o sentido e portanto de fazer metafísica ateística em nome da Biologia e da ciência??? Eis a contradição... Pois há centos de Professores de Biologia vendendo metafísica ateística em nome da ciência em nossas salas de aula. Não deveriam interpretar ou especular em torno do fado evolutivo, mas o fazem e sem maiores cerimônias! Raramente nos deparamos com aulas verdadeiramente científicas, factuais e portanto agnósticas.... No entanto apenas a metafísica teísta tem levado a carga, não a de Mr Dawkins e seus companheiros, apóstolos do ateísmo.

Tudo bem removamos o design inteligente do campo da Metafísica e substitua-mo-lo pela nova moda, do Caos. Diante disto poderemos falar em tendência, direção ou sentido??? Certamente que não. Mas é díficil encarar a Evolução das espécies e a manifestação da auto consciência, da razão, da liberdade e da Ética sem dar com a tendência. Basta pensar, refletir, ponderar... por alguns instantes. Daí - Fuga pelo irracionalismo. Pera lá, mas não somos nós que até agora argumentávamos racionalmente contra a existência de Deus??? No entanto quando chegamos a contemplação do fenômeno humano em sua especificidade e o trajeto porque chegamos até aqui, fica difícil ignorar a questão do sentido.

A maior parte dos neo ateus no entanto teimam, obstinadamente, em apresentar a velha fé redentora assumida pelo positivismo e portanto transplantada da religião, alias Cristã, aos domínios da natura... E atribuem essa redenção, sob o nome de progresso, a ciência. O credo de Dawkins, Dennet, Hitchens, Amis, Pulmann e outros tantos apóstolos do neo ateísmo continua sendo o Progresso técnico oferecido pela divina ciência. Progresso diante do qual tecem as mais absurdas, desmioladas e idealistas conjecturas... a ponto de imaginarem-se compondo poemas Épicos, sinfonias e mesmo santuários a nova divindade Redentora que conduzirá a humanidade num paraíso, ou melhor que converterá nossa terra num paraíso de esplendor... O 'Hino' é cristão, mas a ideologia comum, ao Cristianismo e ao neo ateísmo com seu legado positivista totalmente ultrapassado...

De nossa parte o quanto fazemos é perguntar-nos sobre o pôrque dos ateístas não terem lançado as favas esse resíduo secularizado da fé e de uma fé redentora? Temos que questiona-los e de perguntar-lher sobre o pôrque de não terem canonizado o nihilismo e negado o sentido da existência. Possível é duvidar, questionar, silenciar... embora seja já doloroso. Agora concluir pela total falta de sentido ou pelo absurdo da existência, e, enfim, pela malignidade essencial da razão até aborrecer a auto consciência de si mesmo parece ser para poucos, muito poucos. Demandando alias a elaboração de um discurso eficaz destinado a impedir que homens convertam-se em lemingues. Camus teve de elaborar tal discurso para que o suicídio não se converter-se em epidemia. E no entanto os países agnósticos ou materialistas - que contam com o maior número de ateus, embora eles jamais constituam a maioria! - nos quais a sociedade atingiu os melhores índices em termos de condição humana, são os que apresentam os maiores índices de suicídio e isto a ponto de preocupar as autoridades.

Dir-se-a que em tais países as pessoas dão cabo da própria vida porque enfrentam uma condição de miserabilidade extrema. Em se tratando da Suécia, da Dinamarca, da Finlândia, da Noruega, da Holanda, etc a pressuposição acima é absurda, pois o estado de bem estar social cuida de todos. Então por que se matam? Afetando sabença, os apóstolos do ateísmo, apelarão certamente ao clima - Falta de luz solar, sombras, nuvens, frio... A explicação até parece boa, mas temos que considerar que a epidemia de suicídios é recente, tendo acompanhado a ascensão da irreligiosidade. Já o clima, como qualquer um sabe, é elemento constante, cujo 'tom' remonta há milênios...Diante disto qualquer um de nós pode perceber o tamanho da falácia. O clima não explica absolutamente nada... pois não sofreu qualquer alteração sensível no tempo presente.

Claro que a questão não sendo social - Já parou para pensar que nas favelas do Brasil ou nas 'Vilas' da América latina a taxa de suicídios é bem menos do que nos países acima citados? - conduz-nos a uma questão muito pouco agradável a nossos amigos ateus que é a questão existencial, i é, a questão já alardeada em torno do sentido da existência. Essa questão foi proposta inúmeras vezes sob diversas formas e temos as versões de - Marco Aurélio, Agostinho, Pascal e Kierkegaard, dentre outros...

Claro que há ateus valorosos. Os quais apresentando o fenômeno humano como um golpe de sorte ou um acidente provocado pelos átomos que giram eternamente (Hume), declaram não haver sentido ou finalidade alguma. E não podem fugir a conclusão segundo a qual a consciência de si, que pela negação do sentido implica frustração, equivale a uma aberração, enquanto que a razão chega a ser comparada a um verme que nos corrói por dentro e nos incomoda, e nos martiriza com essa busca utópica pelo sentido. Sentido, objetivo, direção, finalidade, tendência que nos remete sempre a um Deus.

Assim o tributo pago ao ateísmo, jamais poderia ter sido barato, e foi o nihilismo.

O que questiono aqui é a leviandade dos neo ateus que não estão dispostos a pagar o preço estipulado e que continuam a enganar a pobre humanidade a partir de uma fé seculariza e a anunciar, não menos que Karl Marx, que a ciência e a técnica nos abrirão as portas do paraíso na terra. Sendo assim comecem a pinta-lo e a publicar revistinhas como as testemunhas de jeová! De fato, sua ciência tecnicista até poderia (o fato é que não pode), eliminar todos os sofrimentos que o homem impoẽm ao outro homem (isto é tarefa precípua da Ética. Ética que o positivismo sempre negou). No entanto como declara Tasso da Silveira, jamais poderia eliminar a consciência de nossa finitude face a vastidão imensa do universo. Jamais poderia eliminar o drama existencial que nos persegue onde quer que estejamos.

Fato é que os ateus não são capazes de eliminar este drama cósmico e tampouco a busca do homem pelo sentido da existência em que foi lançado. Remetemos mais uma vez o amigo leitor a John Gray - "A religião não foi embora. Reprimi-la é como reprimir o sexo. Tentativa fadada ao fracasso." p 335. A bem da verdade, mesmo aqueles que não creem, continua o mesmo Gray - inspirado por um senso de realidade muito superior ao de S Freud - o que deveríamos tentar fazer é investigar quais sejam as formas menos evasivas e mais evoluídas em termos de religião, para tentar educar e moldar este impulso da melhor maneira possível. Comunicar-lhe formas mais amenas e humanas, deveria a ser a meta de todos nós, inclusive dos ateus mais inteligentes, que dispensam a existência de um Nous ou de uma revelação. Deixar tal impulso entregue a si mesmo ou descurado, implica uma total falta de responsabilidade pela qual pagaremos muito caro. Mas os ateus continuam adotando padrões irracionalistas - Combatem como Dawkins, as fés mais evoluídas - Que tendo assimilado algum elemento racional aspiram compor-se com a ciência e promover o homem - e apoiam, ao menos indiretamente as religiões atrasadas e rudimentares, declarando que as religiões devem ser necessariamente fundamentalistas e fanáticas. Em certo sentido odeiam mais ao espiritismo, aos catolicismos e ao budismo do que ao islã e ao pentecostalismo, os quais de modo algum temem.

Por que teci tantas conjecturas de o tema deste artigo é a estética ou a beleza?

Um amigo a quem muito prezo, alegou que há algumas almas fortes que apegam-se a religião tradicional devido a questão da estética, da beleza, da arte, etc Mas me parece que ele não consegue penetrar o porque desta petição estética ou deslinda-la, talvez porque creia, não o sei, que a beleza, ou seja relativa nos termos de um Kant e dos modernistas, ou seja supérflua.

É a questão que tentei responder neste três artigos, chegando a conclusão.

Na hipótese da escolástica ateística do nihilismo ou na total falta de sentido quanto a existência não nos deveríamos preocupar nem com a Beleza, nem com a Bondade... Bastar-nos-iam a verdade isolada. Feia ou isenta de beleza. Existiria apenas uma verdade dura e uma dura verdade, beleza e bondade seriam utopias ou ideias relativos construídos pelo homem em sua prisão ou cubículo universal. Temos uma ideal e uma fome de beleza, mas ela não existe fora de nós ou sequer existem em si mesma. Diga-se o mesmo da bondade...

Há muito que os ateus sacrificaram á estética, ignoro sérias reflexões em termos de estética feitas por ateus. No mais do mais contentam-se com as opiniões já expostas de Kant... A Ética foi oficialmente abandonada pelos próprios positivistas e todas as tentativas de produzir-se uma Ética - E ME REFIRO É CLARO A UMA ÉTICA HUMANISTA QUE PROTEJA E PROMOVA O SER HUMANO - em termos de biologismo evolucionista (Spencer - Darwinismo social e Kropotkin) ou de pragmatismo tem sido desastrosas, jamais atingido o fim a que se propuseram. Ateísmo e materialismo não tem sido bem sucedidos no sentido de produzir uma ética eficaz... Gray com absoluta razão refere-se a essas falhas terríveis, sobre as quais ateu algum gosta de refletir, em termos de Nazismo e Comunismo, e bem poderia adicionar o formalismo jurídico de Kelsen. Além disto tem o ateísmo em sua quase que totalidade tem pactuado com o liberalismo econômico ou Capitalismo que é outra cultura de morte e matriz das demais culturas de morte.

Já quanto a produção estética ainda não chegou o dia em que gênios ou ateus inspirados haverão de compor os magníficos dramas, loas, sinfonias, poemas épicos, catedrais, conjuntos esculturais, etc em homenagem a ciência. O ateísmo tem sido estéril em termos de produção artística, exceto quando ateus fazem petição a fontes de inspiração religiosas ou mesmo cristãs... Pior, quando produzem alguma arte é sempre a prostituída arte de Kant, psicologista, subjetivista, anárquica e sem regras... Fruto se sonhos caóticos e pesadelos tenebrosos. Coisa que qualquer moleque de dois anos bem podia fazer rabiscando sobre uma folha ou mesmo, acreditem, cagando! No setor do modernismo talvez encontremos os gênios do ateísmo, ineptos para traçar a perspectiva de um desenho, para misturar as cores com delicadeza, para fazer arranjos, para obter rimas preciosas, etc, etc, etc Claro que se não há regras ou normas objetivamente fixadas para a confecção da obra de arte, a avaliação de que é objeto só poder arbitrária, em termos de um 'gosto' sem qualquer justificativa plausível.

Bem o que eu quis e quero dizer que a busca pelo sentido, tal como fora compreendida pelos antigos gregos, compreende não apenas a verdade... pois a verdade sempre poderia ser 'Não ha verdade alguma' rsrsrsrsrs ou 'Não há sentido'. A verdade para esgotar plenamente o sentido da existência deve estar necessariamente acompanhada pela bondade e pela beleza. A bondade e a verdade devem ser belas. A beleza e a bondade devem ser verdadeiras e a verdade e a beleza devem ser boas. Assim se manifesta plenamente o sentido da vida que todos buscamos. O Bom, o belo e o verdadeiro foram uma Unidade inseparável ou uma Trindade ideal no dizer de Flaubert. Até podemos substituir a religiosidade pela contemplação estética a maneira de Gautier, o que não podemos fazer é substituir a contemplação estética por qualquer outra coisa sem mutilar-nos a nós mesmos. A dimensão estética da vida faz parte de nossa integralidade e, se a religião busca satisfaze-la e o ateísmo não - mostrando-se insensível - a questão esta revolvida - O ateísmo é bisonho por reduzir a dimensão da existência a uma verdade gélida e fria...

"Deus não existe." declara o ateu. Ótimo em que isto nos tornará melhores e como produzirá beleza??? Ah não estamos em posse de padrões essencialistas que nos tornem melhores em sentido unívoco pois a Bondade é relativa e o homem seu supremo critério (Excelente, então deixemos o torturados torturar e o estuprador estuprar e cessemos hipocritamente de condenar Hitler, Stalin ou Bush fundamentados em nossas opiniões individuais! ). Já quanto e beleza, podemos bem passar sem ela???

Mas eu sinto uma necessidade intrínseca pela beleza ou uma demanda pela estética e pela arte que o ateísmo jamais satisfez ou satisfaz e por isso julgo-o inadequado e suas dissertações em torno de uma verdade estéril, irrelevantes. Minha sensibilidade estética opõem-se ao ateísmo por ser improdutivo... Essa busca por um a beleza ideal é que conduz-me a um Fídias, a um Praxisteles, e um Polignoto, a um Parrásio, a um Tirtaeus, a um Terpandro, a um Homero, a um Sófocles, a um Ésquilo, a um Eurípedes, a um Vírgilio, a um Estácio, a um Dante, a um Camões, a um Cervantes, a um Tasso, a um Milton, a um La Fontaine, a um Shakespeare, a um Moliére, a um Bach, a um Mozart, a um Bethoveen, a um Dellacroix, a um Millet, a um Schaeffer, a um G Doré, a um Calixto, a um Pedro Américo, a um Meirelles, a um Bilac, a um Raimundo de Menezes, a um Martins Pena, a uma Anna Pavlovna, a um Nijinsky, a um Ray Conniff, etc Nenhum dos quais era ateu ou inspirou-se no ateísmo. Muito pela contrário a maior parte destes homens que buscaram saciar a sede estética de seus companheiros e que se esforçaram para tornar este recanto um pouco mais belo eram em sua quase que totalidade Cristãos e mais Católicos! Recomendo a leitura de 'O gênio do Cristianismo' de Chateaubriand. As almas insensíveis, superficiais e vulgares não compreenderão esta obra magnífica - Teve gente da igreja que não pode compreende-la (Os agostinianos é claro) - Sócrates, Platão, Aristóteles, Parmenides, Anaxágoras, Xenofanes, etc compreende-la-iam...

E as arrevezadinhas demonstrações ateísticas de Onfray ouso opor apenas as Catedrais francesas, alemãs, italianas e inglesas... ou o Partenon, mas falar no Partenon seria pura covardia. Esperemos enfim que os apóstolos do neo ateísmo possam o quanto antes brindar-nos com um Partenon ou com um Taj Mahal...

terça-feira, 11 de abril de 2017

Empírico racionalismo ou ceticismo?

Fácil falar que o homem é incapaz de conhecer ou que não existe verdade alguma no acesso do gênero humano.

Encastelam-se os céticos no domínio da gnoseologia, e pronto...

Discursam contra a percepção, a razão, a fé, a ciência, etc E dão-se por satisfeitos.

Em geral esse tipo de conversa para por aqui.

Jamais se põem o dedo no fundo da ferida e ficamos sempre por saber o se encontra por trás dela.

Quais os pressupostos do ceticismo?

Por que o ceticismo é sinal evidente de decadência cultural?

Qual o problema dos ceticismos?

Em verdade o ceticismo comporta dois problemas bastante distintos.

O primeiro o da contradição.

Afinal o mesmo cético que postula não haver certeza alguma mostrasse não poucas vezes convencido a respeito da validade do ceticismo.

Raro é o cético plácido e sereno que dúvida de seu ceticismo.

Assim o mesmo cético que ufana duvidar de tudo parece acalentar ao menos uma certeza, a do ceticismo.

Ele conhece que é impossível conhecer!!!

E esta certo de que deva duvidar do conhecimento...

Por outro lado se também o ceticismo é duvidoso...

Por isso que a maior parte das pessoas tem abraçado o ceticismo como a única verdade existente.

Sabemos que não podemos saber!

Agora se sabemos uma coisa por que não podemos saber duas, três, quatro, cinco???

Se conhecemos o ceticismo por que não podemos conhecer outras coisas?

Se acertamos uma vez que nos impede de acertar mais vezes?

O segundo erro ou melhor, a segunda forma de incoerência, se dá quando as pessoas partem do ceticismo para formular alguma coisa...

Neste caso, embarcando no trem de Omar Kayyham, chegam a estação final do nihilismo. Escolasticamente... e concluem pena necessidade da alienação.

Ter consciência de que nomos frustrados, saber que somos incapazes de saber, conhecer o trágico de nossa existência, admite Khayyam incomoda, machuca, angústia, até a suprema desolação.

A consciência da incapacidade torna a existência insuportável, para não dizermos indecorosa.

O homem tem aspirado por sucessivas quimeras: O conhecimento de Deus ou do além túmulo pela fé na Revelação, o conhecimento de si por meio da Reflexão, o conhecimento do mundo externo por meio da experiência ou da percepção. No entanto 'Nem na fé, nem a Filosofia e nem mesmo na ciência há salvação... e tudo não passa de quimera.'
O homem aspira, acalenta, deseja conhecer; e no entanto não esta em suas mãos satisfazer semelhante demanda. A demanda que parte do íntimo de seu ser é, ela mesma, falaciosa... Queremos saber mas não podemos, abominamos a ignorância e no entanto a ignorância é nosso estado natural e invencível.

Somos seres fragmentados e em conflito com nossa condição.

Somos seres infelizes, pois temos consciência de nossa frustração.

O universo ao menos não tem consciência de coisa alguma. E a inconsciência torna-o feliz.

Bem aventurada a inconsciência.

Mal aventurada a consciência e a razão.

Esta por sinal assemelha-se mais a um verme que nos vai roendo a consciência, do que a qualquer outra coisa.

A consciência e a razão é que nos fazem sofre e tornam a existência insuportável.

Consciência e razão já não são aqueles bens desejáveis que a Filosofia antiga apresentou-nos, mas punições ou castigos com que o universo desejou abater-nos.

Diante de tão trágica e patética condição, que fazer, pergunta-se o poeta, matemático e astrônomo persa de Nishabour?

A única solução possível aqui é apagar ou obscurecer a razão.

Mas como?

Por meio do vinho ou das bebidas fortes, aconselha o poeta.

'O vinho destrói as nossas preocupações inúteis e nos concede a anulação perfeita.'
Com mais e maior razão o homem do século XXI, angustiado, sem fé ou esperança, entrega-se cada vez mais ao consumo da 'droga', isto é, da canabis, da cocaína, do craque, etc, etc, etc Havendo ainda quem cheire perfume, cola... Quem seja viciado em morfina...

Justamente com o objetivo de apagar a razão e fugir a uma realidade indesejável.

Aquele que convenceu-se de que a realidade externa a si é má ou indesejável e impossível de ser alterada só resta o suicídio ou a droga.

Embora possamos definir o termo droga em sentido lato, atribuindo-o a qualquer prazer extremo, que vicie este homem, e ao menos por alguns instantes o torne feliz.

Eis porque Khayyam aludia frequentemente ao orgasmo, ao sexo ou as carícia da mulher, como outra forma possível de fuga, face a realidade maléfica que nos envolve.

Vivesse hoje, talvez adicionasse o consumo ou a aquisição compulsiva de quaisquer coisas.

Vazio de si e aniquilado por dentro este homem tem de colocar a felicidade em qualquer coisa fora de si. Assim nos prazeres sensíveis, ainda que provisórios. Assim antes de tudo no vinho ou na droga e em seguida no sexo... ou mesmo no consumismo hodierno.

Impossibilitado de refletir ou de mergulhar na contemplação racional do universo, sempre falaciosa; mergulha este nosso homem na taça de licor, na seringa, na fricção dos órgãos sexuais ou na aquisição sucessiva de parafernália inútil... Jamais abandonado este roteiro. Ficando restrita sua existência a tais 'experiências ' arrebatadoras e intensas; ao menos enquanto é bem sucedido e pode pagar por elas.

Nem preciso dizer o que acontece com este homem perturbado quando a frustração interna que o destrói por dentro, adicionamos a pobreza, a miséria, a doença e a dor.

Chegado a tais extremos da existência conforta-lo-a o ceticismo tal e qual a posse da verdade tem confortado seus filhos?

Temos suficientes indícios para duvidar sinceramente disto.

E postular que em situações de sofrimento externo, o nihilismo conduz o homem fatalmente ao suicídio.

No passado, preso a seu leito de dores ou obrigado a suportar toda uma vida de miséria, consolava-se aquele homem com a posse da verdade, ao menos da verdade Ética.

Hoje, no entanto, após ter se deixado dominar totalmente pela descrença absoluta, que consolo lhe resta quando faltam os prazeres sensíveis e a saúde principia a declinar?

Se juntamente com o pão material, o vigor e a saúde, é negado a este homem o pão intelectual da verdade que motivações terra para prender-se a existência?

No momento em que concluir que neste plano as experiências de dor e desconforto são mais comuns do que as situações de prazer e alegria, que o fará suportar o tédio provocado pela frustração e a incapacidade?

Direi apenas que a falta de condições materiais o ceticismo não nos acrescenta nada. Potencializa, amplia e aprofunda nossa sensação de impotência. Caso não seja compensado pelo alcool, pela droga, pelo sexo ou pela ostentação de quinquilharias, o ceticismo nos desampara por completo.

Pois este homem pobre ou doente já não pode mergulhar em si mesmo em busca ou a cata de qualquer coisa. Uma vez que seu espírito é raso...

Carecendo de insumos materiais necessários a uma vida confortável e feliz, o ceticismo não nos concede qualquer espécie de equivalente espiritual.

Sem dinheiro ou melhor sem tudo quanto o dinheiro pode comprar: Vinhos, drogas, sexo, carros, jóias, etc nada resta ao cético. Absolutamente nada!

Portanto como admirar-nos de que a adesão ao ceticismo, extermine todas as esperanças acalentadas pelos mais humildes, e conduza-os a destruição de si mesmos???

Para os ricos ou remediados, ao menos por algum tempo, pode o ceticismo ser interessante, digo suportável...

No entanto que vantagem oferece ao homem comum?

Na medida em que nada espera, o cético pobre ou enfermo, desesperando de tudo, acaba, em não poucas situações, atentando contra a farsa ou tragicomédia da vida...







segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Capitalismo, competição e suicídio




Quem acompanha meu blog sabe que eu gosto de ler jornais e revistas velhas, outro dia (ano passado) estava fazendo uma faxina em minha biblioteca e encontrei um artigo que eu tinha copiado à mão da revista Exame. O artigo trata do suicídio cometido por um grande empresário que tinha tudo para ser feliz. Paro, por aqui e deixarei o(a) leitor(a) com o artigo e suas reflexões que espero que sejam as mesmas que as minhas.

                                Uma Pressão Mortal

"Na madrugada de 13 de março passado (1997) o executivo americano John E. Curtis, CEO da Lubys, amior rede de cafeteria dos Estados Unidos, se suicidou. Ele fora promovido ao cargo máximo da companhia havia apenas dois meses. No dia em que se suicidou, Curtis teria a primeira reunião, no cargo, de CEO, com o corpo de diretores da empresa. Em vez de ir para a reunião, entrou num motel de 32 dólares a diária e se esfaqueou repetidas vezes, no pulso esquerdo, abdômen e pescocço.
Curtis, 49 anos, era casado com a namorada dos tempos da universidade, tinha três filhos bem encaminhados e uma situação financeira tão confortável quanto 18 anos de carreira ascendente numa próspera empresa podem proporcionar. Religioso, assessorava as finanças da igreja, além de frequentá-la sempre na companhia da família.
Sim, seres humanos bem posicionados profissional e financeiramente também acabam com a própria vida. Convencionou-se, sabe-se lá quando que para cumprir o seu papel o executivo tem que ser um homem forte, além de corajoso, ousado, firme, seguro. Sem essas qualidades o sucesso, teoricamente, não pode ser alcançado. E sucesso é o tipo de coisa que todos nós buscamos, diz, em São Paulo, o psicanalista Luciano Colella. Qual é a característica principal da função do executivo? A competição, continua Colella. A sociedade favorece a imagem do sucesso em forma de competição. E cobra isso do executivo".

Nota: O texto não está na íntegra.
Fonte: REVISTA EXAME, 21 de maio de 1997, páginas 96-97.