sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

Notulas sobre o pensamento moderno

- Gostando ou não é o pensamento moderno é, ao menos em parte, filho da Teologia Escolástica ou uma secularização daquela Teologia. Como é igualmente filho da cultura bizantina, representada por Gemistos Phleton e demais emigrados. E filho em parte de um Renascimento literário autóctone. Claro que estas correntes nem sempre estiveram em sintonia.

- A meu ver o primeiro pensador moderno ou filósofo propriamente dito foi Pietro Pomponazzi, já por ter iniciado a crítica das fontes aristotélicas, buscando separar o elemento medieval do elemento original, já por ter examinado a questão da imortalidade da alma de um ponto de vista puramente natural e separado da fé religiosa. Situaria Telesio em segundo lugar pelo simples fato de Erasmo ter sido mais um literato e teólogo do que um filósofo propriamente dito. Ao tempo de Pomponazzi ou mesmo Telesio a reflexão Filosófica ainda não fizera sua aparição na França, que dizer então sobre a Inglaterra ou a Alemanha?

- Mesmo Maquiavel e Morus estão mais relacionados com a ciência política e a organização social do que com o exercício metafísico ou a abordagem propriamente Filosófica.

- Sobre Bacon se diz ter escrito sobre ciência sem ter feito ciência. Em geral os Filósofos da Ciência ou da Natureza não são cientistas, como os críticos não são literatos. Nem Descartes foge a esta regra. Isto coloca Da Vinci, Vesalius, Galileu, Harvey e Kepler a frente dele, mas não anula seus méritos ou os de Descartes. Dilthey, Kuhn e Medawar foram geniais, mas não se equiparam a um Darwin ou a um Einstein.

- Nem Spinoza nem Descartes foram Luteros ou mesmo Copérnicos da Filosofia, posto que não a demitiram até os alicerces ou buscaram reforma-la por completo. Descartes limitou -se a indicar os caminhos a serem seguidos pela Filosofia natural, proclamando em alto e bom som que eram distintos da Metafísica tradicional. Concedeu espaço a pesquisa científica moderna com seu método próprio, porém jamais repudiou formalmente a Metafísica. Spinoza e Descartes jamais negaram a importância da Metafísica ou disseram que não se deveria fazer Metafísica, o que aliás demonstra a genialidade de ambos.

- Montaigne, como Pirro após a fragmentação do Império de Alexandre e Agostinho após a queda do Império Romano, foi filho de sua época, época em que a França e o resto da Europa eram convulcionadas pela reforma protestante é as guerras religiosas. Daí seu desencanto face a razão e seu ceticismo, aliás incompleto ou fideista e tributário de Agostinho. Ceticismo e ideário dos tempos de crise, em que os homens deixam de confiar em si mesmos ou de acreditar em suas possibilidades. Daí sua ascensão em tempos de pós guerras e guerra fria, assim de colapso ecológico. O fim ou desagregação dos grandes impérios foi substituído pela reforma protestante e pelo capitalismo enquanto desafios a nossa racionalidade.

Pirro, Agostinho, Al Gasali e Montaigne eram ambos conservadores e quase certamente vim nos ideais éticos alimentados pela racionalidade ou pelo racionalismo socrático/platônico os elementos responsáveis pela fragmentação e conflitos sociais que tanto aborrecia-os. Eis porque conformavam se com a realidade dada, abdicando dos ideais, fossem quais fossem, em benefício da estabilidade politico/social. Preferiam o paradigma da Paz injusta ao da Justiça 'caótica'. Jean Bodin pensava exatamente assim...

- Leibnitz foi quem impulsionou remotamente o idealismo alemão pelo simples fato de especular desbragadamente, e fazer com que Kant enjoasse e vomitasse no século seguinte.

- Para muitos Locke remontaria a uma tradição empirista própria da Inglaterra, a qual remontaria aos tempos de Roger Bacon, Buridan, Bradwardin, etc Ele retomou a lição da 'tábua rasa' formulada por Aristóteles, não a inventou mas, contestou o inatismo dominante. NÃO nos esqueçamos que o inatismo de Chomsky é puramente estrutural e não formal. O empirismo se bem entendido diz respeito apenas as informações arquivadas na memória ou ao conteúdo, não as operações ou relações mentais.

- Hume aderiu com atraso a um pirronismo já assumido por La Mothe Vayer, Bayle e outros modernos (cf Luciene Febvre "A origem da incredulidade no décimo sétimo século") mas celebrizou se por atacar o paradigma da causalidade, já posto em dúvida por Arcesilas ou em todo caso pela terceira academia três séculos antes desta Era ( cf V Brochard 'Os céticos gregos'). Repetiu quase tudo quanto os céticos gregos haviam dito quiçá ignorando a réplica elaborada por Antioco de Ascalon. Foi em que disse desejar lançar ao fogo todas as obras obras Teológicas da Idade Media, por odio a Filosofia escolástica, acho isto bem pouco filosófico...

- Th Reid foi uma grande luz em meio as trevas modernas e contemporâneas.

- Os franceses do século XVIII criaram uma metafísica materialista mecanicista de fundo empirista que se antecipou ao positivismo. Essa construção, que muito influenciou o jovem Marx, é bastante discutível. Quiçá tentando demonstra-la La Mettrie morreu literalmente empanturrado ou de indigestão. De modo geral os iluministas, como Diderot, Voltaire, Rousseau, etc eram deistas e aborreciam o ateísmo. De Holbach, Helvetius e o citado La Mettrie no entanto parecem ter sido ateus declarados. Deste meio saiu Condorcet, o qual secularizando a escatologia Cristã concebeu um progresso infinito e um Paraíso terrestre viabilizados pelo conhecimento científico. Não podemos substimar este deslocamento enquanto ideologia.






quinta-feira, 27 de fevereiro de 2020

Notulas sobre o pensamento medieval

- Após as invasões germano/árabes, as simples escolas e instituições educativas clássicas desapareceram. Que dizer então de uma Filosofia agonizante? Doravante a reflexão Filosófica será posta a serviço da Teologia Católica ou Ortodoxa, enquanto tentativa de se compreender racionalmente os elementos da fé Cristã. Enquanto atividade autônoma, iniciada mil anos antes pelos gregos a Filosofia chega ao fim.

- Julgo jamais ter existido uma Filosofia escolástica. No entanto diversos problemas de ordem filosófica foram postos e examinados no contesto da Teologia escolástica, sem que a profundidade da reflexão ficasse comprometida.

- O primeiro teólogo Cristão a servir se largamente da Filosofia clássica foi S Clemente de Alexandria, a quem devemos a transcrição de cerca de trezentos fragmentos clássicos, doutro modo perdidos. Seu exemplo foi seguido por Orígenes, famoso escolarca alexandrino, por Eusébio de Cesárea e outros, até S João Damasceno, primeiro expositor a fazer uso de Aristóteles e guia, por assim dizer de Tomás de Aquino.

- Parte dos cristãos ocidentais ou latinos, mais afeitos a gramática ou a arte retórica bem como as instituições do direito romano, chegou a nutrir sérios preconceitos contra o manejo da Filosofia pelos crentes, do que temis exemplo no 'anti teológico' Tertuliano.

- A principio Agostinho assimilou o pensamento Oriental, chegando a compor uma obra contra os académicos, há muito comprometidos com o ceticismo. Posteriormente no entanto, toda sua concepção de mundo é sua teologia foram afetadas pela queda do Império Romano ou pela Invasão de Roma por Alarico. Desde então assumiu ele uma posição maniqueísta, deturpando o conceito de pecado ancestral, negando o livre arbítrio, afirmando a predestinação e construindo um sistema próprio chamado agostinianismo ou grafismo o qual serviu de base ao luteranismo e ao protestantismo de modo geral. Tal sistema é pessimista da antropologia a epistemologia, havendo alguma evidência disto ja nas Confissões. Com efeito está a Agostinho nas bases de - Al Achari, Al Gasali, Ockhan, Lutero, Montaigne, Jansenio, Pascal, dos 'tradicionalistas', de grande parte dos neo conservadores e de outros tantos irracionalistas.

- Devemos ao Cristianismo histórico, Católico, Ortodoxo, tradicional ou episcopal, em termos de literatura a conservação de parte significativa da produção clássica compilada pelos monges da Assíria a Irlanda. Em termos de Ética a retomada ou conservação do ideário humanista/reformista proposto por Sócrates e Platão, o que foi constatado tanto por um Nietzsche quanto por um Werner Jaeger. Em termos de gnoseologia realista um certo apego  velha tradição aristotélica bem como a metafísica grega tradicional. É o quanto nos liga ao mundo antigo, enquanto elemento de continuidade. Neste sentido a Igreja histórica ou antiga é como que um cordão umbilical que ainda nos liga a Cultura clássica.

- O falacioso conceito agostiniano de pecado original, com toda sua carga de pessimismo, remete nos a queda ou a morte do Homem grego romano enquanto ideal/padrão posto pela cultura, assim ao trauma ou impacto produzido por esta queda. A falência dos projetos Socrático e Aristotélica, ao cabo de quase mil anos, não podiam deixar de repercutir no ideário dos Cristãos iletrados do Ocidente produzindo um paradigma negativo.

- Não poderia nem pode o islã produzir qualquer contribuição ao pensamento Filosófico. No entanto, a princípio - Tal e qual os judeus a partir de Aristóbulo e Filon - Continuados no decorrer da Idade Média por Avicebrom e Maimonida - e os já citados padres Cristãos - não podiam os muçulmanos, instalados na orla do Mediterrâneo ou nos domínios do Império Persa, permanecer impermeáveis ao patrimônio cultural clássico. Ali instalados quase que de pronto foi o pensamento Filosófico introduzido por convertidos Cristãos (Ou mesmo por clérigos Assírios, Siríacos, Coptas e Bizantinos) ou Zoroastrianos resultando em duas vertentes rivais: A Mutakallim ou Alh al Kalãm e a Mutazila. A primeira, representada por Al Isfaraini 'Ostad' fazia uso da Filosofia com o objetivo de compreender ou justificar o sentido tradicional dos elementos da fé. A segunda, representada por Ibn Ubayd e pelo próprio Averróis (Ibn Rodh), adotou um posicionamento mais crítico, buscando soluções de compromisso bastante ousadas.

Ao cabo de três séculos foi a Mutazila condenada pelos líderes religiosos e teólogos ortodoxos do islã como uma contaminação ou poluição grega e classificada como heresia. Por fim no século XI, Al Achari e Gazali, usando de material grego fornecido pelo ceticismo ou pelo agostinianismo - E antecipando Ockhan, Lutero e Kant - atacaram já a percepção, já a razão em benefício da fé cega, assim dos livros e profetas. O que se seguiu após eles foi uma inquisição feroz... O remanescente dos Mutazilas refugiou-se em Al Andaluz junto aos últimos Umayas, onde em pouco tempo veio a extinguir-se cedendo espaço a estreita ortodoxia sunita. E como diz Reilly o pensamento racional e livre jamais tornou a renascer no seio do Islã, prova de que era de fato um elemento exógeno, em oposição a cultura árabe ou semita. Possivelmente Averróis foi o único Filósofo situado no contesto islâmico.

- A Teologia escolástica de modo geral não sufocou o exercício Filosófico, antes estimulou o mesmo quando o fazia convergir para outro fim e o subordinada à outra área do saber. Penso na Escolástica como um período de gestação ou ventre, em que foi gestada a Filofosia moderna, novamente senhora de si.  O próprio Descartes não foi capaz de romper por completo com esta tradição, embora como Filósofo da Natureza ou epistemologo científico buscasse já por um.novo critério ou padrão.

Nótulas sobre a Filosofia antiga ou clássica.

 - Diversos autores teem classificado os jônicos (Pré socráticos), até Anaxágoras, como monistas materialistas, pelo simples fato de terem buscado saber qual fosse o elemento primordial (Arkhé). Talvez fossem dualistas e para eles a existência de um elemento diretor Imaterial/intelectual não passasse duma obviedade.

- Uma coisa é certa. Pitágoras foi o primeiro a enfocar um elemento estrutural abstrato. Quiçá sua teoria não tenha sido bem compreendida a seu tempo. Seja como for ele parece ter antecipado Descartes, Newton e Einstein no sentido de afirmar que nosso universo possui uma estrutura matematicamente inteligível.

- Podem chorar os pós modernistas e todo rebanho de céticos, relativistas e subjetivistas, o princípio de 'Não contradição' expresso por Parmênides de Elea continua sendo para a Filosofia o que a alavanca era para a Física de Arquimedes. Por isso Aristóteles declarou que os maiores vultos do pensamento anterior a Sócrates haviam sido Parmênides e Anaxágoras, concordo.

- Anaxágoras não excluiu nem poderia ter excluído o elemento material, alias eterno. Realista por definição considerou que aquele elemento era inerte ou passivo por carecer de inteligência e por isso enfatizou a ação do elemento intelectual/Imaterial ou Espiritual sobre o elemento material ou caótico, o qual ciclicamente reorganizava, conforme já havia sido descrito pelo não menos genial Anaximandro. Quiçá o Apeiron e o Nous sejam termos similares.

- Heráclito foi quem forneceu base a Protágoras de Abdera, o qual repudiava a apreensão da verdade por parte do intelecto por julgar que o fluxo da natureza fosse demasiado fugaz. Quando o homem cuidava ter apreendido determinada impressão, já esta se havia convertido em qualquer outra coisa.

- Demócrito não foi pré socrático mas contemporâneo tanto se Sócrates quanto de Platão. Provavelmente foi ele o primeiro materialista, bem como o primeiro a analisar a moralidade humana, antecipando o trabalho de Sócrates.

- Sócrates foi um dos primeiros, senão o único (Mas recordo Carneádes e Epicteto), filósofo de origem humilde. Até seus dias era a Filosofia exercício das elites, executado entre as paredes de alguma Escola e sob a direção de escolarcas bem remunerados. Havia assim uma espécie de monopólio ou segredo. Sócrates foi quem pela primeira vez levou a Filosofia a praça ou as ruas de Atenas, colocando-a no acesso do grande público ou de todos. Sua atitude crítica face aos tabus e preconceitos vigentes foi encarada como perigosa pelos proprietários, sacerdotes, militares e pelos conservadores de modo geral. Anito, Melito, Licon e Diopeites moveram-lhe processo e fizeram-lhe entornar a cicuta sob a acusação de ter corrompido a juventude, pelo simples fato que que a fizeram pensar... Tudo muito atual.

- Platão tentou superar a tensão - Universal/particular ou Repouso/movimento, tradicionalmente posta pelo pensamento grego e disto resultou sua Teoria das formas representada pelo 'Mito da caverna'. É citado como idealista no sentido de imaterialista ou espiritualista, todavia ao que parece o seu 'mundo das ideias' não era isento de materialidade física.

- Como Newton, Aristóteles teve seus pés postos sobre os ombros largos de um Aristócles (Platão) e por isso elaborou uma teoria das formas bem mais realista e consistente além de ter especulado sobre todas as áreas da Filosofia e mesmo do que viria a ser chamado 'Ciência'.

- Pirro, o primeiro cético, tomou sua doutrina ou melhor postura, ao Budismo quando com Alexandre, o grande, vagava pelos confins da Índia. A epokhé ou anulação da vontade, conduz ao Nirvana que é a Ataraxia ou Apatheia. A princípio - Apud V Brochard - tentou Pirro dar aplicação prática a sua doutrina, disto resultando diversos acidentes. Diante disto converteu-se ela em simples negação de qualquer ideal metafísico e os céticos em conservadores por definição. O ceticismo com efeito afirmou-se no mesmo exato momento em que o ideal político dos antigos gregos entrou em colapso após a morte de Alexandre, durante as guerras empreendidas pelos diádocos e epígonos.

- Quiçá epicurismo e estoicismo, se bem compreendidos e despidos dos possíveis extremismos não sejam inconciliáveis pelo simples fato do sofrimento físico ou corporal ser quase sempre compensado por um outro tipo de prazer, interior ou da consciência, sempre que cumprimos com nossos deveres e exercitamos a virtude. A virtude é quase sempre deleitosa ao ser racional, mesmo quando o corpo físico seja esmagado pela dor.

- Nos últimos séculos antes desta Era o aristotelismo havia dado origem a doxografia e aos estudos gramático literários em Alexandria e Pérgamo, bem como a pesquisa científica a partir de Teofrasto de Éreso e Straton de Salônica ou Dikaiarkos de Messina. Foi trágico que por volta do século I a C esta corrente se esgotasse e cedesse passo, primeiramente ao platonismo. O platonismo a seu tempo de releitura a releitura chegou ao neo platonismo e através deste a simples teurgia i é a magia. Isto no exato instante em que outros tantos cultos de mistério, como o mitracismo, o orfismo, o serapismo, etc invadiam o mundo greco romano. Toda uma cultura de massas, de comboio na miséria e instabilidade social, precipitou as multidões nos abismos do misticismo... Nem mesmo os pensadores ficaram indiferentes a este movimento de convergência, disto resultando um continuo e sucessivo declínio em termos de pensamento filosófico. Sendo inútil evocar causas externas ou lançar a culpa no dorso do Cristianismo emergente. Tudo estava decidido e decidiu-se ao cabo do conflito platonismo/aristotelismo e a derrota deste último enquanto padrão de pensamento realista favorável já a ciência já a um raciocínio vigoroso. Vencido o aristotelismo/realismo ficou selado o destino da Filosofia clássica já porque não podia o platonismo deixar de receber outros significados e enquanto neo platonismo de resistir a tempestade mística em formação.

- Resta declarar que nos primeiros séculos desta Era o predomínio do neo platonismo em todas as Escolas nos obriga a dar o exercício filosófico como agonizante e esta magistral criação do espírito humano as portas da morte. Pois em lugar de Parmenides, Anaxágoras, Anaximandro, Pitágoras, Aristóteles ou Dikaiarkos o que temos é a triste figura de um Jâmblico praticando puro e simples wiccanismo e dedicando-se a pressagiar o futuro...

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

Contraponto ao cientificismo, incongruências...

Esta o cientificismo para a ciência como uma Hipertrofia.

Nada mais é ele do que a última barreira posto por alguns entre o conhecimento e o ceticismo crasso.

Afinal após se ter voltado contra a fé religiosa e julgado te-la esmagado voltou-se essa construção metafísica contra a Filosofia, julgando poder por limites a razão e estabelecer o paradigma do empirismo crasso ou da experiencialidade pura. O que de fato foi insinuado por Kant e canonizado por Comte e seus adeptos os positivistas. As objeções já de início foram insidiosas, já porque a epistemologia ou a gnoseologia não são parques de diversões ou tendas circenses... Monstruosa a simples suposição de uma experiencialidade pura a parte da dedução racional que sempre a acompanha. Mas por que raios a razão deve servir apenas de dama de companhia?

Os céticos optaram preferencialmente por nega-la. Creio ter sido mais digno e respeitoso. A fé já converterá, insolentemente, a razão em serva. Eis que agora é ela, a fé, imitada pelo novo credo cientificista...

E no entanto é este homem, o homem moderno ou o homem de ciências moderno, mera abstração. Antes foi filósofo natural, e como bem diz Koestler, tal diz muita coisa. Não se faz teoria cosmológica sem aparato racional... Pois queiram ou não é exercício metafísico. Teorias gerais tem sido proclamadas como construções metafísicas por Popper inclusive. O qual, bem ao modo de Hume, lançou-as todas as urtigas, inclusive o evolucionismo biológico, assim o freudismo e o marxismo em sua totalidade... nivelando-as a astrologia. E esse Popper querido não media, não pesava, e tampouco contava - Era epistemólogo... Tão querido dos empiristas crassos. Todas estas relações não deixam de ser divertidas.

Isto porque, para escapar ao ceticismo e impor-se como conhecimento válido e verdadeiro, deve a ciência descer a arena da gnoseologia ou a epistemologia. As quais não são ciências, nem produto da experiência ou do empirismo, mas exercício especulativo executado pela razão pura. E não se surpreenda que Kant ao analisar o conhecimento ou o saber e aquilatar sua validade a partir de sua razão purinha foi ele mesmo um metafísico, não um cientista. Alias se alguém professa o materialismo ou o empirismo não pode evitar ser classificado como metafísico. De fato meus amiguinhos não é a crítica da ciência feita pela própria ciência em termos empíricos (Isso não existe!) mas pela Filosofia, segundo o método abstrato da dedução lógica!!! Filosofia da ciência é mera especulação ou metafísica, e não indução... Dispensa-se o laboratório para elabora-la. É coisa de gabinete. Que bem poderia ser feita na ágora de Atenas.

Mas os cientificistas parecem não saber nada disto...

Não é que parecem não saber. Não sabem mesmo, posto que não estudam ou conhecem Filosofia! Proclamando-a ociosa ou inútil. De fato não estão aptos a discutir sobre epistemologia ou gnoseologia, e por isso escrevem tantas e tão monstruosas aberrações. Diante disto podemos dizer que continua faltando Filosofia... O trágico enfim converte-se em comédia quanto a isto tudo adicionam uns temperos de ceticismo. Chegando aqui temos acabada a obra do Dr Franknstein...

A bíblia ou o biblismo como obstáculo histórico a construção do conhecimento científico.

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Absolutamente comum ouvir alguém declarar que aqueles que admitem qualquer tipo de principio superior ao mundo material não são aptos para cultivar um espírito científico ou fazer ciência.

Os positivistas ou cientificistas amargurados adoram emitir semelhantes tipos de juízo, em que pese um Planck, um Albert Einstein ou um Fermi... Os quais fizeram verdadeira ciência sem necessidade de metafísica materialista ou o que é pior, ateística.

Outra coisa, bem distinta, é dizer que muito dificilmente se poderia conciliar o espírito fetichista presente nas páginas do Antigo Testamento, bem como seu aparato mitológico, com a prática da ciência. Aqui a afirmação parece ser mais consistente e merecer uma análise detalhada. O verdadeiro adversário da ciência não é uma Energia cósmica ou um Ente de razão mas um livro ou a leitura de um livro - A bíblia, o antigo testamento, o biblismo, o fundamentalismo, um tipo de leitura da bíblia...

Absolutamente inútil os sectários protestantes ou bíblicos apresentarem, como alias folgam apresentar, estampas ou figurinhas com os semblantes de Galileu, Kepler, Descartes, Newton, Faraday, Maxwell e outros grandes cientistas do passado, com o objetivo de demonstrar que é perfeitamente possível ser protestante, bíblico, fanático e, cientista. Isto pelo simples fato de que todos estes honoráveis senhores - Honestamente religiosos! - floresceram antes de Ch Darwin, não depois dele ou de Einstein... Marque isto - A lista de cientistas religiosos, em tese partidários da bíblia, como da astrologia, não vai além da segunda metade do século XX.

De minha parte não vejo problema algum em tais homens terem endossado a narrativa bíblica ou a criação mágica das espécies em separado, pelo simples fato de terem vivido do antes do século XIX e da afirmação cabal de um padrão naturalista. Aqui foram homens de seu tempo, uma vez que o homem moderno abstrato jamais existiu. Linné pode ser genial, e biólogo, e etc porque viveu antes deste divisor de águas que é o paradigma da evolução biológica, o qual continua sendo paradigma, mesmo que Darwin não seja infalível ou tenha cometido imprecisões. O que não anula o conjunto de seu trabalho, imperecível. No entanto vivesse após Darwin, Linné, mas do que ninguém, em vista de seu conhecimento, teria aderido ao evolucionismo. Não aderiu a ele Agassiz, pelo simples fato de viver nos E U A, e isto já diz tudo!

Após Darwin e Einstein quantos cientistas podem eles, os bíblicos, apontar, que tenham apoiado a bíblia, criacionismo ou a inspiração plenária, com todo seu aparato mitológico? Pode ser que um ou dois, dentre centenas ou milhares de cientistas, se afirmem como protestantes como filhos da cultura ou amantes do Evangelho. O que não significa muita coisa... Uma vez que bem podem ter sido liberais face a doutrina da inspiração plenária ou da judaização, e assim naturalistas quanto ao mundo natural e evolucionistas, a exemplo dos que adicionam a direção divina ao processo. Certamente tais homens criam em Deus, e em Cristo, e no Batismo, e na Eucaristia, etc... Criam no entanto na letra do Gênesis ou na mitologia judaica? Era fetichistas??? Aqui fica a pergunta e eu pago para ver. Não não creio que alguns possíveis cientistas protestantes sejam geo centristas, terraplanistas ou criacionistas...

Em termos de século XX ou XXI o protestantismo ortodoxo, bíblico ou criacionista é absolutamente estéril e incompatível com qualquer forma de conhecimento científico relevante. E temos aqui um conflito se resolução - Posto que a ciência é já naturalista e uniformitária enquanto que o Gênesis, fruto de seu tempo, é mitológico ou fetichista, supondo sucessivas intervenções da parte do Sagrado. Os bíblicos cá venham e citem os nomes dos grandes cientistas criacionistas ou bíblicos posteriores a Darwin ou a Einstein e compendiem suas descobertas! Os pensadores, sejam ou não cientistas bem podem colocar o Numinoso antes do início do processo, como elemento desencadeador ou como mantenedor de todo processo, não como interventor... Intervenções no decorrer do processo é justamente o que a ciência descarta.

Não nos iludamos, o cerne ou âmago do problema é o padrão mágico fetichista cristalizado no Criacionismo... Não diz respeito se Deus existe ou não mas a respeito de como atuou ele, se sicut experiência ou ciência, fixando e gerenciando uma Lei natural ou sicut 'escritura' ou seja interferindo caprichosamente e seguindo uma ordem totalmente absurda.

O protestantismo bíblico ou Ortodoxo chafurda justamente no pântano do Criacionismo, adotando este padrão mágico fetichista. Em termos de ciência esta solução pode até ter sido possível até Darwin. Não após Darwin, Wallace, De Vries, Weismann, Dobzhansky, Mayr, etc

A questão não é Deus, uma direção inteligente, um sentido, uma fé esclarecida, religiosidade, espiritualidade... Wallace jamais questionou tudo isto, enquanto Dobzhansky era religioso ou crente. Nem criacionistas, nem fetichistas um e outro. Para eles a ação divina era descrita não pelo gênesis em seus termos ultrapassados e toscos mas pela pesquisa cientifica i é pela experiencialidade e o raciocínio, padrões certamente fixados por Deus. E nem é preciso ser um Aquino para concluir que este padrão não pode ser desmentido por qualquer ele, e que a fé e a revelação com ele devem concordar. Supor discordância natural entre o conhecimento natural e a Revelação é monstruoso. Se há clamor em torno da contradição é justamente porque a cristandade, desviada pelo antigo testamento ou pelo judaismo, invadiu a esfera da imanência ou do mundo natural. Todo este mal entendido procede do antigo testamento e do conceito equivocado de inspiração plenária, não do Evangelho ou da Revelação autenticamente Cristã, absolutamente alheia ao mundo natural.

Nada disto, e nada disto esta em jogo. Digo a existência de Deus ou de um Ser ou de uma Consciência supra terrena.

Para o protestante a questão continua a girar apenas em torno de seu deus ou ídolo retangular, a bíblia... Com a mesma bíblia que combateu o Catolicismo ou a tradição Cristã e a Igreja antiga, o protestantismo hoje faz guerra a ciência e condena-a aos infernos.
Específico melhor - Toda questão gira em torno do antigo testamento ou do dogma, essencialmente protestante, da inspiração plenária...

Convém repetir a exaustão: O Evangelho não predica sobre a imanência... Os protestantes no entanto pensam sua bíblia como um Corão, e creem-na enciclopedicamente infalível. Daí suas pretensões totalitárias, que conflitam com a ciência, com todos os seus ramos... Após terem 'reformado' o cristianismo antigo ou o papismo ora aspiram reformar tudo - Biologia, História, Sociologia, Psicologia... O furor bíblico não tem limites e por isso, como o Islã ameaça a civilização. Temos dois perigos semelhantes (Vide o que Guilherme Postel escreveu a quase meio milênio sobre protestantismo e islamismo!) - Um no Ocidente ou nos EUA, o sectarismo bíblico; e outro no Oriente, o islamismo sunita, e é um espírito bastante semelhante, já por livresco já por fetichista.

Daí a total incompatibilidade dessa fé obscura e tosca com o pensamento científico. Newton, homem do seu tempo, como Galileu e Copérnico, ainda pode talvez dar crédito ao Gênesis. Após o estudo comparado dos fósseis, a embriologia, a cladística, a geologia, etc é impossível levar a cosmologia judaica a sério; e essa Era passou, definitivamente, sem que se possa alegar Newton - Homem genial, mas pertencente a seu tempo, o século XVIII - Ocasião em que Buffon havia já descartado o fetichismo bíblico...

Lamarck, St Hilaire e outros já não podiam levar tais coisas a sério numa Europa civilizada. Agassiz foi o último cientista sério a tentar emenda-la ou remenda-la... apelando a exegese alegórica, e admitindo as tais intervenções caprichosas e sucessivas ou os sucessivos 'milagres', com que ainda ousava repudiar o uniformitarismo. O intervencionismo tosco morre com Agassiz e com ele é enterrado. Impondo-se o uniformitarismo em Biologia, como já havia se imposto na Geologia, com Hutton e Lyell. Os protestantes no entanto querem que Deus tenha multiplicado ações miraculosas ou interferências, apenas porque o Gênesis o quer... Eles querem que deus tenha agido de determinada forma porque agrada a sua fé... Repudiam o naturalismo e o uniformitarismo apenas porque é supinamente ignorado por seu livro. E o padrão deles é a ignorância ou o desconhecimento por parte de um livro ultrapassado. Outra coisa a Tanak, com toda sua mitologia não é...

Não é por mero acaso que o maior pais protestante do mundo é hoje o centro mundial da superstição criacionista, patrocinada entusiasticamente por seitas como a jeovista e a adventista, bem como por parte considerável dos calvinistas e pelas hostes do pentecostalismo. O armazém das trevas ali esta: Num dos países mais ricos e desenvolvidos do Planeta, e isto só serve para patentear o espírito tenebroso do biblismo e sua periculosidade. Parte dos N Americanos continua a pensar que a ciência deve estar errada não porque hajam evidências contundentes neste sentido (Não hà!) mas apenas porque esta na bíblia ou a bíblia o diz... Basta o pastor gritar que esta escrito para Marx, Darwin, Freud, Einstein, Hutton, Newton, Kepler, Galileu e Copérnico serem descartados com uma fornada só!

O que você leitor deve compreender bem é a virulência deste princípio.

E o quanto tem colaborado para travar a ciência durante o último meio milênio ou seja desde que tem sido santificado pelo protestantismo.

Pois não houve ramo do conhecimento humano que o biblismo não tenha prejudicado, imensamente mais do que o papismo ou qualquer outra fé, a exceção talvez do islamismo sunita após a fixação da Ortodoxia pelos imames Achari e Gazalli no século XI desta Era.

Tenha em mira por exemplo a geografia de Ptolomeu, promovida pelos sectários religiosos e fanáticos até o século XIX pelo simples fato de ser, em parte, compatível com o mito bíblico. A terra tinha de ser o centro do universo ou de ser quadrada! Por força da bíblia... Observe os mapas dos séculos XVI e XVII com a obscura nomenclatura bíblica povoando as Américas!!! Quanto tempo precioso perdido e quanta energia dispendida com o objetivo de conciliar a existência de indianos, japoneses e chineses, os quais para o antigo testamento inexistem... A tanak ou os judeus ignoravam a existência de chineses, japoneses e indianos, logo, eles não podiam existir!!!  E para explicar a existência da América e dos ameríndios, os quais também são supinamente ignorados pela magnífica Tanak... Quanta hipótese ociosa ou treva. De que resultou por fim o mormonismo, com o dito livro de mórmon e as peregrinações de Jesus entre os maias e aztecas. Como tudo isso é aberrante... Não podem existir pólo Sul ou mesmo pólo Norte porque a bíblia nada sabe sobre eles, e tampouco a Austrália...

Caso passemos a Geologia o espetáculo continua - Os fósseis devem concordar com o dilúvio, e só se investiga as rochas, por séculos a fio, com o objetivo de encontrar sinais seus, os quais jamais foram encontrados, devido a impossibilidade geológica de um dilúvio universal, capaz de cobrir o Everest. Mas a bíblia... A bíblia postula a horrenda catástrofe com que jave afogar quis seus obras tão mal feitas... além de postular sucessivas catastrofezinhas com que punir a tribo dos hapiru, logo a Geologia não pode ser uniforme. E quando aparece Hutton, em pleno século XVIII, para dizer o óbvio - Que não há desconformidades ou sinais de qualquer evento bíblico no processo, sucede o grito de: Heresia...

Após ter empatado a Geografia e a Geologia a treva bíblia não empata menos a astronomia. Afinal as estrelas haviam sido postas no 'firmamento' com o objetivo de 'iluminar a terra'... Imagine só o descalabro que é o Sol aparecendo depois da terra ou da cúpula superior (Equivalente a metade de nosso planeta) contendo todo universo i é multilhões de galáxias e estrelas...

Pense agora na História e em todas as cronologias equivocadas atribuídas aos Sumérios, Egipcios e mesmo aos gregos, inda que diante de tantas inscrições, monumentos ou testemunhos arqueológicos. Qual a razão deste cipoal tenebroso? Querer fazer concordar todas estas cronologias com a narrativa vétero testamentária ou com os escritos dos hebreus... Tudo quanto se queria em termos de egiptologia era encontrar algum testemunho a respeito da presença dos antigos hebreus naquele pais exuberante. Não se ligava maior importância ao Egito monumental exceto pela possível presença das tribos dos hapirus a sombra das pirâmides... Quanta miséria e quanto transtorno. Passe agora a Babilônia descrita por Heródoto! A cujas ruínas acorriam os escavadores e arqueólogos, movidos pela fúria de lá encontrar sinais dos antigos judeus... Oh miséria. Hebreus era tudo quanto os fanáticos procuravam de Tebas a Nínive... E tinham olhos apenas para eles.

Ai você pensa Palestina e as ricas culturas do Bronze I ou do Bronze II. Enquanto os arqueólogos concentram-se apenas em Davi e Salomão ou em demonstrar que a biblia tinha razão. Mesmo um arqueólogo insuspeito como W F Albright foi obrigado a reconhecer que este tipo de abordagem não podia deixar de produzir ao menos alguns transtornos...





Jung, Freud e freudismo.

Todo e qualquer leitor deste Blog ou de qualquer outro Blog de nossa propriedade, sabe muito bem o quanto admiramos e acatamos o vulto de Freud.

Juntamente com Atrino e Ellis foi ele um dos primeiros pesquisadores a estudar a sexualidade humana sem apriorismos ou preconceitos tolos tomados a moralidade judaica ou farisaica. O quanto basta para imortaliza-los.

Afinal era mister tratar naturalmente a dimensão sexual do ser humano, conferindo-lhe um status científico.

Ao cabo do décimo nono século não dava mais para marginalizar ou satanizar o corpo ou a sexualidade, conforme a tradição maniqueísta que nos fora legada pelos antigos semitas e, desastrosamente assumida pela 'igreja' Cristã.

Jesus jamais discursara sobre sexualidade ou fixara-se em tal tema. Não o abordou nem valorizou, ocioso que era a comunicação divina.

A Cristandade nominal todavia, tomando caminho distinto do traçado pelo mestre, fixou-se doentiamente no tema... canonizando toda uma série de tabus absurdos, e convertendo-se em fonte de neuroses sem fim...

Freud foi um dos heróis que, afrontando a opinião pública maniqueísta - consagrada pela Era Vitoriana! - forçou a ruptura das barreiras, rumo a uma sexualidade normal e encarada como parte efetiva da vida humana.

Foi o quanto bastou para alista-lo merecidamente com Darwin, Marx e Einstein.

Há no entanto quem, como Newton e, De Vries, Mayr, Kautsky, Herr, Jaurés, Blum, Bernstein, Keynes, etc tenham avançado ainda mais, por terem seus pés postos sobre os ombros dos gigantes...

Como Newton só pode avançar a partir de Copérnico, Galileu e Kepler, de Vries, Mayr e Dobzhansky avançaram a partir de Darwin; Kautsky, Bernstein, Herr e outros a partir de Marx... Einstein a partir de Maxwell, Morley, etc C G Jung, Horney, Blowlby, Winnicott, Frankl, a partir de Freud. 

Natural que o gigante tenha sido ultrapassado. Todos os demais gigantes o foram, ampliando e aprofundando cada nova descoberta ou teoria.

Mead e Malinowski demonstraram, abrindo o caminho para Horney, que as constatações assumidas pro Freud tinham um carácter cultural relativo ao tempo e ao espaço ou a sociedade europeia do tempo sua organização, princípios e valores. Não se tratava portanto de algo abstrato (com relação ao tempo e ao espaço), metafísico.. Mas de uma relação da psique humana a um determinado contesto sócio cultural... O complexo de Édipo era uma construção da sociedade monogâmica e patriarcal... Inexistente em culturas matriarcais ou poligâmicas, como as das Ilhas Tobriand ou de certas paragens da África... Assim as diversas neuroses analisadas pelo psicólogo austríaco só podiam ter sua gênese num tipo de sociedade maniqueísta e repressora, e não teriam qualquer razão de ser no antigo Egito, na Antiga Suméria ou na Antiga Grécia... Os problemas analisados e elencados por Freud eram circunstancias e não universais...

Outro o questão da líbido, definida por Freud como uma energia sexual, embora suscetível de transformação/sublimação. Trata-se aqui de uma força ou energia sexual, voltada para outros setores da vida...  A matriz de toda energia ou ação humanas era de origem sexual. Assim pensava Freud e isto de modo algum me choca.

Julgo todavia que a análise de C G Jung seja mais significativa ou consistente.

Jung foi caracterizado como um puritano ou moralista apenas por ter contestado a afirmação peremptória e dogmática de seu mestre, quando a natureza sexual da líbido. Formulou Jung uma outra hipótese, conceituando a líbido como uma energia neutra ou informe, a qual vai assumindo sucessivas formas determinadas pelo sujeito.

Claro que tais formas só poderiam ser dadas ou determinadas por uma vontade consciente ou pela intencionalidade.

Como os bebês ou recém nascidos não possuem racionalidade, inteligência ou vontade livre é perfeitamente compreensível que esta energia informe ou amorfa assuma uma forma sensorial prazerosa. Basta com o saber que o princípio da vida humana seja sensorial e não racional ou volitivo para compreender que a energia psíquica, em seus primórdios, identifique-se com o princípio do prazer. É questão de limites, impostos pela natureza ou pena condição...

Importa saber que esta energia é maleável ou sujeita, em determinado momento posterior, a ação consciente ou determinação do sujeito... E é esta maleabilidade que possibilita o movimento que Freud classifica como sublimação. Nem haveria sublimação ou mudança de sentido caso a libido fosse essencialmente sexual. Pois sendo essencialmente sexual como poderia receber outra forma. Se pode receber diversas e distintas formas é evidente que é amorfa ou informe por definição.

Eis porque damos razão a Jung.

Ademais freudismo é uma coisa e psicanalise outra. No freudismo há uma precipitação metafísica, alias mal elaborada, como acabamos de apontar. A psicanálise é um método a mais, que nos permite conhecer e analisar e mente humana. Podemos e devemos encarar o freudismo com cautela. Descartar a psicanalise é pura e simples burrice. 

terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

Educação, PSDB e neo liberalismo - Manipulação de conceitos, demolição do ensino, fabricação de massas e privatização.

Importante compreendermos a manipulação de conceitos pedagógicos como arma empunhada pelos neo liberais contra a Educação. Na medida em que os conceitos fluem e recebem novos significados deve o profissional da Educação ficar atento, de modo a não ser desviado de suas funções pelo próprio poder público. A todo momento palavras e expressões consagradas vão recebendo outros sentidos e, quando damos conta disto estamos acorrentados.

Hoje não vejo como mera coincidência que durante a ascensão deste modelo neo liberal de educação implementado pelo PSDB uma das propostas lançadas pelos escribas tenha sido a Interdisciplinaridade. Exaustivamente discutida desde mil novecentos e noventa e pouco i é da 'idade' Covas... Endossado pelas equipes gestoras desde a última década do passado século e poucas vezes definida com exatidão e clareza não poucas vezes este paradigma foi ensinado ou compreendido no sentido de que cada professor é professor de tudo ou de todas as matérias, o que é um notório falseamento.Tal não é o conceito de interdisciplinaridade, a qual não elimina a especificidade das disciplinas ou do educador, propondo algo bem diferente, como a atuação coordenada, explorando o mesmo tema ou objeto sob diferentes aspectos. Assim o futebol pode ser objeto de uma análise literária como de uma análise sociológica, duma abordagem histórica, de uma abordagem geográfica, de problemas matemáticos, etc Um tema torna-se eixo para todas as disciplinas, para que cada professor trabalhe sua disciplina.

Em que pese a interdisciplinariedade não 'Há professor de tudo' ou de todas as matérias. E quem é professor de tudo a bem da verdade não é professor de coisa alguma. Legalmente o ensino brasileiro é segmentado em disciplinas ou matérias, cada qual com seus titulares.

O discurso nas bases todavia, chegou a insistir que todos os professores são professores de português uma vez que a lingua pátria é conteúdo universal. Concedo que todos os professores devam saber e ensinar o português dentro de sua área. Assim num problema de matemática haja correção vernacular. Assim num texto de História ou Geografia. Agora que todos os professores sejam professores de português, eis uma grossa mentira ou maligna falácia. Corrigir possíveis erros podem, avaliar o conjunto desta disciplina não. Pois não foram formados e constituídos para tanto... Mas o português, como os idiomas de modo geral, é um código de linguagem... A Matemática também o é e nem por isso somos todos nós professores de Matemática! A bem da verdade, graças aos clamores e a resistência dos educadores face a esse discurso irresponsável, ao menos durante um momento, correu a afirmação de que eramos todos, igualmente, professores de Matemática... Cheguei a ouvir isto. Felizmente, quando a problemática atingiu esta dimensão os professores de Filosofia, História, Geografia e Artes disseram um terminante Não... E o Estado capitulou e as equipes gestoras não insistiram mais nessa aberração. Haviam tentando inclusive impor atividades 'comuns' a todos os educandos, mas encontraram uma resistência titânica...

Sobrou para os assim chamados professores eventuais ou substitutos. Jovens matriculados em qualquer licenciatura, no início da carreira, em situação de penúria e precisando de dinheiro para pagar a Faculdade. Pessoas do tipo que se submeteriam a qualquer coisa, inclusive ao eito ou a escravidão. E aqui reclamar ou resistir seria perder o emprego. No Estado de S Paulo ou em suas Escolas o tal eventual converteu-se em professor de tudo, tendo de entrar em qualquer aula i é de qualquer disciplina.

Para tanto foi preciso apenas manipular mais um dos conceitos em voga - Os conteúdos transversais. Os conteúdos transversais eram formados por determinados temas de Ética que poderiam ser trabalhados por qualquer professor dentro de sua disciplina. E jamais se pensou seriamente - nos domínios da Pedagogia - num professor de conteúdos transversais. Na escola paulista foi justamente o que aconteceu com o tal do eventual: Como não podia, sem frustrar a Lei, lecionar matéria em que não fosse formado ou lecionar sempre a sua sem burlar o currículo, transformou-se em professor de conteúdos transversais. E muitos tentaram atuar assim. O resultado fica sendo simples - Mesmo quando bem sucedido o mestre, o educando aprende apenas Ética, e nada mais... ficando mutilado o currículo i é a formação. Por outro lado nem todos os educadores dispunham de tempo para se especializarem nos tais conteúdos transversais, de modo que não puderam generalizar este tipo de abordagem. Diante disto violaram sutilmente o princípio do currículo ou da formação integral - E todo ex eventual já teve de ouvir esta pérola: Caso entre nas aulas de outros professores você não precisa ministrar as aulas deles, pode muito bem ministrar a sua matéria.

Agora imaginem a zona! O Aluno tinha suas aulas de matemática e o professor faltou. Em lugar do professor que faltou entrou o professor de Geografia, para ensinar Geografia é claro. Acontece que naquele mesmo dia tinha aula dupla de Geografia... Resultado - O aluno fica tendo quatro aulas de Geografia ou de Ciências, ou de Português no mesmo dia... E a situação se repete com outro eventual na semana seguinte... Diante destas repetições absurdas como fica o currículo ou a cabecinha do nosso aluno??? O aluno bagunça porque sabe que esta sendo enrolado ou ludibriado, não pelo professor substituto, mas pelo sistema! E não leva a sério semelhante atitude.

Diante disto aquele pobre educador proletarizado ou escravizado converte-se em professor de enfeite, em tapa buraco ou babá, e aquelas aulas, de substituição uma farsa ou um encenação. É exatamente isto que acontece em 99% dos casos. Agora imaginem a cabeça deste profissional??? Que sendo professor de tudo sabe-se professor de nada ou coisa nenhuma... Não, não estou inventando nada e tampouco dramatizando, perguntem a seus filhos se os professores eventuais conseguem ensinar alguma coisa??? Eles bem tentam, mas... Quem haveria de aturar quatro aulas de Biologia ou Ciências quando se faz jus ao conteúdo de Inglês ou Português??? Não culpo o eventual pela falta de entusiasmo ou os alunos por falta de interesse mas o sistema de porco por essa aberração!!!

O estado no entanto parece não ter chegado ainda ao fim do poço... Pelo simples fato de que todo e qualquer professor concursado ou efetivo recebe suas classes, tornando-se professor de fato. No sistema estadual apenas os egressos ou iniciantes inscritos ou não concursados passam por essa rude prova que é ser eventual.

Outro o caso em certas Prefeituras do PSDB onde o sistema podre e anti educativo do Estado conseguiu ser levado adiante e piorado, pelo simples fato de que os professores concursados que desejam efetivar não recebem de imediato suas classes e salas, tendo em vista o desenvolvimento de um trabalho sério e descente, sendo obrigados a trabalhar como substitutos, eventuais ou tapa buracos, inclusive com uma jornada fixa diária, o que compromete a habitual liberdade de compor horário. Afinal quando recebemos aulas ou carga própria podemos dispo-la, com um pouco de sorte em três ou quatro dias, ficando com um dia livre para estudar ou resolver determinados problemas. O novo sistema todavia obriga os iniciantes a permanecer cinco dias por semana a disposição da Escola, para substituir professores faltosos...

Repete-se em tais Prefeituras a mesma situação aberrante acima descrita com relação ao Estado. Com a adoção do professor de tudo, que não é professor de coisa alguma mas um tapa buraco.

Grosso modo as Prefeituras alegam muito seriamente que cada Escola tem ou 'deveria' ter um substituto de cada matéria ou para cada matéria... ficando ele adstrito a suas correlatas - Assim: Ciências e Matemática, Português e Inglês, História e Geografia, Artes e Educação Física... Assim disposto, discursivamente, não vejo maiores problemas. Isto no entanto é uma eterna burla, pois as coisas não acontecem assim nas Unidades escolares, pelo simples fato dos gestores entenderem ou interpretarem de modo bastante diverso - A luz da interdisciplinaridade... Supomos que o eventual daquela área tenha faltado ou tenha pego aulas... A maravilhosa equipe coloca um professor de outra área em seu lugar. Habitualmente, quando inicia-se um período ou as aulas, os inspetores (O lado mais fraco da corda) enfiam qualquer professor na sala para substituir qualquer professor. Pois para eles substituto é tudo igual... Do contrário terão eles de entrar, ou mesmo alguém da equipe gestora. Por isso lançam ali o primeiro que aparecer... Já foi ouvido um vice diretora berrar a inspetora: Coloca qualquer um lá ou põem naquela sala o primeiro que chegar! Sem qualquer consideração sobre a disciplina ou o conteúdo!!! Importante é que o aluno lá fique por lá até o fim do período, mesmo que nada aprenda!!! Bem se vê que aquele professor mal aproveitado faz as vezes de babá... Tomando conta de marmanjos...

No entanto se alguém questionar esse método aberrante as Seducs dirão que 'Não é bem assim.' e que há todo um critério envolvendo a escolha dos substitutos, uma orientação, etc Pura balela... Fica tudo a critério das inspetoras ou da direção, e o único critério que conta é que os alunos não sejam dispensados e os pais não venham murmurar. Fora isto vale absolutamente tudo. Professor de História na quadra de Educação física... E professor de Arte lecionando matemática!!! Isso mesmo, tal a realidade nua e crua das escolas de algumas prefeituras governadas pelo PSDB. Destarte se a prática do Estado era e é aberrante, o modelo neo liberal de deseducação mostra-nos que tudo pode ser piorado ou tornado ainda mais desastroso.


Continua

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020

O marxismo, a verdade e o relativismo. Ensaio epistemológico.

Habitualmente ouvimos ser o marxismo ou sua epistemologia, serem apresentados como relativistas e, os marxistas rebaterem, dizendo que não é bem assim. Daí a necessidade de pontuarmos o assunto e verificar que é o marxismo face a verdade ou qual seja sua perspectiva epistemológica.

Grosso modo podemos dizer que é o marxismo um relativismo, porém de modo algum um relativismo crasso ou individualista, análogo ao relativismo pós moderno, que é dentre todos o mais virulento.

No relativismo individualista nada há que transcenda as unidades individuais e isoladas, pelo que a fragmentação é total ou absoluta. Aqui a única referência que temos é o indivíduo separado de todos os outros - Tal é o critério de todas as coisas!

"O homem é a medida de todas as coisas." Que homem? A espécie enquanto receptáculo de uma capacidade racional ou o indivíduo pautado em sua vontade??? O relativismo pós moderno responde dizendo que cada homem constrói sua verdade, válida apenas para si e que não existe qualquer verdade comum, transcendente ou absoluta. O marxismo não chega a tais confins... quero dizer ao 'vir a ser'... a instabilidade plena... a fragmentação total... ao Caos, conservando alguma unidade, ainda que não seja transcendente.

Privado de fundamentos metafísicos, abstratos, espirituais; assim essenciais e perpétuos, a exemplo da 'Filosofia perene' ou das teorias das formas elaboradas por Platão ou Aristóteles, nem por isto o marxismo dissolve-se por completo num relativismo individualista, atomizando-se.

Assumindo-se como uma espécie de meio termo entre o 'vir a ser' e a 'essência' apresentando-se como um relativismo, mas, como relativismo social, fruto de uma conjuntura histórica muito mais estável do que as impressões individuais. O marxismo admite impressões estáveis e comuns, inda que mutáveis a longo prazo.

De fato julgam os marxistas - A partir de seu materialismo dialético - que a realidade cultural e assim a própria compreensão humana do que seja verdadeiro ou real (superestrutura) esteja assentada sobre uma infra estrutura definida em termos de relações econômicas de produção. Tais relações possuem formas estáveis e comuns em determinadas fases da História humana, as quais perduram por considerável espaço de tempo (Muito mais amplo do que o tempo fruído por algumas gerações humanas.) i é até que as relações de produção sofram alguma alteração significativa.

Delas resulta uma compreensão perdurável em termos de mundo a qual, mesmo sem tornar-se metafísica ou perene nem por isso chega a diluir-se por completo num aos de impressões, emoções, gostos ou opiniões. Destarte a noção de verdade proposta pelos marxistas, sem tornar-se imutável e perpétua como a Socrática, a Aristotélica ou a Católica, nem por isso deixa de possuir certa consistência e durabilidade. Estamos portanto diante duma perspectiva totalmente diversa e não do mesmo e exato relativismo.

Marx, Darwin e Freud, três intelectuais face ao Sagrado.


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Caso houvesse concurso de mentiras ou lorotas não sei quem ganharia. Se os neo ateus cientificistas ou seus desafetos fundamentalistas. Basta dizer que uns e outros amam classificar o grande Ch Darwin como ateu em suas publicações ineptas... E por ai vai - Os sectários fanáticos classificam como ateus e materialistas, irreligiosos, etc a tantos quantos repudiam seu deus retangular, a bíblia e os neo ateus, aplaudem e declaram: É exatamente assim, encampando um bom número de irreligiosos e agnósticos que jamais negaram a existência de um Supremo Ser ou de uma Consciência universal...

Fenômeno curioso este de dois grupos extremistas e fanáticos explorando os mesmos boatos, fábulas e mentiras. Sem pingo de dor na consciência... Uns quiçá por crerem que o rubro sangue do Nazareno tudo lave, e outros por repudiarem um padrão universal de bem ou virtude.

Por isso resolvi escrever algumas linhas sobre os grande ateus ou sobre os grandes ateus inventados. E começarei por Karl Marx. O qual era ateu de fato, mas de modo algum fanático como seus pretendidos seguidores ou sucessores, que parecem ter chegado a fobia...

Materialista convicto não podia Marx admitir a existência de um princípio espiritual ou imaterial paralelo, por inferência era ateu num sentido muito próximo do de Sartre: A existência dum tal Ser não lhe interessava, além de é claro parecer-lhe sem sentido. Alias, como um materialista poderia encontrar sentido numa entidade Imaterial e Invisível. No entanto Marx não perdia seu tempo precioso buscando convencer os religiosos e teístas ou visando converte-los ou salva-los. De fato ele não entrava em discussões metafísicas como o teófobo Seb. Faure... Não se empenhava em demonstrar ou provar, através de argumentos, a inexistência de Deus.

Mais ainda. O odiado Marx parece até ter tido respeito e sabido lidar muito bem com os sentimentos religiosos alheios, não lhe faltando até certa delicadeza. Ocorre-me ter lido, quando moço, trechos da correspondência que trocará com uma garota ou menina, na qual a mesma aludia ao costume de ir a Missa com a família todos os Domingos. Em certo momento Marx assim se expressa: 'Como de costume sei que iras a Missa...' e 'Porém depois que chegares da Missa...' sem revelar a jovem qualquer sentimento amargo ou negativo. Enquanto qualquer pentecostal fanático diria a queima roupa: A Missa é uma cerimônia demoníaca... em nome de seu belo deus e de seu teísmo azedo e supersticioso. O ateu e 'diabólico' Marx no entanto não procede assim. Parece até saber compreender, tolerar e colocar-se no lugar do outro... Parece que aprendeu muitas coisas boas com o capeta ou com o não deus...

Freud é outro departamento. Ao contrário de Marx e Sartre era ateu forte... tendo o costume de destilar seu ateísmo a todo instante. E juntamente com ele, por admirável força de coerência, toda sua falta de esperança. Um ateu não deveria abrigar o veneno metafísico da esperança em seu coração dizia ele. Evolucionismo, progressivismo e outros vestígios de misticismo Cristãos haviam sido lançados ao limbo por ele bem antes da crítica ácida de Grayling e outros. Para este grande representante do ateísmo, mais do que para o fanático Agostinho de Hipona, os bebês nada mais eram que malvados polimorfos e o homem algo semelhante a um verme ou parasita.

Apesar disto Freud, como todos os neo ateus sentia imenso mal estar em dialogar ou discutir sobre a teísmo natural dos antigos gregos. Em "O futuro de uma ilusão" não hesita sair pela tangente e declarar que esse Deus, o da metafisica racional, de Platão, de Aristóteles ou dos Filósofos, não o interessava. O deus que interessava a Freud, como a Dawkins e a tantos outros, era apenas o espantalho fetichista dos fanáticos religiosos e fundamentalistas i é à la Genesis... Assim, lançando-se contra esse espantalho, fica mesmo fácil...

Agora onde procurar as fontes do ateísmo freudiano? Há uns poucos anos lí uma análise psicanalítica segundo a qual Freud transplantou o ódio que sentia pelo pai e rival para Deus... Achei delicioso, no entanto minha opinião é bem outra. Quiçá a dor e a indignidade física tenham consolidado o grande psicólogo em sua posição. Afinal desde 1920 até a ocasião de sua morte passou ele por cerca de vinte intervenções cirúrgicas, devido a um câncer bucal extremamente invasivo. A cabo do processo esta terrível enfermidade lhe havia destruído a mandíbula e arrancado a lingua. As dores eram lancinantes e a morfina já não conseguia alivia-las... Por fim houve uma rejeição da prótese e necrose, o cheiro tornou-se tão repugnante que afugentou-lhe os queridos cães. Diante disto ele suplicou por uma dose maior de anestésicos e... Pense então numa pessoa que padece de dores atrozes e que por fim se vê apodrecer viva. Coloquem-se no lugar dela. Tentem identificar-se... Difícil estar no lugar de Freud sem pensar como ele ou até revoltar-se. Fácil falar sentado sobre as poltronas do sofá... Julgo melhor tentar compreender mais e julgar menos. Quero dizer apenas que Freud, a partir de sua experiência diária ou de sua vivência, não tinha lá motivos muito fortes para mudar de posição face ao problema de Deus.

Tanto pior se me disser que o deus 'sábio' serviu-se da moléstia que o consumia para castiga-lo. Ora todo castigo vindo de um Ser Bom, Generoso e Filantropo só pode ser a recuperação do homem e não para sua exasperação. No entanto supostas punições, dolorosas e desumanas como estas, só serviram mesmo para exasperar e produzir revolta nos corações dos mortais. Concluo que o deus dos fanáticos nada sabe sobre atrair e reconciliar os seres que criou. Sua pedagogia é um completo fracasso ou um reforço do ateísmo. Já a simples hipótese de estar ele exercendo vingança não passa de sadismo, i é o reforço do sacrilégio e da blasfêmia. Melhor aceitar o fato de que semelhantes desgraças são meros acidentes com que nos brinda a natureza ou a sorte, sem que a excelsa divindade tenha qualquer coisa a ver com elas...

Chegamos assim a Darwin. O qual jamais professou qualquer forma de ateísmo. Haja visto sua reflexão a respeito da sabedoria divina e do processo evolutivo em termos naturais contida na própria Origem das espécies. Religioso durante a primeira quadra da vida e destinado ao ministério eclesiástico confrontou-se aquela mente, antes de tudo, com a grosseria do Gênesis e da mitologia hebraica, porque se batem até hoje os fanáticos bíblicos, não com Deus.

Os advogados da mitologia no entanto, como Sedwigck, não pouparam esforços para fazerem-no avançar em sua posição. O que tal e qual no caso Freud foi reforçado pela própria vivência ou pela experiência pessoal. Pois Darwin teve de assistir a morte de dois de seus rebentos amados, o pequeno Charles, levado pela escarlatina e sua filha predileta e companheira Anne, após lenta agonia, aos dez anos de idade. Desde então parece ter perdido a fé e se tornado deísta. A partir daí podemos observar sucessivas crises existenciais oriundas duma existência tocada pelo sentido trágico da vida, por delicadeza, lirismo e recaídas religiosas... Foram sucessivas crises, idas e voltas, revisões, jamais privadas de uma grave consciência espiritual.

Sua trajetória no entanto, sequer parou por aqui, pois Darwin apenas encontrou escolhos metafísicos jamais vislumbrados antes e assim dignos de nota. Com efeito em suas ulteriores pesquisas pode observar o que compreendeu como um certo índice de malignidade presente na própria natureza ou no mundo natural. Observou o excesso de vida e a carência de alimentos, assim a fome. Observou em certos animais costumes bastante bizarros, que chegam a crueldade. Observou que ao menos em parte o processo evolutivo é estimulado pelo incomodo ou pela dor, enfim por situações de sofrimento, catástrofes, etc Passou então a ter dificuldades para relacionar tais fatos como conceito de um Deus bom e misericordioso... Tanto mais pesquisava e mais parecia divisar uma face maléfica na natureza, representada alias por sua seleção natural. Diante disto, nos últimos anos de vida, parece ter passado do deísmo ao agnosticismo e chegado a duvidar da existência de Deus, sem no entanto jamais obter qualquer certeza a respeito.

Em seus últimos dias Ch. Darwin a todos recebia em seu convívio fossem clérigos, religiosos ou teóricos ateístas... Com uns rezava, em companhia de Emma, com outros ouvia, não poucas vezes ferozes preleções contra a fé religiosa ou mesmo favoráveis ao ateísmo, sem todavia jamais endossa-las formalmente e até exigir certo decoro ou respeito. A atitude muito parecia-se com a de um agnóstico, ao qual fugiam todas as certezas e ambas as metafísicas: A teísta e a ateística... Darwin jamais declarou estar convencido sobre a inexistência de Deus ou tentou demonstra-lo. Tampouco desejava polemizar fosse com os ateus ou com os religiosos... Sua atitude sabe a neutralidade ou isenção, bem a gosto da divisa: Ignorabimus et ignorabimus. Tal parece ter sido seu ponto de vista definitivo, no momento em que abandonou esta existência, portanto apresenta-lo como ateu ou ateu forte sabe a mentira grossa e cabeluda.

Religiosos e ateus sejam antes de tudo honestos, evitando atribuir suas opiniões aos outros ou o que é ainda pior atribuir-lhes uma concepção que julgam ser indigna, porque em ambos os casos vocês, falseando a realidade histórica - Em nome de seus queridos sistemas! -  é que se tornam indignos.


Uma omissão significativa ou Jesus Cristo, Evangelho, Cristianismo e a produção do conhecimento científico

Certa vez, estando eu discutindo com um cientificista, leitor do antigo Draper, declarou-me ele incompatibilizar-se com Jesus e com os Evangelhos por conterem absolutamente nada em termos de ciência. Como homem de ciência meu amigo sentia-se consternado face a tal omissão por parte dos nossos livros santos, os quais nem mesmo lhe pareciam belos. Jesus para ser significativo deveria ter elaborado um ou outro discursinho sobre ciências naturais. Mas... O Evangelho é isto, um completo vazio em termos de imanência, e ele não aborda o tema, o tema da ciência... E nosso Evangelho não pode pretender ser um manual de ciências a exemplo do Corão ou da Tanak. Decerto nosso Jesus focaliza a transcendência, e prioriza (Como Sócrates, Confúcio, Buda...) a Ética.

Após ter ouvido as queixas de meu amigo lembrei-me do terceiro Califa 'bem orientado' Ommar Ibn Khatib. Aquele mesmo Ommar que mandou Amr ibn al Ash incendiar a famosa biblioteca de Skandarya. Sucederam tais eventos ao tempo de Sofronius, Batrak de Jerusalém (Al Kudush) - O Basileus era Heráclito - Ubaidah, o infiel, havia cercado a cidade e exigia rendição. O Patriarca no entanto recusava abrir as portas a menos que o Califa viesse tomar posse da cidade e assinar o acordo. Claro que se qualquer outra cidade fizesse tal exigência teria sido varrida da face da terra. Jerusalém no entanto era considerada Sagrada pelos agarenos, os quais acreditavam que Maomé a visitará, montado na égua branca Al Borak... Tentaram passar Khalid Aal Wallid, a 'espada' pelo Califa, mas o plano não deu certo. Diante disto o 'piedoso' e justo Ommar teve de deixar Madinat e vir a Jerusalém. Diante dele as portas da cidade santa foram abertas e o acordo assinado, com certa vantagem para os Cristãos...

Até aqui a conquista.

Na qual há um pequeno episódio, que bem ilustrará a omissão dos nossos Evangelhos ou a lacuna imperdoável nos ensinos de Jesus.

Contam os cronistas infiéis que estando Ommar em Al Kudush durante a prece a que chamam Al Zuhr, o Batrak sofronius convidou o Califa a fazer suas preces no Santo Sepulcro. Ao que Ommar recusou educadamente, declarando não ser prudente faze-lo, uma vez que os muçulmanos seriam levados e imita-lo e quem sabe tomar a igreja e transforma-la numa Mesquita. Omitiu-se assim de ali rezar para não abrir precedentes a seus comandados.

Encaro nesta mesma perspectiva a omissão de Jesus ou dos Evangelhos em torno da ciência ou da imanência e encaro-a sobretudo como um ato ou tributo de respeito face a esse tipo de saber. O qual não pode nem deve ser confundido com a Revelação divina.

Não quis, nosso Jesus, dizer uma mínima palavra sobre este tema para que futuramente os Cristãos não misturassem as coisas e revindicassem para a divina Revelação o controle da ciência, invadindo assim sua esfera e eliminando sua autonomia. E por isso temos uma lacuna significativa, a partir da qual podemos dizer: A ciência é um saber natural, cuja liberdade temos de reconhecer.

Tome agora por modelo o antigo testamento.

Cuja origem sócio, histórico, cultural é bem outra e anterior não apenas ao Evangelho, mas ao surgimento da Filosofia e da Ciência. Aquele registro não podia furtar-se a elaborar ao menos alguns discursos em torno da imanência, exprimindo-se por meio de mitos e fábulas cujas origens remontam a antiga Suméria. A Tanak dos judeus, como o Corão dos muçulmanos, possui um conteúdo de imanência destinado a substituir uma ciência que ainda não fora construída...

Foi uma necessidade e os antigos hebreus não devem ser levados a mal por isto... Estavam em sua época ou tempo. O problema são os nossos 'bíblicos' ou fundamentalistas, os quais - Negando o raciocínio e a experiência - ousam afirma-lo em pleno XXI, i é após Copérnico, Galileu, Kepler, Agrícola, Newton, Hutton, Darwin, Wegener, etc ou seja após a afirmação da Filosofia e da Ciência após o fim da Idade Média. De certo modo o problema não é a Tanak, a Torá ou o Gênesis mas a leitura irrefletida de nossos 'cristãos' alienados e imbecis...

Mal orientados acreditam eles que as partes não proféticas dos livros judaicos seja iguais o Novo Testamento ou o Evangelho - Tal a doida doutrina da inspiração plenária, a que juntam outra pior, a da inspiração linear e mesmo a inspiração verbal... E diante da presença deste discurso pré científico, que envolve a imanência, na Tanak dos judeus, concluem que a Revelação divina possui um conteúdo científico e portanto que cabe sim a Religião, a fé, aos pastores, etc intrometerem-se nos domínios da ciência e julga-la ou controla-la.

Toda esta pretensão totalitária dos sectários fanáticos deriva exatamente disto: Que encontram um discurso pré científico voltado para a imanência nos escritos dos antigos judeus. Diante disto invadem ou negam, sem maiores cerimônias, os domínios da ciência ou do conhecimento científico, anatematizando todos os que sucederam a Copérnico e nos ajudaram a compreender este mundo natural, cujas leis, tão belas, fixadas foram por Deus, pelo Deus do Evangelho.

Como a tal bíblia fixou em suas mentes o paradigma do fetichismo, com seu deus interventor e sucessivas correções, eles não podem reter o conceito básico de lei natural que vai, em linha reta, de Copérnico aos dias atuais. Então a questão aqui não é Deus - O qual é perfeitamente compreendido pelos cientistas Católicos como aquele que concebe, conduz, dirige e orienta o processo natural - mas sempre o Gênesis - Encarado como manual de ciências ou Enciclopédia, ou a letra do Gênesis, sempre naquela perspectiva mágica, irredutível a causas segundas... A mente sectária das massas parece não poder captar ou assimilar algo tão simples.

Diante desta tragédia imagine só se Jesus de fato tivesse discursado sobre o mundo natural...

Como toda essa gente tosca, deslumbrada face as soluções simplórias da mitologia hebraica, não haveria de clamar e de dizer que esta certa e que o controle da ciência pertence a religião. Como não iam misturar e confundir tudo, em benefício do fundamentalismo, do totalitarismo credal ou mesmo da teocracia...

Nós no entanto, que somos sinceros, estamos autorizados a corrigi-las, repetindo até a exaustão que nosso Jesus jamais deu aulas de ciência a seus ouvintes ou seja que ele jamais invadiu o terreno da imanência, concentrando seus discursos no mundo invisível ou no mundo futuro. Do contrário, se o discurso da imanência pertence a Revelação nosso Evangelho esta INCOMPLETO. Todavia esta ele bem completo, justamente porque a predicação científica não pertence a fé religiosa, estando os domínios da fé e da ciência eternamente separados quanto a seus objetos, pelo que jamais se confundem.

Percebo assim - E espero que você, amigo leitor, também perceba! - que esta omissão denunciada por alguns cientificistas foi intencional e estratégica, resultando dela a possibilidade dos Cristãos mais instruídos estruturaram um discurso próprio honestamente favorável a autonomia da ciência e a liberdade da investigação científica face a qualquer revindicação de controle por parte dos sectários e fanáticos.

sábado, 15 de fevereiro de 2020

Observando o fenômeno religioso contemporâneo - Salmos, Evangelhos, seios, bundas e finalidade...


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Enquanto faço meu passeio vespertino cruzo com uns seios túmidos ou turbinados cobertos com uns versículos bíblicos tomados aos Salmos.

E como não poderia deixar de ser semelhante contemplação suscita meu senso crítico. Creio-me semelhante a diabetes que minha meu organismo, a qual me faz beber e logo em seguida ir ao vaso despejar... a semelhança do tonel das danaides... Na mesma medida em que leio, estudo ou observo sinto a necessidade de produzir algo, de registrar, de escrever ou mesmo de comunicar, embora a prioridade seja escrever para mim mesmo, e observar as futuras variações.

Por isso os tais seios cobertos por palavras que se creem divinas ou sagradas suscitaram minha reflexão.

Num mundo em que os fanáticos religiosos adoram bater na tecla da finalidade sexual - Em termos de uma estrita ortodoxia - penso que não seja honesto, mas leviano, restringir a tal finalidade a esfera da sexualidade humana. A coerência nos obrigaria a aplica-la as demais esferas da existência, assim a própria fé e seus veículos.

A leviandade e a incoerência no entanto parecem ser os pecados originais deste triste tempo.

Antes de tudo, quando contemplei aqueles seios, que muitos consideram como belos e que noutros tantos suscitam impulsos eróticos, e li as palavras gravadas sobre eles - Que bem poderiam ser: "Quem tem sede vem a mim e beba.", "Minha carne é verdadeira comida." ou qualquer frase isolada tomada aos Santos Evangelhos - não pude pensar em bundas, pênis ou vaginas... Órgãos contra os quais nada tenho em absoluto, ao contrário dos neo maniqueus.

Tudo quanto pensou Deus e chamou a existência, digno e puro é.

Pelo que não haveria maiores problemas, ontologicamente falando, em gravar tais versos, inclusive as palavras do Verbo Jesus sobre os panos ou tecidos que cobrem tais partes. Isto não me indignaria mais do que ve-las gravadas sobre os tecidos que ora cobrem peitos, barrigas ou costas... Para mim dá tudo no mesmo e não há diferença alguma. Se se pode ou deve gravar as palavras divinas sobre determinada peça de roupa destinada a cobrir uma certa parte do corpo pode-se revestir qualquer parte do corpo com tais peças, uma vez que o corpo assumido pelo Verbo Jesus é sagrado em sua totalidade e não há nele parte suja ou menos digna.

Claro que não me refiro aos Salmos ou a qualquer parte aleatória do antigo testamento, pelo simples fato de não ser judaizante ou partidário de um 'corão' cristão... A maior parte dos seios por sinal são mais puros, dignos e belos do que a maior parte das passagens da Tanak ou da Torá, inclusive dos tais Salmos. Não pelos Salmos... Pois como o grande Camilo Castelo Branco - autor do "Amor de perdição" - não os aprecio nem faço caso deles, a exceção daqueles que reportam-se profeticamente ao advento do Messias Jesus. Há por certo um sentido existencial nessas produções judaicas, há religiosidade sincera, grandeza e lirismo, o que por certo faz delas uma obra prima da literatura universal. Não o podemos negar... Todavia como Cristão, Católico e Ortodoxo prefiro e creio mais excelente a produção hinográfica do Cristianismo nascente ou medieval, assim as produções de Efraim, Ambrósio, Romanos, Prudêncio, Damasceno, Germano, André, etc O Simeron, o Akatistos, o Adeste, o Exultet, etc Em tudo isto vejo mais providência, presença do Espírito Santo, significado Cristão e fartura espiritual. Após o Evangelho é a hinografia Cristã primitiva que alimenta meu espírito. Pois o panorama ideal ou ético destes Salmos, em seu quadro geral, é bastante baixo, vulgar e grosseiro, haja visto os tais Salmos deprecatórios, cujo objetivo é amaldiçoar ou fazer mal aos inimigos, quando o abençoado Redentor obriga-nos a abenço-los, a suplicar por eles, a ama-los e a estar disposto a perdoa-los... Ora tais, Salmos, acham-se em franca oposição a este ideal sagrado e por isso, a exceção dos que apontam profeticamente para o Senhor Jesus Cristo, repito - Não faço caso deles, ao contrário dos fanáticos...

Pouco se me dá que sejam impressos em tecidos e ostentados sobre quaisquer partes do corpo humano, sejam elas bundas, barrigas ou seios. O problema aqui restringir-se-a aos fanáticos que encaram tais partes como sujas e irreverentes e os tais Salmos como divinos. Já vimos todavia que a coerência não é padrão para tal tipo de gente ou para as massas.

Outra coisa são as palavras de Jesus Cristo ou as passagens do Evangelho, as quais tomo a sério como coisa preciosa ou como regra de vida. Reconheço, como Liberal convicto, o direito de tais pessoas gravarem versos do Evangelhos ou as palavras Sagradas de Jesus sobre tecidos ou peças de roupa e cobrirem com elas quaisquer partes de seus corpos, mas, discordo resolutamente da prática, na qual não vejo qualquer sentido religioso ou espiritual. Claro que por uma questão de coerência ou de justiça, estendo esta crítica a moda, assumida pelos neo católicos ou carismáticos - Sempre levados a imitar ou assimilar práticas protestantes! - de imprimir as figuras de Jesus, da Virgem ou dos Santos sobre suas camisas ou camisetas, o que dá no mesmo. E como os católicos tendem a ser tanto menos complexados ou incoerentes há cerca de uns vinte anos ou mais, foi publicamente lançada, no programa da falecida Hebe Camargo, uma linha de roupas íntimas ou cuecas que traziam estampadas sobre si as figuras de Jesus Cristo e da Santa Virgem sua mãe. Nesse momento os mesmos puritanos hipócritas que a muito ostentavam as 'Sagradas ícones' sobre seus túmidos seios ou barrigas flácidas, puseram-se a gritar como loucos. Mas... por uma questão de princípios, cara a racionalidade católica, tinha de chegar onde chegou... Tal a imprudência e leviandade dos neo católicos que assumem práticas protestantes e julgam poder conte-las arbitrariamente em seus estreitos limites. Difícil conter os católicos, especialmente os moderados, já habituados a pensar criticamente o quanto não seja dogma...

O que quero dizer é bastante simples, a ponto de qualquer protestante sumariamente letrado ou de qualquer católico nutrido nos elementos do catecismo poder entende-lo ou até de aceita-lo, caso tenha boa vontade. Nada no Evangelho nos indica que as palavras do Mestre Jesus devessem ser impressas sobre tecidos com o objetivo de enfeitar peças de roupas destinadas a cobrir o corpo humano. Não foi certamente com este objetivo, cobrir ou enfeitar os corpos dos crentes, que o Senhor comunicou expressamente seus ensinamentos. O objetivo da palavra escrita é ser conservada fielmente, lida, meditada e enfim posta em prática. Outro não foi nem é o objetivo da palavra ou das cenas de nossa Redenção pintadas nas paredes de nossos tempos, tal o Evangelho dos analfabetos... Tudo isto, estendendo a pregação oral do Verbo foi posto para a leitura, a reflexão e a vida, não para adornar nossas vestes externas e corporais fazendo aparência.

As palavras do Mestre Jesus deveriam ter passado da oralidade original ao papel, as paredes dos templos e dai ao espírito ou ao fundo dos corações, para que se tornando vivas e operantes transformassem este nosso mundo. A modernidade superficial e leviana deu-lhes um novo e estranho caminho: Os corpos e peças de roupa!!! Convertendo-as em modas e pasme, marcas... A partir das quais se toma lucro! Os sectários protestantes já se precipitaram neste abismo farisaico, a ponto de comercializar peças de roupa marcadas com o 'nome' adorável... Aqui nossos amigos ateus, materialistas, agnósticos, budistas, xiitas, etc que por estes e outros motivos descartaram a fé Cristã tem pleno direito de rir, e nós, que ainda temos alguma esperança e que com esperança nostálgicas contemplamos o passado, temos o direito de deplorar e de chorar este hiante abismo de incoerência e leviandade, através do qual o repisado discurso sobre a finalidade,apressadamente traído por seus partidários. Talvez, com Voltaire, seja melhor rir, apenas rir, pelo fato de retermos alguma esperança.

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020

A miséria da arte moderna.

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Baumgarten, Baumgarten... raramente escrevo sobre Estética.

Aqui, mais do que em qualquer outro campo, escrever é polemizar.

Acusado de ser demasiado progressista (rsrsrsrsrs Nem tanto pois meu progressivismo não vem da 'caixola' mas, creia leitor, do passado - E por isso apresento-me como reacionário ou anacrônico. Jamais como conservador pois não creio que muito do que temos HOJE mereça ser conservado!) em moral, política, economia, etc devo ser classificado como 'conservador' ao menos nesta área, alias nesta única área. Conservador face a realidade estético acadêmica do século XIX, assim anti pós modernista ou mesmo modernista neste campo. Ou, como e caso queiram reacionário, ultra reacionário, caso admitamos que o modernismo está mesmo na berlinda. Odeio o pós modernismo e o modernismo com todas as forças da alma, inclusive na gnoseologia, mas, sobretudo na estética.

Então vamos logo ao 'prato' e que temos ai???

Temos arte dirão nossos amiguinhos pós modernistas e modernistas, eu direi que temos expressões meramente subjetivas preciosas para a Psicologia, mas não arte propriamente dita.

E por que não temos arte???

Não temos arte porque este festival de psicologismo é irredutível a qualquer avaliação objetiva ou exata em termos de técnica ou mesmo de ponderação estética. O que temos aqui é apenas emoção ou emocionalismo irredutível a qualquer padrão ou critério avaliativo exato, seguro ou objetivo. É algo que não se pode valorar com segurança ou a respeito de cujo mérito se chegue a qualquer acordo. Decretar que a arte moderna deva ser reconhecida como meritória por todos ou por toda crítica é rematado absurdo, filho de incoerência. Nada pode obrigar-me a mim ou qualquer outra pessoa a reconhecer valor estético nessa 'arte' reducionista e mutilada.

Ok, dirá você. Acaso a arte não deve contemplar a esfera do sentimento e satisfazer esta demanda?

Tolo seria, de minha parte, discordar de você. Claro que um dos aspectos distintivos da arte ou da estética é mexer com os sentimentos humanos. Claro que a contemplação da arte tem por fim despertar o sentimento ou a emoção estética. A fruição dos sentimentos e emoções faz parte efetiva da produção artística, por meio da qual o mundo externo não é apenas representado, mas, aperfeiçoado, na medida em que encontra seu ideal.

Então qual o problema?

O problema é que a parte não é o todo.

Fixar-se apenas e tão somente no sentimental/emocional, no subjetivo apenas ou no psicológico será sempre reduzir ou mutilar a condição humana. Afinal não é este homem apenas sentimento ou emoção e há nele um elemento de razão e outro de experiencialidade, os quais devem estar em comunhão e ser representados numa arte integral.

Certo, o sentimento deve ser posto na obra de arte. Assim a emoção. E deve ela causar impacto emocional. No entanto essa emoção deve ser expressa em comunhão com o racional e dentro de determinadas normas técnicas de execução que possam ser objetivamente mesuradas. Do contrário jamais poderemos avaliar esta arte.

Após o sentimento ou a emoção deve ser considerada pela crítica o elemento objetivo, racional ou técnico. A harmonia entre as tonalidades de cores, como salientou Van Gogh a respeito das magníficas telas de Millet; a forma do desenho, a perspectiva, etc Como deixar de considerar estes aspectos presentes na natureza???

Dirá você que o inconsciente não conhece normas e que a arte atual é expressão de um mundo onírico isento de regras. Então é apenas uma expressão psicológica de uma vida interior ou emanação das profundezas da mente. Algo que se reduz a psicologia ou fenômeno psicológico... Neste caso para que manter a farsa ou a encenação aparatosa dos concursos e prêmios??? Como distinguir expressões meramente psicológicas ou mentais umas das outras. Se por princípio todas as manifestações do inconsciente tem o mesmo valor (que é meramente subjetivo!) como premiar uma e não outra??? Em que uma simples manifestação da atividade mental ou da imaginação é, em si mesma, superior a todas as outras. Apenas a forma, vazada na técnica, pode comunicar superioridade ou inferioridade... E para a arte moderna e irredutível a qualquer controle externo e objetivo, a forma não é nada. E já não existe norma ou regra que nos permita julgar esta produção, declarando que uma seja melhor ou pior do que todas as outras. O que você tem ai são expressões livres do inconsciente... Como levar tais expressões a um concurso e premia-las como se melhores fossem???

Elaborações meramente subjetivas e fora de qualquer controle objetivo por ausência de normas não podem ser julgadas.

É exatamente por isto que X ou N podem enlatar as próprias fezes ou grudar catarro em folhas de papel e proclamar que é arte, arte moderna...

Mas que há de estético ou de verdadeiramente belo em cocô enlatado ou em escarro espalhado sobre o papel???

Bem se vê que a arte psicologista ou do inconsciente perdeu por completo seu sentido. A ponto de ignorar a contemplação estética de um ideal harmonioso ou a dimensão do belo.

Esta arte se contenta em impactar emocionalmente. Como se a outra, a formal ou acadêmica não contemplasse este aspecto há muito tempo ou a milênios. Como de a contemplação de um Polikleitos ou de um Parrasio não suscitasse absolutamente nada nos homens... Como se alguém pudesse permanecer indiferente face a obra de um Praxísteles ou de um Apeles!!! No entanto, além disto, havia norma e regra, uma técnica de execução a ser objetivamente avaliada ali. E bem se poderia justificar a excelência de um Fídias face a seus rivais sem maiores problemas...

Uma arte que se esgota na emoção ou no sentimento e que se proclama livre ou acima de todas as regras, além de trivial e fácil não pode ser avaliada.

É trivial porque qualquer criança pequenina, a qual seja dada papel e tinta, pode executa-la perfeitamente. Basta espalhar as cores com os dedos sobre o papel, tudo misturando... ou ensaiar algumas formas obscuras ditadas pelo senhor inconsciente. E alí estão as obras primas da arte moderna!!! Executadas por qualquer nascituro... Diante disto como premiar o pintor X ou o escultor N??? Se qualquer moleque recém nascido é capaz de exprimir a mesma coisa???

Mas a ser trivial é esta nova arte fácil e este é seu problema central ou basilar. Posto que não precisa ser estudada ou aprendida. É arte que não demanda esforço algum. Arte que não precisamos beber junto a um mestre consumado.

Admitida a arte sem compromisso da facilidade, a verdadeira arte, que demanda esforço ou aprendizado torna-se vulnerável ou posta a morte e ao desaparecimento e por isso mesmo, a concepção psicologista ou modernista da arte não deve ser encarada como algo inofensivo pelo filósofo mas como algo monstruoso. Afinal de contas por que qualquer artista iniciante haveria de tomar a senda estreita de um Delacroix ou de um Canova, ou de um Thorwaldsen se para obter a glória basta-lhe rabiscar ou bater com o martelo num bloco qualquer?

Dizer que todos são artistas criadores de obras primas é dizer que não há artista algum ou obra prima alguma. Mas... você sempre poderá aprender e criar pautando-se ao menos em algumas regras, o que de fato abre espaço ao talento.

Como sempre a esquerda desorientada adorou a demolição da arte acadêmica ou 'burguesa' - e assim relativa... Pelo simples fato de que todos os homens, especialmente os miseráveis, que não teem acesso ao estudo, a aprendizagem ou a formação, poderem apresentar-se como artistas, dentro de um padrão de igualdade absoluta.

Concedo que o monopólio estético da arte caiu nas mãos desta burguesia sem consciência, e que a arte acadêmica, em sua esfera, foi amiúde acrítica e servil. Que os donos do poder se tenham apropriado da beleza em proveito próprio é fato que deploramos. Aos simples e restou apenas o trabalho bruto e insano, e a criação do que chamam arte popular ou mesmo de massas, a qual nem sempre é alheia a cânones e regras... E nem sempre é feia ou isenta de méritos. Alias é sempre significativa quando a falta de técnica ou preparo aspira por um ideal de beleza a que não tem acesso.
Tal o contesto a partir do qual os comunistas e anarquistas (Sobretudo estes porquanto a URSS conheceu uma arte Realista, em que pese seu engajamento!) passaram a encarar a supressão das normas no domínio da arte como uma espécie de pré revolução ou peristilo da revolução... E tornaram-se eles iguais por essa nova arte antes de se tornarem verdadeiramente iguais quanto a vida social. Foi uma igualdade funesta. Por ter privado parte dessas massas da contemplação da beleza a que por vezes tinham acesso. A qual a um lado serenava e a outro educava... Contemplar a Notre Dame ou o Partenon jamais deixou de ser catártico para quem quer que fosse.

Mas essa ideia pós modernista, que implica encarar todas as manifestações livres do inconsciente como artísticas equivale, no plano da economia, em transformar todos os cidadãos em milionários pelo simples fatos de acrescentarmos alguns zeros a direita dos centavos, convertendo-os em milhões... Seria como nivelar todos pela mesma miséria após ter destruído todas as riquezas. Belo nivelamento, em que todos se tornem iguais pela falta ou pela carência! Quanto valia o título de cidadão romano quando a todos foi oferecido por Caracalla??? Devia valer muito pouco, se é que valia algo! Tornaram-se todos cidadãos por decreto porque a cidadania nada mais significava. Hoje a modernidade reconhece que todos os homens são artistas em estado de natureza justamente porque... Tire suas conclusões enquanto nas tais exposições de arte moderna oferecem fezes enlatadas ou catarro espalhado sobre o papel... Por que não engarrafam peidos???

A arte moderna não vulgarizou ou popularizou a arte. O que demandaria educação, escolaridade, alteração das estruturas, clamor, revindicação, etc A arte moderna demoliu a arte enquanto auto suicídio da arte e só podemos compreende-la a luz da imensa miséria produzida pelo capitalismo, tal e qual o fanatismo religioso, o pragmatismo, o ceticismo... Tudo miséria oferecida pela miséria. É forma de alienação por apartar o homem de um ideal de beleza que o acompanha desde Lascaux e Altamira, e que o fez erguer soberbas pirâmides e catedrais preciosas. A malignidade da avareza apropriou-se deste universo de beleza, a imbecilidade dos modernos negou-o.

Mas se enfim o que este homem moderno deseja é apenas chocar-se ou experimentar sensações análogas aos que experimentam aqueles que se atiram do Bungee Jump... Se objetivo é apenas fruir de sensações cegas e incontroláveis, inconscientes e irredutíveis a razão. Não há o que discutir. O homem se joga em seu próprio vazio, este homem mutilado e sem sentido. O problema aqui seria descobrir que sobre este ou aquele aspecto estas idolatradas forças do inconsciente não são seguras, ou que são destrutivas... Abismos há, ou fossas, cujas tampas só deveriam ser alevantadas num bom consultório de psicologia. Já disse, tais expressões, como exposições de arte moderna, são imensamente ricas (E eu mesmo a elas vou, como estudioso da psicologia humana - Alias sob seu aspecto patológico - ) do ponto de vista psicológico ou da anormalidade mental. Como expressões de arte são apenas o 'nada absoluto' ou a negação.

Sei que meu posicionamento chocará há muitos. Mas sei que serão apenas os psicologistas que satanizam o controle racional e que super valorizam a afirmação de um inconsciente irredutível a normas em todas as dimensões da atividade humana. Como disse não sou nada otimista face a estas forças cegas que se acham do outro lado da porta!