domingo, 4 de outubro de 2015

Entre os extremos do progressivismo e do conservadorismo - Por que centro esquerda?

Esquerda porque abraço a pauta socialista!

Esquerda porque sou trabalhista convicto!

Esquerda porque tenho por meta política a justiça social!

Esquerda porque sou humanista!

Esquerda porque tenho o sentido de Sócrates e do Evangelho!

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Mas não esquerda radical...

Não bolchevista.

Não esquerdopata.

Não fanático.

Entusiasta certamente, mas não fanático.

Pois fanatismo supõem cegueira e parcialidade.

Revoltado face as desumanidades perpetradas pelo liberalismo econômico.

Mas ainda assim guiado pela faculdade da razão, do raciocínio, da reflexão.

Socialista, trabalhista, esquerdista, personalista, humanista; mas antes de tudo humano.

'Animal racional'.

'Homo sapiens sapiens'

Alguém que se reserva o direito de tudo examinar, questionar, ponderar.

Alguém que se reserva o direito de discordar.

Alguém que se reserva em certa medida o direito de ser diferente.

O direito de ser eu mesmo e não uma cópia do programa do 'partido' ou uma 'xerox' ideológica ambulante!

Quero dizer com isto que meu SOCIALISMO, concentra-se nos terrenos da econômica e da sociedade, e não numa metafísica total que se desdobra em todos os setores da vida, determinando por completo meu comportamento.

Este neo socialismo que supõem todo um 'modos vivendi' determinado por partidos ou organizações repúdio veementemente.

Para ser socialista não careço de que outra pessoa pense por mim.

Para além da econômica e da organização social sou eu que faço minhas escolhas com base em meus princípios e valores.

Eis porque discordo por completo desta esquerda radical ou de qualquer sistema partidário que, para além das questões de ordem econômica e social, pretenda regular-me a vida como um todo e profanar o santuário de minha personalidade.

Sou socialista porque penso que as necessidades econômicas devem ser ditadas por necessidades humanas e sancionadas pelo grupo social, assim as formas políticas e demandas sociais. Mas sou também personalista por afirmar que existe uma dimensão pessoal da vida que não pode estar sujeita a ingerências ideológicas ou partidárias.

Portanto não sou progressivista absoluto e acrítico ou iconoclasta por recusar-me a encarar tudo quanto seja antigo ou pertença ao passado como essencialmente mau e danoso e tudo quanto seja novo genial. Há rupturas saudáveis e são a chave do progresso social, mas também a rupturas nefastas. Há permanências não só desnecessárias mas danosas, como a permanências boas e saudáveis.

Eis porque denuncio e condeno como acrítico, ingênuo e cego este conservadorismo que acalenta um culto supersticioso por tudo o que é antigo, identificando-o com o bom e estigmatizando tudo quanto seja novo ou 'moderno'. Ideologia de múmias ou paralíticos o reacionarismo caturra concentrado em certos setores da direita é tão vulgar, bárbaro e grosseiro, quanto o iconoclasmo ou progressivismo absoluto da esquerda metafísica.

Quando os extremos da direita e esquerda pretendem estabelecer programas totais que atinjam e determinem as vidas de seus filiados, aproximam-se conscientemente ou não da abominação fascista.

Eis porque afirmo os socialismo como sendo a melhor proposta em termos sociais, a mais humana, a mais ética. No entanto de modo algum posso encara-lo como uma receita de bolo ou como uma bula de remédio, i é, como algo prontinho e acabado que atinge todos os domínios da vida humana!

Se o progressivismo absoluto nada vê no passado que seja digno de ser conservado, supondo que os homens começaram a pensar ainda ontem sua boçalidade é manifesta.

Se o conservadorismo absoluto postula uma conservação 'in totum' do modelo social vigente, ignorando toda uma demanda de problemas a serem corrigidos faz jus a mesma avaliação.

Passando ao terreno concreto dos exemplos, direi que por ser socialista não me considero obrigado por qualquer nexo essencial ou ontológico - o qual jamais pude enxergar - a ser abortista. Busco compreender o fenômeno do aborto dentro de seus contextos sociais e a solidarizar-me apenas com a mulher pobre da periferia. Nem por isso ignoro o comodismo que este éthos criado pelo pensamento burguês propicia ao macho que manda sua companheira abortar. Ou a futilidade das mulheres de classe média ou burguesa que preferem atuar 'a posteriori' matando, do que 'a priori' evitando! Pelo que trata-se duma situação bem mais complexo do que supõem os apologistas e paladinos do abortismo.

Mas eu considero sim o papel desses homens canalhas sem consciência e da mulher que tem condições financeiras. Os quais insistem, por mera conveniência ideológica, que o feto não passa de um 'órgão' do corpo da mãe. O que biologicamente falando não passa de charlatanismo. Melhor dar um passo a frente e definir o feto como uma espécie de 'parasita' a semelhança da lombriga ou da solitária. Causa um impacto bem maior!

Busco compreender a questão do aborto no contesto de uma situação social concreta que é a da mulher pobre e muitas vezes ignorante da periferia. A qual deveria ser sim objeto de uma política mais humana, compreensiva e tolerante. Nem por isso sou partidário do abortismo ou do aborto irrestrito. E nem por isso situo-me fora do socialismo. Aqui minha posição é fruto de minha reflexão pessoal. E se isso me põem no centro ou aproxima-me dele porque descarto a tal uniformidade e a tal extensão dos programas ideológicos, então estou no centro porque este centro significa um espaço de liberdade face as exigências sufocantes das direitas e esquerdas radicais.

Neste sentido, sem deixar de ser essencialmente esquerda por um instante sequer sou também centro ou sou centro porque recuso-me a acatar soluções prontas que me são impostas por um órgão externo com pretensões totalizantes. Jamais abdicarei do direito de poder pensar por mim mesmo e discordar. Jamais me curvarei perante estes sistemas fechados em que a vida é enclausurada pelos ideólogos. Serei sempre incapaz de encarar esses partidos e colegiados, e organizações como instituições infalíveis emprestando-lhes um éthos religioso ou mistico.

Tudo quanto é humano por melhor que seja é falível.

Exatamente por isto jamais aprovei a doutrina da pena capital (limitei-me a fazer exceção quanto a realidade específica dos criminosos 'religiosos' que cometem seus crimes por inspiração religiosa!).

Nem poderia, em hipótese alguma concordar com a direita quando faz apologia do militarismo com sua doutrina imunda da obediência cega ao superior hierárquico ou quando tece elogios a esse monstro cruel e desumano que é a guerra. Mesmo a guerra justa deve ser encarada como um mal necessário. Por isso jamais aplaudirei a guerra, o golpe ou a revolução como fazem esses estúpidos fascistas! Para o homem sensível face ao problema da dor, as guerras sempre equivalerão a catástrofes, jamais a espetáculos!

Fica claro que o humanismo não assenta bem entre os radicais sejam de direita ou de esquerda, porque suas paixões fanáticas tornaram-nos desumanos e eles só podem imaginar o outro como um conspirador ou um mentiroso; enfim como um ser absolutamente mal e são incapazes de pensar que haja algum valor ou algo de positivo nele. Neste pondo, de se encararem uns aos outros como vilões, esquerda e direita continuam a tocar-se.

Por isso que seus sistemas fechados, programas abrangentes e pretensões totalizantes sufocam a liberdade humana na mesma medida em que negam-nos o direito de tudo aquilatar, de pensar livremente e de discordar. Reproduzindo o comportamento típico das seitas religiosas.

Olho para o momento presente e como a geração dos inconformistas de 30 não posso deixar de encarar o liberalismo econômico como um tremendo problema que precisa ser superado. Alias hoje mais do que nunca tendo em visto a situação dramática em que se encontra a mãe natureza! O próprio  Papa romano Francisco I teve a coragem de afirma-lo perante uma das instituições mais reacionárias do planeta: o Parlamento Yankee! E quem diz a verdade não merece reprovação!

Por outro lado não vejo que a cultura ocidental ou melhor européia tenha de ser implodida de alto a baixo ou que seja totalmente má, e que não hajam elementos constituintes seus que mereçam ser conservados ou resgatados.

Assim a ética objetiva de Sócrates, o deísmo dos iluministas, a ideia de um espaço autônomo pertencente a pessoa humana, a afirmação dos direitos humanos em termos de essência ou natureza, a afirmação das liberdades, o ideal justicionista, o espírito científico, o sentido da vida, a compreensão da dinâmica das culturas, etc

Em que pese a sombra do capitalismo, imposta pelo espectro do americanismo a Sociedade européia possui um histórico de resistência e reação que os EUA não possuem. A crônica da luta iniciada pelos proletários na primeira metade do século XIX, e da qual decorreu - em termos legais ou institucionais - a limitação do ideário capitalista, até a construção de um Estado de bem estar! Evidente que esta luta não poderia ter sido levada a cabo e chegado a um saldo positivo caso ao menos alguns elementos humanistas não fizessem parte efetiva desta cultura!

Basta olhar para um Morus, um Capanella, um Mably, um Morelly, um Owen, um Blanc, um Marx, um Freud, um Darwin, um Kropotkin... até um Bonno Vox! A Europa possuí em termos de cultura um histórico de humanismo que remonta a Ambrósio, a Jesus, a Cícero, a Aristóteles, a Platão, a Sócrates... ignorar toda esta herança humanista que como uma corrente chega até nossos dias é negar a própria realidade.

A Europa não é os EUA.

São culturas essencialmente diversas. Apenas nos EUA o ideal do liberalismo encarnou-se totalmente nas consciências determinando a gênese duma nova cultura e duma estrutura social distinta, impermeável a ética socialista. (o agente desta 'encarnação' foi o calvinismo!)

Na Europa tal não se deu porque haviam elementos medievais e antigos irredutíveis ao novo modo de crer e pensar em termos de materialismo mecanicista e ele jamais foi assimilado por completo.

O problema da Europa de de toda civilização em termos ocidentais de cultura é a assimilação do espírito Norte Americano por meio da americanização já definida como um câncer maligno por Aron e Dandieu em 1931.

Lamentavelmente os EUA tiraram da disputa franco alemã o mesmo proveito que antes tirará a Inglaterra. Desde 1945 a pobre França tem sido mais e mais cooptada a ponto de converter-se em mais um província ou feudo cultural da grande República do Norte. O que corresponde mais e mais a realidade dos demais países europeus! Foram os EUA que interferindo culturalmente na Europa a partir de 1945 inclinaram os pratos da balança para o lado do liberalismo e que - após o colapso da URSS e países satélites - induziram seus aliados ingênuos a desmantelar o estado de bem estar, visando como sempre a maximização dos lucros.

Toda a situação que ora observamos na Europa após o desmantelamento do bem estar, deve-se antes de tudo a interferência positiva dos EUA tanto na política quanto na cultura.

Neste sentido a nova cultura da Europa mostrou-se e mostra-se repugnante, mas sempre no sentido de que foi conduzida, guiada e plasmada pelos Yankees com sua OTAN. Nem mesmo os espanhóis tiveram dignidade suficiente para evocar da guerra de 1898, em que foram defenestrados pelo novo império de origem protestante!

É justamente esta herança humanista, em termos de reação e resistência, face ao americanismo ascendente que precisa ser retomada. Para tanto seria necessário conhecer satisfatoriamente a dinâmica da cultura... coisa que os esquerdistas de modo geral recusam-se a fazer. Para eles ultrapassar Marx equivale sempre a uma espécie de heresia...

Nem falo em abandonar Marx mas em aprofunda-lo ou amplia-lo chegando a Weber.

Diante deste calcanhar de Aquiles, sem deixar de ser socialista ou sem ficar menos trabalhista, opto por identificar-me com um centro que concede-me o privilégio de pensar livremente.

Socialista sim mas 'marginal' ou heterodoxo.

Daqueles que fogem a qualquer sistema fechado. Como os pássaros fogem das gaiolas!

Tocam-se os extremos radicais do progressivismo e conservadorismo, do iconoclasticismo e reacionarismo, do esquerdismo e direitismo...

Nós no meio, só observando a zueira!

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