domingo, 25 de outubro de 2015

Apologia do georgismo





Pessoas apreciam encarar moinhos de vento como gigantes porque é mais fácil dar combate a moinhos do que a gigantes.

Por isso que Rafael Garofalo na 'Superstição socialista' (1895) apresenta Marx como sendo o gigante a ser combatido. E menospreza a doutrina de Henry George, com a qual recusa a bater-se por julga-la 'ingênua' ou tosca...

Nada mais conveniente a direita liberal lançar-se contra Marx - após te-lo ela mesma elevado-o aos céus - 'esmaga-lo' sem piedade e pavonear-se de ter demolido o socialismo!

Como se socialismo equivale-se a marxismo ortodoxo ou se resumi-se ao comunismo.

Tal fanfarronice pode ser descrita nos seguintes termos: Chaumette invade, depreda e faz demolir qualquer uma das mil e oitenta catedrais existentes na antiga França e situada em qualquer vila humilde e obscura; para em seguida proclamar ter demolido a mais bela das catedrais daquele pais ou o que é pior TODAS AS CATEDRAIS DA FRANÇA!!! E não tocou Amiens, Chartres ou Reims!

Assim os campeões do liberalismo com seus centos de panfletos destinados a solapar o comunismo e a dar a questão do socialismo por encerrada.

E no entanto dúzias de 'catedrais' permanecem não só de pé mas imunes a qualquer depredação... são outros tantos santuários em que o liberalismo não folga penetrar ou examinar a sério, detida e largamente. Assim o georgismo! Assim o personalismo! Assim o Keynesianismo! Assim o solidarismo! Assim o Catolicismo social... por eles passam os liberais oportunistas como se não existissem, limitando a tecer umas críticas demasiado genéricas...

E ficam acreditados por sua clientela estúpida.

Importa atacar Marx e triunfar dele!

Marx no entanto, em que pese seus méritos e seu valor, não esgota por si só as fontes e caminhos dos socialismo; cujas raízes chegam a Sócrates (este por sinal citado por Scott Nearing como uma de suas referências ideológicas juntamente com Jesus Cristo, Confúcio e Buda) a Platão, a Aristóteles... aos escolásticos medievais e enfim os pensadores do Catolicismo social a principiar por Morus, Campanella, Mably e Morelly.

Ademais a maior parte dos atacantes ao invés de concentrar forças em sua obra científica 'O Capital' onde busca demonstrar os defeitos internos do modo de produção Capitalista; opta por concentrar suas baterias nas obras não científicas de Marx a respeito da Sociedade comunista do futuro. Atacam o Marx profeta ou charlatão com seu programa de ação para lá de polêmico... jamais o Marx de o Capital ou seja aquele que pulverizou de fato o sistema Capitalista.

De nossa parte não nos importa se o Marx comunista, idealista, futurista ou profético falhou; importa-nos o Marx anti capitalista, demolidor, desconstrutor e de fato científico, este, de modo geral, ignorado por aqueles que se propõem a refuta-lo...

É uma tal sucessão de ataques ao Marx ateu, materialista, dialético, determinista, jornalista, esposo, pai, profeta, político, etc todos mais ou menos merecidos e até consistentes, que ficamos por aguardar a agressão ao Marx economista do Capital, e ficamos mesmo por aguardar porque ela nunca vem...

Quanto aos outros tantos teóricos do socialismo então...

Ela nunca vem...

Lá estão George, George Jr, Tolstoi, Fermi, Bakhunin, Kropotkin e outros tantos homens ilustrados esperando pela refutação... e ela não vem!

Ela nunca vem...

Eis porque nos propusemos a publicar uma pequena apologia do georgismo, não 'escrita' por nós mesmos, mas sob a forma de coletânea.

Tendo em vista divulgar o que os intelectuais mais expressivos do passado registraram a respeito de Henry George e suas ideais. E desmontar o juízo apressado do sr R Garofalo...

PARA NOSSOS AMIGOS CATÓLICOS SOCIAIS e para os neo católicos confusos:

O Bispo Nulty de Meath

Em 1881, dois anos apenas após a publicação de 'Progresso e pobreza' o veneravel Th Nulty, Bispo romanista de Meath, na Irldanda, publicará para uso do clero e dos fiéis, um ensaio a respeito da terra e da propriedade intitulado "Questões sobre a terra" porém mais conhecido por "Tornamos a terra" no qual exprimia pontos de vista idênticos aos de Henry George, advogando não só a absorção da renda territorial como receita pública; mas sustentando a necessidade de uma reforma agrária! Posteriormente tornou-se H George amigo do Bispo Nulty, publicando inclusive uma edição Norte americana do 'Tornamos a terra' e apensando nota em que dizia ter o líder religioso escrito tal ensaio antes de Progresso e pobreza lhe ter chegado as mãos.

O caso McGlynn

Um dos principais aderentes de Henry George e da teoria da propriedade pessoal, foi o sacerdote romanista McGlynn.

No entanto como parte dos Católicos estivesse já contaminada pela cultura protestante e fosse já adepta da teoria formal de propriedade sustentada pelos liberais, o arcebispo Corrigan, jungido pelos liberais excomungou e suspendeu este nobre sacerdote.

Posteriormente soube-se que o grande Cardeal Gibbons comungava das ideias de McGliffyn e consequentemente de H George. Cartas foram publicadas e tudo veio a luz sob a forma de um escândalo. Gibbons no entanto optou por silenciar...

Posteriormente o Vaticano enviou o núncio Satolli para examinar detidamente a questão, Satolli por sua vez solicitou uma memória ao jurista eclesiástio Burstell, a qual foi apresentada ao dito Monsenhor. Este por sua vez tomou a memória composta pelo Dr Burstell e remeteu-a a quatro eruditos jesuítas da Universidade Católica de Washington os Drs Bouquillon, O Gorman, Shahan e Grannan; a dita comissão de peritos examinou o processo e declarou por meio de um laudo "NÃO CONTEREM SUAS IDEIAS NADA QUE CONTRARIE A DOUTRINA DA IGREJA."

 Diante disto McGlynn foi reconciliado por ordem expressa de Satolli segundo as instruções de Leão XIII. Em Janeiro de 1893 o próprio Satolli publicou uma memória sobre o caso McGlynn em que declarava ter recebido daquele sacerdote uma breve exposição de suas opiniões em matéria de economia e moral, e que elas "NÃO SE OPUNHAM DE MODO ALGUM A DOUTRINA CONSTANTEMENTE PREGADA PELA IGREJA E RECENTEMENTE CONFIRMADA NA RERUM NOVARUM."

Ao fim daquele mesmo ano era este nobre sacerdote recebido em audiência pelo próprio Leão XIII, octogenário mas pleno de lucidez.

Em certo momento o Papa Pecci perguntou-lhe: Reconheces certamente o direito de propriedade.

Ao que o digno sacerdote respondeu: Perfeitamente COMO PRODUTO DA ATIVIDADE (trabalho) PESSOAL.

Como o papa não replicou nem condenou o que fora dito segue-se muito naturalmente que aceitou-o.

Ficando manifesto que a DOUTRINA LIBERAL SOBRE O DIREITO MERAMENTE FORMAL A PROPRIEDADE não faz parte da doutrina da Igreja Romana.

Do contrário Leão XIII estaria obrigado a condenar McGliffyn em nome da ortodoxia!

Calou no entanto o velho Papa e por calar consentiu.

Pelo que os neo catolicos devem precaver-se de aspirar meter pela guela adentro dos Cristãos a doutrina formalista do direito a propriedade.

E nem podia o Catolicismo servir de valhacouto a vagabundos, parasitas e ladrões, uma vez que a terra só se torna propriedade legítima e irremovível quando fecundada pelo trabalho da pessoa humana. Eis o que conhecemos por doutrina essencialista da propriedade pessoal.

Assim quando Leão XIII declara - na Rerum Novarum - que:

"O direito da propriedade particular deriva da natureza e não do homem."

Não justifica de modo algum a interpretação formalista dos liberais.

Pois com dizer que o direito a posse deriva da natureza, tocando a essência, não específica o papa porque modo ou forma este direito dimana da natureza.

Assim se os liberais contentam-se com a ocupação por marcos divisórios e registro em cartório de terras incultas, contestamos afirmando que o justo título de posse dimana do trabalho humano que fecunda a terra!

E portando que toda e qualquer propriedade não usada ou adquirida por emolumento que não derive do trabalho humano é devoluta e que a posse é ilegítima.

Agora quando a posse decorre de uma relação humana construída em torno da transformação do espaço pelo trabalho, então compreendemos esta posse não só como legítima mas como natural, pessoal e intocável; em oposição a doutrina comunista, que em geral confundem a pequena propriedade pessoal com meios de produção ou latifúndios cuja origem é quase sempre duvidosa.

Neste sentido Leão XIII parece concordar com Russeau no sentido de que o caráter da posse conferido pelo trabalho pessoal não pode ser relativizado ou anulado, mesmo pelo grupo social ou pelo poder político seja ele liberal ou comunista.

Acho oportuno acrescentar que a única razão porque o legítimo proprietário de uma propriedade pessoal poderia ser desapossado dela, seria por motivo de utilidade pública (bem comum) de relativa necessidade ou gravidade, exigindo sempre justa compensação ou indenização. Do contrário teríamos sempre um roubo ou crime, em que pese qualquer possível sanção social ou política.

Neste sentido podemos declarar a propriedade pessoal do trabalhador como sagrada e, sendo este sentido ( e não o liberal ou meramente formal!) aplaudir de pé a igreja romana como benfeitora da humanidade.

Passemos agora, sem mais delongas, aos testemunhos relativos ao georgismo e seu idealizador:

  • "Progresso e pobreza foi com certeza o livro mais importante escrito neste século." Alfred Russel Wallace
  • "Só Darwin nas ciências sociais fez o que Henry George fez no campo das ciências sociais." Jose Martí
  • "Homens como Henry George são raros, infelizmente. Não se pode imaginar mais bela combinação de acuidade intelectual, forma artística e fiel amor a justiça. Cada linha de suas obras parece escrita para esta nossa geração." Albert Einstein
  • "O povo não combate as doutrinas de Henry George SIMPLESMENTE NÃO AS CONHECE. Conhece-las é adota-las." Leon Tolstoi
  • "Não precisamos de todos os dedos das mãos para enumerar os homens que, desde Platão até nossos dias, igualam-se a Henry George, entre os grandes mestres da humanidade." John Dewey
  • "Minha ambição é saldar a dívida que com Henry George contraí: quisera ir um dia a América e tentar fazer por aquela mocidade, o que este grande homem, há quase um quarto de século fez por mim." Bernard Shaw
  • "Henry George foi a mais radical e poderosa influência exercida sobre o povo inglês durante os últimos quinze anos." John A Hobson
  • "Há no pensamento de Henry George rara beleza, uma maravilhosa fé na nobreza da pessoa humana e elevada inspiração." Helen Keller




"Para as reformas sociais, estardalhaço ou alvoroço algum, nem murmúrios, queixas ou denúncias; mas,  O DESPERTAR DO PENSAMENTO E O PROGRESSO DAS IDEIAS.!!!" Henry George


AS OBRAS DE HENRY GEORGE

  1. Progresso e pobreza
  2. Problemas sociais
  3. Proteção ou livre câmbio
  4. Condição do Trabalho
  5. O filósofo Perplexo
  6. Economia Politica
  7. A doutrina social da Igreja
DE HENRY GEORGE JR

  1. A ameaça do privilégio

BIBLIOGRAFIA

  1. Octaviano Alves de Lima 'Revolução econômico social' ed Brasiliense, São Paulo, 1947


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