quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Que Jeito Posso dar Nisso

Outro dia conversando com um amigo via-internet, debatíamos sobre o Eu, e a consciência. Percebi que meu amigo Ravick Bittencourt gosta do tema. E questionou se a consciência era real (não porque duvide, mas apenas para argumentar) se o Eu existe ou se é apenas uma ilusão. Dias antes dessa amigável discussão, tinha lido um texto que apóia a argumentação do Ravick. Então, hoje vou homenagear esse meu amigo filósofo botânico com esse texto, que foi compilado por Lin Yutang em seu livro: A Importância de Compreender da Editora Globo, Rio Grande do Sul, 1962.

Então vamos ao texto:

Que jeito posso dar Nisso?

Prefácio I e II
O QUARTO DO OESTE
Aprox. 1609-1661

Chin foi um grande comentador da peça Wang Shihfu, O QUARTO DO OESTE. Figurou entre os primeiros a considerarem a ficção e o drama como literatura em pé de igualdade com os clássicos. Os dois prefácios que escreveu intitulavam-se "Lamentação pelos Antigos" e "Um Presente para a Posteridade". Tentei conservar a deliberada repetição de certas frases como uma característica do estilo de Chin.

I

Alguém talvez me pergunte por que motivo resolvi fazer um comentário sobre o QUARTO DO OESTE e publicá-lo. Posso dizer apenas: "Nem eu mesmo sei bem. simplesmente, tive de fazê-lo".
Eras se passaram desde que a vida principiou no universo, e meses e anos sibilaram e se desvaneceram como o fulgurar de um relâmpago ou nuvens a se dissolverem, a passagem de um furacão ou o fluir das águas Neste mês e ano, há este eu temporário que, também, passará como o fulgurar de um relâmpago ou nuvens a se dissolverem a passagem de um furacão ou o fluir das águas. Contudo, e afortunadamente, aqui está para o presente este eu, o que suscita a pergunta: Como vai este eu presente empregar o seu tempo? Pensei em fazer alguma coisa, mas ocorreu-me também o pensamento de que não sei se serei capaz de fazê-la e, mesmo que a faça, essa alguma coisa que eu tiver realizado também passará como o fulgurar de um relâmpago ou nuvens a se dissolverem, a passagem de um furacão ou o fluir das águas. Ora, se desejo fazer alguma coisa e sei de antemão que aquilo que fizer passará, não será inútil, então, o que eu fizer? Chegamos, assim, ao desesperançado dilema entre o desejo de que o eu presente faça alguma coisa e o conhecimento de que aquilo que eu fizer passará daqui a pouco. Na verdade, que jeito posso dar nisso?
Não sabiam disso também os antigos? Incontáveis pessoas de antigamente estiveram de pé ou se sentaram neste lugar em que estou e pé ou sentado, agora. Não sabiam, secretamente, que um dia partiriam e alguém aqui estaria para tomar seu lugar? Sabiam que não podiam dar jeito nisso, aceitaram-no e ficaram quietas.
Não posso, em razão disso, evitar um sentimento de insatisfação para com a levianidade do universo. Nunca pedi para vir a esta vida. Deveria ter sido trazido a esta vida para viver eternamente, ou não ser trazido de modo algum. Não houve razão para que eu viesse a esta vida. Não houve para que aquilo que veio a esta vida se tornasse este eu, e não há razão para que o eu que veio a esta vida não seja feito para viver eternamente, sendo além do mais dotado de sentimento e consciência para lastimá-lo. Ai! Não sei onde vivem os imortais nem se podem retornar à vida. Mas, mesmo se eu soubesse onde vivem, ainda que pudessem retornar à vida, não se juntariam a mim nesta lamentação pelo universo?
Tenho suspeitas de que os antigos sabiam disso; mais ainda, sendo mais inteligentes do que eu, sabiam que o universo não era realmente leviano mas, também, não podia o universo dar jeito algum nisso. Realmente, se não tivesse de haver vida, não haveria este universo; como, porém, há este universo, tem de haver vida. Isto é perfeitamente verdadeiro, mas seria injusto dizer que, visto o universo dar vida, teve ele, conseqüentemente, a decisão de trazer à vida este eu particular. É que o universo simplesmente dá vida a toda a criação, desconhecendo quem ou o que o criou, e as criaturas não podem conhecer quem ou o que cada uma é. Se houver certeza de ser eu aquilo que hoje vive, então é igualmente certo que aquilo que nascerá amanhã será não-eu. Ao mesmo tempo, o não-eu que nascerá amanhã considerar-se-á como verdadeiramente eu. Isto confundiria o próprio universo, e não podemos saber de quem é a culpa.
Ora, se o universo não me trouxe deliberadamente à vida, mas deu vida a algo que acontece ser eu, então tudo quanto posso fazer será apenas caminhar para diante. Visto como o universo nunca premeditou dar à vida a este eu, então tudo quanto este eu poderá fazer será deixar que tudo passe como o fulgurar de um relâmpago ou nuvens a se dissolverem, a passagem de um furacão ou o fluir das águas. E como nada podemos fazer a respeito de nossa vinda e partida, também nada é possível fazer a respeito deste breve intervalo em que o eu temporário existe, exceto encontrar diversões temporárias para ocupar o tempo, quando for difícil achar diversões autênticas...
Então, pensa-se assim: é bem verdade que o que nasceu antes de mim era não-eu e o que nascerá depois de mim será também não-eu. Portanto, o que existe agora e é considerado como eu pode não ser realmente eu. Se o que é eu não é realmente eu, então não devo incomodar-me em imaginar que jeito dar nisso, mas não há igualmente razão para que não imagine que jeito dar nisso. É ainda possível esperar que este eu seja real e, portanto, não estarei a perder seu tempo. Por outro lado, sabendo-se que o eu não é realmente eu, por que não deixá-lo perder tempo e perdê-lo completamente? Nesse caso, é o não-eu que perde o seu próprio tempo, e não o eu quem o perde. Pode-se ainda perder o tempo de modo mais completo pensando que esse tempo não deve ser perdido, mas cuidadosamente aprestado e utilizado para alguma boa finalidade. Mas, mesmo assim, pode ser o não-eu quem venha a perder completamente o seu próprio tempo pensando em não o perder. Pode-se ir ao ponto de concentrar as energias para criar algo que valha a pena e que possa durar para a eternidade, perdendo assim completamente o tempo completamente perdido. Contudo, a perda completa do tempo completamente perdido será realizada pelo não-eu, e não por mim. Se assim é, pode-se muito bem, igualmente, deixar-me perder o tempo do não-eu. Posso malbaratar as energias do não-eu para eu próprio prazer. Posso olhar para a mão esquerda do não-eu como sendo a minha mão esquerda e bater na barriga do não-eu, ou olhar a mão direita do não-eu como sendo a minha mão direita e coçar com o dedo a barba do não eu...

sábado, 8 de novembro de 2008

"Dr." Plínio Corrêa de Oliveira e suas tolices teológicas


Na revista Catolicismo do mês de agosto de 2008 na contracapa da revista há um inusitado comentário do Plínio sobre um horroroso cadáver exposto pela "Santa Madre Igreja". Diz o infeliz:
"Tive a oportunidade de ver algo singular e raro: uma santa canonizada em carne e osso. E isso, sem que houvesse qualquer aparição ou fenômeno místico. Ela estava sentada num troneto sobre um altar. Era Santa Catarina de Bolonha.
Ela morreu há mais de 5 séculos, entretanto seu cadáver conserva-se absolutamente intacto até hoje numa igreja em Bolonha, na Itália.
Durante a II Guerra Mundial, por causa do perigo de bombardeios, o corpo da santa foi transportado para um porão da igreja; e ali, devido à umidade, a cor dele mudou, adquiriu tonalidade verde-azeitona. Entretanto, a carnatura está perfeita.
* * *
A fisionomia da santa é distendida. Apesar de estar com olhos fechados, a fisionomia tem muita expressão. O mais expressivo manifesta-se nos lábios: longos, finos e cerrados, externando um meio sorriso que é, ao mesmo tempo, de afabilidade e acolhida. Um sorriso de quem, com muita suavidade, mas muito de cima e com enorme transcendência, sorri com desdém para as coisas desta vida. Como quem diz: Olhe, tudo isso não é nada, tudo passa, não tem importância. As coisas terrenas passam, só a eternidade fica. Eu passei por tudo, sofri todas as dores, tive todas as provações. Agora sorrio para tudo isso. Porque aquilo que foram mares encapelados, precipícios temíveis, montanhas inescaláveis, tudo isso ficou para trás. Percebo hoje que tudo que passou foi nada. A vida não é nada, só a eternidade é séria.
Nela se vê ao mesmo tempo a bondade, mas também lucidez, ordem, estabilidade e decisão extraordinária. Eis a santa que vi em carne e osso!
Hoje se fala tanto de experiência, e esta foi para mim uma experiência raríssima. Só não compreendo por que tantas pessoas não se dispõem a ver esta santa em Bolonha".
Eu mesmo li e reli o texto e não acreditei no que li, sempre soube que a TFP era esdrúxula, exótica, ridícula mesmo, mas não a tal ponto. O dominus plinius diz: "Ela morreu há mais de 5 séculos, entretanto seu cadáver conserva-se absolutamente intacto até hoje numa igreja em Bolonha, na Itália". Quem viu a foto do cadáver, logo acima do texto, vê quão intacta está a Catarina. Até parece que acabou de morrer, cadáver fresquinho.
O fundador da TFP ainda diz: "Durante a II Guerra Mundial, por causa do perigo de bombardeios, o corpo da santa foi transportado para um porão da igreja; e ali, devido à umidade, a cor dele mudou, adquiriu tonalidade verde-azeitona. Entretanto, a carnatura está perfeita".
A santa não é milagreira por que teve que ser transportada? Se conseguiu preservar seu corpo da corrupção por que não conseguiu parar com os bombardeios? O corpo foi transportado para o porão da igreja, e não foi transportado por anjos... E lá devido a umidade, segundo o Plínio, seu corpo adquiriu uma tonalidade verde azeitona, ou seja, o corpo está podre!!!!!! E o falecido fanático cujo cérebro era enfermiço se atreveu a dize que a carnatura da freira está perfeita!!!! É nada mal, para um personagem de filme de terror, como por exemplo A Volta dos Mortos Vivos e Resident Evil.
O comentador inútil diz em seguida: "A fisionomia da santa é distendida. Apesar de estar com olhos fechados, a fisionomia tem muita expressão. O mais expressivo manifesta-se nos lábios: longos, finos e cerrados, externando um meio sorriso que é, ao mesmo tempo, de afabilidade e acolhida".
Sim, a fisionomia tem muita expressão, expressão de uma carne putrefata! Acho que o Plínio era necrófilo pois descreve com tanta realeza os supostos traços do cadáver que até assusta, diz ele: "mais expressivo manifesta-se nos lábios: longos, finos e cerrados, externando um meio sorriso que é, ao mesmo tempo, de afabilidade e acolhida". Parece descrever sua amada, descreve os lábios do defunto como se tivesse beijado os mesmos!!! Só mesmo essa criatura doentia para encontrar um sorriso num cadáver apodrecido.
Dominus Plinius ainda diz: "Como quem diz: Olhe, tudo isso não é nada, tudo passa, não tem importância. As coisas terrenas passam, só a eternidade fica. Eu passei por tudo, sofri todas as dores, tive todas as provações. Agora sorrio para tudo isso. Porque aquilo que foram mares encapelados, precipícios temíveis, montanhas inescaláveis, tudo isso ficou para trás. Percebo hoje que tudo que passou foi nada. A vida não é nada, só a eternidade é séria".
Pobre Catarina de Bolonha, além de ter seu cadáver exposto ao ridículo, ainda recebe a "homenagem" de um pateta iluminado. Se ela poderia ter dito tudo aquilo que o Plínio disse, ela poderia ter dito também: "Olhem, vejam tudo isso que sou não é nada, a não ser um cadáver, isto é, caro datum vermibus (carne dada aos vermes). Eu sofri e passei por todas as tribulações e nem mesmo depois de morta tenho sossego, sou exposta ao ridículo e sou motivo de escárnio! E eis que vim parar no Diário de um bobo da corte, e agora sorrio e rio, das piadas e dos chistes aos quais foi exposto o fundador da TFP.
Bom, pérolas como essas só podiam mesmo ter sido escritas pelo falecido Plínio.... Como apologista da fé Católica, ele daria um excelente comediante.
Para não dizerem que estou mentindo aqui vai o link: