quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Era Karl Marx um hipócrita?



Não preciso ser comunista para defender a idoneidade do Sr Karl Marx.

Como o jurista Sobral Pinto não precisou ser ou fazer-se comunista para assumir a defesa de Carlos Prestes.

Outros mais fariseus ou escribas do que Católicos certamente não o fariam por questões de ordem ideológica.

No entanto a justiça ou a ética não conhece ideologia.

Assim o nobre advogado deve ter se lembrado da memorável frase de Vieira:

"Justiça seja feita até ao Diabo!"

As quais ficariam muito bem nas bocas de um Sócrates, de um Platão ou de um Jesus Cristo meus senhores e mestres aos quais folgo imitar.

Ao invés dos neo católicos que preferem imitar ao fideísta Martinho Lutero ou ao fariseu João Calvino...

Eu no entanto fico bem com o Sobral, o Platão...

Antes de tudo acho curioso o fato de que geralmente parte das pessoas que reproduzem tais clichês não passam de Cristãos que recusam-se a viver o Evangelho de Cristo.

Esses coitados pensam que achincalhando a memória do socialista ateu ficam autorizados a acumular toda sorte de bens neste mundo e a viver suntuosamente.

Basta-me abrir o Evangelho e tomar as palavras daquele que dizem ser o deus deles para frustrar-lhes o pérfido intento:

"Não acumuleis tesouros neste mundo... ACUMULAI TESOUROS NO CÉU!"

"Não podei servir a dois senhores, não podeis cultuar a Deus e as riquezas."

"É mais fácil uma corda passar pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no reino dos céus."

Agora pergunto a querida platéia, quem é que proferiu condenação tão rigorosa, Marx?

Não. Jesus de Nazaré, o qual a cristandade nominal declara ser deus, mas não leva a sério nem obedece!

Quem anatematizou a doutrina do lucro máximo? Engels????

Não, o humilde carpinteiro de Nazaré...

Quem decretou castigos espirituais e punições divinas contra os endinheirados, Kautsky?

Não, o pobre filho de Maria, a Virgem...

Apesar disto como vivem os Cristãos que censuram o sr Karl Marx???

Como surdos e infiéis, juntando bens neste mundo a não poder mais e sustentando teoricamente a doutrina do acumulo ilimitado nos mesmos termos que os ATEUS Friedman e Haiek.

Que dizer então aos cristãos hipócritas e petulantes que pretendem corrigir Marx mas que recusam-se a viver o Evangelho?

Quem estão a soprar cisco em olho alheio enquanto tem uma trave ou melhor um poste fincado em seus olhos...

Marx não vivia o que ensinava...

Tampouco os neo cristãos vivem em conformidade com a doutrina de Cristo ou seja, cultivando uma vida sóbria segundo os preceitos da temperança aos quais até mesmo os antigos pagãos pertencentes ao círculo de Sócrates estavam habituados.

Os neo Cristãos no entanto aspiram viver como sofistas, a moda de Antifonte de Ramnunte, de Shilock, do Harpagão... enquanto tecem refinadas críticas ao sr Karl Marx.

Neste caso meu primeiro recado vai para esses cristãos hipócritas, pastores embusteiros, traficantes de indulgências, charlatães, ilusionistas, enganadores, empresários da fé, SIMONÍACOS, etc: daremos ouvidos as críticas feitas por vocês quando forem honestos e passarem a viver como Jesus Cristo preceituou...

Em segundo lugar declararei que se Marx era vagabundo por jamais ter exercido trabalho braçal ou manual também Platão, Aristóteles, Teofrasto, Cícero, Sêneca... ENFIM A QUASE QUE TOTALIDADE DOS FILÓSOFOS GREGOS NÃO SÓ ERAM VAGABUNDOS mas canalhas, uma vez que alguns deles, inclusive, tiravam rendas do trabalho escravo!!!

E no entanto os mesmos senhores que criticam Marx, leem as obras de Sêneca, Ovídio, Virgílio, etc sem se incomodarem ou atira-las ao fogo...

Nem ouço-os mimoseando Demócrito, Parmênides ou Apolônio com os epítetos de: vagabundo, poltrão, hipócrita, safado...

E no entanto uns e outros não só dedicavam-se a trabalhos de natureza intelectual ou material - o único trabalho digno do homem livre inserido na cultura greco romana - como encaravam o trabalho material ou braças como degradante, enfim como coisa de escravo...

Acontece que Karl Marx trabalhou sim como pesquisador, escritor, pensador, jornalista, articulista, etc Chegando a ler todos as obras da Biblioteca central de Londres consagradas a economia. Tarefa nada desprezível... e a escrever vultoso número de obras, algumas inclusive de caráter científico como o odiado 'Capital', além dos aludidos ensaios e artigos.

Agora se ser jornalista ou escritor é ser vagabundo que eram Stuart Mill e Herbet Spencer??? Pedreiros ou marceneiros??? Não que eu saiba...

E esses articulistas e jornalistas de péssimo gosto a exemplo do sr Reinaldo Azevedo, do sr Constantino, do sr Gentili; que nada de útil ou produtivo fazem além de respirar, comer, beber e excretar, como mereceriam ser qualificados???

Se por vagabundo compreende-se quem não é operário ou trabalhador braçal Marx terá de dividir seu título com uma multidão de charlatães, que sequer leram 1% da Biblioteca de Londres...

Quanto aos mais...

Que Marx jamais tenha pisado numa fábrica é crítica mais do que pueril e desonesta pois até onde sabemos participou de diversas mobilizações sindicalistas no termo final de sua existência.

Que tenha vivido as largas e outra mentira da qual os religiosos e toda gente honesta deveria abster-se. Uma vez que após o fechamento da Gazeta renana passou a enfrentar sérias dificuldades financeiras, a ponto de ter de ser socorrido pela bolsa do fiel F Engels...

Agora não me venham dizer que vivia as custas de Engels uma vez que o querido Herbert Spencer, sendo de origem humilde, teve de ser - em diversas ocasiões - socorrido pela bolsa de Stuart Mill que era de origem abastada e amigo seu.

A diferença aqui é que Spencer por ser liberal pode encontrar e exercer ocupação enquanto que Marx por ter ousado defender ao sua maneira e moda, os direitos de quem não tinha direito algum, passou a ser sistematicamente boicotado e, consequentemente impedido de encontrar ocupação (trabalho). Donde lhe veio em auxiliou o amigo Engels por admirar-lhe a tempera.

Ademais, contamos com o testemunho insuspeito de Savage Landor, o qual na afamada entrevista descreve a residência de Karl Marx como simples e suas maneiras como dignas e sóbrias. Parece que entre o lar de Marx e o do filho de Sofronisco não havia lá muita diferença...

Verdade seja dita: o pai do comunismo jamais habitou num palácio, num castelo ou numa vivenda glamorosa.

É verdade que casou-se com uma nobre falida; Jenny, cuja família melindrou justamente devido a suas atividades sociais. Foi um dos poucos casamentos do tempo feitos por amor - tanto que faleceu pouco tempo depois da morte da esposa, segundo dizem 'deprimido'  -  e do qual não lhe adveio qualquer vantagem pecuniária.

Muito mais abastado do que Marx era certamente Von Mises, o qual por sinal alinhou-se ideologicamente com os abastados... Não Marx.

Resta-me advertir ainda que se as calúnias e invenções reproduzidas no panfleto acima fossem consistentes o hipócrita seria Marx, a pessoa de Marx e não o comunismo, que não é uma pessoa mas uma ideologia.

A confusão feita aqui entre a pessoa e a teoria beira ao ridículo.

Partindo deste argumento miserável poderíamos seria fácil lançar ao fogo todas as obras de Martim Heiddeger, o filósofo portátil de Hitler e nem mesmo papai Mises por ter integrado o governo fascista de Dollfuss... além de ter apoiado o regime de Mussolini (Raico 1996 'Mises sobre o fascismo..,'). E sempre poderíamos acusar o islam e o protestantismo de assassinos pelo simples fato de Maomé e Lutero terem cometido assassinatos...

No entanto entrar diretamente por este caminho, confundido pessoas com ideais, seria desonesto e apelativo.

Coisa de quem não tem argumentos com que combater o Comunismo.

Então apelam a jargões imbecis... típicos da sifilização yankee.

Resta-me dizer que se Marx jamais foi proletário e lhe faltava experiencialidade neste sentido, sobejava a mesma experiencialidade a Católica Simone Weil, a qual com não menos veemência denunciou em nome do Sagrado as atrocidades perpetradas pelo materialismo economicista. Isto após ter abandonado sua vida burguesa e folgada para trabalhar durante mais de um ano numa fábrica, ficando com a saúde comprometida para o resto de seus dias.

Então se não nos demove o testemunho do ateu Marx arrasta-nos o testemunho da devota Simone Weil.


2 comentários:

Márcio disse...

A biografia de Marx, quando contada pela esquerda fala de sua penúria, suas dificuldades e etc. Trata sua empregada como uma militante e não uma empregada, enfim uma amante, a qual concebeu um filho com Marx. Segundo alguns, foi o único que teve uma vida longeva.

Quando contada pela direita, a biografia é a que você mencionou.

Já ouvi comentários de que era racista, gostava de dinheiro emprestado e adorava um plágio.

Por exemplo a teoria da mais valia, segundo alguns era de autoria de Rodbertus, 13 anos mais velho que Marx, e que não via o burgues como explorador do proletário, pois considerava ambos parceiros. Havia após a produção a necessidade de se estocar e vender os bens, assim a mais valia poderia também vir a ser prejuízo.

Há também a afirmação de que Marx não entendia de economia, pois ao se dividir a Alemanha em duas, tivemos o resultado que houve. O mesmo povo e as mesmas condições geraram uma pobreza e uma riqueza.

Enfim, quem era Marx de fato?? É possível saber?

Fernando Rodrigues Felix disse...

Os personagens mais excelentes da História humana via de regra são classificados como contraditórios, loucos... Assim Buda, Jesus, Sócrates; cujas existências tem sido negadas pelo 'Homem medíocre' por sinal. O homem medíocre apenas não é enigma e não pode tolerar ser ultrapassado pelo gênio.

Há diversas versões sobre Sócrates e Jesus inclusive, embora tenham vivido ambos sob o domínio da História escrita e razoavelmente bem escrita.

Marx, Darwin, Freud, Weber e outros viveram sob a plena luz da História.

Eram acima de tudo humanos e precipuamente humanos, e como tais tinham seus senões, seus defeitos, etc

Sócrates e Jesus são considerados 'divinos' porque chegaram ao extremo de perecer em nome do que ensinavam ou criam e Buda por ter vivido rigorosamente aquilo que anunciava.

A esquerda radical expurga a vida de Marx com o intuito de canoniza-lo, santifica-lo ou diviniza-lo. Isto porque encara suas obras acriticamente i é como espécie de escrituras religiosas e infalíveis. Nada mais repugnante.

Isto no entanto não desculpa a ma fé dos liberais ou direitistas.

Os quais a pretexto de qualquer coisa vão colher fatos inglórios a vida de Marx sem se concentrar em sua crítica econômica.

Pois não observo que os mesmos juízes e censores investiguem as vidas de Bacon, Hobbes, Rousseau, Voltaire, Kant, Freud, Darwin, etc

Quem discute em torno das teorias de Rousseau não tem por costume aludir ao fato do abandono dos filhos porque tal fato de sua vida pessoal nada tem a ver com as teorias a serem discutidas...

Agora a propósito de Marx lembram-se do filho, da empregada, do cão, do papagaio, etc Quando deveriam concentrar-se apenas em sua crítica econômica direcionada ao capitalismo.

Diria em alto em bom som que as preferências culinárias ou sexuais de um Weber ou de um Sombart não vem a propósito de suas teorias...

Penso em Marx como um ser humano tão humano quanto os demais e não como um S Francisco de Assis...

E não me preocupo com isto.

Agora vamos ao plágio.

De fato Marx não é autor original.

A maior parte de suas opiniões foram tomadas a outros autores como Destut de Tracy, A Blanqui, P J Proudhon, etc

De modo que Marx foi mais um erudito, polimata, sistematizador e vulgarizador do que outra coisa. Basta dizer que leu quase tudo que havia sobre história econômica na Biblioteca de Londres.

Sendo assim foi acusado pelo próprio Proudhon dentre outros, mas, cabe lembrar que naquele tempo ainda não haviam direitos autorais ou intelectuais e que a apropriação das ideias alheias era algo absolutamente comum.

Tais acusações demasiado amargas são bastante comuns nos domínios da literatura européia do tempo.

Quanto a questão econômica basta dizer que J M Keynes incorporou a sua analise parte das críticas de Marx. Ademais ele só tirou as conclusões 'escolásticas' a partir dos clássicos: Smith e Davi Ricardo.

Respeitosa, att e cordialmente.

Ps.: Quanto a seus delírios proféticos sobre o futuro ou suas instruções normativas a respeito do que fazer, evidentemente que não pertencem aos domínios da economia. Como não sou comunista sequer tenho interesse em discuti-las, sabem-me tanto quanto o chapeuzinho vermelho ou a gata borralheira.

Indicação de leitura para todos os leitores: Raymond Aron marxologo não marxista.