quarta-feira, 4 de março de 2009

A arte de conversar

Saber conversar é antes de mais nada uma arte. Conversa quem pode e não quem quer. Creio que neste ponto o dileto(a) leitor(a) vai concordar comigo. Toda conversa depende do modo como se porta o interlocutor, como fala e do que fala. Pessoas há com quem se conversa uns míseros 5 minutos e parece que esse tempo se estende até quase à eternidade. E pessoas há que conversando duas horas ininterruptas parece que se conversou por dois minutos, tal é o prazer que nos dão suas agradáveis companhias.

Todos nós procuramos boas conversas e bons conversadores, posto que somos seres gregários, políticos, isto é, da pólis (cidade). Pois queremos ouvir e compartilhar conhecimentos e sentimentos, queremos descobrir no interlocutor um alter ego, um outro eu.

Ninguém gosta de conversar com pessoas com quem não tem nenhuma afinidade. Um doutor em letras não vai querer conversar sobre literatura com um analfabeto tampouco um jogador de futebol exprimirá o desejo de conversar com astrônomos.

Há tantas conversas como há conversadores. Nem toda conversa é boa nem todo conversador é bom ainda que saiba se expressar de um modo elegante. Quais são os tipos de conversadores?
Temos o dogmático, o que fala somente de si, o tesoura e o "monologador".

O dogmático é aquele que deseja impor sua opinião ao outro, seja ela religiosa ou não. O dogmático acredita que o interlocutor está enganado e que ele está infalivelmente certo e por isso se acha no dever de convencer o outro. Exemplo disso abundam no site de relacionamentos Orkut, em comunidades de ultra-direita, do Olavo de Carvalho, de criacionistas (que são todos de direita) e também de stalinistas e de esquerdistas sem causa. O dogmático até pode deixar você falar, mas não porque esteja interessado em trocar idéias, mas para ouvir seu argumento e desmontá-lo assim que você acabe de falar. Sempre que você fala com o dogmático ele põe em seu pescoço o colar do desdém. Na vida real também topamos vez por outra com os conversadores dogmáticos, são as Testemunhas de Jeová que nos "visitam" de vez em quando para anunciar as "boas-novas do reino". E com Testemunha de Jeová não se discute, elas crêem piamente estar certas e seus interlocutores errados. Não adianta contra-argumentar pois elas dizem que você não entendeu a mensagem e se você fala que já tem religião, elas dizem na maior cara de pau que não pregam religião. Quem conhece sabe.

O conversador que fala de si é uma verdadeira "mala sem alça", tudo gira ao redor de si, toma-se como medida de todas as coisas, acha que é o centro do universo, se vitimiza, reclama do salário e faz apologia de como é inteligente, bonito(a), etc... Esse até pode lhe ouvir, mas tudo o que você falar para ele(a) não tem a mínima importância a não ser que você o(a) cubra de elogios. Um ser totalmente asqueroso!

O conversador tesoura é aquele que não deixa você terminar uma frase, que lhe corta o raciocínio, que lhe interrompe pra completar suas frases e raciocínios. Se algo na conversa o incomoda, ele não espera você terminar o que tem a dizer e corta lhe contradizendo e lhe enchendo de perguntas. O conversador tesoura não sabe ouvir.

O "monologador" é aquele que fala o tempo todo, que acha que conversa é monólogo e pega o interlocutor pra Cristo. Ele também se põe como centro do universo, creio que o leitor(a) conhece ao menos um exemplar desse.

Falamos até aqui dos maus conversadores, aproveitemos o ensejo e falemos de igual modo dos bons conversadores, melhor, falemos de como ser um bom conversador.

Como conversar bem? Como se tornar um bom conversador? Um bom conversador deve ser um bom ouvinte, deve saber o que falar e pensar antes de falar. Não deve falar só de si, mas mostrar verdadeiro interesse pelo outro. Deve ser agradável e divertido, mas sem excessos, evitar gírias e palavrões de modo a não se tornar vulgar. O bom conversador precisa ter uma bagagem cultural, não precisa ser um erudito mas saber um pouco de tudo para se entabular uma boa conversação. Não deve ter a voz monótona mas mostrar a emoção na voz quando for preciso, uma voz monótona faz com que o interlocutor boceje. O bom conversador deve saber conversar com o corpo também. Saber gesticular, assentar-se, não cruzar os braços enquanto se conversa, deixar o corpo todo em direção do nosso interlocutor. Recomendo para os que tem interesse em reconhecer os sinais de interesse/desinteresse que o corpo dá numa conversa o Livro O Corpo Fala de Pierre Weil.

Aprendamos a cada momento de nossas existências a sermos cada vez melhores conversadores caro leitor, você e eu.

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