quarta-feira, 11 de março de 2009

Graças a Deus, uma pinóia!

Sempre que converso ou passo pelas ruas ouço o famigerado: "graças a Deus". É um tal de graças a Deus pra cá, graças a Deus pra lá, que fico enojado. Sou teísta, mas sei que Deus não interfere em absolutamente nada em minha vida ou na vida de quem quer que seja.

Outro dia conversando com uma professora de biologia, pessoa agradável, sensível, inteligente mesmo. Disse que dava aulas particulares e nunca cobrava. Certa vez uma moça pediu para que ela lhe desse aulas particulares e disse que pagava o quanto era preciso, pois disso dependia para passar num concurso. Perguntei a amável professora:
- A moça passou?
- Graças a Deus!
- Graças a senhora professora - retruquei.
-Não, graças a Deus, pois foi ele quem me deu saúde, e se eu ficasse doente aquele dia?
Sorri com um sorriso sem graça e demos a conversa por encerrada.

Tempos depois conversei com outra professora cuja mãe teve um derrame. Perguntei se a mãe estava melhor.
- Sim, nós pensávamos que ela ia ficar internada, mas o médico a liberou e disse que o AVC foi fraco e que com a fisioterapia, não tarda que melhore. Graças a Deus que está melhor.
...

Como o(a) leitor(a) percebeu fiquei reticente, o que eu iria falar para ela? Fazer uma exposição filosófica de como Deus não intervêm no mundo? Claro, minha vontade era dizer uns chistes, mas controlei-me para não ferir seus sentimentos. Mas veja só a falta de lógica das pessoas. Elas acreditam piamente no grande vigilante do universo, no deus policial, vingador e recompensador. Deus, fez com que a mãe da professora tivesse um AVC que não foi muito grave, poderia ter sido pior, então: "graças a Deus". Se esse deus estereotipado existisse eu não agradeceria por ter dado um AVC mais fraco em minha mãe, pelo contrário lançaria muitas blasfêmias ao modo de Lutero.

Outras expressões abomináveis são: "Vai com Deus" e "Se Deus quiser". A primeira transforma Deus numa dama de companhia, e cá entre nós quantas pessoas "vão com Deus" para trabalhar e/ou estudar e não voltam porque simplesmente morreram, parece que a companhia do Onipotente e nada é a mesmíssima coisa. Vez por outra respondo: "Não convidei ninguém para me acompanhar". Quanto a última expressão: "Se Deus quiser", há muito que abandonei esse fatalismo, esse maktub - estava escrito. Esse se Deus quiser nos sujeita inteiramente aos caprichos de Deus. E se Deus não quiser, aí fulano não se recupera, se Deus não quiser eu não arrumo emprego, não concluo o meu curso superior? Lembro-me de quando estava cursando geografia, uma amiga dentro do ônibus me disse:
- Se Deus quiser eu termino este curso.
- Deus querendo ou não querendo hei de terminar - retruquei e todos os que me ouviam ficaram escandalizados pela "horrível blasfêmia".

Concluindo, eu não vou nem com Deus nem com o diabo, e para quem acredita que todas as coisas são da vontade de Deus, saiba que este texto foi Deus quem quis, se não quisesse não deixaria eu ter escrito e publicado tal. E você leitor(a) amigo(a) terminou de ler este texto graças a si mesmo(a).

3 comentários:

geysahelena disse...

Amei kkkkkkkkkkkkkkk Realmente graças a Vc Fernando li algo tão coerente. Como é difícil deixar crenças e temores de lado. Como é comodo nos livrarmos de nossas próprias responsabilidades e imputá-las a deus quase sempre, e claro qdo nos convem ..... Eu mesma ainda não me livrei 100 % kk..beijos!

Fernando Rodrigues Felix disse...

Fico feliz que tenha gostado do texto Geisha. Procuro sempre ser irônico e divertido.

K-Lopes disse...

essas expresões são fruto de uma fé infantil, e supersticiosa.