terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Minha leitura de Batman

Quando eu era mais moço eu adorava Hqs (histórias em quadrinhos), não de todos os heróis mas apenas do Batman e Homem-Aranha. Gostava de ler o Batman não porque eu o admirasse como herói, não mesmo. O que me fascinava e ainda fascina é o motivo que levou o Batman a ser quem é, assim como seus adversários.

Batman se tornou o que é, não porque fosse bonzinho, mas para enfrentar seus medos, cuja causa foi o assassinato de seus pais ainda na infância. É uma história da superação. Claro, que de sua vida heróica, muitos se beneficiaram.

Não vejo nas histórias do homem morcego, aquela dicotomia que se vê em outras Hqs, a luta entre bem e o mal, uma luta entre anjos e demônios. O Batman é humano, tem medos, mas enfrenta-os. Sente-se indignado, todavia sabe que seus inimigos são loucos ou psicopatas.

Dois personagens em especial me chamam a atenção: Duas Caras e o Espantalho. O primeiro é o ex-promotor Harvey Dent que teve seu rosto desfigurado por um criminoso, há várias versões de como isso aconteceu. Uma delas diz que aconteceu quando estava acusando um réu e quando ele chegou perto do réu, esse jogou um vidro de ácido que trazia às escondidas, no rosto do promotor. Outra versão é que um dia, ele conversava com o Coringa, e este lhe disse: "Um dia você vai mostrar o seu lado criminoso Harvey". No dia seguinte, o Coringa foge da prisão e Batman e o promotor vão ao seu encalço. O coringa arma uma cilada e joga gasolina em Harvey, este tem o seu rosto queimado e vai para o hospital. Ao ver que sua face está deformada, ocorre nele uma transformação interna. Sua personalidade se fragmenta e ele passa a decidir todas as coisas, como poupar ou matar alguém por meio de uma moeda que tem duas caras, uma das quais está marcada. Se a moeda cai na face marcada o indíviduo vítima de Harvey Dent é morto, se cai na face saudável ele o poupa. Será que Harvey já tinha tendências psicopáticas em menor grau ou será que ele perdeu a razão ao se ver desfigurado? Por que sentiu-se fragmentado, foi ter visto duas faces num mesmo rosto, isto é, uma parte saudável e outra deformada? Se isso acontecesse conosco será que saberíamos enfrentar tal situação? O ódio de Harvey tem razão de ser? Por que usa a moeda para decidir o que quer? Que valor tem essa moeda? Penso que o ex-promotor está dividido, já não é um ser íntegro e então depende de um objeto para poder fazer suas decisões. Numa história do Batman em desenho animado me recordo que enquanto Dent tirava a sorte com sua moeda, Batman jogou no mesmo momento dezenas de outras moedas, o que fez com que Dent procurasse desesperado sua moeda no chão para saber o que deveria fazer. O último é o famigerado Espantalho que gosta de assustar as pessoas, sente prazer em ver as pessoas se apavorando, mas tudo isso tem uma razão de ser. Jonathan Crane (o Espantalho) quando adolescente era muito magro e fraco, e ele era motivo de chacotas de seus colegas, esse garoto vivia sob o signo do medo porque apanhava de seus colegas que eram bem mais fortes que ele. Isso foi gerando um ódio gigantesco que o levou a cursar psicologia ou psiquiatria segundo alguns e estudar fobias e meios de aterrorizar as pessoas. Se quando garoto ele tivesse sido respeitado, ele teria se tornado o monstro que se tornou? Fica aí a pergunta.

O que me encanta no Batman é que tudo isso é humano e ninguém está livre disso, e nós como sociedade podemos criar esses monstros ou nós, enquanto indivíduos podemos ser vítimas da sociedade e nos metamorfosearmos num serial killer, num bandido cínico. Como dizia Terêncio: "Sou homem e nada do que é humano me é estranho".

Um comentário:

Ravick disse...

Acho muito interessantes essas 'dissertações' sobre a psiquê de personagens de ficção.

Especialmente quando há razões como essas para os "vilões" semrem oq se tornaram.

Acho que os personagens dizem o que seus criadores queriam poder dizer. Consientemente ou não.