terça-feira, 19 de maio de 2009

O desarmamento civil

Li um artigo de meu amigo Ravick no blog Os Amorais, no qual ele discorre acerca da violência urbana e ele não defende nem a tese de que "bandido bom é bandido morto" nem a tese de que o bandido é fruto da sociedade capitalista. Como o assunto me interessou resolvi deixar aqui o que penso acerca de tal assunto.

Que a sociedade está violenta não se faz mister dizer, não é preciso que um Datena da vida nos anuncie a fealdade de nosso mundo. Qual é a solução dos conservadores, dos "homens de bem" (TFP, Olavetes)? É uma solução imediatista: "Bandido bom é bandido morto", que "o homem de bem" tem o direito de se defender. Na teoria isso é lindo. Como discurso, maravilhoso!

Mas quais as consequências subjacentes disso?
No que o armamento é realmente útil para a sociedade?

O que subjaz desse argumento de armamento civil, é em primeiro lugar o individualismo, e isso é óbvio prejudica o coletivo que é a sociedade. Ora o coletivo é o todo e o cidadão é a parte do todo. A parte não pode tomar uma iniciativa que afete o todo, é ele o indivíduo que deve se adapatar à sociedade e não o contrário.
Com essa propaganda que "bandido bom é bandido morto" a direita quer transformar o país num velho oeste, um país sem fé, nem lei, nem rei. A partir do momento que eu faço justiça com minhas próprias mãos, nego o Estado, já não preciso do Estado. É cada um por si e Deus por ninguém. Se eu posso me defender com minha própria arma, estou afirmando que a polícia é inepta, afirmo que o Estado está falido, e por isso tomo uma iniciativa egocêntrica: "que eu viva e que se fodam os outros!". Interessante não?

Mas no que o armamento é realmente útil para a sociedade ou para o cidadão? Vejamos.
O "homem de bem", olavete e/ou tefepista acha que possuir uma arma é uma forma de se proteger ou de intimidar os bandidos. Ha ha ha, até parece.
O cidadão possui porte de arma? A maioria não possui, mas jura por Deus e por todos os santos que é cidadão de bem. Ele é bom atirador, fez alguma espécie de curso? É frio e calculista como o criminoso? Estará preparado caso seja abordado por bandidos?

Um bandido certamente não fez curso de atirador, mas como sua vida faz parte dessa guerra urbana, certamente tem melhor mira que o "homem de bem", que não fez curso e nunca treinou. Um bandido não hesita em atirar, talvez o cidadão de bem hesite. Caso nosso bom cidadão atire, ele pode errar e disparar uma bala perdida, há certa probabilidade.

O cidadão honesto ainda pode ser desarmado e ter sua arma roubada por meliantes. Aqui em minha cidade natal, São Vicente, soube de um caso onde o dono de uma doceria teve sua armada roubada por assaltantes, fora o prejuízo financeiro. Mais uma arma nas mãos dos bandidos e por quê? Por capricho desse cidadão cumpridor das leis que exigiu se "proteger" a si mesmo e a sua família.

Se o armamento civil não é a solução então qual é? Pressionar o governo, exigir dos "nossos representantes" que façam leis mais severas. Que o governo pague melhor à polícia, que lhes dê bons equipamentos e capacitação para trabalhar. Uma justa distribuição de rendas e um ensino de qualidade. Embora não fale abertamente o governo quer isso, que você se isole, que fique alienado por causa da violência e se esqueça de cobrar aos governantes e os nossos "representantes".

Não adianta, se você é favor das armas, pode se armar até os dentes. Uma hora, por causa do seu individualismo será atingido. Conhece aqueles filmes de mortos vivos como a trilogia Resident Evil, A Volta dos Mortos Vivos entre outros? Que mesma armada muita gente acaba mal?

2 comentários:

Ravick disse...

Grande Félix!

Hum... acho melhor eu comentar por partes.

Sobre o armamento civil ser inútil e até perigoso, não tenho opinião formada. Claro que há mais risco de ferimentos a bala se vc tem uma arma de fogo em casa, mas perigo semelhantes oferecem armas brancas, automóveis, agrotóxicos, produtos de limpeza e outros venenos, tomadas elétricas e etc. Claro que todas esssa coisas têm uma outra utilidade que nao ferir, coisa que não acontece com armas de fogo (nem mesmo as de caça, para o caso de algum caçador hipócrita ler isto). O frentista do artigo semdúvida só teve foi sorte, pois o ladrão não esperava reação. Os próximo sladrões que lá entrarem, não vão mais cair nessa.

Mas note que, exceto se visto sob a ótica de alguma moral, isso não é argumento para definir tal como "certo" ou "errado". Pessoalmente, posso não apreciar a posse de armas, e creio q nunca comprarei uma, mas certamente vou lamentar em alguma ocasião em que alguma viesse a me ser útil.

Sobre a proteção individual significar a recusa da autoridade do Estado, eu discordo. A meu ver a proteção do Estado denota algo não imediato, uma proteção mais do tipo preventiva, ao passo que a proteção pessoal é imediatista, para quando a prevenção não faz efeito.

Sobre os Olavetes e TFP defenderem o "bandido bom é bandido morto", vc há de convir cmg que estes grupos são compostos por pessoas simplórias, ainda que não o admitam, e q certamente se julgam "melhores" do que os criminosos. A esse tipo de pensamento deles, nem há necessidade de resposta, pois em nada difere do populacho que acredita em criacionismo, por exemplo, é ume mera escolha de times por pessoas ingênuas.

Acho que era "só" isso , hehehe

Abração :D

Fernando Rodrigues Felix disse...

Caro Ravick, se você tem armas brancas e agrotóxicos há de convir comigo que os bandidos não levarão nem o agrotóxicos nem as armas brancas.

E você como homem instruído que é, sabe que crianças e adolescenrtes curiosos morreram ou mataram acidentalmente por causa de armas de fogo.

Minha ótica não se baseia numa "moral" mas na lógica. A partir do momento em que faço uso de armas, nego o Estado, e faço as vezes da polícia. E essa não é a solução. Pode ser um paliativo.

Hoje em dia, a lei é bem mais severa para se tirar o porte de armas, ainda bem, senão assistiríamos espetáculos deprimentes de machões no trânsito sacando suas armas.