domingo, 25 de dezembro de 2016

Burguesia, capitalismo e espírito democrático

Espírito democrático é espírito de liberdade, de opção, de escolha, de decisão.

Implica reconhecer que todos os cidadãos são responsáveis pelo governo ou administração da cidade e mão apenas um, dois, três ou alguns.

Supõem, no mínimo que as decisões da maioria sejam sempre acatadas.

Do contrário existe dominação ou concentração de poder nas mãos duma pessoa ou de um grupo em detrimento do bem comum, noutras palavras: opressão.

Até mesmo no plano da democracia impura, formal, indireta ou representativa pressupõem-se necessariamente o risco ou necessidade da alternância no poder já em termos ideológicos, já em termos meramente censitários.

Assim se nos posicionamos contra a simples possibilidade da alternância no poder é porque nos recusamos a reconhecer o povo como árbitro decisório e enfim porque negamos sua capacidade para o exercício da liberdade. Ficando a democracia morta na fonte.

No que tange a esfera do político ou das coisas comuns (que pertencem a Pólis) o democrata, policrata ou libertário reconhece que todas as decisões cabem ao povo e que a opinião contrária implica dominação.

Em termos de democracia pura ele esta firmemente persuadido que as discussões, debates e diálogos propiciarão a defesa dos mais variados pontos de vista, o exercício da argumentação, o acesso a informação, a possibilidade da comparação e a tomada da decisão mais acertada. Importa participar ativamente das discussões, exercer a cidadania e suster honestamente seus pontos de vista. Humanamente falando temos aqui o sistema que nos oferece as melhores garantias possíveis, inda que sem tornar-se infalível.

Agora em termos da democracia 'fajuta' ou precária que temos, torna-se a situação bem mais complexa. Embora as eleições quadrienais tragam ao menos uma vantagem que é justamente a possibilidade de revisarem-se certas leis na medida em que pela alternância uma outra ideologia toma posse do poder.

Quero dizer que as eleições quadrienais, ao menos em tese, propiciam a possibilidade de que ao termo de uma gestão pública mal sucedida, seis críticos e opositores venha a sucede-la trazendo propostas totalmente distintas. Eis a alternância no poder!

Agora poderá o socialista, o humanista, o social democrata, o trabalhista... admitir sinceramente este princípio, especialmente quando sua plataforma esta no poder????

Em que pese sua certeza em termos absolutos de que as soluções socialistas são quase sempre as melhores, o democrata admite que salvo seu juízo pessoal, o julgamento do governo e de todo governo pertence ao povo e não a si, a comunidade e jamais ao indivíduo, inda que de caráter nobre e esclarecido. Admite ele que gestão e administração socialista seja avaliada criticada pelos adversários, vigiada pela opinião pública e avaliada pelo povo; e como propõem-se a governar para o povo e não para castas, classes, categorias, grupos, etc não teme ser avaliado por ele embora admita que ele possa equivocar-se.

Segundo a perspectiva socialista equivocam-se as massas quando elegem um governo demagógico voltado para as necessidade do mercado e do capital. Transferir o poder a um governo inspirado nos princípios liberais economicistas constitui quase sempre uma tragédia em termos sociais e nem sempre temos como evita-la ou como impossibilita-la democraticamente falando.

No entanto a decisão mais acertada em tal conjuntura não é chutar o balde da democracia ou agir hipocritamente buscando derrubar o governo por força das armas. Aqui a melhor das soluções é - a bancada socialista - opor-se as más iniciativas do governo, estabelecer a crítica e buscar informar e conscientizar o povo preparando o clima para a próxima eleição.

Se somos democratas atribuímos ao povo o direito de errar. Afinal a possibilidade de errar faz parte do exercício da liberdade e quando negamos o direito ao erro, aniquilamos a liberdade. Claro que a liberdade não existe para o erro, mas para que o acerto seja meritório. No entanto o erro não pode ser descartado ao menos enquanto possibilidade sem que nos tornemos dominadores e totalitários.

Mesmo quando estamos convencidos de que nossos ideais são os melhores não nos é dado impo-los como quem domina.

Ou...

Revertamos agora a dinâmica e pergunte-mo-nos se a burguesia aceitou de boa fé e até o fim as exigências do espírito democrático.

Enquanto possibilidade de alternância no poder e a eleição e o reconhecimento de um governo popular ou socialista???

E como nestes tristes tempos temos de esclarecer o óbvio, é evidente que não estamos falando em comunistas, bolcheviques ou vermelhos pelo simples fato de que recorrem as pontas das baionetas e não a sufrágios! Evidente que estamos falando daquilo que o profo Everardo Beckheuser classificava como governo rosa i é ao bem esta social, trabalhismo, social democracia, democracia Cristã, keynesianismo, etc E sempre numa perspectiva democrática jamais golpista!

Na prática a experiência histórica demonstra-nos que não.

Basta para tanto apontarmos o último período do governo Vargas, que culminou com o suicídio (???) do presidente, ao governo Jango atalhado por um golpe militar, a deposição irregular e ilegal da presidenta Dilma pelo Congresso... Para nos atermos ao Brasil apenas.

Assim enquanto enganam o bom povo e governam os liberais hipócritas vivem com a boca cheia de democracia e ordem, mas... quando constitui-se livre e democraticamente pelos sufrágios do povo um governo não liberal, os bons liberais economicistas atraiçoam sordidamente o liberalismo político e recorrem a força das almas com o objetivo de aniquilar a democracia!!! Isto não interpretação ou análise são fatos e temos já três interrupções do estado de direito, não pelos rosas, mas pelos 'liberais' ou democratas de fancaria!

Implica isto um oportunismo e não um espírito democrático e a aceitação da ordem democrática apenas enquanto nos favorece e apenas até onde nos favorece. Triste realidade: os pressupostos da ordem democrática não foram aceitos até o fim pela burguesia ou pelos liberais economicistas e em suas mãos ela não passa de mais um instrumento destinado a perpetua-los no poder. É a busca sútil, disfarçada e sorrateira pela manutenção do 'status quo'. Pelo que temos aqui a manipulação, a profanação, a instrumentalização imoral da democracia. E não sua aceitação integral, como um espírito que nos deve sinceramente animar.

Aqui a simples possibilidade da alternância no poder e a formação de um governo socialista, implica pânico generalizado por parte dos eternos donos do poder e das elites parasitárias.

Não, nossa burguesia golpista e fingida ainda não esta a altura da elevação e da pureza do ideal democrático da auto determinação popular.

O que eles querem é continuar dominando o povo. Embora dando-lhe a ilusão e a mera ilusão de que governa a si mesmo e escolhe seus caminhos.

Neste caso por que derrubaram o antigo regime???

Era bem mais honesto e moralmente correto conservar o poder absoluto do rei, ao invés de construirmos uma democracia aparente ou de fachada.

Enfim até nossa democracia continua sendo apenas para 'inglês ver'.

Será que o inglês se deixa enganar - após três golpes! - a ponto de crer nela?

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