sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

A desnatalização do Natal






Naturalmente que Jesus não nasceu no dia 25 de Dezembro e não é preciso ser um Sherlock Holmes para sabe-lo.

Como Jesus não Era rei ou filho de rei mas filho de um humilde carpinteiro lá das bandas da Judeia seu nascimento passou em branco e nós não temos como saber o dia exato em que nasceu o personagem mais importante da História.

No entanto como era necessário lembra-lo e reverenciar o mistério da entrada de Deus no mundo, a igreja Ocidental ou latina escolheu o dia do Sol Invicto, que era uma festividade muito apreciada pelos antigos pagãos.

Quis significar com isto que Jesus Cristo é o 'Sol triunfante' ou sempre vencedor do mundo espiritual.

Desde então, Era o século IV desta Era, a data passou a representar o nascimento de Cristo, ao menos para os Cristãos ocidentais.

Não era ao astro rei deste sistema que nossas ancestrais pretendiam adorar ou cultuar no 25 de Dezembro de cada ano mas o Jesus dos Evangelhos, nascido da Santa Virgem numa manjedoura, reverenciado pelos seres espirituais, saudado pelos pastores e presenteado pelos magos da Pérsia com ouro, incendo e mirra.

Cristão algum jamais teve a intenção de cultuar o sol no dia 25 de Dezembro mas a Jesus Cristo, o qual ensinou-nos a julgar os atos humanos através das intenções. Os fanáticos e sectários que me perdoem mas para que nossos ancestrais tivessem cometido o pecado de adorar o Sol, deveriam ter tido a intenção de faze-lo, o que obviamente não tiveram. Era a Jesus Cristo que se reportavam seus afetos e sentimentos e não ao Sol...

E Jesus Cristo que sempre julga segundo as intenções que animam o coração humano deve ter acolhido de boa vontade este tributo de amor.

Tampouco sabemos em que ano Jesus nasceu. Não ele não nasceu no ano hum (10). Dionísio o pequeno calculou erradamente a data e hoje sabemos que Jesus deve ter nascido no mínimo cerca de cinco anos antes do ano hum (01) desta Era uma vez que Herodes, o tirano, faleceu no ano 04 a C...

Há quem cogite ter ele nascido no ano 06 ou mesmo no ano 07 a C e não temos como decidir a questão sendo ocioso transcrever as diversas opiniões.

Seja como for o Natal, até bem pouco tempo, ainda remetia as consciências a natividade do Mestre dos Mestres e reportava os pensamentos a Jesus.

Durante toda idade Média foi uma festa ou cerimônia espiritual comemorada liturgicamente na Igreja e a tais eras remonta o 'Adeste Fidelis'.

Em certos lugares a Festa do Natal chegou a eclipsar as festas da Paixão e da Páscoa que são as mais importantes do calendário Cristão e as vezes a ideia um tanto romântica de um Deus menino e indefeso envolto nas palhas e aquecido pelos animais falava demasiado alto aos corações dos crentes e arrebatava as multidões mais do que a morte e a ressurreição de Deus...

Em certas paragens outros símbolos de origem pagã como o pinheiro - adorado pelos germânicos foi incorporado a festa. Pois S Winefrido (Bonifas) havia podido observar a consternação dos pagãos após a derrubada do carvalho dedicado a Thor. E passou a ser visto como simbolo de Jesus Cristo.

Segundo o costume a árvore sagrada era enfeitada com guirlandas e com oferendas ou presentes ofertados aos deuses. Desde então os enfeites e guirlandas foram substituídos por símbolos Cristãos como a estrela anunciadora, a cruz, medalhas de santos, etc E os falsos deuses da gentilidade substituídos pelo presépio ou lapinha onde Jesus nasceu com Maria Santíssima, S José, os seres espirituais, os pastores, os animais, etc Ficando este a sombra do pinheiro. Os presentes continuaram a ser pendurados ou depositados aos pés do pinheiro e do presépio mas destinados aos pobres ou aos familiares.

Eu, particularmente acho o presépio (sua ícone) suficiente e a árvore desnecessária. Não é de fato essencial a piedade Cristã.

No entanto há quem aprecie, fiquem com ela. Mas não percam de vista os símbolos da nossa fé ancestral e em especial o presépio que é a memória do aniversariante do dia, Jesus Cristo!

Durante séculos as coisas transcorreram deste modo e sem maiores alterações.

Em alguns lugares também a memória do abençoado Nicolas Bispo de Mira também era reverenciada e consagrada aos pobres e as crianças que ele em vida costumava socorrer com donativos. Daí a pia fraude segundo a qual S Nicolas visitaria e presentearia as crianças virtuosas e obedientes no dia da natividade do Senhor. Lamentavelmente noutras paragens foi a figura do Santo Bispo associada a de uma figura mitológica: o pai Natal ou pai Noel com seu carro guiado por renas... E aos poucos esta criatura híbrida foi substituindo a figura do meigo nazareno e tomando seu lugar.

Aqui, se a igreja merece ser censurada por ter tolerado o culto tributado a esse personagem, é justo dizer e declarar que ela jamais santificou ou abençoou o tal papai noel ou pai natal. Mostrou-se simpático ao culto popular tributado ao Bispo de Mira com suas vestes de Bispo ou túnica, não ao homem de calças vermelhas e gorro conduzido por renas. Não a igreja não canonizou o papai noel!

Canonizou-o o Mercado ou o Capital porque Jesus Cristo não rendia lucros!

De fato é o mistério do Natal potencialmente revolucionário caso tenhamos em mente que o Deus do Universo munificente e rico fez-se homem pobre desejando nascer num estábulo, quando poderia ter se manifestado aos ricos e poderosos num palácio suntuoso!

Aos homens cobiçosos, avarentos e sempre dispostos a acumular riquezas o Deus Todo Poderoso manifesta-se como pobre entre os pobres. Pois nasce duma fiandeira e adotado por um artesão e torna-se ele mesmo artesão de madeira segundo Justino na "Apologia".

E não apenas nasceu como cidadão humilde ou remediado - não rico - como assim viveu ao cabo de prováveis quarenta anos. A ponto de dizer que não possuía uma pedra sobre a qual reclinar a fatigada fronte. Não foi num corcel branco que entrou na cidade santa para padecer mas numa jumenta ou como diríamos hoje num carro velho ou num fusquinha! E nem mesmo tumba possuía tendo sido inumado num túmulo emprestado pelo Senador Jose de Arimateia. Até a mirra e os aloes com que foi embalsamado aquele santíssimo corpo martirizado foram ofertadas por outro Senador Nicodimos Ben Gorion. Tudo quanto Jesus teve como seu foi a túnica inconsútil e a cruz em que morreu como pobre.

Como homem humilde nasceu, viveu e morreu, cercado por pescadores galileus!

Penso que tudo isto tenha sido mais do que suficiente para desiludir dos senhores do capital e da mídia.

Não a figura do Deus que se faz pobretão jamais foi interessante ou produtiva para o sistema e por isso Jesus tinha de ser posto de lado e a festa esvaziada de seu sentido para converter-se na apoteose do mercado e do capital.

O aniversariante do dia tinha de ser esquecido e seus ideais de serem ocultados para que a comemoração de 25 de Dezembro se tornasse lucrativa.

Era necessário obscurecer o sentido espiritual da festividade para converte-la em festa do ventre, do bucho ou do estomago.

Urgia encontrar uma figura capaz de destronar o nazareno pobre dos corações dos seres humanos e a figura escolhida foi a do gordo pai natal... o qual distribui presentinhos a quem por eles pode pagar e jamais se lembra dos pobres.

Jesus jamais receberá quaisquer presentes além daqueles que lhe haviam sido ofertados pelos magos da Pérsia. E tampouco era ele um distribuidor de presentinhos. Os únicos presentes que ele distribuía eram de natureza interior ou imaterial: o sentido da vida e a paz da consciência. Nada mais.

De fato ele jamais exigiu quaisquer contribuições, taxas, prebendas, ofertas, pagamentos, dízimos, tributos em troca das benesses que a todos dispensava, mas disse: De graça recebestes, de graça daí!

Não ele não cobrava qualquer coisa, não buscava lucros, não capitalizava, não corria atrás da fortuna e seu único investimento era o Ser humano, a criatura racional e livre que convocava para uma vida mais elevada e nobre.

Tudo quanto pedia aos que o cercavam era a dádiva do coração.

Corações a serem enriquecidos, eis tudo quando o divino Mestre Jesus pedia aos homens!

Então para o capitalismo, sistema que sobrepõem o TER ao SER, Jesus não era uma figura atraente e expressiva.

Não, essa figura era o pai Natal bebendo coca cola...

Substituída a figura do aniversariante foram substituídos os princípios e valores.

Na Idade Média, ao menos na Alemanha, durante a ceia de Natal uma das cadeiras em volta da mesa eram deixada vazia com prato e talheres. Era o lugar reservado ao pobre! Porque segundo acreditavam eles o Salvador poderia bater-lhes a porta na figura de um pobre faminto cabendo alimenta-lo. Noutras paragens ofereciam-se banquetes aos pobres tanto no Natal quanto na Páscoa e por ocasião de Batizados, Crismas e matrimônios... Pois os pobres eram os embaixadores ou representantes do Cristo. "Aquilo que fizestes a qualquer um destes pequeninos foi a mim que fizeste!"

No entanto da perda do referencial resultou a perda da consciência.

E de festa dos pobres e humildes o Natal converteu-se na festa de aniversário do Papai Noel e portanto em festa de ricos, de industriais, de empresários, de banqueiros e de burgueses, esvaziando-se de seu conteúdo original. Jesus foi esquecido e seu nascimento obscurecido...

Desde então compra-se, vende-se, presenteiam-se, empanturram-se e embriagam-se no dia de seu nascimento. Porque não se trata mais de reverenciar a entrada de Deus na História como excluído, mas de reverenciar a vaidade, a glutonaria, o luxo, a avareza; enfim o ego.

Hoje o espírito do Natal é espírito do economicismo materialista, espírito de ostentação, espírito de lucro enfim. É aniversário de Mamon, não mais de Jesus Cristo. É espírito arqui mundano e não espírito de amor, fraternidade, justiça, bondade, serviço, compromisso, benignidade pois este sistema iníquo de coisas tudo contaminou, poluiu e profanou, e não mais nos lembramos do pobre, do faminto, do sedento, do nu, do encarcerado... Não nos sensibilizamos mais face a dor e o sofrimento alheio e nossos corações estão completamente endurecidos.

Natal foi profanado pelo espírito do lucro, da avareza, da ambição, da cobiça e desnatalizado. Perdeu seu sentido, seu referencial, sua conotação religiosa. E tornou-se data de vendilhões e traficantes, os quais dominaram o templo e instalaram-se no santuário de Deus tudo corrompendo e fomentando os maus costumes.

Desnatalizou-se o Natal desde que converteu-se em Natal ou festividade dos shoppings, das lojas, dos comércios, dos objetos, das coisas, das peças... dos enfeites exteriores, dos brilhos exteriores e das falsas luzes que não procedem do coração.

Apesar disto não nos desesperemos! Sempre é possível fazer um Natal Cristão e verdadeiro com o retrato do presépio, com as preces tradicionais, com liturgia (onde há liturgia), com disponibilidade, com esmolas, com doações, com ofertas... Com o coração cheio de amor voltado para o mistério de Jesus Cristo e papa o próximo.

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