quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Apologia do Cardeal Arns - Resposta ao insidioso jornal O Estado de São Paulo

Nem esfriou o cadáver do falecido cardeal arcebispo de São Paulo e já a imprensa canalha destila seu veneno e baba asquerosa sobre sua veneranda memória.

Jamais fui admirador ou amigo do falecido hierarca da Igreja romana. Ao tempo em que o então arcebispo contendava com a moribunda ditadura militar era eu ainda um jovem protestante e como tal plenamente alienado em termos de política e cidadania, bem a gosta de nossos demagogos!

No entanto sete anos antes de D Arns vir a aposentar-se havíamos nos convertido a Igreja romana e por assim dizer iniciado nossa assunção espiritual.

Após dez anos de filiação e militância achamos por bem abandonar a Igreja romana e passar a Ortodoxia, o que fizemos buscando depurar, aperfeiçoar e coroar nosso espírito Católico, jamais arrenega-lo. Sobre as questões que nos fizeram romper com o padrão romano já nos exprimimos em diversas ocasiões. Em termos de doutrina a infalibilidade do papa, o gracismo ou agostinianismo e a doutrina das penas eternas ou do infernismo. A par disto a igreja romana incorporou ou assumiu diversos elementos de origem e talhe protestantes, o que a nosso ver era absolutamente inadmissível. Outro tema atentamente considerado por nós, e talvez o principal, foram as reformas litúrgicas - e o decorrente empobrecimento estético e espiritual resultante delas - implementadas pelo Vaticano II. Incomodava-nos por fim o neo catolicismo ou o neo marianismo com suas aparições, visões, comunicações e devoções estúpidas de teor mágico fetichista... o lurdisno, o fatimismo, o garabandismo, etc

A ruptura foi dramática e nem por isso deixamos de amar a igreja romana, de reconhecer-lhe os méritos, de aplaudi-la quando acerta e de encara-la com respeito de gratidão. Além de estarmos obrigados a julga-la segundo as exigências sagradas da justiça.

Publicamente reconhecemos ter sido a igreja romana a centrar nossa fé no Evangelho ou seja nas palavras de Jesus Cristo, a por-nos em contato com a tradição Cristã dos primeiros séculos ou seja com o pensamento patrístico, a refrescar-nos a o espírito com o dom do franciscanismo, a apresentar-nos o padrão de pensamento escolástico e por consequência os tesouros clássicos do socratismo e do aristotelismo, a fornecer-nos as primeiras noções em termos de justiça social, a produzir em nós as primeiras sensações estéticas impactantes, a comunicar-nos um sentido ético de vida, etc, etc, etc Foi o princípio de nossa educação e formação completamente descuidadas pela família - não totalmente porque meu pai sempre se preocupara em lançar-nos alguma luz ao espírito - sob os auspícios do protestantismo.

Por estas e outras tantas razões, apesar dos pesares e senões, ainda encaramos a igreja romana como uma grande fonte de inspiração ética para o mundo. Na medida em que ainda contém inúmeros fragmentos de Catolicismo antigo e vestígios de cultura clássica. Elementos que nos remetem ao humanismo e a grande batalha do tempo presente.

Analisando os documentos oficiais da comunhão romana, tratados de teologia, catecismos, encíclicas e bulas dos papas, declarações conciliares e sinodais, etc detectamos a presença de um vivo espírito Cristão procedente dos santos evangelhos, da tradição apostólica, da teologia patrística, da reflexão escolástica, do socratismo, do aristotelismo, da Filosofia antiga enfim. O romanismo, apesar das suas misérias e da pobreza de suas formas, ainda contém em si algo de nobre, que não foi nem tocado, nem maculado, nem poluído pelo espírito protestante, matriz de todos os erros contemporâneos em termos de cultura de morte.

Coisa bem diversa se dá com os Católicos, especialmente os mais jovens, mas também com alguns mais antigos e especialmente - oh paradoxo! - com os medianamente esclarecidos. Dir-se-ia que o Catolicismo romano transformou-se num formalismo vazio e que os fiéis estão completamente possuídos pelo espírito e pela cultura protestantes.

Apresentam-se como Católicos, professam a fé, recorrem aos sacramentos, prestigiam as cerimônias; mas nem por isso suas almas são Católicas. O padrão de pensamento, os princípios, valores e atitudes são marcadamente protestantes. E por isso costumamos apresenta-los como 'católicos' de alma protestante ou como corações protestantizados. Há ali formas de Catolicismo mas não espírito Católico e tal gente mais se assemelha com os ossos ressequidos descritos pelo profeta Ezequiel do que com qualquer outra coisa.

E no entanto - Pontuemos muito bem! - nada mais antagônico ou mais distante do que o espírito Católico, com seu projeto de homem e Sociedade e o espírito protestante, com seu projeto de homem e sociedade. Do que resultou um embate tetra secular obscurecido no tempo presente apenas pela leviandade e incoerência dos Católicos. No entanto estes dois espíritos ou visões de mundo continuam tão distintos como óleo e água, e jamais se misturam. Ademais o protestantismo, pela negativa, demoliu ou melhor dizendo implodiu a concepção católica da existência ao impugnar-lhe a fé.

Somente duma época pautada pela incoerência, pelo irracionalismo, pelo subjetivismo, pelo relativismo e outros venenos podería alguém supor uma aproximação e o que é ainda pior, conciliação entre o ideal Católico e o ideal protestante. Tal conciliação faz tanto sentido quanto a pretendida conciliação entre a democracia e o totalitarismo, o socialismo e o individualismo, o humanismo e o cientificismo...

Conceitos e definições que se excluem mutuamente não se aproximam.

No entanto, desde os tempos de Lutero e Calvino não poucos Católicos tem se esforçado por suavizar as diferenças concretas ou vitais e por viver como protestantes. Não, os protestantes - exceção feita talvez a vida litúrgica ou ao ritual - não aspiram viver como Católicos preferindo viver a sua moda, ou seja como antinomiastas (solifideistas) ou judaizar, aderindo ao legalismo mosaico. Cogitar em adotar a lei do Evangelho e vivencia-la, poucos dentre eles - a exemplo do Dr Schweitzer ou de Niomeller - inclinam-se a faze-lo. Já o contrário não se dá. Pelo que sempre houve um significativo número de Católicos inclinado a professar apenas e não em viver.

De fato as belezas e riquezas espirituais do Catolicismo sempre atraíram muita gente sem brio. Cuidando ser ele apenas uma fé ou uma fé a mais para ser professada apenas. O protestantismo afirmou Lutero em alto e bom som é uma fé apenas, uma teoria, uma crença! Não o Catolicismo, este já lá no Evangelho é lei com que conformar a vida: Sois meus amigos se praticais o que vos mando, declarou seu fundador. É pois algo vital. É lei que regula a existência, é forma de vida, é compromisso moral ou ético a ser assumido.

Não é a fé portanto que faz o Católico. Segundo a doutrina Católica a fé deve ser completada e ultrapassada pela caridade viva. É a caridade viva, a ação, o serviço fraterno, a observância, a obediência que torna o homem Católico. O Católico é católico pela vida, não pelos lábios, não pela boca, não pelas palavras, mas por obras e verdade.

Por isso ele professa que se salva nas obras ou no mínimo que as obras são fruto necessário da comunhão com o Sagrado. A esterilidade as árvore sem frutos proclama seu estado de separação espiritual. A árvore que produz maus frutos é lançada o fogo porque não esta na Unidade de Deus. Aquele que não pôs as moedas para render não será acolhido mas despedido sem nada. Não é aquele que diz: Senhor, Senhor que entrará no Reino Celestial, mas aquele que FAZ a vontade do Pai...

A fé somente por pura e exata que seja a ninguém pode salvar. Se faltar a caridade, se não houver fruto, se minguarem as obras... Terá o Cristão de ouvir: Apartai-vos de mim, obreiros da iniquidade, jamais soube qualquer coisa a vosso respeito!

Com razão, no dealbar da reforma protestante, os papistas apegaram-se a doutrina das obras, da caridade, do serviço, da ética; como pedra de toque ou pedra angular da Ortodoxia Cristã.

E esta doutrina patenteada pela veneranda tradição foi canonizada em Trento.

Quase que de imediato porém alguns Católicos aspiraram por imitar os protestantes, pelo simples fato de não querer imitar a Jesus Cristo e assumir suas virtudes. Acomodaram-se e por meio dele, o mesmo espírito luterano, assumindo novas e distintas formas, penetrou mais uma vez no corpo da igreja produzindo devoções mágicas (tantas sextas feiras, tantos sábados, medalhas miraculosas, etc), sucessivas promessas de perdão (em detrimento da reparação penitencial), um paulatino abandonar do mundo material, etc Cessando o Catolicismo de ser a vida que sempre fora e ideal de organização social.

Não fui eu, mas Adam Moheler, príncipe dos controversistas Cristãos, que definiu a igreja Histórica, a Igreja antiga (E Renan), a Igreja dos Bispos (E Renan) como uma extensão, continuidade e expansão do mistério central do Cristianismo: O dogma da Encarnação. Por meio da Santa Virgem Maria e do Espírito Santos Deus se fez homem, um homem. Por meio da Igreja, da vida da Igreja este mesmo Deus se faz espécie, se faz gênero humano e encarna-se ou - perdoem-me a ousadia - reencarnar-se na Humanidade. Por meio da Igreja é a Humanidade convocada a Theosis i é a divinização, a comunhão com o absoluto, a Unidade suprema.

Assim o sentido e a meta do Cristianismo não é uma salvação mágica no além túmulo ou o abandono do mundo mas a regeneração daquele mundo que Deus tanto amou. É sua restauração, purificação, incorporação e aperfeiçoamento. Pois se há no mundo algo de mau, se nela há oposição da Deus, se nele há um elemento negativo, não é da matéria criada que ele procede mas da vontade humana. O mal, o vício, o pecado correspondem não a entidades materiais existentes em si mesmas mas a uma orientação equivocada da vontade. É a oposição da vontade humana a Lei divina.

No entanto como este homem é livre e sua vontade mutável, segue-se que pela educação e pedagogia divinas pode o mesmo homem emendar-se rompendo com o mal e abraçando o padrão divino do bem. E como o mundo moral é associação orgânica formada por seres humanos, da conversão de todos os homens ao bem resultará a aniquilação do mal, deixando este de existir. E tornando-se o mundo perfeitamente bom. A transformação da totalidade dos seres humanos à luz do Evangelho, eis a meta do Cristianismo.

Manifestou-se ele para condenar o que há de mal no mundo mas não o mundo, não a matéria do mundo, não o mundo físico. Pois o problema do mundo é o homem e o problema do homem a vontade. Tem no entanto o Catolicismo viva esperança ma medida em que reconhece a liberdade deste homem. Assim espera que o conjunto dos homens, a espécie, o gênero humano, o mundo mesmo retorna conscientemente ao Sagrado, após ter conhecido o mal.

Esta ideia de incorporação, transforação e vitória em Jesus Cristo é o ideal do Catolicismo. Por isso ele não abraça o catastrofismo apocalíptico dos antigos hebreus e não canoniza a angustiosa doutrina da apostasia, que é de origem pessimista. Por ser filho da ressurreição a Ortodoxia trás em si uma esperança de Triunfo e não pode abjurar dela.

Certamente os filhos da Igreja e herdeiros de Jesus Cristo não ignoram o papel transitório de nossa existência material. Sabem que somos peregrinos e que aqui estamos apenas de passagem. Sabem que o mistério da vida estende-se para muito além... Tem consciência de que após o fim desta vida inicia-se uma outra. Todavia a consciência de que esta vida tem fim não a torna menos preciosa para eles. Pelo simples fato de aqui estarem e deste fato ter algum propósito. Então eles sabem que sua condição na outra vida esta na dependência do tipo de vida que levaram aqui. Eles sabem que a única maneira de conquistar aquele mundo é empenhando-se em transformar este mundo. Eles tem consciência de que a 'passagem' de ida para aquele bom lugar é o lugar onde estão. Sabem que a vida presente não é fardo ou peso mas oportunidade, sim oportunidade... Para chegar ao Cristo partimos daqui... É aqui que damos os primeiros passos rumo ao Cristo...

Cumpre não estar aqui por estar mas estar para servir e amar.

Se não há vida não há oportunidade para o amor.

A luz de tão bela doutrina não pode o Católico observar as estruturas iníquas deste mundo - estruturas forjadas pelo pecado - e permanecer indiferente ou insensível i é de braços cruzados. Tampouco haverá de recuar e fugir, pois seu Senhor e Mestre 'Venceu o mundo'. Por ao próximo, a quem Jesus Cristo obrigou-nos a amar, é o Católico levado a atuar, a agir, a lutar e a combater com o objetivo de reformar as estruturas iníquas deste mundo e de transforma-las a viva luz do Evangelho i é da Lei de Jesus Cristo. O Católico não negocia, não se acomoda, não recua; pois tem a sua disposição toda uma vida sacramental. Socorre-se dos sacramentos como um aparelho serve-se de combustível ou energia e então move-se!

Ao contemplar a realidade deste mundo o Católico depara-se com uma série de relações humanas e sociais incompatíveis com os ensinamentos ministrados por seu Senhor no Evangelho. E não podendo conformar-se com semelhante estado de coisas, porfia-se em mudar todas estas relações e adequa-las ao critério supremo de toda virtude. Como já disse ele não se se acomoda e jamais busca soluções de compromisso. Alimentando pelo pão da Eucarística e pelo pão da doutrina parte o Ortodoxo para o enfrentamento. E enfrenta o mundo. Não para humilha-lo ou constrange-lo mas para conquista-lo e renova-lo.

Agora por que insiste o Católico em interagir com o mundo ao invés de virar-lhe as costas muito confortavelmente???? Porque seu Senhor foi o primeiro a interagir com o mundo fazendo-se homem entre os homens. E o Católico busca imita-lo.

Imitar Jesus Cristo, aquele que não deu suas costas ao mundo, é dialogar com o mundo, é assumir o mundo é ter esperança de conquistar o mundo e triunfar do mal.

Quem desesperou de conquistar e de transformar o mundo perdeu o sentido da Encarnação.

Se Deus teve fé no homem, tenhamos nós também fé.

Insisto marcadamente nisto. Em que o Católico não é dado permanecer na platéia observando o mundo. Se seu Deus é Emanuel ele descerá até a arena e engajar-se-a na luta pelo bem e pela virtude.

Se desesperar da matéria ou da livre vontade e acalentar doutrinas pessimistas esta mais próximo do judaísmo antigo ou do protestantismo, que são sistemas contaminados pelo maniqueismo.

"Não sabia que era impossível foi lá e fez." declarou um sábio.

"Impossível é palavra que se acha apenas no dicionário dos covardes." declarou outro.

O Católico todavia crê naquele Deus para o qual 'Nada há de impossível'.

E este Deus em que crê organizou este mundo.

Creia portanto, e firmemente não apenas na possibilidade mas na necessidade de transformar este mundo. E que para tanto foi comissionado pelo Evangelho.

Recue o protestante maniqueista, pessimista, derrotista com sua doutrina de arrebatamentos e catástrofes.

Eis porque o Catolicismo desde os albores da antiguidade possui uma Doutrina social que é normativa para seus filhos.

Podem os neo Católicos de alma protestante ignorar a doutrina Social da igreja.

Que a ignorância não destrói a doutrina.

Antes que existissem Marx, Engels, Lênin, Bukharin, Plekanov, etc Existia já a doutrina social da Igreja enquanto veículo do Bem Comum.

Antes que surgissem o Comunismo e o próprio liberalismo econômico, matriz de todos os materialismos contemporâneos e de todas as culturas de morte, havia doutrina social da Igreja.

Antes que a primeira besta humana pretendesse conciliar os imperativos do liberalismo econômico com a Santa Fé Católica, pura e imaculada, ERA a doutrina social da Igreja.

Doutrina que tomamos não aos sociólogos da modernidade mas aos primeiros Bispos sucessores dos apóstolos segundo o critério sagrado da Tradição. Tradição que não se limitou a julgar a doutrina da fé mas também a legislar sobre os costumes. Tradição que jamais consentiu em julgar apenas e tão somente as ações pessoais, reclamando o direito de julgar e regular do mesmo modo todas as relações sociais.

Ignorar isto não é apenas fantasiar mas confundir Catolicismo com Protestantismo, na medida em que este apenas acedeu covardemente no sentido de nada regular além da fé ou da crença. O Catolicismo, derradeiro santuário da Virtude após o fim do mundo antigo, jamais admitiu que qualquer esfera da atividade humana ousasse sobrepor-se aos imperativos da ética.

Se é certo que não cumpriu com sua obrigação opondo-se até o sangue a afirmação de outro modelo social, materialista economicista, em tudo oposto ao seu não é menos certo que jamais abençoou esta nova ordem e que a simples existência de uma doutrina social codificada, basta para condena-la irremissivelmente.

Reclamam os economicistas ou economistas clássicos total liberdade para a atividade econômica em nome duma auto regulação expressa em termos matemáticos ou com exatidão de ciência exata. E no entanto é a economia atividade precipuamente humana voltada para necessidades humanas. E pretende excluir o homem! E pretende ignorar suas necessidades básicas! E pretender estar de acordo com os postulados do Catolicismo! Nem em sonho... Pois ao invés de estar posto para o Mercado, o Catolicismo esta posto para o bem comum. É a Cristo e seu Reino que ele serve e não a Mamon, ao Lucro, ao capital!

Entre a busca pelo acumulo de bens materiais, a lucratividade, a fortuna e a busca pelo Reino de Deus vai uma distância infinita.

A luz da doutrina da igreja essa liberdade plena ou total revindicada pelos economicistas é impossível ou melhor pecaminosa. Devendo ser a atividade econômica submetida ao primado da ética, numa perspectiva humana, e regulada pelo grupo social. É o que dizem e declaram as encíclicas dos papas, os documentos de Malines, as cartas de diversos sínodos, os pareceres dos doutores escolásticos e as sentenças dos padres da igreja. Em nenhum destes locais teológicos damos com qualquer aceno favorável as pretensões transloucadas do liberalismo, ao menos que o ateu Von Mises goze já desse 'status'...

E no entanto quantos e quantos neo católicos de alma protestantes teem a ousadia de citar Mises, Hayek ou Fridman ao invés de acatar as decisões dos papas, como Leão XIII, cardeais, como Mercier, de Bispos, como Von Keteller, de Doutores. como Tomás de Aquino e dos Santos Padres a exemplo de Basílio, Crisóstomo, Astério, Ambrósio, Gregório de Nissa, Jerônimo, etc 
E ainda teem o desplante ou melhor o cinismo de apresentar como Comunistas aqueles que opondo-se a Hidra liberal, mantem-se - por uma questão de coerência - apegados a doutrina social da igreja. Isto pelo fato de não desejaram ser meio Católicos apenas mas totalmente Católicos e sobretudo Católicos de coração. Esse Catolicismo belo, que presta apenas para ser comoda ou superficialmente vivido não o queremos... Esta posto o Catolicismo para ser plenamente vivido, até o sangue.

Quem são vocês para acusar este ou aquele membro da hierarquia de comunismo se são os primeiros a não levar a sério a religião que dizem professar ignorando supinamente o teor de sua doutrina social???

Amancebando-se com o liberalismo econômico vocês prostituíram suas consciências e substituíram o SER pelo TER.

Compactuaram com a mais miserável forma de idolatria que é o culto prestado ao dinheiro, fonte de todos os males.

E não satisfeitos com isto ainda traíram o liberalismo político ou o espírito democrático em nome da mística economicista a que servem.

Isto a ponto de mais uma vez atraiçoar o espírito Católico, caracterizado pela defesa incondicional da vida e da dignidade humanas.

E de flertar com 'culturas de morte' por mais de uma vez denunciadas pela mãe igreja.

Qual fosse ela, como dizem seus críticos, uma cadela do fascismo!

A bem da verdade os maus católicos, como sempre, alimentaram toda uma mística patriótica até o nacionalismo, ainda aqui reproduzindo os delírios de Lutero núncio da germanofilia e do odinismo.

A Igreja no entanto, desde aos anos trinta, soube denunciar com toda propriedade a praga da estatolatria em que se escora a Hidra liberal (economicista) quando ameaçada pelo espírito policrático.

Bom seria que esses anti comunistas estivessem empenhados apenas em ser Católicos e em viver segundo as exigências do Catolicismo. Porque então a existência do Comunismo seria inútil... e ele não teria a mínima razão de ser.

No entanto se ai está a peste do Comunismo é apenas e tão somente porque devido a omissão dos falsos Católicos, dos Católicos tímidos e aparentes, dos meio católicos, dos católicos acomodados O ESPÍRITO CATÓLICO deixou de encarnar-se nas estruturas sociais. Porque o ideal Católico de Sociedade ficou frustrado. Porque as aspirações vitais do Catolicismo não se concretizaram. Porque o Catolicismo ficou apenas sendo fé ou doutrina, até converter-se em projeto distante. Conformando-se os Católicos com o escândalo do pecado, e adormecendo suas consciências no terreno da mística e do fetichismo. Comunismo esta ai porque o Catolicismo não teve forças suficientes para impedir a afirmação e o avanço do Capitalismo!

Agora afirmado um erro, temos a origem de muitos outros!

E este erro, o mais grave, o mais sério, o mais funesto; aquele que deslocou um ideal de organização social Cristã, é o Capitalismo, não o Comunismo.

O Comunismo é puro e simples efeito ou produto do Capitalismo, retendo dele o que há de pior, de mais rude, de mais grosseiro.

É o comunismo filho da superstição capitalista e por isso trás em seu corpo suas feições.

É o comunismo consequência e o capitalismo causa.

O comunismo é pura e simples reação, o capitalismo, este é o início da apostasia social, do mal supremo.

Assim o Capitalismo e não o Comunismo é que instaurou a ordem materialista. O Comunismo é materialista porque tomou este princípio carunchoso ao capitalismo.

Ao menos o comunismo é materialismo honesto ou sincero que como tal apresenta-se enquanto que o capitalismo ousa associar-se a religião dando mostras da mais rematada hipocrisia. É o capitalismo um materialismo fingido que jamais se assume como materialista.

Vai aos Domingos a missa e dedica uma hora a deus, para viver como bárbaro e avarento durante os seis dias seguintes! Ele destrói a missa completa e oração perfeita que é a vida do Cristão benevolente!

É culto vão que consagra as atividades em sua quase que totalidade ao lucro e a Cristo algumas horas apenas uma vez por semana.

É superstição putrefata que separa a vida da religião e a religião da vida destruindo o sentido de culto total! É vida que se furta as inspirações humanitárias e humanistas da religião para se controlada pelos imperativos do mercado.

E tanto mais impudente é este materialismo quanto mais lhe acenam com promessas de perdão, salvação e vida! Quando deveriam fulmina-lo com a excomunhão e leva-lo a penitência!

Por apresentar os homens batizados em Jesus Cristo como concorrentes ou rivais enquanto são irmãos que deveriam auxiliar-se mutuamente.

Pois como disse Peguy se alguém cogita em salvar-se sozinho ou isoladamente perdeu todo sentido de Catolicismo. Catolicismo é veículo comum de salvação na integração.

Assim em termos de patologia social o Capitalismo foi a pedrinha que desprendeu-se do alto da montanha e veio rolando até converter-se em avalanche devastadora.

Então antes de criticar um Arcebispo que teve a coragem e intrepidez de denunciar os abusos de um poder cego e arbitrário, de condenar a efusão de sangue, de posicionar-se contra a aniquilação de homens vivos, de resistir ao poder do dinheiro, de vindicar a doutrina social de sua igreja, de afirmar a dignidade impar da pessoa humana, dobrem suas linguas viperinas!

Já D Helder Câmara dizia a respeito de gente tosca como vocês: "Quando alimentei os pobres me chamaram de santo. Quando perguntei por que eram pobres apontaram-me como comunista."
Afinal pra vocês, que seguem o Evangelho de Spencer pobres são vagabundos destinados a morrer de fome!

Claro que vocês tem pleno direito de pensar assim, apenas não finjam-se de Católicos! Pois estariam calcando aos pés aquele Evangelho que temos em conta de sagrado.

Ou será que vocês não leram este trecho do Sermão do Monte: Bem aventurados os pobres em espírito porque deles é o Reino dos céus!
Acaso ousarão declarar e dizer que podemos ser desapegados quanto soa bens materiais e junta-los a não poder mais????

Insistir a respeito disto seria entrar pelo ridículo...

E concluir que os Onassis, os Rostchilds ou os Vanderbilths foram os homens mais desapegados da face da terra e os primeiros cumpridores do Evangelho.

Mas o espírito de vocês é favorável as riquezas, e portanto caracteristicamente protestante.

E se não tem respeito algum pelos pobres e se buscam juntar mais do que precisam para viver comodamente certamente estão desprovidos do espírito Católico.

O mínimo que vocês deveriam fazer é calar a respeito da abençoada memória de um homem que buscou viver segundo os ideias de sua fé e colocar em prática os postulados éticos propostos por sua religião.

Os comunistas negam a existência de Deus. Os Capitalistas profanam a existência de Deus. D Paulo buscou honorificar a existência de Deus vivendo conforme sua santa vontade, e por isso merece aplausos e não censuras, palavras de afeto e não palavras azedas, pensamentos de amor e não criticas suscitadas pelo ódio.

No entanto que haveríamos de esperar do Estado de S Paulo, jornaleco atrevidamente grosseiro cujo único fim é bajular os poderes estabelecidos???

Esperar algo bom do Estado de S Paulo equivale certamente a procurar gelo no Saara ou areia no pólo Norte

É uma Folha conservadora, destinada a conservar o capitalismo, da mesma maneira como uma lata de sardinhas conserva sardinhas...

Azar portanto de quem lê um lixo destes, especialmente se Católico ou simples humanista.

Coisas como o Estado de S Paulo é sempre melhor não ler.

Não leia o Estadão querido leitor, e certamente estará fazendo verdadeira higiene mental.

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