terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Os fundamentalistas e o cursos de letras

Como professor tenho constatado coisas muito estranhas no universo da educação. Hoje vou falar de uma delas. Hoje em dia muitos protestantes fundamentalistas fazem curso universitário e nada perdem de suas superstições, continuam tão ignorantes quanto eram antes de seus cursos, com uma diferença: são idiotas diplomados.

Os protestantes fundamentalistas tem uma grande predileção pelo curso de letras, e isso tem uma razão de ser. Letras trabalha com literatura, literatura ==> livros = Bíblia. Não há nada melhor para se conhecer e defender melhor a Bíblia que o curso de letras. Um beletrista pode defender a Bíblia como literatura, até porque a Bíblia é um clássico quer queiramos quer não.

Conheço muitos professores de língua portuguesa e em sua maioria são protestantes fundamentalistas. Triste coisa, saber que o curso de letras está infectado por fanáticos, que desejam fazer da literatura um escudo para o livro preto. Não se vê tantos protestantes e fundamentalistas nos cursos de história, geografia, biologia, matemática, sociologia, filosofia, etc...

Se o curso de letras ainda tivesse a possibilidade de solapar não digo a fé, mas as superstições desses fanáticos, seria ótimo. Mas pelo que tenho visto e ouvido, os fundamentalistas ou nada aprenderam ou o curso de letras é inócuo. Prefiro acreditar que os fundamentalistas nada ou quase nada aprenderam.

Como eu gosto muito de literatura (por pouco não cursei letras) procuro sempre conversar com os professores de literatura. Mas que ingrata surpresa, nada sabem de literatura e se por acaso sabem algo é porque aprenderam no curso de letras. Esses fundamentalistas não leram a obra machadiana, não leram Lima Barreto, José de Alencar, Padre Vieira, Aloísio Azevedo entre outros. Nem vou falar na literatura universal senão vai dar merda o negócio vai feder.

Conversei com um professor de literatura, muito falador, bom de papo, que parecia ser culto e inteligente, até porque não havia tocado nem na Bíblia nem em religião. Um dia perco 90 minutos do meu sacratíssimo tempo ao entabular conversação com o supracitado cidadão. Conversa vai conversa vem falamos sobre literatura, sobre os grandes teóricos da pedagogia, da linguística, etc... Tudo ia bem, quando o "professor" falou que Piaget, Chomsky, Bakhitin e outros basearam suas teorias na Bíblia. Imaginem a minha reação. Fiquei branco, gago e de olhos esbugalhados como se tivesse vendo o diabo ou coisa parecida. O sujeito ainda teve a audácia de continuar seu discurso desavergonhado afirmando que o profeta Daniel tinha dado a ciência à Babilônia. Mui educadamente discordei do meu opositor e dei a conversa por encerrada, porque meus ouvidos não são privadas.

Ainda num outro dia o professor profeta, quis me convencer de que a Bíblia é um livro científico, o que me fez rir de sua ingenuidade. Ele pediu-me meia hora de meu tempo para provar sua tese. Acessou a internet na sala dos professores e mostrou um texto do profeta vetero-testamentário Daniel. Foi um texto sobre as 70 semanas e/ou 1260 dias. Aí o cidadão para me explicar o texto fez uma mistureba com história e bíblia e como não podia deixar de ser, falou besteiras. Disse que a tal profecia se concretizou com a fundação da Igreja Católica Apostólica Romana em 476. Pedi referências de historiadores, disse que referências não importavam, o que importava era a concretização da profecia. Só que a dita profecia não se realizou nem em 476 nem em quaisquer outras épocas. Mostrei para ele que no primeiro milênio só existia a Igreja Ortodoxa e que o papado como liderença suprema e inquestionável é uma instituição tardia. O professorzinho continuou a insistir em seu erro, e eu continuei a pedir referências e pedi para que não falseasse a história. Disse-lhe ainda que se ele quisesse me provar que a Bíblia era um livro científico, ele deveria usar um método científico para comprovar tais dados, e para isso a primeira coisa era mostrar-me uma bibliografia de historiadores insuspeitos para que eu pudesse conferir. Pedi-lhe que mostrasse um único historiador que afirmasse que a Igreja Católica Romana foi fundada em 476. Sabe que o professorzinho falou? Pesquise você na internet. Retruquei: O ônus da prova cabe ao afirmante, é você quem afirma que a Igreja do papa romano foi fundada em 476 e não eu. Enfim continuou a advogar a cientificidade da Bíblia sem método científico, ou seja, a emenda saiu pior do que o soneto. Para findar a conversa eu disse: Belo discurso mas sem provas, tudo o que você disse não passa de palavras.

Sabe de que religião é o "fessorzin?". Adventista do sétimo dia. A escola pública está uma merda! Professores fundamentalistas ensinando mitos bíblicos aos nossos alunos. Os fanáticos fizeram letras, mas continuam iletrados, isso é fato.

Proh Pudor!!!

Um comentário:

Unknown disse...

Bom, não tirando razão de sua tese. Não se pode desvalorizar os cursos ou alunos de Letras por opiniões de alguns poucos professores, está generalizando de certa forma e acredito que ao lecionarem suas aulas, não discutirão sobre assuntos como religião até porque isso não faz parte de nenhuma ementa de um licenciado em Língua Portuguesa.