quinta-feira, 5 de novembro de 2015

O acúmulo de bens materiais a luz da Filosofia antiga

Cuidam os liberais estúpidos que a primeira objeção contra o acumulo de bens materiais tenha partido dos Comunistas ou de seu patriarca Karl Marx.

Nem pode a mediocridade ou melhor nulidade liberal fugir ao vezo de tudo atribuir aos tais comunistas, Marx, Engels, Lênin, etc

De minha parte ja era socialista convicto, bem antes de ter ouvido falar pela primeira vez em tais nomes pelo simples fato de ter encontrado nas páginas do Evangelho os seguintes mandamentos:

  • NÃO JUNTEIS tesouros neste mundo onde a traça e a ferrugem devoram os elementos, mais forcejai por juntar um tesouro incorruptível no mundo celestial.
  • NÃO PODEIS ADORAR A DEUS E AO DINHEIRO.
  • É MAIS FACIL UMA CORDA PASSAR PELO FUNDO DE UMA AGULHA DO QUE UM RICO ENTRAR NO REINO DOS CÉUS.

E como ex protestante eu já estava imunizado contra o vício do livre examinismo que consiste em atribuir as palavras de Cristo, sentido diverso ou mesmo oposto, ao que lhe é próprio e de distorcer sua mensagem.

Diante disto também não me deixei enganar facilmente pelo livre exame exercido pelo clero papista, apenas mais sutil, por estribar-se em 'tradições' eclesiásticas forjadas durante a Idade Média por clérigos de idoneidade suspeita.

No entanto a igrejas romana prestou-me imenso serviço por ter colocado em minhas mãos as tradições genuínas dos padres antigos, cujas raízes tocam a mais remota antiguidade. Refiro-me a publicação da ed Paulinas  'Por que a igreja crítica os ricos', que consiste numa coletânea de passagens tomadas as obras dos antigos elderes da igreja, sobre a riqueza, a pobreza, a justiça, etc

Este contato com a genuína tradição e alma do Catolicismo foi que consolidou para sempre minha orientação social em torno dos ideais justicionistas.

Foi da tradição da Igreja Católica, de deus evangelhos, de seus Bispos e de seus escolásticos que recebi o espírito anti economicista ou anti liberal a que tenho permanecido fiel até o tempo presente. Moço novo eu nada sabia sobre Marx, Engels, Kautsky, Plekanov, Lênin, etc Alemães e russos eram até então um mistério para mim e minha mente encontrava-se firme presa a Jerusalém, Damasco, Antioquia e Alexandria. Eram Newman, Montabembert, Pressensé, que eu lia...

No entanto como o Cristianismo, no dizer que Orígenes e outros,  fora direcionado as massas grosseiras e incultas, julguei ser necessário completar, alargar, aprofundar minha formação.

A quem me dirigi?

Aos comunistas??? A Nietzsche, Stirner, Rand, Heidegger, Delleuze, Derrida, Foucault, Sartre e demais profetas da modernidade?

Sou eternamente grato a igreja romana e ao padrão Católico por ter-me guiado a Atenas e me matriculado na Escola de Sócrates.

Jesus conduziu-me a Sócrates. (consequentemente a Platão e a Aristóteles) Assim pude aprofundar minha formação Ética, contemplando minha condição de ser racional.

E lá também topei com a mesma condenação ao acúmulo desmedido de coisas materiais.

Adquiridos em prejuízo da educação filosófica.

Desde então pude observar que o frade mendicante da Idade Média, fustigado sem misericórdia pela látego da Burguesia ascendente e pela nova religião protestante, limitava-se a reproduzir as denuncias levantadas pelos ANTIGOS CÍNICOS face a uma sociedade cada vez mais seduzida pelo brilho das falsas riquezas. Todas as críticas e escárnios empregados pelos 'neo' humanistas e protestantes contra os frades não passavam de reedição das velhas críticas que os hedonistas e materialistas da antiguidade haviam lançado contra Diógenes, Crates e toda escola.

Então, ainda mais uma vez, somos levados a enfiar o dedo dentro da ferida...

Não se importando com o sangue e o pus...

E como extremo sempre produz extremo... nada mais natural que o mundo do luxo e do supérfluo produzir um mundo paralelo de miséria. O qual tornando milhões de homens e mulheres prisioneiros de suas necessidades básicas impede-os por assim dizer que cultivar o estudo da Filosofia ou de buscar a verdadeira religião... oprimidos e esmagados pelas exigências da materialidade e da vitalidade nem se pode negar quão pouca seja a liberdade de tais criaturas. E quão longe achem-se do bem, da verdade e da beleza...

Nem podemos nós buscar qualquer valor ou benefício numa miséria que lhes é dada ou melhor imposta pelo sistema e a qual não podem fugir facilmente. Antes devemos encarar este tipo de miséria dada ou imposta como verdadeiro crime.

Todavia há também neste cenário um tipo de miséria CRÍTICA ou virtuosa livremente adotada por pessoas sensíveis e solidárias: assim o cínico dos tempos antigos, assim os monges do Catolicismo... os quais até mesmo da vida sóbria e moderada abrem mão com o objetivo de cultivar apenas e tão somente a sabedoria, apontando a uma sociedade enferma quais sejam os verdadeiros objetivos da existência humana. Consideram-se o cínico e o monge verdadeiramente livres e desimpedidos na mesma medida em que não se deixam afetar pela aspereza, o frio, o calor, a fome, a sede, os apetites, os desejos e a vontade e sempre podem tomar as atitudes que melhor convém no momento.

Por estarem tais pessoas afeitas de certo modo a dor, ao incomodo e a morte e consequentemente privadas do temor da morte, podem sustentar sem maiores receios a nobre e excelente causa da justiça ou porém-se a serviço do bem e da verdade sem temer as represálias com que os tiranos costumam punir aqueles que ousam resistir-lhes, a saber a privação, a tortura e a morte... Eis porque os déspotas e senhores sempre temeram acima de tudo ao Filósofo e ao Monge; as únicas categorias de pessoas capazes de resistir-lhes por terem superado o temor do sofrimento e o medo da morte.

Nem se pode negar que tal gênero de pessoas: que nada receiem da dor e da morte sejam capazes de falar livremente, declarando face aos poderes deste mundo quais sejam seus pensamentos e de se opor a qualquer ordem ou mandamento que não seja justo!

Antes de tudo é escravo o proletário ou trabalhador porque tendo constituído família - as vezes por imposição da própria sociedade - deve suprir as necessidades básicas da esposa e dos filhos e nem pode pensar em deixar de faze-lo, seja quais forem as condições. Assim a esposa e os filhos são como elos de uma cadeia que tornam-no dependente do sistema, e do sistema que o oprime não pode desligar-se por causa deles! Agora outra é a situação daquele que tendo triunfado dos apetites sexuais e subjugado-os ao talante da vontade, a ninguém quis ligar-se e a ninguém gerou. Agora por estar só é livre para fazer aquilo que julga ser necessário...

Imensamente mais grave e triste é a situação daquele cuja família assumiu uma mentalidade burguesa em torno das necessidades artificiais impostas pelo consumismo.

Este cobiça um carro novo por ano, sua esposa por uma nova cozinha por ano, o filho por um computador novo por ano e a filha por um celular de ultima geração... ali até o cachorro e o gato são servidores do deus Mercado. Agora como um homem destes ou uma mulher destas haverão de ser dependentes de um determinado salário ou escravos do trabalho???

Creem ser livres e felizes mas perdem o contato um com o outro e com os próprios filhos. Infeliz desta família contemporânea que só se encontra pela noite para dormir pesadamente ou nos fins de semana e feriados! Nem vejo que vantagem há em ter família apenas para os fins de semanas ou feriados!!! O trabalho aqui fica com a maior parte do tempo, em razão das despesas ou dos gastos, com o supérfluo e artificial e não com o necessário ou fundamental... Quantas pessoas endividadas e escravizadas passam a maior parte do tempo distante de seus filhos!!!???!!!

Que liberdade é esta?

Permitam-me questionar este tipo de felicidade esquisita,  na esteira alias dos antigos cínicos.

Parte de vocês vivem falando a respeito da família e exaltando-a até os céus, para... sacrifica-la as exigências do trabalho, do econômico, do mercado!

Sim, em nome de gastos inúteis, em nome do supérfluo e do luxuoso, alienam suas liberdades e exilam seus pobres filhos em creches, escolas ou sei lá mais o que, acreditando ou fingido crer que tal gênero de vida lhes faça bem. Mas não faz, pois o que os filhos desejam antes de tudo é a presença ou a companhia de seus pais!

Filhos não querem babás, professores, tranqueiras, etc precisam acima de tudo dos pais!

Mas os pais nunca estão, pois sempre estão trabalhando para pagar dívidas ou honrar despesas.

Neste caso trabalham para que? Para o bem estar de seus filhos??? Não, mas para o bem estar das empresas, do mercado, da economia... Pois esta mania de adquirir o que não é necessário beneficia apenas o econômico... Ficando a família, o cônjuge e os filhos a ver navios...

E não havendo contanto, morre o afeto e desfazem-se as famílias...

Tudo graças a que?

As exigências do trabalho, a jornada de trabalho, as imposições do mercado, aos gastos, as despesas; enfim a este consumismo acrítico que leva famílias inteiras a adquirir um montão de coisas de que não precisam.

Agora levassem nossas famílias um regime de vida mais sóbrio, crítico, equilibrado e são; quais seriam os efeitos concretos deste regime de vida?

Menos gastos, menos dívidas, menos dependência, menos escravidão e consequentemente mais liberdade, mais autonomia, mais tempo para passar com o cônjuge e os filhos alimentando os laços do afeto e cultivando a verdadeira intimidade.

Não se trata aqui do pai ou mesmo da mãe não trabalharem.

Trabalhar é necessário.

Trata-se apenas de não ser mais um prisioneiro ou refém do trabalho.

Em tempos de Dilma posso até aconselhar as famílias a gastar menos para fazer uma reserva ou poupança tendo em vista o futuro. Para que não se tornem reféns, escravos, bonecos nas mãos de seus patrões; ousando falar com eles livremente e e revindicar seus direitos: suas férias, a recusa de fazer hora extra, o descanso dominical; enfim tudo quanto possa redundar num contato maior com a família.

É necessário colocar as necessidades da família acima das necessidades do trabalho. Para tanto porém faz-se mister romper com o padrão do consumismo acritico, com o fetiche TER, com a mania de comprar coisas mais caras ou desnecessárias. Claro que jamais se poderá fruir do mesmo nível de liberdade que um cinico ou um monge; mas sempre será possível ampliar a esfera da própria liberdade. destruindo os laços artificiais de dependência.

Se o filósofo e o monge são capazes de viver em estado de necessidade ou carência voluntária não seremos nós capazes de contar nosso consumo passando a viver sobriamente?

Especialmente se sabemos que este novo regime de vida nos faria mais livres.

Menos dependentes do salário, do emprego e do mercado; aos quais oferecemos a maior parte de nosso tempo e boa parte de nossas vidas.

Possibilitando uma redistribuição do tempo e um contato mais próximo com a família, instituição que tanto encarecemos com palavras mas que não valorizamos verdadeiramente, subordinando a outro tipo de relação.

Então eu acredito que devemos por diante de nossas vistas o exemplo daqueles homens e mulheres que esforçaram-se por quebrar todos os laços artificiais e impostos para viver uma vida mais natural e livre. 

Não nos enganemos... não é possível servir bem ao dinheiro e a família, um aqui ficará mal servido.

Nossas famílias estão muito mal servidas justamente porque são servidoras do dinheiro.

Não é o dinheiro que tem servido as famílias.

Famílias é que tem sido alienadas pelo poder do dinheiro, por falsas necessidades econômicas, por exigências inumanas de um mercado... famílias é que tem sido desestruturadas e destruídas pela mística do consumismo, pelo endividamento, pelos gastos e pela nova escravidão!

Como Marx disse e com razão absoluta disse: Os comunistas não precisaram bradar contra a família tradicional, encontraram esta instituição completamente arruinada pelo liberalismo econômico e suas exigências.

Muito antes que o sociólogo barbudinho tivesse registrado as palavras acima a gente do campo e os padres romanos ja haviam publicado este diagnóstico e proclamado a incompatibilidade entre a organização tradicional da família e a ordem urbana ditada pelo capitalismo!!!

Não foi o comunismo que atrelou nossas famílias ao carro triunfal do deus mercado, foi o capitalismo. Este sistema é que separou Pai, Mãe e Filhos enfiando cada qual numa fábrica ou setor diferente da mesma fábrica! Foi o capitalismo que drenou-lhes as forças, comprometeu-lhes a saúde,  que barbarizou-lhes o caráter, obscureceu-lhes a razão... este sistema é que retirou-os do lar, alienou-os a natureza, contaminou-lhes o ambiente e exilou-os num mundo artificial de feiura controlado pelos ponteiros de um relógio.

Separou a família do ambiente, separou os trabalhadores da corporação, os familiares do lar, etc tudo fragmentou, isolou e dividiu para poder com mais facilidade dominar.

Não sou e jamais serei contra o trabalho da mulher.

No entanto se em tempos passados um só é que trabalhava para sustentar a todos, porque raios hoje, os dois não podem trabalhar menos e permanecer cada um certo tempo em casa junto dos filhos?

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