quinta-feira, 12 de março de 2020

O sentido político do proselitismo protestante nas escolas públicas do Estado de São Paulo

No artigo interior fizemos uma denúncia bizarra... Se não há, certamente houve, há alguns anos, exercício de proselitismo religioso em certas escolas públicas do Estado de São Paulo. Estou averiguando para saber se tal situação ainda ocorre... Assim se determinados projetos 'laicos' ou 'éticos' realizados nas Escolas por voluntários religiosos exercem qualquer tipo de propaganda, direta ou indireta visando converter os alunos ou levar-lhes sua fé. O exercício de proselitismo na Escola pública, com o apoio de aparelho estatal, é crime líquido e certo, alias, julgo eu, sem atenuantes.

Incluo aqui as orações. Orações em alta voz, instrumentalizadas por líderes, bem pode ser ser utilizadas como forma de proselitismo, pelo simples fato de produzirem certo clima psicológico, tipicamente eclesiástico, na escola pública. O que é inadmissível numa cultura democrática.

Importante, acima de tudo, saber que este assalto religioso tem um significado político. É um proselitismo em favor de certa política e uma política favorável ao proselitismo, uma mancebia Estado/Religião, uma troca de favores, uma máfia espiritual e um ataque ao estado Laico, assim a Constituição, Lei maior deste país.

Que querem os políticos ou demagogos???

Votos - De preferência a toneladas... toneladas de votos...

Mas como obter toneladas de votos empacotados???

Tudo isto tem uma História. Perpasse-mo-la!

Como todos sabem foi a Proclamação da República uma espécie de golpe ou motim, não algo espiritual ou ideal, que tenha partido do povo. Sequer povo havia naqueles tempos, mas massas analfabéticas, quiçá não tão estúpidas e degradadas como as nossas, mas, em todo caso massas, não povo, em termos de cidadania consciente. O povão só soube da República, em alguns casos, meses ou mesmo anos após sua proclamação (Como diz o conto do Chernovicz), só lhe restando aceitar e aplaudir. O senso comum era sinceramente monarquia e quem representava o pensamento 'popular' (Se assim posso escrever) era o Antonio Conselheiro.

O povo devia permanecer, como sempre ou até mais, sob controle. E já se disse que o Pedro barbudo (O filho - segundo II) fora mais democrático que os primeiros presidentes, como o ditador Floriano. Bem, era necessário criar uma ficção democrática ou dar ao povo a ilusão de que a si governava quando era governado, mais até do que sob o antigo regime... Para tanto prestaram-se os coronéis. Os coronéis foram o creme de chantilly daquele 'Café com leite'. Era eles que arregimentavam os sufrágios para seus compadres ou apadrinhados políticos e moviam toda estrutura da primeira República. Ocupavam a base e mantinham o sistema, amedrontando ou coagindo fisicamente os eleitores. Esse voto dirigido pelos coronéis foi chamado voto de cabresto e vencia o pleito quem tinha o apoio e as bençãos deles.

Essa festa ou orgia coronelesca durou até 1930 quando o gaúcho valente desarticulou a máfia. Desde então apenas a valsinha ficou com saúde desses coronéis babões e pedófilos tão bem pintados por Jorge Amado...

O Estado de S Paulo, no entanto, tendo sido alijado do poder e posto a margem dele, insistiu que o coronelismo era sinônimo de democracia e que tudo iria muito bem 'obrigado', não fosse o 'odioso' ditador Vargas... E levantou-se contra ele com o objetivo de defender a velha ordem do pão, pão; queijo, queijo... Getúlio no entanto não abalou-se... E paradoxalmente uma ditadura foi que criou o primeiro impulso democrático neste estranho país. Trazendo a tona temas como 'bem como', 'justiça social', 'direito do trabalho', etc A educação conheceu seu primeiro salto qualitativo sob Gustavo Capanema... E por isso aquele ditador 'odioso' era amado pelos trabalhadores, camponeses e por toda gente simples.

Para os liberais economicistas - Liderados pelo Lacerda - comunistas e anarquistas no entanto era Vargas um déspota, por isso fizeram um pacto - a Oposição - com o objetivo de derruba-lo, mas ele, mostrando brios: Saiu da vida para entrar na História... E sua política, para desespero dos sediciosos e da 'nova' elite militar, continuou. Carlos Lacerda bem que tentou realizar seu eterno sonho de tornar-se presidente (Foi o modelo do Aécio Neves!) mas não conseguiu enganar o povo e ser aceito.

Quando o Jango ganhou foi um 'disparate' e de pronto as forças e poderes sinistros tentaram remove-lo. E até teriam conseguido não fosse o herói Leonel Brizola.

Herdeiro da política e do ideário getulistas Jango jamais flertará com o Comunismo, aqui representado por meia dúzia de gatos pingados, inda que sediciosos. Era Jango no máximo Social democrata ou adepto do bem estar social, noutras palavras, trabalhista, reformista ou algo assim. Otimista, imaginou ele que dava para avançar e saiu-se com a tal Reforma agrária, reforma implementada em quase todos os países civilizados - Na França por exemplo desde 1789, pela grande Revolução... Foi quando alguém berrou comunista e o povo ficou atemorizado, por lembrar-se das cagadas feitas por Lênin e Stalin... Foi como recorrer ao 'mito' de Sorel. O grito 'bolchevista' eletrizou gregos e troianos, numa nação em que os Católicos alienados nada sabiam sobre a doutrina social de sua própria igreja... Com um empurrãozinho dos EUA o pobre jango foi derrubado e substituído pelos militares, digo pelos novos militares, não pelos companheiros de Getúlio, os quais a exceção de Teixeira Lott estavam já quase todos mortos e enterrados.

Rachel de Queiroz (F S P 1999) anti getulista confessa, declarou: Agora nós eramos o poder ou a ditadura! Nós, os adversários de Getúlio e os novos militares.

Esclareço - Os militares do tempo de Getúlio i é seus companheiros, eram pelas tradições nacionais e cultura brasileira. Os novos militares, desde 1945 - i é da segunda grande guerra - morriam de amores pelos EUA e derretiam-se todos por aquela potência estrangeira e sua cultura. Era decididamente pró capitalistas e tecnicistas. Para eles os EUA representavam o progresso e o Brasil, o atraso... Era quase todos americanistas e nada tinham de nacionalistas, exceto por um culto de símbolos e aparências. Nossas tradições, costumes e cultura era para eles dignos de riso. E tínhamos de assimilar ou afetar os costumes Norte americanos caso quiséssemos avançar. O programa era transformar isto aqui em província cultural dos EUA ou num país vassalo (Colônia).

A bem da verdade tais ideias não eram novas ou recentes, remontando ao antigo regime. Já pelos idos do segundo império principiou Tobias Barreto a endeusar antes de tudo a cultura alemã e em seguida a cultura inglesa (Apesar do 'deus' Comte ser francês e admirador do Catolicismo!). Foi seguido por Sílvio Romero (E na Argentina houve um Domingo Faustino Sarmiento)... Os quais opinavam que a suprema desgraça de nossos países era terem sido colonizados por latinos, i é portugueses e espanhóis e não por alemães ou ingleses como os EUA, o país que dera certo... Graças as virtudes inglesas. Era o que diziam eles, proclamando a superioridade da cultura anglo saxã, em cuja base estava o protestantismo, 'cornucópia donde manavam todas as joias da civilização'...

Em última análise todas as nossas desgraças - Como a 'Idade das trevas' (Outro mito construído pelos protestantes!) - deviam-se a velha igreja romana i é da religião vigente nos países latinos como Portugal e Espanha... Todos os progressos vinham do protestantismo, como postulará apressadamente o Belga E Lavellaye e ainda era repetido pelo gramático e pastor Eduardo Carlos Pereira em "O problema religioso na América Latina" (1920), ensaio em que repetia as pérolas do Lavellaye e dos nossos germanófilos. Afinal se assim o era a solução era protestantizar a América Latina, o que alias era intensamente desejado pelos EUA. Quanto a E C Pereira foi completamente pulverizado pelo jesuíta Leonel Franco em sua obra "Igreja, Reforma e Civilização" umas das melhores obras religiosas já escritas no Brasil. Lamentavelmente o erudito jesuíta abordou prioritariamente o tema religioso ou espiritual, deixando de desenvolver mais o tema político e social.

Tal e qual no vizinho Chile, o protestantismo avançou bastante no Brasil durante o período militar, e Décio Monteiro de Lima nos explica porque. Claro que o Vaticano II tem grande parte de culpa... E todavia o discurso americanista dos novos militares não era nada inocente. Se assimilar a cultura N Americana significava progredir esta assimilação tinha de passar pela adesão ao protestantismo cujas seitas aqui introduzidas produziam grande clamor.

Seja como for durante este período não se precisava preocupar com votos, uma vez que a ditadura havia dado cabo da democracia. Por outro lado, nem mesmo a igreja romana seria capaz de produzir algo semelhante ao velho coronelismo, intimidando e manipulando as massas.

Os resultados da Ditadura são bastante conhecidos por todos: Investimento considerável numa alfabetização sumária ou elementar (De encontro ao protestantismo e o soletramento da bíblia), empobrecimento quanto a educação superior ou crítica, renúncia a justiça social e sistemática violação de direitos, com certo saldo de mortes e tortura; enfim a destruição do espírito ou da consciência democrática.

Mas havia algo ainda pior por vir! E no final dos anos 80 - A retomada de uma forma democrática sem espírito, consciência ou cultura, e com matizes de liberalismo econômico é claro. Nos anos 90 foi restaurada a estrutura democrática, e posta a serviço do economicismo neo liberal. Aquele tempo nem as pessoas sabiam votar nem havia qualquer cabresto... havia um despreparo geral, agravado ainda mais pelo voto dos analfabetos. Disto resultou tremendo Caos e o funesto período FHC... Uma vez expulsos os trabalhistas juntamente com os sectários comunistas, foi a retomada das formas democráticas intencionalmente posta nas mãos dos liberais e neo liberais, os quais assumiram o status de heróis, bem como suas agências partidárias como PMDB, PDS, PSDB...  FHC aspirava fazer nos anos 90 tudo quanto Boi Sonoro agora faz, i é as ditas reformas, mas foi sucessivamente barrado pelos getulistas e petistas. Hoje os getulistas estão mortos...

Até que chegou o Lula e com ele e o PT, o dilúvio... Uma vez que as tais reformas foram dadas por enterradas ou engavetadas. No mínimo o ritmo delas se tornaria bem mais lento. Diante disto o Mercado ficou enfurecido...

Os liberais precisavam retornar ao poder e impor seu programa aos brasileiros, prestando com isto imenso serviço ao mercado... Mas não podiam voltar ou consolidar-se sem as toneladas de votos fáceis ou empacotados, como no tempo dos coronéis. Tampouco podiam eles ressuscitar os coronéis ou contar com eles. O cabresto da chibata ou do revólver estava findo, definitivamente.

Haviam no entanto os pastores... Os quais também sonhavam com o poder político, uma vez que já tinham o poder de guiar as consciências e orientar votos. Bastava então saber usa-los, como material de troca. Os pastores criariam - como criaram de fato - um novo cabresto, espiritual, e forneceriam toneladas de votos aos políticos sem consciência, em troca estes lhes abririam as portas das Escolas públicas, de modo a controlarem a Educação, cooptando mais e mais consciências e controlando mais e mais eleitores...

Foi exatamente assim, com o apoio das mafias religiosas e dos fanáticos, que o PSC, PSL, PSDB, PMDB, DEM e outros partidos removeram o PT e chegaram ao poder, fazendo acordos, traindo o laicismo e oferecendo a educação pública de mãos beijadas aos pastores ou as pessoas por eles instrumentalizadas. O que é absolutamente necessário, se se quer que a dita máfia aumente e o esquema continue vigorando... Numa palavra cidadão brasileiro: Fomos todos vendidos aos pastores e fundamentalistas... Aos quais o Boi Sonoro distribui os cargos que pode, assim o Dória e outros governadores. Em posse do poder eles forçam a Constituição, interpretam, burlam e se esforçam por introduzir mais e mais grupos religiosos na Escola pública, com o objetivo de exercer um sutil proselitismo.

Na medida em que crescem e obtêm mais fieis as seitas convertem-nos em eleitores do Dória, do Boi sonoro ou do PSC, ou votam nos candidatos indicados ou irão para o inferno declaram os pastores. Votam nos candidatos de Jesus ou não obterão graça alguma. Com esse tido de cabresto, digo, de voto, que fica sendo da democracia??? Nada... Pois o pastor manipula o pobre do eleitor como o vidraceiro manipula a cera quente...

Neste momento as seitas protestantes são imensos celeiros de votos com que contam os liberais e neo liberais... E podem fazer cálculos e contar antecipadamente com eles, posto que não são menos controlados do que os votos de nossos ancestrais sob o jugo da primeira república. Apenas o cabresto de hoje é mais apertado porquanto interno, mental ou invisível; o que mantém as aparências, sem torna-lo menos eficaz. É cabresto porque há imposição por parte de um lider religioso.

Resta declarar que os fanáticos religiosos negociam apenas porque ainda não constituíam ampla maioria no exercício do poder. Fossem eles maioria e já teriam legislado em favor próprio, obtendo privilégios e vantagens. Daí a dissimulação e o ocultamento ou mesmo prudência com que dirigem-se as escolas públicas alegando oferecer projetos que não violam a laicidade - Ainda que hajam orações em sala, e orações tipicamente protestantes. Julgo que o STF ou qualquer órgão da justiça devesse estar investigando isto há muito tempo, pois não é novidade para quase ninguém. Caso as autoridades sejam coniventes ou se omitam que cada um faça sua parte e cada cidadão promova a resistência.

Caso você retruque e me diga que a Escola pública jamais foi laica - Nos anos 70/80 e 90 eu conheci uma escola pública 100% laica! - ou que a igreja romana sempre desejou exercer certa influência sobre ela, devo dizer, a guiza de resposta, que a Igreja romana, em que pese seus vícios e defeitos, jamais foi moralmente tão invasiva, pretensiosa e arrogante quanto o protestantismo bíblico vindo dos EUA, o qual tudo pretende dominar e pautar pelo antigo testamento com seus milhares de tabus e preconceitos. O sectarismo protestante me parece mais estreito e sufocante, digo-o como ex protestante. Por isso o crítico, não enquanto fé ou crença religiosa mas enquanto fonte de poder e dominação.

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