terça-feira, 10 de março de 2020

Em torno do caso Suzy - Reflexões

Os perus andam em bando enquanto as águias voam solitárias.

O que ora observo são dois bandos de extremistas buscando polarizar a opinião pública.

Não rasteja com bandos de peru seja pela direita ou pela esquerda, mesmo admitindo ter alguma afinidade com esta.

Seja como for não pertenço nem a esquerda radical nem a esquerda cirandeira ou pós moderna, a qual apartou-se da ética essencial com seus valores imutáveis.

Concedo que tendo a Suzy cometido um crime deva ser punida com todo rigor da lei, após ter sido psicologicamente avaliada e considerando-se possíveis atenuantes. Por isso chamasse justiça e não vingança.

Aliás, certificada a normalidade do criminoso e consequentemente sua racionalidade e livre vontade, é aplicada uma determinada pena não com o objetivo de vingar -se, mas, com o objetivo de recupera-lo. Desde os tempos de César Beccaria são as punições medicinais, destinadas a recuperar não a aviltar.

Não queremos dizer com isto que a prisão deva corresponder a uma colônia de férias. Resguardada a dignidade essencial do preso deveria ele custear sua estadia na prisão trabalhando. E é claro levar vida sóbria e simples, sem comodidades e luxos... Poderiam assim trabalhar em obras públicas, consertando pontes, estradas e edifícios.

No mínimo o isolamento produzirá neles um sofrimento interior, o qual poderá conduzi-los a reflexão, a virtude, a emenda e a mudança de vida.

Será um sofrimento benéfico porquanto derivado da própria culpa. Caso o reconheça como justo e o aceite, e o cumpra, o criminoso poderá mudar de mentalidade e retornar ao convívio social, recuperando sua dignidade. Outro não pode ser o escopo da punição - Ou ainda estaríamos variando ou cortando gente em praça pública, apenas para satisfazer um instinto tão baixo quanto a vingança.

Ao mesmo tempo que compreendemos a dor de quem teve um parente assassinado ou torturado cremos que cumprida a tarefa da humana justiça sejam tais casos entregues nas mãos daquele Espírito Supremo e infalível que ainda os corações e tudo conhece, não nas mãos de carrascos e carniceiro a mando de juízes falíveis.

Acabamos o veredito da justiça humana apenas para um castigo que regenere. E aqueles que não possam ser regenerador vivam perpetuamente isolados nos manicômios judiciais.

Quanto aos que foram condenados por crimes que não possuem atenuantes, como a tortura, que cumpram seu fadario até o fim e sofram as cominações da pena. Mesmo condiderando-se que a justiça não se estende a todos como deveria e que conhece privilégios não os podemos converter em santos ou vítimas. Uma vez que o requinte da crueldade jamais é necessário.

Devemos deplorar as possíveis exceções, sem contudo inocentar os condenados.

Exploramos assim a atitude tosca da esquerda cirandeira, a qual deseja relativizar a crueldade humana apelando à critérios de raça, posse ou gênero. Concedo que tais critérios possam - dentro de um quadro psico/social - servir como atenuantes em situações como tráfico, roubo ou mesmo assassinato. Não porém quanto a crueldade e a tortura.

Em casos de estupro, tortura e crueldade as penalidades devem ser irredutíveis e rigorosas, sem que se possa relativizar ou atenuar o mal produzido.

Apesar disto o objetivo deverá ser a recuperação do criminoso. Portanto há tal pena de ter fim e tal pessoa de ser reintegrada ao convívio humano. E aqui chegamos ao extremo oposto ou a essa ralé, não menos grosseira, baixa é vulgar, que sonha com a pena de morte i é com poças de sangue e vísceras quentes...

 Dirão eles que estou deturpando suas propostas. Pois bem se pode matar civilizadamente, por meio da injeção letal. De fato vivemos numa época avançada e admirável pela higiene... Assim nada de sangue ou vísceras cujo aspecto e odores tanto impressionam os mais frágeis. Adoramos portanto a injeção... Triste o tempo em que o sangue e os odores incomodam mais do que a supressão da vida. DESDE que Sócrates beba cicuta ou seja enforcado não nos importamos... Desde que não seja queimado vivo ou esfolado.

Queremos assim um Estado que mate com graça ou delicadamente.... Tal nossa leviandade.

Claro que não vou discutir ou trocar palavras com os que defendem a tortura, tipo que os estupradores sejam empalados , etc Pois são objeto da psiquiatria...

Dirijo me apenas aqueles que acham belo nivelar se com um criminoso. Alegando que devemos violar os direitos deles criminosos, pelo simples fato de que não souberam respeitar o direito alheio. MAS santo Deus não é exatamente isto, a violação do direito, que os converte no que são i é em criminosos??? Como portanto imita-los e nivelar se com eles sem tornar -se criminoso???

Tanto o Estado quanto os homens virtuosos que o compõe devem estar acima dos criminosos e portanto empregar outros meios com que puni-los. Não pode o Estado matar ou assassinar um criminoso sem tornar-se ele mesmo um criminoso ou assassino, quando deve atuar como um médico e recuperar. Não é este Estado ou esta Sociedade 'Legibus solutus' como não o é Deus e jamais foram os soberanos humanos. A ninguém é dado matar a criatura racional e livre sem fazer se criminoso. Ora nós não podemos criar um Estado carniceiro ou assassino!

Ateus, materialistas, positivistas e cientificistas, partindo de seus princípios, bem podem discordar de mim... Afinal sou daqueles que admitem a 'fábula' do livre arbítrio, da qual retiro o 'veneno' (Freud) da esperança. Sim eu concedo que os homens sejam livres e não mecanicamente determinados por qualquer poder externo que os coaja. Não creio que qualquer força externa tenha a capacidade de suprimir a vontade livre do homem. Por isso penso neste homem como mutável, educavel e recuperável.

Daí com Beccaria pensar numa JUSTIÇA medicinal e numa estrutura presidiaria rigorosa a um tempo e a outro capaz de resocializar o criminoso. A morte é atitude de quem, desesperado, nega a possibilidade do criminoso mudar de mentalidade e não vejo em que tal espírito, determinista e sem esperança, possa estar de acordo com o espírito de Cristo ou do Evangelho, ou mesmo com o espírito de um Sócrates ou de um Platão.

Que ateus, materialistas, cientificistas, positivistas e alguns neo pagãos o defendam, posso bem compreende-lo. Que um simples teísta qualquer o abrace, deploro; que um Cristão qualquer ou pior Católico, ouse faze-lo, eis a suprema miséria. Isto porém será tema do próximo artigo.

Quanto a Suzy acho tão errado apresenta-la como pobre vítima ou como coitadinha  quanto apresenta-la como um monstro a parte da humanidade e irrecuperável. Já um sábio do passado dizia: Que não faria eu com o histórico dos outros no lugar dos outros? Mas nós nos consideramos super homens mesmo quando queremos tratar os criminosos tal qual eles trataram suas vítimas...

Ainda aqui os extremos se tocam.

No fim das contas é a Suzy uma mulher ou um homem mau que cometeu um grave crime e por ele deve pagar, expiando suas penas. Talvez ao fim deste processo, purificada pelo sofrimento e pela reflexão, surja uma nova criatura ou uma pessoa boa, arrependida, contrata e recuperada. Por ter esta esperança, para muitos utópica, oponho-me a pena de morte ou ao assassinato cometido pelo Estado. E é claro acima de tudo ao pecado inexpiavel da tortura... 

Devo acrescentar por fim que minha reflexão de modo algum justifica o trato especial que essa pessoa recebe pelo simples fato de ser ou apresentar-se como trans, o que não basta para inocenta-la mas parece aumentar sua culpabilização. É percepção subjetiva que se tem ou intuição: Que alguns ao menos estejam a sataniza-la por ser trans (Enquanto outros querem não apenas aliviá-lo mas absolve-la de seu crime ou mesmo endeusa-la). Ora o crime desta pessoa é aquele porque foi julgada, não o fato de ser trans ou qualquer outra conotação sexual... A malignidade aqui consiste em dar uma direção sexual para o assunto, como se todo trans fosse estuprador ou coisa assim... Então o que não se justifica são os preconceitos de natureza sexual de que essa pessoa possa estar sendo vítima, o qual é tão nefasto e abjeto dentro do presídio quanto fora dele... Então caso você esteja a solicitar punições draconianas para o criminoso apenas por ser ele trans, também perdeu a noção de justiça.

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