sábado, 8 de agosto de 2009

Ler para escrever

Infelizmente nossas escolas não incentivam os alunos a lerem. Muitas vezes entram e saem da escola sem ter lido ao menos um livro. E por não lerem ou por lerem muito pouco não sabem escrever.

Quando pede-se-lhes uma redação, com determinado tema, sentem-se embaraçados e sem ideias. Mas isso é óbvio, como poderão falar daquilo que ignoram? Como poderão desenvolver ideias se não as tem?
Os professores de língua portuguesa pedem redações, mas quanto deles pedem que leiam tal ou qual livro? Quantos estimulam seus alunos a lerem jornais e revistas? Poucos, muito poucos. Esses professores se esquecem que os bons redatores são aqueles que gostam de ler. Sim, os que lêem não tem dificuldades para desenvolver quaisquer tipos de redações que lhes sejam pedidas.

Verdade seja dita, doa a quem doer, a maioria dos professores não lê nem estuda, o tempinho que tem assistem as novelas globais, entram no msn e Orkut para fuxicar, namorar e fazer outras coisas fúteis e tudo isso na sala dos professores. (Nada tenho contra o Orkut e msn até porque sou usuário dos mesmos, minha revolta é contra as futilidades.) Um ditado romano antigo já dizia com muita propriedade: "Nemo dat quo non habet" - "Ninguém dá aquilo que não tem". Como poderão dar boas aulas se não tem conteúdo?

Para que os alunos possam fazer boas redações é preciso estimulá-los à leitura, é a leitura que produz bons escritores. Mas para haver bons leitores é preciso que hajam bons professores que instilem o prazer da leitura em seus alunos. Será coisa muito difícil querer que os alunos leiam, quando estes nunca vêem seus professores lendo. Quando os alunos vêem seus professores com livros, são livros didáticos que vêem. Aqueles livros que deveriam servir de auxílio para o professor, mas muitas vezes servem como muletas para os professores incompetentes.

Quem lê, tem ideias e opiniões, mas quem não lê não tem ideias formadas e quando as tem são alicerçadas nos preconceitos e no "ouvi dizer". Há boas literaturas para os adolescentes desenvolverem seu senso crítico, cabe aos professores não só de língua portuguesa, mas de todas as disciplinas indicarem.

Um professor eventual colega de trabalho e amigo meu, Absolon Soares da Silva leciona de maneira diferenciada, sempre recomendando leitura de livros e revistas e não só isso, ele compra livros novos e presenteia seus alunos com ótimos livros (eu também fui presenteado com um livro).

Aos professores de literatura cabe fazer com que os alunos entrem em contato com os nossos escritores e não ficar em cima de um livro didático passando resumos no quadro negro. O aluno só aprenderá verdadeiramente literatura lendo as obras de seus escritores, aos professores cabe tirar-lhes as dúvidas, mas isso é uma utopia.

É uma vergonha que os professores não usem das bibliotecas das escolas e nem façam os alunos a usarem. É uma vergonha que pastores incultos, iletrados consigam a proeza de que adolescentes leiam os livros maçantes do Velho Testamento e que um professor que tem "didática" não consiga fazer com que seus alunos leiam Machado de Assis, Padre Vieira, Gregório de Matos, Lima Bareto, Aloísio Azevedo entre outros! Eu professor eventual vejo alunos com Bíblias abertas sobre suas carteiras. Será que esses pastores iletrados tem maior capacidade que os professores? Seria demasiado triste constatar isso.

A leitura e sua interpretação é o começo de tudo, inclusive para se interpretar a linguagem matemática e se iniciar nas ciências. Um jovem que lê conto simples e não o entende, tampouco entenderá física, química ou biologia, será mais uma vítima da superstição criacionista, e isso por culpa de certos professores. E o que fizeram eles? Nada. Porque a omissão também é crime. A omissão - disse alguém - é um crime que se faz não fazendo.

8 comentários:

Anônimo disse...

Pois é! Ler (e já é lugar-comum dizer) é a base de tudo mesmo. E vai ser sempre. Fico imaginando o desafio de dar aulas nos dias de hoje, não que fosse mais fácil antes... Parabéns a vocês que conseguem, ou tentam.

Anfilóquio de Fayum disse...

Obrigado Victor, seus comentários são bem-vindos. =)

quandoescrevo disse...

Em sala de professores vemos de tudo... Quando estão só as 'meninas' tem sexologia, dicas de maquiagem, pedidos de revistas Avon e afins ahh e até consórcio de lingiérie... E gente, não dava pra continuar a leitura. Era um fuxico...

Ravick disse...

" É uma vergonha que pastores incultos, iletrados consigam a proeza de que adolescentes leiam os livros maçantes do Velho Testamento e que um professor que tem "didática" não consiga fazer com que seus alunos leiam Machado de Assis, Padre Vieira, Gregório de Matos, Lima Bareto, Aloísio Azevedo entre outros!"

Poxa, ótima sacada. Se eu tivesse bolado uma tirinha assim, teria orgulho dela!

Sabe, eu já tive certo preconceito contra os livros de bruxinhos e vampirinhos que são moda entre o pessoal dos 12 em diante, mas hoje oe vejo como uma ótima (e deliciosa: Já li dois Harry Potter tb) de fazer o jovem descobrir o que é boa leitura.

"Eu professor eventual vejo alunos com Bíblias abertas sobre suas carteiras"

SÉRIO?! O.O

Ravick disse...

Comi a palavra "forma". ARRE!

Anfilóquio de Fayum disse...

Por essas e outras é que fico o mínimo possível na sala dos professores Aline. Para mim, a sala dos profesores é ante-sala do inferno.

Anfilóquio de Fayum disse...

Sim, Ravick. Já vi alguns alunos a ler os escritos vetero-testamentários em algumas aulas. como não se interessavam por minhas aulas, até porque sou eventual, "tapa-buracos" então liam o livro da capa preta. Mas não liam as bem-aventuranças, liam o que há de pior na Bíblia: I e II Reis, Juízes, I e II Crônicas e por aí afora.

Professora Lu disse...

Esse ano travei uma guerra contra a falta de interesse na leitura, e por incrível que pareça, minha turma acabou se apaixonando pela poesia, principalmente por Vinicius de Moraes. Lancei uma campanha que meus amigos logo aderiram. Fizeram doações da antologia poética do poeta. Chegou livro do Brasil inteiro!!! Final do ano vou presentear cada um com um exemplar!