segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Como o asmático vê e sente o mundo

Faz um tempinho que eu não dou às caras por aqui ? Falarei hoje de como um asmático vê e sente o mundo. O asmático sou eu. Tenho bronquite desde que me conheço por gente, parece-me que é hereditária, (e aqui perdoe-me o grande Lamarck) uma espécie de caracteres adquiridos. Não sei, nunca estudei isso. Sei que minha mãe teve, minha avó materna teve e os meus irmãos tem bronquite. Isso me levou automaticamente a crer que essa doença é hereditária, e ela não foi suprimida pela lei do uso e do desuso, (que Lamarck perdoe minhas pilhérias) porque os meus pulmões ainda usam esse artifício para poder usar a bombinha Berotec, meus pulmões são viciados na tal bombinha.



Bronquite é horrível, quem tem sabe e pode falar de cátedra porque sente na pele, melhor sente nas vias respiratórias!

Perdi a conta de quantas vezes meus braços e minhas nádegas foram espetados por injeções, de tal modo que eu adquiri um medo irracional por injeções, dói só de imaginar as agulhas.

E sobre os remédios que eu tomava? Horríveis. Um deles não me saiu da memória até o presente dia: Brycanil. Passei a infância tomando esse xarope, mas o gosto ficou impregnado na memória, tanto é que acabei de fazer uma careta involuntariamente.



Eu nunca gostei de praticar esportes, excetuando ciclismo. Mas jogar bola, vôlei, correr, nunca gostei, porque me deixava cansado e com o peito chiando. Ao olhar os colegas na educação física, eu me sentia diminuído. Eu era e sou magro e não tenho beleza (ao menos para o padrão que requer a mídia).



Na minha adolescência entrei para a religião e convivi com fanáticos e essa merda droga de convivência como não poderia deixar de ser, me tornou um deles.
Lembro-me de uma doente mental pobre coitada líder de um grupo de oração que fazia "libertação" (espécie de exorcismo) e "cura interior" (hipnose de quinta categoria), ela explicou minha bronquite nestes termos: "Você tem bronquite, porque tem raiva de seu pai e guarda mágoa de muitas pessoas, bronquite vem de bronca, raiva, e enquanto guardar mágoa das pessoas terá bronquite" (sic). Eu acreditei piamente naquela mulher, até porque naquela época eu era um adolescente desmiolado que nem tinha terminado o ensino fundamental. Eu pensava que aquilo era uma revelação dos céus. Putz!!! Todos na paróquia sabiam que eu tinha não poucas mágoas de meu pai por uma série de fatores que não cabem expor aqui. Então nada mais natural do que usar essa informação e dar um significado etimológico a minha enfermidade. Mas graças a minha vontade de estudar libertei-me desse ópio que é o pentecostalismo.

Creio que um dos fatores que me levou à ler e escrever foi a bronquite. Porque se eu não tivesse bronquite, eu seria apenas mais um, igual a tantos outros por aí. Quantas noites passei acordado por causa da bronquite e como não conseguia dormir por ter o peito oprimido e o único remédio era ler e escrever.

E por ter essas crises episódicas de falta de ar, tornei-me introspectivo, intelectual e um pouco sarcástico. Eu vejo o mundo com uma perspctiva mais ou menos triste. A bronquite isolou-me do convívio alegre e saudável.
Bom, fico por aqui, porque tenho que inalar o remédio de minha bombinha, pedem-me os pulmões, e eu seu servo obedeço fielmente.

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