Diante da pressão exercida pelo protestantismo, cá no Brasil e pelo islamismo, lá na Europa a primeira ideia que se nos vem a mente é a de resistência cultural. A exemplo do Paraguai e do México temos de valorizar nossas coisas... Sem estereotipar ou converter-se num Policarpo Quaresma temos de questionar esse negócio de rock and Roll e Holywood com coca cola e faste food no Mc Donalds.
Não estou dizendo, de modo algum, que devamos repudiar a pseudo cultura Norte yankee em bloco, como se por lá nada houvesse de bom. Certamente que em nossas vidas pode haver espaço para o Jazz, para o 'Cidadão Kane' de Welles, para sandubas de geleia com pasta de amendoim, etc
No entanto como brasileiros que somos parece-me absurdo que conheçamos apenas aquele Rock melody do 'Air supply' (Que eu adoro) ou o repertório completo de um Nat, de um Sinatra ou de uma Houston e ignoremos por completo a produção musical brasileira e assim as obras de um Sivuca, de um Hermeto Pascoal, de um Moacyr Franco, de uma Roberta Miranda, de um Nhô Pai, de um Zé Fortuna, etc
Um cuscuz paulista e uma 'Guaraná' também vão bem. Um pãozinho com manteiga, um Bauru, um bolinho de chuva... não fazem mal a ninguém. Claro que de vez em quando um Hamburguer pode ser tão bem vindo quanto uma pizza e um coockie tão saboroso quanto um biscoito de polvilho... Quero dizer que também possuímos uma cultura alimentar e que, sem abrir mão de uma variedade ocasional, devemos ser mais críticos face ao mercado ou a propaganda. Por que ao menos não experimentar o que é nosso...
Temos linho, algodão, casimira, etc, etc - Alias tecidos de diversa procedência e varia cultura. Por que essa fixação no jeans...
Tanto pior quanto as tais marcas - Com esse fervor místico em torno de nomes. A bem da verdade deveríamos nos vestir apenas para cuidar do corpo. Todavia como até os animais, ao menos as aves, buscam melhorar a aparência, é compreensível que o traje possua também uma dimensão estética. No entanto o que um palavra acrescenta ao conforto ou a beleza de uma roupa... Em que a torna melhor ou pior... Que é que a sigla NIKE adiciona a um sapato em termos de uso ou comodidade... Nada...
De fato o consumismo parece mestre quanto a arte de distorcer aquela tendência natural que temos para nos destacar dos demais (Emulação), a qual para ser digna e justa deve estar associada a alguma competência ou a algum mérito e não a ostentação de um nome que reporta a riqueza. Pessoa alguma é melhor do que outra por ser rica ou ter posses - E alias o mais provável, inclusive, é que seja pior. O que nos torna melhores encontra-se dentro de nós ou no nosso interior e são nossas qualidades: O senso de justiça, a solidariedade, a lealdade, a honestidade, etc Não um pedaço de pano com um nome qualquer...
Supor que um corte de tecido com uma palavra qualquer gravada nos torne melhor do que os outros ou que nos confira alguma superioridade só pode ser a marca de imbecilidade... Coisa de gente idiota e vazia. De pessoas sem qualidade...
Não é todavia sobre qualquer tipo de contra cultura que quero discorrer neste artigo. Contra cultura superficial até mesmo lá, nos EUA, foi produzida. E chegou a tornar-se um negócio rentável.
O quanto quero abordar aqui é a contra cultura ideológica ou abstrata. Em termos de conceitos básicos ou matrizes de valores. Pois nossa resistência precisa no mínimo estar a altura da 'American way of life'.
Não julgo que o modernismo ou o pós modernismo, ou ainda a pós verdade estejam acima do americanismo. Grosso modo os seres humanos, satisfeitas as exigências básicas postas pela existência, demandam pela Verdade ou ao menos por algumas verdades - Pois é a verdade o pão do espírito e não apenas de pão vive o homem...
O ceticismo, quando não reflete um estado mental mórbido, é reflexo de um projeto social frustrado. Assim a sociedade grega imediatamente posterior a morte de Alexandre, assim a Sociedade europeia posterior as duas grandes guerras...
Em tempos de normalidade, estabilidade ou desenvolvimento tal patologia não floresce e, se e quando floresce, nada produz de relevante.
Digo o mesmo a respeito do relativismo crasso e do subjetivismo absoluto ou solipsismo. Sobre tais areias são poucos aqueles que ousam edificar palácios ou castelos...
As migalhas ou farelos do ceticismo, do subjetivismo, do relativismo, das narrativas, do discurso, etc os humanos preferem a posse segura de verdades aparentes, como as que lhe são oferecidas pelo protestantismo, pelo capitalismo, etc Pois como disse Bacon de Verulan, ao ateísmo preferem as fábulas sinistras do Corão ou dos Vedas... Assim a negação da verdade, preferirá esse mesmo homem a mitologia dos antigos hebreus e o fetichismo continuísta oferecido pelo protestantismo.
É o pós modernismo similar a concha, que justamente faz barulho ou ruído porque esta vazia... Ao nada ou ao nihilismo insonso o ser humano prefere mitologias e fábulas...
Damos em seguida com o africanismo - Dos batuques ou atabaques, orissás, comidas de santo, etc ou o indigenismo do cachimbo e do espírito da mandioca - Enfim as construções ideológicas de retorno a cultura ancestral. E o problema aqui é que a cultura ancestral é portadora de um fetichismo, porém de um fetichismo ágrafo ou iletrado, i é, pautado em tradições orais, costumes, etc enquanto que o protestantismo oferece a humanidade um fetichismo associado a um livro.
Embora tais relações sejam bastante complexas não estou me referindo a pessoas ágrafas ou analfabetas porém a pessoas letradas que aderiram a uma religião não letrada. Se a um lado os iletrados tendem a encarar o livro como divino, os alfabetizados demandam pela segurança do registro escrito... Ao menos no ambiente urbano e ocidental parece claro que as formas de religião centradas no livros levam vantagem face as demais.
Ademais se, por questão de necessidade, a religião ágrafa ou tradicional está quase sempre na dependência da autoridade, a religião do livro sempre poderá acenar com a leitura\interpretação individual e delegar autoridade ao próprio indivíduo, a exemplo do protestantismo. Aqui a técnica exegética ou sua aparência, suplanta o sacerdócio, e, acenando com a liberdade, massageia o ego.
Sendo assim as possibilidades de domínio por parte do protestantismo, com seu livre exame individual, acabam sendo maiores do que aquelas que foram reivindicadas pelo sacerdócio. Se o livro portador das palavras divinas pode ser interpretado por qualquer indivíduo, o indivíduo, em posse do conhecimento divino, bem pode invocar para si mesmo a autoridade divina. E de fato os fanáticos já não se apresentam como leitores do livro, mas como o próprio livro, reivindicando para si mesmos uma autoridade absoluta.
Por isso não vejo como a religião primitiva possa rivalizar já com o protestantismo, já com a 'sifilização' moderna. E tenho tais arroubos primitivistas mais como uma moda. Aqui qualquer mínima dose de racionalidade ou empirismo é quase sempre letal. Pois não há, por exemplo, uma válvula de escape como o livre exame, a qual possibilite a criação de uma interpretação diversa.
Outro defeito bastante grave a ser considerado por parte de tais construtos religiosos é a ausência de um aparato ético consistente. Isto a ponto de alguns deles afirmarem-se como 'amorais' - Ora a grande demanda ou a principal demanda do tempo presente é a Ética. Claro que sempre se pode construir uma ética natural razoável... Sem embargo disto o elemento médio ainda edifica sua vida ética sobre fundamentos de caráter religioso, a falta dos quais essa vida ética apenas se esboça.
Sem embargo o supremo defeito de tais crenças - E o espaço onde se encontram com o protestantismo. - é a irracionalidade. De fato além do conteúdo fetichista que leva ambos os sistemas a predicarem sobre a imanência (Violando os limites da demarcação e invadindo os domínios que por direito pertencem a Ciência.) ambos os sistemas pecam pela total ausência de um arranjo racional semelhante a Alta Teologia Católica (Ou Ortodoxa).
Pois embora os conteúdos da fé ou da Revelação divina permaneçam sempre inverificáveis, a fé Ortodoxa e o papismo (A parte do agostinianismo irracionalista.) oferecem uma visão total ou cosmovisão capaz de relacionar organicamente os diversos mistérios e de apresenta-los de maneira sistemática, enfim como um conjunto harmonioso. Formam assim uma espécie de Puzzle, na medida em que cada verdade se vai encaixando até plasmar essa visão unitária.
Quando observo o africanismo brasileiro (Sobretudo a Umbanda e, em menor medida o candomblé daqui.) o quanto encontro são criações tão sincréticas e irracionalistas quanto esoterismo, a rosa cruz, o ocultismo, etc As quais mostram-se sempre incapazes para satisfazer os intelectos mais exigentes, os quais anseiam por uma conexão orgânica e unidade de conjunto quanto os ensinamentos oferecidos.
Neste terreno, o padrão apostólico, herdeiro da tradição racional e ética greco romana parece levar decisiva vantagem não apenas sobre os padrões religiosos tradicionais ou primitivos mas também sobre o protestantismo fixado na cultura judaica.
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