Diz uma passagem do Novo testamento: Se alguém colocar outro fundamento além de Jesus Cristo... a obra será provada pelo fogo, assim papel, madeira, palha, etc tudo isto será consumido, e a edificação toda virá abaixo.
Julgo que esse texto religioso possa ilustrar a questão da cultura e seus fundamentos: As ideias matrizes.
Do quanto tenho lido eu em Spengler, Huizinga, Whydan, Toynbee (Mimesis), Sowell, Parsons, Sorokin, A Weber, Wrigth Mills, Timacheff, etc chego a conclusão de que um dos fatores (Ou o principal) responsáveis por levar uma determinada civilização ao colapso é a mudança de paradigmas fundamentais. Via de regra relacionados com algum sistema religioso ou ético, o qual lhes dá suporte.
Acho curioso: Quando o marxismo\comunismo assomou no horizonte da cultura, há muito que já estava ela em declínio, e quando assomou o liberalismo econômico, meio século ou um século antes - Trazendo em seu bojo o materialismo (Ao menos prático.) - já estava em declínio, embora ainda houvesse aparência de vida. E o comunismo, fixado no dogma materialista como uma ostra sobre a pedra, não soube ou pode compreender a dinâmica das coisas e por isso acelerou ainda mais esse declínio tornando-o fatal.
O organismo do enfermo todavia estava minado, e portava os germes da morte, os quais o levaria a cova passados menos de duzentos anos.
Atentem: Se a causa mortis formal foram as duas grandes guerras e o Vaticano II, a causa principal ou eficiente outra foi.
Todavia antes de chegarmos a ela gostaria de apresentar alguns exemplos de caráter histórico: Entrou o novo reino ou Império egípcio em declínio (Ao menos segundo alguns expositores.) graças a reforma religiosa atoniana iniciada por Akenaton - Filho de Amenófis III e Tyi - com os novos ideais de compaixão e paz (Os quais não se encaixavam muito bem no contexto do tempo.). Passados nove séculos outra reforma semelhante, a de Nabonido, prostrou a Babilônia diante dos Persas. Da mesma maneira tombou o mundo greco romano, diante do Cristianismo e seu ideal abolicionista e semi pacifista. Quanto ao império bizantino, embora não possamos observar qualquer mudança essencial a nível de paradigmas não, podemos deixar de observar uma séria crise produzida pelo nestorianismo (Mesmo quando negamos que Nestório tenha ensinado ou divulgado o nestorianismo é certo que durante algum tempo esse erro existiu e proliferou.), pelo monofisitismo (Embora os coptas jamais tenham sido monofisitas e nem mesmo todos os siríacos o fossem.) e outras seitas. Análogo o caso do califado islâmico: Exaurido culturalmente pela Ortodoxia sunita de Gazali e Achari.
Mesmo quando não correspondam a uma causa eficiente, as mudanças, crises ou revoluções religiosas e filosóficas sempre fazem parte do conjunto de fatores que conduzem uma dada civilização a seu fim.
Do mesmo modo como é impossível substituir os alicerces de uma casa sem que ela desabe fragosamente é impossível substituir os princípios e valores elementares ou os conceitos geradores sem que uma dada sociedade se dissolva.
Alias uma verdadeira revolução, conceito que implica uma mudança radical, consiste exatamente em substituir tais conceitos por outros numa dada sociedade, e assim: Demoli-la, para em seguida reconstrui-la doutra forma.
Foi o que fez o Cristianismo apostólico - Demoliu aquele velho mundo, já enfermo, pela base (O escravismo) e, reaproveitando, tudo quanto era digno e bom, tudo reorganizou em síntese harmoniosa, reconstruiu-o de outra forma.
E cada uma dessas fases: De agonia, morte, decomposição e ressurreição correspondem a trajetória daquele velho mundo que existiu do século III ao século XIII desta Era ou a cabo de mil anos, e seu fim é uma Europa refeita e centro do mundo civilizado. Mesmo quando não tenha podido atingir sua plena maturidade.
Mesmo em seu auge, foi a Europa um projeto inacabado e um projeto inacabado é.
E crescendo desviada de seu autêntico fim, cresceu na direção errada, dirigindo-se ao abismo da destruição - Abatida por uma Revolução, por uma outra Revolução, que a tirou de seus alicerces e atalhou sua vocação.
E desde então não pode tornar-se ou continuar sendo uma civilização Cristã. Desde que seu ideário foi posto no antigo testamento ou na 'bíblia' foi perdendo a Europa seu brilho, até fenecer e principiar a ser um quintal do islã. O espaço onde floresceram um Tomás de Aquino, um Dante, um Francisco Vitória, um Copérnico, um Vesalius, um Da Vinci, um G Agricola, um Camões, um Cervantes, um Shakespeare... E se converte, por força de um destino ingrato em califado...
Gigante caído aos pedaços por terra, assim a podemos evocar: "My name is Ozymandias, king of kings: Look on my works, ye mighty, and despair!"
E a beira de seu túmulo bem poderíamos pronunciar as mesmas endechas que Volney proferiu sobre as ruínas de Tiro ou Babilônia...
Porém que vendaval ou tufão foi esse que acometeu o velho mundo... Que terremoto foi capaz de abalar até a base as suas estruturas de poder...
Com efeito, todas as desgraças da Europa procedem da reforma protestante ou do protestantismo, o qual foi sua Revolução primordial...
Não de Lutero ouso dizer, porém de Calvino e em menor medida de Zwinglio. Um e outro foram os novos Gengis ou Tamerlões vindos da estepe. Os quais passaram pela Civilização como um ciclone, e, desde então, nada mais foi o mesmo.
Até então havia unidade religiosa, e consequentemente ética, em torno de um projeto ou ideário social. O que houve depois, vejam as guerras religiosas na França e na Inglaterra ou a guerra dos trinta anos, foi uma sucessão de batalhas, guerras e conflitos que até a segunda grande guerra foram drenando as energias daquele continente. E nunca mais se compôs a Europa ou livrou-se das guerras fratricidas.
E quebrada ficou como o colosso de Ramsés II...
Basta dizer que após o curto domínio de uma nova fé - Que jamais esteve a altura da antiga ou logrou substitui-la com sucesso (Coordenando suas diversas sociedades.) produziu-se uma secularização sem fé, e, a partir dela uma nova ordem, materialista, a qual denominamos liberalismo econômico. E desta última 'ordem', qual Atena Palas da cabeça de Zeus, o capitalismo, o anarquismo e o positivismo. E, em seguida o fascismo e o nazismo. E, posteriormente, o modernismo. E de permeio: O ceticismo, o subjetivismo crasso e o relativismo. Todo um caleidoscópio formado por sucessivas culturas de morte... Cada qual julgando poder substituir com sucesso a precedente - E cada qual mais fracassada e frustrada...
De fato, abandonada a fé ancestral que plasmou a cultura, apenas restou, no fundo do cálice, um patético saudosismo quanto aos tempos passados, em que a Europa era una e pujante, pela fé e pelo projeto social dela derivado - O que lhe permitia permanecer de pé e erguida face ao islã e resistir impavidamente a seus assaltos. Pois havia vitalidade espiritual e proposta.
Grosso modo, todas essas ideologias e culturas de morte (Que como fantasmas ainda assombram a Europa no tempo presente.) o quanto pretenderam foi substituir a igreja ou a fé apostólica romana, enlaçando povos e países num mesmo ideal 'Católico' ou universal. E naturalmente que ocidental algum encarou seriamente a única opção viável para substituir com sucesso o romanismo: A Fé Ortodoxa... Antes seguem os europeus, mais e mais, na direção do caos ocidental, a ponto de, açulados pelo império protestante do Norte, satanizarem a Rússia hodierna, já reconciliada com sua cultura ancestral, autônoma e independente - Por isso odiada e satanizada, e caluniada (Pela imprensa paga ou comprada.) posto que, apesar das esperanças acalentadas nos anos noventa, não se converteu em província cultural, social e política do Império Yankee (O qual neste tempo sela seu destino entregando-a aos jihadistas para aliviar o querido Estado sionista.)
Enquanto isto os desorientados Europeus apostaram nas 'Canas quebradas' do capitalismo, do comunismo, do anarquismo, do positivismo, do fascismo, do nazismo, dos nacionalismos, etc sem que acertassem no alvo. E a cada uma dessas ideologias 'da moda' se poderia dizer o que foi o dito pelo apóstolo Pedro a Safira: Aqueles que levaram o cadáver de teu marido aí já estão, as portas, para levar o teu...
Grosso modo cada um desses sistemas, após retalhar ainda mais aquele imenso colosso, simplesmente mirrou até converter-se em seita inexpressiva ou clube de devotos embiocados. Servindo no entanto, cada um deles, como obstáculo para que tornasse a Europa aos braços da velha Igreja ou da fé Ortodoxa - O que significou impedi-la de reencontrar a si mesma, seu espírito, sua consciência, sua identidade e sua missão. Arrancado ao seio materno pela Revolução protestante ou sequestrado, foi aquele infeliz continente, no afã do pensamento, alijando-se cada vez mais dos braços maternos e produzindo, enquanto foi capaz, novos sistemas, até esgotar sua criatividade, isto a pouco mais de um século...
Desde então revolveu-se ela na lavagem do chiqueiro... até os estandartes e janízaros do islã...
Pois construção metafísica (Observem os decalques grotescos do Positivismo ou do comunismo soviético.) alguma conseguiu satisfazer aquelas mentes sagazes e corações inquietos e ainda menos reconciliar tais povos e nações. O que o protestantismo demoliu e lançou por terra ideologia alguma logrou reconsolidar ou erguer - E por que... Porque se o protestantismo, instilando ceticismo, duvidou da Igreja, o capitalismo desamparou o espírito, o comunismo e o anarquismo chegaram a duvidar de Deus, o positivismo lançou fora a Ética, fascismo repudiou a liberdade, o nazismo sacrificou o amor e a fraternidade, o ceticismo crasso aboliu o conceito de verdade, etc montes foram arremessados sobre montes até que chegamos a calamidade suprema. Foi Nietzsche: Protestante, filho e neto de pastores, tipo de exegeta sofisticado, ateu, incrédulo, louco e profeta do nihilismo, e etc que certa vez comparou a Europa de seu tempo com um campo de urzes semeado por gigantescas ruínas...
Embora não tenha contemplado a chegada dos beduínos com seus cimitarras...
Não que tais seitas, correntes e partidos não se tivessem esforçado para desacreditar, derrubar e substituir a fé ancestral. Calvinismo e Comunismo por sinal, empenharam forças descomunais. De fato, cada uma das igrejas sem Cristo ou das místicas secularizadas mobilizou recursos humanos colossais, julgando poder imitar ou plagiar o poder divino.
Aquele começando por Genebra, e falhando miseravelmente em menos de cem anos, e passando incansavelmente, a Escócia de Knoxx, aos EUA dos 'pilgrins fathers', ou mesmo as plagas do Brasil atual e, mesmo assim, falhando sucessivamente, tentativa após tentativa, sem no entanto jamais tornar a reconstruir a 'Santa Genebra' i é, o califado original ou, segundo Van Paassen, primeiro Campo de concentração da História.
Assim o Comunismo, que com seu estro revolucionário, 'Fez rolar a cabeça do Czar'... Onde ora refloresce ou reverdece uma fé ainda mais pura que a romana...
Agora por que falhou o protestantismo... Esse Adamastor cujas pretensões são tão grandes...
Falhou porque com base na dúvida, na negação ou no vácuo nada se edifica de duradouro. De fato a igreja velha conquistou e guiou a Europa porque firmada na autoridade enunciou verdades eternas e indestrutíveis ainda quando incompletas ou em parte distorcidas. Já o protestantismo postulando o livre exame deu a entender que procurava e consequentemente que não tinha... Como de fato não tem a posse da verdade, posto que lhe falta a verdadeira autoridade - Decorrente da sucessão apostólica.
Dirá ele que tem a bíblia ou que posta livros ou escrituras.
Logo, o que tem ele, é leitura e a leitura não é a verdade.
E essa leitura sequer é o livro, como o leitor - Por sinal, não o é.
Assim o quanto resta ao protestantismo é interpretação individual, subjetiva e falível, opinião, suposição, perspectiva, ponto de vista... Jamais a verdade ou o sentido objetivo do livro, fornecido pela legítima autoridade, aa qual remonta aos apóstolos e enfim ao Cristo. Tudo muito humano e demasiado humano, especulação natural, exegese, elaboração 'racional' e não Revelação divina...
Reino dividido, deu o protestantismo cumprimento as palavras infalíveis do Senhor: E - Devorado pelas seitas. - sucumbiu levando consigo a maior parte da Europa.
Mesmo onde não reinava, ou seja, nas nações papistas e Ortodoxas, enviou ele (O protestantismo) seus corifeus - Apóstolos do ceticismo. - semeando dúvida e produzindo aquele imenso vácuo espiritual que haveria de ser futuramente disputado pelas culturas de morte a semelhança de um cadáver podre sendo disputado por urubus. Portador de um hálito e pestilencioso e letal, ele, o protestantismo logrou contaminar toda Europa, infecta-la, polui-la e destrui-la por dentro... Até chegarmos aos confins da pós verdade e restar-nos apenas a 'narrativa' ou a 'versão' - Desde então afundamos mais e mais nesse charco ou atoleiro espiritual> Posto que nada temos para opor ao islã, alias encarado já como uma opção possível... E quando assim for que será de Homero, Virgílio, Dante, Tasso ou Ariosto...
Pois é, o buraco ou brecha aberta nos flancos da Europa, não apenas subsiste - mas amplia-se. E nessa Babel de confusão, em que todos gritam, os olhos jamais se voltam para a Ortodoxia. A qual os pode duplamente salvar - Tanto neste mundo (Restaurando a cultura.) quanto no outro, e jamais dão com a verdade que a princípio com tanto amor chegaram a contemplaram.
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