terça-feira, 17 de janeiro de 2017

As três categorias de liberalismo econômico

Três são os tipos ou categorias de liberalismo econômico e todas envolvem uma apreciação do político:


1 - LIBERALISMO CLÁSSICO - Reporta as doutrinas de Adam Smith e David Ricardo

Segundo a teoria clássica não cabe ao setor político interferir com o objetivo de regular a economia. Pois a economia tem sua própria dinâmica e regula-se por si mesma.

O que nos leva a doutrina política do Estado mínimo ou da miniarquia, segundo a qual cabe ao político manter as condições mínimas para que a economia possa seguir seu curso livremente.

Implica valer-se da força e portanto dos mecanismos de repressão como política e exército com o objetivo de manter a ordem social.

Segundo a perspectiva liberal tudo quanto cabe ao Estado é proteger o modelo econômico estabelecido contra possíveis tumultos causados por parte da população, ou melhor dizendo, pela parte miserável e excluída da população.

Trata-se evidentemente de um estado inerte ou negativo quando as atividades econômicas, mas ativo no sentido de impedir a estrutura capitalista venha a ser questionada e, consequetemente atacada. É um modelo de Estado que atua apenas e tão somente nos planos político e social, em beneficio do setor financeiro. Portanto sua atuação em termos econômicos é sempre indireta, jamais direta.

Ele não participa das decisões econômicas, limita-se a referenda-las.


2 - ANARCO CAPITALISMO - A teoria Anacap tem por principais articuladores Murray Rothbard e David Friedman. A fonte mais remota no entanto parece ser Max Stirner.  

Segundo o Anacap toda organização política deveria ser desarticulada, dissolvida, extinta e substituídas por relações meramente econômicas reguladas evidentemente pelo Mercado.

Aqui o Estado ou a organização social deixa de existir em benefício da 'ordem' econômica.

Se levarmos em consideração as alegações de Hannah Arendt no sentido de que o Liberalismo econômico buscou reduzir o espaço da atividade política desde o princípio forjando uma Sociedade economicista e a própria formulação do conceito de miniarquia pelos austríacos não podemos deixar de encarar o Anarco capitalismo como um desdobramento natural do liberalismo clássico. No sentido de que primeiro o político é reduzido, posteriormente mais reduzido ainda e por fim negado.

Trata-se duma negação do político em benefício do econômico. Punto e basta.


3 - NEO LIBERALISMO - A tenderíamos a relacionar Neo liberalismo com uma retomada da teoria clássico liberal em meados do século XX, especialmente após o triunfo a afirmação do Keynesianismo nos anos 30, 40 e 50.

A darmos por certa esta definição ele bem poderia ser compreendido em termos de laissez laire mais estado fraco ou não interferente.

Para quem engole esta definição capciosa a verdadeiro significado de neo capitalismo não pode deixar de ser impactante na medida em que esta doutrina opõem-se decididamente aos princípios fundamentais do liberalismo clássico e corresponde por assim dizer no mínimo a um socialismo invertido ou mesmo a uma inversão do modelo comunista.

Pois trata-se dum modelo que tendo incorporado a crítica keynesiana reconhece o papel interventor do estado, todavia não em favor do trabalhador ou do povo (conforme o sentir dos socialistas) mas a favor dos investidores ou do Mercado. Daí Socialismo invertido pois encara o estado como apoiante e de certo modo até como parceiro.

Alias desde que esse Estado favorece o capital e a busca pelo lucro pouco importa sua forma. Daí a total falta de compromisso entre o neo liberalismo e o liberalismo político ou as formas democráticas e sua quedinha em relação aos estados 'fortes' ou totalitários, a exemplo do Chile de Pinochet. Mesmo porque Von Mises (que no ocaso da vida aprovou a atuação dos ordoliberais - era miniarquista mas é adorado pelos Anacaps - havia sido conselheiro do ditador austríaco Dolfus e Friedman pai deplorado o fenômeno da liberdade humana em diversas ocasiões.

Trata-se portanto de um regime de mercado fortemente apoiado pelo Estado ou pelo poder político, já no sentido de que o político privatize tudo quanto se encontre em suas mãos, aumentando mais e mais a participação econômica do investidor privado, já no sentido de implementar uma austeridade fiscal traduzida em termos de cortes de programas sociais voltados para a promoção humana e afirmação das minorias, já no sentido de acabar com o protecionismo e as taxas alfandegárias, já no sentido de desregulamentar o trabalho ou desmontar a legislação trabalhista...

O que nos leva a um reformismo econômico promovido pelo poder político com o objetivo de desconstruir o estado de bem estar social preconizado por Keynes e implementado pela social democracia ou pelo trabalhismo desde 1880 (Trabalhismo inglês).

Mesmo na Alemanha Ocidental, cujo gerenciamento tinha por escopo criar um 'paraíso capitalista' sobre a face a terra e ganhar a batalha ideológica contra o socialismo, e onde muito se discursava - demagogicamente é claro - sobre um 'capitalismo humanista' (sic !!!! ????) Erhard não pode abandonar o velho discurso (que remonta a Adam Smith) segundo o qual 'O mercado era essencialmente social e que NÃO PRECISAVA SER FEITO ASSIM' . Rustow diante das restrições feitas ao programa de bem estar social, clamou por um programa de bem estar social mais limitado ainda e portanto nada social e nada bom..

No entanto com dizer tudo isto não esgotamos o sentido do termo, não colocamos o dedo no fundo da ferida e não tocamos ao fundo do abismo...

Pois uma prática comum aos regimes neo liberais é a da garantia ou do auxílio financeiro disponibilizado pelo Estado a bancos e empresas em perigo. Nem preciso dizer que este fundo é constituído ao menos em parte por recursos auferidos por meio dos impostos e que consequentemente deveriam reverter em benefício do trabalhador por meio de programas sociais.

Implica isto tomar de quem tem menos para dar a quem tem mais ou tirar dos pobres e trabalhadores para dar aos milionários, como Cacciola, Calmon de Sá, Canhedo e tantos outros burgueses endinheirados que mamaram amplamente nas tetas do governo FHC apropriando-se de centenas de milhões de reais. Sempre sob a alegação de que o socorro as tais empresas e bancos reverteria em empregos... Quando reverte sempre em champanhe, caviar, presunto de parma, trufas, etc e subsequente falência...

Aqui também Robin Wood sai virado aos avessos. Pois o governo passa a tirar dos miseráveis para dar aos parasitas... E a ideologia tudo desculpa e encoberta - Bolsa general, Bolsa político, Bolsa juiz, bolsa filha solteirona encalhada, bolsa viúva, BOLSA EMPRESÁRIO, tudo, tudo, tudo... Menos bolsa família. Pois no Brasil quem trabalha como escravo, quem tudo produz e pouco ganha, quem é explorado ou recusa-se a se-lo é que recebe o nome de vagabundo... Enquanto quem amealha imensas fortunas sem pegar no batente ou trabalhar duro é encarado como herói...



Estão ai descritas as três formas de liberalismo: A que pretender manietar e amordaçar o Estado, limitando-o a elemento gerenciado da polícia e do exército com o objetivo de intimidar as massas exploradas e miseráveis, contendo-as no respeito e mantendo longe qualquer possibilidade de rebelião.

A que pretende demolir o estado e substituir as relações éticas e políticas por relações meramente econômicas

E a que pretende escorar-se no estado ou dele fazer uso inescrupuloso, em contradição com os princípios fundamentais do liberalismo clássico.

Por qual deles você prefere ser escravizado???








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