Não é propósito deste Blog atacar quaisquer pessoas ou mesmo ideologias e crenças. Pois embora
Sam Harris tenha apresentado o ateísmo como fato consumado, ainda concebemos fatos como eventos ou fenômenos acessíveis aos sentidos ou imediatamente perceptíveis.
Tal o caso da última chuva, vi-mo-la, ouvi-mo-la e toca-mo-la inclusive. No entanto jamais vimos, ouvimos ou tocamos ou ateísmo.
Salvo engano nosso não é fenômeno físico, material e perceptível como supõem o sr
Harris mas fenômeno interno, imaterial, psicológico ou mental, forjado ou concebido pela mente humana como qualquer crença ou ideologia. Em termos de essência entre ateísmo ou teísmo não há qualquer diferença... É tudo construção teórica ou visão de mundo com maior ou menor fundamento.
Caso nossos amigos ateus venham a discordar de nosso 'juízo valorativo' adiantem-se e apresentem-nos o peso, medida, densidade, extensão, etc do 'fato' ateu ou da 'coisa' ateia.
Feita esta ressalva - Pois ateus há que se julgam tão 'perseguidos' quanto nossos neuróticos pentecostais... - necessária principio declarando que o único propósito deste artigo é questionar. Os ateus ou melhor os ateístas não apreciam questionar todas as religiões ou mesmo o simples deísmo? Bebam pois a mesma poção que não lhes fará mal algum! Ademais todo e qualquer sistema depura-se e torna-se mais consistente na medida em que fica exposto as críticas de seus contrários, os quais no fim das contas prestam-lhe bons serviços.
De modo que se os apóstolos do ateísmo congregados numa nova Agora, perguntassem que pena mereço eu por questiona-los, não hesitaria reproduzir as palavras do divino
Sócrates: Ser alimentado graciosamente no pritaneu! Calma, bem sei que não existe mais pritaneu, mas bem que os ateístas poderiam fornecer-me cestas básicas gratuitamente por no mínimo um ano.
Alias o questionamento me interessa pelo simples fato de ser mestre ou professor de Ética e interessar-me sobre o tema ou assunto da vida Ética. Tema por sinal exaustivamente abordado e explorado por filósofos religiosos, deístas, agnósticos, materialistas e ateus desde o décimo nono século.
De minha parte, tal e qual
I Kant, na
"Razão prática" considero absolutamente normal que qualquer sistema metafísico (ateísmo e teísmo/deísmo) ou não (agnosticismo e materialismo) seja 'posto na parede' e irremissivelmente julgado e sentenciado tendo em vista os princípios e valores que inspira.
Claro que estou cônscio e até farto de ouvir a resposta fornecida pelo senso comum ateístico, segundo a qual há ateus bons como há religiosos, inclusive Cristãos malvados.
E é assim, com o afirmar que há ateus bons e religiosos maus que muitos dão a questão por encerrada.
Quanto a nós que diremos?
Negaremos a assertativa acima e diremos que todos os ateus - sem exceção - são maus e todos os religiosos bons?
Nada mais tolo e pífio do que negar a realidade.
Eu poderia negar, gritar, bater os pezinhos, etc
E vós brindar-me com exemplo semelhante ao de
Unamuno, em seu
São Manuel Bueno mártir.
Ou o que é ainda pior lançar-me em face os nomes horrendos de um
Torquemada, de um
Calvino, de um Malacraia, de um Felicianus, de um
Cunha, de um
Edir Macedo, de um
RR Soares, de um
Valdomiro, de um
G W Bush, etc
E eu teria de calar-me envergonhado.
Péssimo Cristão é coisa que não falta ou até sobeja.
E certamente há ateu que seja bom no mundo felizmente.
Logo...
Logo o que?
Logo a conversa esta encerrada. Pois a ideia de um Deus nada tem a ver com o bem e o mal, o vício e a virtude, o certo e o errado, com a Ética enfim!
Errado, tem muito a ver ou melhor tem tudo a ver.
Mas não acabas de dizer que há ateus bons e religiosos canalhas?
Exatamente.
Então que raios deus ou cristo tem a ver com a 'moralidade'?
Tudo quando eu digo é que devemos problematizar a situação, questionar e investigar mais a fundo e quando digo isto, como culturalista que sou, penso que devamos examinar antes de tudo a questão da cultura.
E já adianto-me e digo que tal e qual os marxistas e anarquistas, os ateus relacionados com os mais variados modelos sociais e políticos, inclusive os liberais (que se julgam completamente distintos), sofrem do mesmo 'mal' ignorando por assim dizer o tema da dinâmica da cultura, em termos de produção, afirmação, declínio, assimilação, etc
É vezo comum a nosso tempo e aos religiosos fanáticos por sinal, os quais votam ódio imenso ao tema da cultura. Isto porque é da cultura, considerada em sua dinâmica, demolir todos os ídolos, sejam os 'cristãos', sectários, marxistas, anarquistas, liberais ou ateísticos... E vão parar todos na mesma cloaca dos 'mitos'.
Assim o primeiro fator que devemos considerar é que via de regra, as pessoas são incoerentes, especialmente as menos instruídas.
De fato é a incoerência problema universal e bastante sério.
Assim os 'católicos' afrontados em comício fascista por
Unamuno (1936) o qual mesmo sendo incrédulo, soube opor a seus instintos vis e homicidas as mesmas palavras do Evangelho lidas em cada missa, ao invés de terem chorado e se lançado ao solo pedindo penitência, apontaram suas pistolas contra aquele que havia se limitado a repetir as palavras de
Jesus Cristo...
Assim os anarquistas que em nome da liberdade destruíram os símbolos religiosos contra a vontade da população rural, alegando que eram 'símbolos de opressão'... E com maior opressão eliminavam os tais símbolos de opressão atraindo contra si mesmos o ódio das massas.
Assim os comunistas russos, russificando o marxismo e contento a tal 'Revolução' em que pese as advertências de
Trotsky
Assim a população budista do Japão endossando a febre do consumo e a cultura produzida por ela...
Assim os 'liberais' abatendo e traindo o liberalismo político ou a democracia em nome dos interesses do mercado ou do liberalismo econômico.
As incoerências multiplicam-se por este mundo afora.
Cristãos há que estão plenamente cônscios a respeito da Ética do Evangelho, mas recusam-se a vive-la... Claro que eles deveriam ser advertidos e submetidos a regra da penitência, há quem lute por isso. Também o Cristianismo precisa passar por uma purificação ética e livrar-se de tantos quantos encaram a religião como simples questão de fé.
Este enfraquecimento da consciência Cristã remonta ao alemão
Martinho Lutero patriarca do solifideismo. Felizmente não somos luteranos ou protestantes.
Outro grande fator que devemos considerar é a ignorância e a falta de instrução.
Assim como há ateu sem embasamento teórico algum por jamais terem lido o
Faure, o
Stirner, o
Feuerbach, o
Duhring, o
Freud, o
Hitchens, o
Dennet, o
Sam Harris ou o
Dawkins; há muito Cristão nominal que jamais leu o Evangelho de Cristo ou o livrinho de catecismo.
E como a comunidade Cristã é muito maios (100 vezes mais) do que a comunidade ateística, há de se convir que o número de iletrados e analfabetos seja muito maior. O que nos leva a um problema educativo, a Igreja tem tido dificuldade para educar toda essa gente, pois trata-se de um esforço colossal. Então temos de considerar que parte dos Cristãos forma como que uma massa inconsciente em termos de doutrina.
Há enfim aqueles que são além de letrados e instruídos, resistentes! Há ainda quem professe o Cristianismo externamente apenas e que o pratique mecanicamente i é indo as missas, rezando, etc Mas por mera questão de 'aparência' ou oportunismos, agradar a sociedade, garantir o emprego, manter a paz familiar, conservar os amigos, etc Essas pessoas sabem ler, sabem o que deveriam fazer... Mas não creem.
Mais um problema a ser corrigido pela penitência eclesiástica. Lamentavelmente a igreja, infectada pelos ensinamentos de
Lutero e da pseudo reforma insiste mais a respeito da fé e faz vistas grossas a prática das virtudes Cristãs. A virtude para aquele que aderiu a fé Cristã já não é questão de liberdade mas de estrito dever. Aquele que recusa-se a cumprir concretamente com seu dever deveria ser excomungado.
Temos enfim todo um problema de educação e de disciplina.
No entanto quando tais problemas são vencidos, o Evangelho é lido, conhecido e meditado; a tradição estudada, a lição do catecismo assimilada, etc Temos o católico consciente e coerente e o resultado disto foi o aflorar da espiritualidade franciscana no século XIII e do Catolicismo social no século XIX, e da 'Teologia da libertação' no século XX.
E desta consciência evangélica surge um São João de Deus, um São Camilo de Lelis, um São José Cotolengo, um São João Bap de la Salle, um São João Bosco, um F Ozanam, um Pe Bento, um Pe Ibiapina, uma Irmã Dulce, uma Madre Tereza, um Abbe Epeé, um Pe Gapon, um Pe Lebret, um Abbe Pierre, um Pe Julio Lancelotti, um Alexandre Schmorel, uma madre Maria Skobtzoff, um Pe Maximiniano Kolbe, uma Anália Franco, um Von Keteller, um Lammenais, um De Mun, um Meignan, um La Tuor du Pin, um Wietling, uma Simone Weil, uma Mother Jones, uma Dorothy Day e tantos e tantos homens e mulheres comprometidos com a promoção integral do ser humano. Estes entretiveram um relação orgânica com o Evangelho, buscaram imitar e honorificar Jesus Cristo, foram coerentes.
Cristianismo conhecido, refletido, esclarecido, vivido e coerente reverte sempre em benefício da pessoa humana, desde os tempos de
Basílio, o Grande, Fabiola, Ambrósio, Patrício, Crisóstomo...
Tanto mais conhecido, refletido e vivido o Evangelho numa perspectiva tradicional ou Católica, isenta de contaminação platonizante, e tanto mais é beneficiada a Sociedade com escolas, hospitais, orfanatos, asilos, dispensários...
Não, a alegada 'malignidade' de certos cristãos (Católicos é claro) não parte de sua intimidade ou proximidade com o Evangelho mas da distância e alienação face a seus imperativos divinos de amor e justiça. A quase totalidade dos maus cristãos é iletrada, estúpida, incoerente e acomodada. Ignoram assim qual seja a essência de sua religião e por isso negam com as obras o que com a boa afirmam crer.
Não se trata duma situação de obediência ou cumprimento. Não odeiam, matam, roubam, mentem e cometem injustiças porque Jesus Cristo o tenha determinado, mas justamente porque ignoram o que o fundador de sua religião determinou... Jesus jamais ordenou a seus seguidores que odiassem, praticassem o mal ou exercessem a vingança, mas que amassem, se abstivessem de julgar, desistissem de condenar, etc Se parte dos cristãos desobedecem-no livremente a culpa certamente não é sua, embora a igreja mereça ser questionada neste sentido, e parte de seus filhos questionam-na.
Sei que tampouco os principais teóricos do ateísmo - digo sua grande maioria - aconselharam seus seguidores neste sentido, de praticar maldades e cometer crimes, e que alguns até tentaram honestamente produzir uma Ética ateística. No entanto devemos confessar que tais esforços falharam miseravelmente, e é o que veremos mais adiante.
Digo sua grande maioria porque minoria houve que optou por trilhar outros caminhos e produzir, e justificar uma Ética, oposta a pessoa humana e sua dignidade.
O problema havia sido lançado e era relevante desde os tempos de
D Holbach (século XVIII) em seus sistema da natureza, obra em que pretendeu substituir o sistema de ética afirmado pela Igreja por um novo sistema de Ética fundamentado no ateísmo e no materialismo.
É verdade que a Cristandade - Influenciada pelo judaismo, pelo maniqueismo, pelo platonismo e pelo neo platonismo - havia cometido gravíssimos erros neste campo pelo simples fato de condenar os prazeres naturais que encontram-se no acesso do corpo. Sem embargo disto, ela continha e trazia em si mesma um sentido 'vital' em termos de Ética, o sentido da empatia ou da alteridade. Princípio que o materialismo por assim dizer desamparou completamente.
Por isso que em termos de moralidade o Barão
D Holbach refere-se a busca pela realização pessoal e pela felicidade em termos de '
Poder, riqueza e prazer'. Tal a orientação que ele imprimiu a Ética e embora pretendesse criar uma moralidade tanto mais social, teve de contentar-se - como
Adam Smith inclusive - em tecer algumas conjecturas em torno de uma amabilidade o simpatia natural. Ele tinha fé na bondade natural do homem e acreditava que tudo daria certo. Pois não havia conhecido aquele novo mundo produzido pelo 'deus' Mercado em meados do século XIX e tampouco as duas grandes guerras mundiais, o holomodor, etc
Impossível é para o homem do século XXI ter fé na bondade natural de seus semelhantes...
Daí a necessidade de falarmos numa Educação Ética ou conscientização em torno de princípios e valores humanistas. E de construirmos um sistema de Ética significativo.
Já o abade
N S Bergier havia notado o vício original desta 'ética' materialista e ateística e salientado que ela perdera de vista o outro, a existência do outro e as dores do mundo - tema tão caro a
Schopenhauer e a
Freud. No entanto grande parte da existência humana consiste mesmo na experiencialidade da dor... Face a qual o Cristianismo, a guiza de solução ou suavização, ofereceu-nos uma Ética fundamentada na solidariedade. Segundo esta 'Filosofia' bárbara também achamos realização, conforto e felicidade ao amenizar o sofrimento alheio. Agora esta concepção tirava sua razão de ser dum evento histórico revestido de significado religioso, a saber da crucificação, dos sofrimentos e da morte experimentados por Deus...
O materialismo no entanto não tem Deus e muito menos cruz.
Daí sua tarefa, colossal, ingente e utópica que elaborar uma Ética voltada não para a identificação da felicidade com a fruição dos prazeres sensíveis (alias lícitos e necessários quanto a normalidade da vida) e sim como algo mais extenso e amplo, que incorpora-se os prazeres do coração ou da alma como o exercício da solidariedade. O que nos leva ao ideal de fraternidade humana!
Agora vejamos se o ateísmo estava a altura de semelhante desafio.
Enquanto
Feuerbach quebrava sua cabeça e gastava incontáveis resmas de papel com o objetivo de forjar essa nova Ética a um tempo ateística e a outro ateísta, mais ousado, apareceu em cena um certo
Kaspar Schmidt (Mais conhecido como
Max Stirner) e num livro intitulado
'O uno e sua propriedade' iniciou a demolição da Ética humanista numa perspectiva escolástica. O homem foi terminante: partindo outros princípios não se chegará jamais aos mesmos objetivos, o Cristianismo enunciava a igualdade e fraternidade universal porque partida não apenas da existência de Deus mas da suposição absurda que ele se havia manifestado ou revelado. Como nosso ponto de partida eram outros, a saber materialismo e ateísmo, o objetivo atingido seria bem outro pelo que era necessário reconhecer que os homens não eram iguais sob quaisquer aspectos, que uns eram superiores e outros inferiores cabendo aqueles dominar ou até mesmo exterminar a estes... Claro que tinha de sobrar até mesmo para o deísmo voltairiano com seu Deus legislador e para a lei natural ou o jusnaturalismo salmanticense... Sem Legislador divino nada de lei ou direito natural.
Neste ponto a Ética ou 'moral' como era chamada ao tempo ( e ainda confundia-se com os costumes) perdeu sua essencialidade objetiva - proposta primeiramente por
Sócrates e endossada por
Platão e
Aristóteles - para tornar-se subjetiva, e não científica e converter-se por fim em opinião individual ou mero preconceito. Do que resultou esta crise contemporânea que abalou a civilização européia até os fundamentos. Graças a mística positivista engendrada pelo materialismo foi a Ética depreciada ou abandonada por cerca de setenta anos, em que pese o clamor dos Católicos, dos deístas, dos humanistas, dos socráticos, dos aristotélicos, dos espíritas, etc e duas grande guerras mundiais com o saldo de milhões e milhões de mortos.
Claro que esta Ética ou moral frágil até mesmo no sentido de evitar-se o mal não podia encaminhar os homens a prática do bem em proporções heroicas, pelo que minguando o heroísmo e a abnegação humanas, inseriu-se o capital naquele nicho, e alimentamos ainda mais e mais o monstro que nos estava a devorar...
Retornando ao
Stirner é bom saber que ele negou qualquer tipo de direito ou justiça natural, chegando a declarar que em estado de natureza o homem sequer tem direito aquilo que produz ou ao fruto de seu trabalho, e que pode ser alijado de tal fruto sem que possamos considerar tal ação como má ao menos do ponto de vista da natureza. Por onde chegamos a primazia do egoísta em posse da força. Para que relativa paz seja mantida a aristocracia do egoísmo estabelece um convenant e dita regras não apenas para si mas para todo resto da sociedade ou para os dominados, os quais recebem uma lei dada ou imposta pelos donos do poder. E fica a nova Sociedade cindida entre dominantes e dominados ou entre fortes e fracos segundo o novo paradigma ateu e materialista, A OPRESSÃO.
Em termos de moral ou ética foi isto que o ateísmo refletido ou digerido ofereceu-nos em termos de ética!
Até onde sei
Nietzsche não apenas leu a obra de
Stirner como referiu-se explicitamente a ele como o único pensador ou filósofo alemão. E não preciso dizer porque, e temos diante de nós o berço do 'super homem'. Eis seus cueiros...
Nietzsche em certo sentido limitou-se a desenvolver os princípios enunciados por
Stirner e seu padrão é a força, a insensibilidade, a indiferença, o egoísmo, a apoteose do individualismo enfim, porque o ateísmo não nos permite transcender o individuo.
Com
J M Guyau que durante a juventude flertara com o estoicismo, tornamos mais uma vez a solidariedade, cujo imperativo ele reconhece ao menos abstratamente. Pois tolhido pelos preconceitos positivistas é levado a declarar que não podemos - como fez o Cristianismo - estabelecer normas ou regras concretas em termos de solidariedade. Daí também ele lançar-se para o futuro e postular que a solidariedade alimentará a estética, que esta propiciará um conhecimento mais seguro em termos de transcendência e os homens virão a amar-se mutuamente sem religião... Isto num futuro pálido e distante. Por hora reinassem as contradições sociais criadas pelo capitalismo... Ao cabo de trinta anos após a publicação deste manual de idealismo ingênuo estourou a primeira grande guerra.
Chegamos enfim a
Spencer e ao darwinismo social, o qual posteriormente passou a ser compreendido como um suporte biológico - e portanto científico - fornecido aos devaneios de
Stirner e
Nietzsche. Ao que parece
Darwin jamais teria esposado semelhante teoria, tal o veredito de
Kropotkin. Embora outros teóricos aleguem que no final da vida tenha aderido as conjeturas de
Spencer o qual partiu não de
Darwin mas do velho
Lamarck e de
Malthus, compondo-se mais tarde com a
'Origem das espécies'. Spencer estabelece analogia entre os organismos vivos e os homens ou classes sociais e argumenta que da mesma forma como os organismos vivos aperfeiçoam-se por meio da 'seleção natural' os indivíduos e classes aperfeiçoam-se e a Sociedade evolui através de processos análogos.
(cf O organismo social - 1860)Assim ele cunha o termo
'sobrevivência dos mais fortes' falseando inconscientemente o enunciado darwiniano sobre a sobrevivência dos mais aptos e introduz esse conceito biológico na sociedade humana. Desde então não só as teorias pré fascistas e pré nazistas de
Stirner e
Nietzsche adquirem uma conotação científica aos olhos do positivismo sem ética, mas a própria dinâmica capitalista da livre concorrência e do livre mercado passam a ser justificadas a luz da 'seleção natural'. Passando o burguês bem sucedido ou o rico a ser identificado como um vencedor na luta pela vida e portanto como um herói e não como o 'vilão sem consciência' do socialismo legatário da 'embolorada' moral Cristã. Esta ponto foi feita pelo yankee
William Graham Sumner em sua obra
"O que as classes sociais deve umas as outras?" Ele responderá: Nada... pois a luz da ciência biológica o capitalismo acha-se finalmente vindicado.
Além disto
Sumner como
Malthus já havia feito criticou amargamente a assistência social com que os Cristãos buscam minorar os sofrimentos dos vencidos da vida... Ele declarou ainda que o posicionamento do clero anglicano em favor dos pobres e contra os ricos não passava de preconceito idiota.
Naturalmente que a ideia é importada e introduzida na Alemanha por outro apóstolo do ateísmo e do materialismo
Ernest Haeckel.
Até que chegamos a
Ayn Rand com seu egoísmo racional (!!!), seu repúdio formal ao altruísmo e seu apoio decidido ao sistema capitalista. Preciso dizer que também esta musa era atéia?
Toda esta 'abominação' anti humanista como se vê foi assumida ao mesmo tempo pelo formalismo político nazista e pelo formalismo economicista capitalista enquanto sistemas opostos a Ética da essência.
Grosso modo podemos dizer que o ateísmo refletido jamais saí do individualismo egoísta ou supera-o no plano da ética. Não ele não pode oferecer-nos qualquer outra coisa.
De fato os ateus bonzinhos são em sua maior parte pessoas que aderiram ao ateísmo a posteriori e que ainda não refletiram escolasticamente sobre ele. Ex deístas, ex espíritas, ex papistas, ex judeus, etc que por hábito continuam vivendo como sempre viveram e segundo foram educados. Culturalmente falando jamais questionaram os princípios e valores que haviam recebido. O ateísmo é recebido quase sempre como teoria, que pouco ou nenhum impacto produz sobre o comportamento das pessoas, em oposição a conversão religiosa. O ateísmo não possui organização, liderança ou mesmo doutrina oficial a ser assimilada pelos neo ateus... Uma revisão drástica da vida não se impõem. Deixam de frequentar suas igrejas ou clubes, mas quase nunca abandonam os 'preconceitos arraigados'. De modo que se já são bons continuam a ser.
De modo geral é assim porque o homem comum - e portanto boa parte dos ateus - não costuma a questionar e a refletir profundamente sore seus princípios e valores, as fontes da vida Ética.
Agora quando se trata de ateísmo de família ou herdado e transmitido de geração em geração a possibilidade de que haja reflexão e abandono dos princípios e valores tradicionalmente arraigados é bem maior. Na verdade tais princípios sequer são questionados, eles apenas deixam de ser repassados ou transmitidos de geração em geração devido a ausência de 'afinidades eletivas' entre eles e o ateísmo, de modo que apenas a cabo de um processo que abarca gerações, aflora uma Ética naturalmente ateísta e intuitivamente elaborada. No entanto o resultado desta construção improvisada e da solução refletida acaba sendo sempre o mesmo: A morte do homem, a negação do outro, a desaparição do semelhante e a perda quase que total da empatia, da alteridade, do altruísmo. Noutras palavras a afirmação de um egoísmo virulento e feroz.
Ao contrário do que previam
D Holbach e
Guyau a simpatia não foi afirmada e potencializada mas eliminada pelo ateísmo e pelo materialismo com sua ética individualista até o egoísmo.
Para finalizarmos este artigo ja demasiado longo resta descrever como e porque isto aconteceu e demonstrar que não podia acontecer de modo diverso.
O único elemento universal de convergência ou vínculo em termos de homem e virtude é Deus ou o Supremo Legislador, em cuja vontade eterna todos os princípios e valores éticos encontram-se objetivamente legitimados.
Eliminado o Legislador externo fica eliminada toda e qualquer possibilidade de lei natural, essencial e objetiva. O Bem e o mal perdem seu padrão ou critério de universalidade e objetividade.
A consequência desta perda implica admitir, e não há outro recurso possível, que o indivíduo isolado (ou como querem outros a Sociedade ou o Estado e já discutimos exaustivamente a respeito) converte-se em lei externa e absoluta para si mesmo em termos de ética e em fonte subjetiva de princípios e valores válidos unicamente para si mesmos. O indivíduo escolhe seus princípios e valores, os quais perdendo a universalidade e a objetividade convertem-se em pura e simples opinião. E a ética passa a ser identificada como opinião individual, punto e basta. Se não há Legislador externo e universal temos de reconhecer o indivíduo como árbitro supremo em termos de ética e conceder que possa julgar legitimamente em causa própria.
E não pode o outro ser seu juiz porque haverá de julga-lo segundo outros princípios e valores distintos.
Assim se alguém considerar correto matar, roubar, mentir, trair, torturar, etc quem será capaz de censura-lo???
Afinal não é ele que escolhe seus princípios e valores segundo seu ideal de felicidade?
Portanto e se esta felicidade consiste em torturar, estuprar, enganar, assaltar e tirar a vida alheia???
Mas ele não pode querer para si o que não quer para os outros???
E por que não pode? Quem é que converte o enunciado acima em lei universal se não há Legislador?
Se não há lei natural e universal tudo pode ser contestado.
No entanto, pergunta este outro ateu ingênuo, quem haverá de contestar ao menos a conveniência de identificar-se com o outro?
Ora, ora meu amigo, os pensadores e filósofos ateus
Stirner, Duhring, Nietzsche, Guyau, Rand... o agnóstico
Spencer... os capitalistas selvagens, fascistas, comunistas e nazistas todos.
Enquanto isto Católicos ( Ortodoxos, anglicano e papistas), espíritas, judeus, etc continuarão edificando Hospitais, Leprosários, Asilos, Escolas, Orfanatos, Dispensários, etc por toda face da terra. Lutando pela promoção humana e pela justiça social e até mesmo, quando necessário imolando-se até a morte pelo semelhante.
Agora a fundação de quantos Hospitais, Leprosários, Asilos, Escolas, Orfanatos, Dispensários, etc t foi inspirada pelos princípios do materialismo e o ateísmo? Quantos Hospitais ateus ou orfanatos materialistas existem sobre a face a terra? Quantos ateus virtuosos tem oferecido a vida pelo outro a exemplo do Cristão
Oscar Schindler? Enfim quantos ateus deram suas vidas e morreram confessando ao ateísmo e declarando estar certos de que não existe um Supremo Ser?
Não sendo o ateísmo capaz de promover uma ação social em tão intensa quanto os religiosos e não sendo apto para infundir virtude tão heroica que arroste o perigo da morte pela simples afirmação da verdade como haveríamos de crer que servirá de barreira face ao capitalismo, ao nazismo, ao fascismo, ao comunismo e a outras tantas culturas de morte ao invés de alimenta-las?
Poderá o ateísmo servir-nos de barreira face as culturas de morte e salvar o ser humano de ser esmagado pelo rolo compressor da estatolatria? Vindicará ele o humanismo no mais alto grau? Fornecer-nos há os elementos necessários para a construção de uma ética essencial da pessoa? Logrará preservar-nos do flagelo do islã?
De minha parte penso e julgo que não...
Aos demais penso apenas que reflitam.