sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Cognição e afetividade

O médico Henri Wallon demonstrou mais que suficientemente que a aprendizagem está ligada ao afeto. Como professor/educador tenho isso bem claro, mas os sistemas de ensino, não. Eu sou professor contratado e tenho minhas turmas que ano que vem não serão minhas, e se continuar como contratado, pegarei novas turmas com as quais não tenho nenhum vínculo.

É duro para um(a) professor(a) construir um vínculo quase durante um ano inteiro e quando chega no ano seguinte, ele(a) perde seus alunos para outro(a) professor(a), assim como o(a) outro(a) professor(a) perdeu seus alunos.

Tudo o que foi construído a duras penas, com sacrifício é desfeito num piscar de olhos. Todo o esforço do professor foi por água abaixo. E aí no ano seguinte tem que começar tudo de novo, a partir do zero. E quando este vínculo está começando a ser construído, chega o fim do ano e ele é destruído.

E essa situação não acontece somente com professores contratados, mas também com efetivos. Porque certos professores estão mais interessados em ter um melhor horário do que ter vínculo com seus alunos, ou pode ser o caso que a turma mude de horário e aí os professores não podem continuar a acompanhar o progresso de seus alunos.

Se a escola pública com toda essa lenga-lenga das SEDUCS da vida, ou das Diretorias de Ensino, realmente quisessem revolucionar o ensino, a primeira coisa que fariam é obrigar os professores a terem vínculos com seus alunos. Pois a convivência entre professores e alunos, cresceria e ao fim do ciclo, professores e alunos seriam amigos, mais ainda, uma segunda família.

Se os professores (PEB II - Ensino Fundamental II) pudessem pegar turmas de 6ºs anos (antigas 5ª séries) até os 9ºs anos (antigas 8ª séries) criariam vínculos afetivos com seus alunos, eles conheceriam as vidas e as realidades de cada um de seus alunos e saberiam como lidar com cada um. Mas isso é impossível, durante um ano letivo, impossível por causa desse troca-troca de professores, pois os alunos sempre veem os professores como seres distantes, como estranhos e quando começam a ver como amigos, tudo se desmancha como um castelo de areia derrubado por uma onda.

O vínculo afetivo não é construído em 10 meses, leva tempo. Mas os sistemas (des)educacionais pouco se importam, pois esses pedagogos de gabinetes, esses secretários de educação, provavelmente nunca tiveram em uma sala de aula.

Com o vínculo afetivo, haveria menos violência nas escolas, haveria menos indisciplinas, pois os alunos veriam sempre os professores como uma espécie de familiares. Agora, digam-me como os alunos respeitarão os professores que vêem num ano e no outro ano não?

Um comentário:

Professora Lu disse...

Concordo a respeito da importância do vínculo na relação entre professor e aluno, porém se houver um empenho do professor este poderá ser construído no ano letivo, sim.
Tenho alguns casos dentro da minha sala de aula que poderia citar....
Adorei o teu blog e já estou te seguindo...
Um beijo grande
Lu