Hoje vou falar de um outro Santo Antônio de Pádua, um ilustre desconhecido. Não, não vou falar daquele Santo Antônio mítico que é pregado pela fradaria. Não vou falar do Antônio que pregou aos peixes, que ressuscitou mortos, que embalou o menino Jesus no colo, do Antônio que é casamenteiro ou que acha objetos perdidos.
Santo Antônio de Pádua que não nasceu em Pádua mas em Lisboa, e que cujo nome não era Antônio, mas sim, Fernando (meu xará) de Bulhões. Nasceu no fim do século XII (1195). Fernando de Bulhões pertencia a uma família de cavaleiros, e portanto seguiria o rumo de seu pai e de seus antepassados. O que sabemos é que tal vida não o agradava. E decidiu fazer-se padre contra a vontade da família.
No convento onde vivia foram hospedados frades minoritas que pretendiam ir à Marrocos para converter os mulçumanos. Os frades foram à África, pouco tempo depois voltavam seus restos mortais. Fernando sentiu-se atraído e queria também morrer pelo nome de Cristo em terras islâmicas. Abandonou sua ordem e se fez seguidor do pobrezinho de Assis, adotando o nome que lhe foi imposto, Antônio. Embarcou para a África com um companheiro, na viagem ficou doente e resolveram deixá-lo em Portugal, mas os ventos o levaram para a Sicília, lá ele convalesceu e junto com o seu companheiro foi à Assis para conhecer o fundador da comunidade dos frades menores.
O que chama a atenção nesse homem é o seu amor pelos pobres. Viveu para socorrê-los. Pregou contra os ricos e lutou contra os mesmos, numa época em que a Igreja apoiava os desmandos dos poderosos.
Num de seus sermões comentando a parábola do rico e de Lázaro (Lc 16,19-31) disse: "O rico afligia a Lázaro, porque lhe roubava o benefício que lhe devia dar. Diz Isaías àqueles que não dão aos pobres o que lhes pertence: As rapinas feitas ao pobre encontram-se em vossa casa. Por que razão calcais aos pés o meu povo e moeis a pancadas os rostos dos pobres?... A abundância do rico afrontava a miséria do pobre e lançava-lhe ao rosto; o rico exprobava Lázaro coberto de chagas, quando passava vestido de púrpura diante de Lázaro que estava em frente de suas portas" (1° Domingo de Pentecostes).
Em outro sermão, comentando o texto bíblico "vi entre os despojos uma capa de escarlate muito boa" (Js 7,21), Antônio indica quem são as pessoas que tiram os poucos bens dos pobres: "A capa escarlate significa os haveres dos pobres adquiridos com muito suor e sangue... Os soldados e os burgueses avarentos e os usurários roubam a capa de escarlate... Os ricos e os poderosos deste mundo tiram aos pobres, a quem chamam de vilões - sendo que eles próprios são os vilões do diabo - os seus pobres haveres adquiridos com sangue, de que se vestem de qualquer maneira" (10° Domingo Pentecostes).
Santo Antônio não contemporizava com os ricos, em outro lugar disse: "O povo amaldiçoado dos usurários tornou-se grande e forte sobre a terra. Seus dentes são como presas de leões. O leão tem duas características: a nuca inflexível formada de um único osso e a boca malcheirosa. Igualmente inflexível é a nuca do usurário, pois ele não teme nem a Deus nem aos homens; sua boca cheira muito mal, pois ele não tem outra coisa na boca, a não ser o imundo dinheiro e sua imunda usura. Seus dentes são como os dos leõezinhos, pois ele devora os bens dos pobres, dos órfãos e das viúvas" (Domingo da Sexagésima).
O grande milagre de Santo Antônio se é que fez algum, foi não ter sido preso, torturado e queimado pela Santa Inquisição, pois até os bispos foram por ele censurados: "Não é sem grande dor que referimos atitudes de prelados da Igreja e de grandes varões deste século: fazem esperar muito tempo os pobres de Cristo que se demoram a clamar à sua porta e a pedir esmola, com voz embargada pelas lágrimas. Por fim, depois de terem comido bem e talvez, uma vez ou outra, inebriados, mandam dar-lhes alguns restos de sua mesa e as lavaduras da cozinha" (Domingo da Páscoa).
Estou certo que o comunismo não existiria se os padres romanistas seguissem o exemplo de Antônio de Pádua e criticassem os ricos: "Quem segura uma pessoa pela goela tira-lhe a voz e a vida. As posses do pobre são a vida dele; como a vida vive do sangue, assim ele deve viver disso. Se tiras ao pobre seus parcos haveres, sugas o sangue dele e o asfixias; e, no fim, serás tu mesmo asfixiado pelo demônio" (XXII Domingo de Pentecostes).
Os padres conservadores ligados à TFP ou tradicionalistas dizem que os pobres devem se conformar com o seu estado, que não devem se revoltar pois assim foi disposto por Deus. E que se eles (os pobres) suportarem suas misérias herdarão o reino dos céus. Ou seja, transferem as alegrias para o além-túmulo. Santo Antônio faz ao contrário, diz que o rico se assistir aos pobres, ele é quem será feliz no outro mundo, pois essa era e é a mensagem de Cristo: "Agora o Senhor está à porta, na pessoa dos seus pobres, e bate. Abre-se-lhe, quando se dá de comer ao pobre. A refeição do pobre é o descanso de Cristo. O que fizerdes a um dos meus irmãos mais pequeninos é a mim que o fareis... Deita a esmola no seio do pobre e ela (a esmola) pedirá por ti, para que os pecados te sejam perdoados, o teu espírito seja iluminado e a glória eterna te seja concedida" (Domingo da Páscoa).
É engraçado que os frades não falam desses sermões de Santo Antônio e apresentam um outro Antônio para que também os ricos possam ser seus devotos e dar donativos às igrejas dedicadas ao santo, mas ele não poupava os ricos: "Esta é a resposta do avarento dada aos pobres de Cristo. Nada lhes dá, blasfema e envergonha-os. Por isso, acontecerá o que segue: E o seu coração morreu interiormente e ele se tornou como uma pedra. Tudo isto acontece ao avarento, quando se lhe subtrai a graça e é privado de entranhas de piedade" (Domingo da Páscoa).
Na época de Santo Antônio a lei punia severamente os devedores e fiadores insolventes, a lei não queria saber se a pesoa podia ou não pagar. Os devedores eram condenados à prisão perpétua e os agiotas se apossavam dos bens dos devedores e dos fiadores insolventes. Graças à Antônio de Pádua o governador dessa cidade promulgou uma nova lei: "A pedido do venerável irmão Antônio, confessor da Ordem dos frades menores, para o futuro, nenhum devedor ou fiador poderá ser privado pessoalmente de sua liberdade, quando ele se tornar insolvente. Somente suas posses poderão ser apreendidas neste caso, não porém sua pessoa e sua liberdade". Grande conquista social de um frade pobre que beneficiou inumeráveis pessoas. Pena que não é conhecido por isso, mas por coisas que não fez e nem faz.
Viva o verdadeiro Santo Antônio!!!
Santo Antônio de Pádua que não nasceu em Pádua mas em Lisboa, e que cujo nome não era Antônio, mas sim, Fernando (meu xará) de Bulhões. Nasceu no fim do século XII (1195). Fernando de Bulhões pertencia a uma família de cavaleiros, e portanto seguiria o rumo de seu pai e de seus antepassados. O que sabemos é que tal vida não o agradava. E decidiu fazer-se padre contra a vontade da família.
No convento onde vivia foram hospedados frades minoritas que pretendiam ir à Marrocos para converter os mulçumanos. Os frades foram à África, pouco tempo depois voltavam seus restos mortais. Fernando sentiu-se atraído e queria também morrer pelo nome de Cristo em terras islâmicas. Abandonou sua ordem e se fez seguidor do pobrezinho de Assis, adotando o nome que lhe foi imposto, Antônio. Embarcou para a África com um companheiro, na viagem ficou doente e resolveram deixá-lo em Portugal, mas os ventos o levaram para a Sicília, lá ele convalesceu e junto com o seu companheiro foi à Assis para conhecer o fundador da comunidade dos frades menores.
O que chama a atenção nesse homem é o seu amor pelos pobres. Viveu para socorrê-los. Pregou contra os ricos e lutou contra os mesmos, numa época em que a Igreja apoiava os desmandos dos poderosos.
Num de seus sermões comentando a parábola do rico e de Lázaro (Lc 16,19-31) disse: "O rico afligia a Lázaro, porque lhe roubava o benefício que lhe devia dar. Diz Isaías àqueles que não dão aos pobres o que lhes pertence: As rapinas feitas ao pobre encontram-se em vossa casa. Por que razão calcais aos pés o meu povo e moeis a pancadas os rostos dos pobres?... A abundância do rico afrontava a miséria do pobre e lançava-lhe ao rosto; o rico exprobava Lázaro coberto de chagas, quando passava vestido de púrpura diante de Lázaro que estava em frente de suas portas" (1° Domingo de Pentecostes).
Em outro sermão, comentando o texto bíblico "vi entre os despojos uma capa de escarlate muito boa" (Js 7,21), Antônio indica quem são as pessoas que tiram os poucos bens dos pobres: "A capa escarlate significa os haveres dos pobres adquiridos com muito suor e sangue... Os soldados e os burgueses avarentos e os usurários roubam a capa de escarlate... Os ricos e os poderosos deste mundo tiram aos pobres, a quem chamam de vilões - sendo que eles próprios são os vilões do diabo - os seus pobres haveres adquiridos com sangue, de que se vestem de qualquer maneira" (10° Domingo Pentecostes).
Santo Antônio não contemporizava com os ricos, em outro lugar disse: "O povo amaldiçoado dos usurários tornou-se grande e forte sobre a terra. Seus dentes são como presas de leões. O leão tem duas características: a nuca inflexível formada de um único osso e a boca malcheirosa. Igualmente inflexível é a nuca do usurário, pois ele não teme nem a Deus nem aos homens; sua boca cheira muito mal, pois ele não tem outra coisa na boca, a não ser o imundo dinheiro e sua imunda usura. Seus dentes são como os dos leõezinhos, pois ele devora os bens dos pobres, dos órfãos e das viúvas" (Domingo da Sexagésima).
O grande milagre de Santo Antônio se é que fez algum, foi não ter sido preso, torturado e queimado pela Santa Inquisição, pois até os bispos foram por ele censurados: "Não é sem grande dor que referimos atitudes de prelados da Igreja e de grandes varões deste século: fazem esperar muito tempo os pobres de Cristo que se demoram a clamar à sua porta e a pedir esmola, com voz embargada pelas lágrimas. Por fim, depois de terem comido bem e talvez, uma vez ou outra, inebriados, mandam dar-lhes alguns restos de sua mesa e as lavaduras da cozinha" (Domingo da Páscoa).
Estou certo que o comunismo não existiria se os padres romanistas seguissem o exemplo de Antônio de Pádua e criticassem os ricos: "Quem segura uma pessoa pela goela tira-lhe a voz e a vida. As posses do pobre são a vida dele; como a vida vive do sangue, assim ele deve viver disso. Se tiras ao pobre seus parcos haveres, sugas o sangue dele e o asfixias; e, no fim, serás tu mesmo asfixiado pelo demônio" (XXII Domingo de Pentecostes).
Os padres conservadores ligados à TFP ou tradicionalistas dizem que os pobres devem se conformar com o seu estado, que não devem se revoltar pois assim foi disposto por Deus. E que se eles (os pobres) suportarem suas misérias herdarão o reino dos céus. Ou seja, transferem as alegrias para o além-túmulo. Santo Antônio faz ao contrário, diz que o rico se assistir aos pobres, ele é quem será feliz no outro mundo, pois essa era e é a mensagem de Cristo: "Agora o Senhor está à porta, na pessoa dos seus pobres, e bate. Abre-se-lhe, quando se dá de comer ao pobre. A refeição do pobre é o descanso de Cristo. O que fizerdes a um dos meus irmãos mais pequeninos é a mim que o fareis... Deita a esmola no seio do pobre e ela (a esmola) pedirá por ti, para que os pecados te sejam perdoados, o teu espírito seja iluminado e a glória eterna te seja concedida" (Domingo da Páscoa).
É engraçado que os frades não falam desses sermões de Santo Antônio e apresentam um outro Antônio para que também os ricos possam ser seus devotos e dar donativos às igrejas dedicadas ao santo, mas ele não poupava os ricos: "Esta é a resposta do avarento dada aos pobres de Cristo. Nada lhes dá, blasfema e envergonha-os. Por isso, acontecerá o que segue: E o seu coração morreu interiormente e ele se tornou como uma pedra. Tudo isto acontece ao avarento, quando se lhe subtrai a graça e é privado de entranhas de piedade" (Domingo da Páscoa).
Na época de Santo Antônio a lei punia severamente os devedores e fiadores insolventes, a lei não queria saber se a pesoa podia ou não pagar. Os devedores eram condenados à prisão perpétua e os agiotas se apossavam dos bens dos devedores e dos fiadores insolventes. Graças à Antônio de Pádua o governador dessa cidade promulgou uma nova lei: "A pedido do venerável irmão Antônio, confessor da Ordem dos frades menores, para o futuro, nenhum devedor ou fiador poderá ser privado pessoalmente de sua liberdade, quando ele se tornar insolvente. Somente suas posses poderão ser apreendidas neste caso, não porém sua pessoa e sua liberdade". Grande conquista social de um frade pobre que beneficiou inumeráveis pessoas. Pena que não é conhecido por isso, mas por coisas que não fez e nem faz.
Viva o verdadeiro Santo Antônio!!!
2 comentários:
Sem dúvida a Igreja Romana, a Ortodoxa e todas as confissões cristãs estão em falta com os ensinamentos básicos de Jesus, que Antônio de Padua, Francisco de Assis, o Cura d'Ars e Vicente de Paulo e alguns outros exemplificaram em suas vidas:
"Disse-lhe Jesus: Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, e segue-me."
Mateus 19:21; Marcos 10:21; Lucas 18:22.
Sem esquecer o principal:
"Amai-vos uns aos outros".
Verdade.
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