sábado, 27 de junho de 2009

O Caso dos Exploradores da Caverna

Semana passada li um pequeno livro de grande riqueza filosófica, "O Caso dos Exploradores da Caverna". Um senhor livro. O livro foi escrito para estudantes novatos de direito. O livro foi escrito pelo jurista norte-americano Lon Fuller. É uma obra que dá para se ler em duas ou três horas. Linguagem acessível e cativante.

O livro trata de um caso de exploradores que ficaram presos numa caverna, pelos anos de quatro mil e lá vai pedrada. Esses exploradores para não morrerem de fome, decidiram tirar a sorte para que um deles fosse executado até que fossem regatados dali. Assim fizeram.

Os juízes encarregados do julgamento discorreram uns contra, outros a favor dos exploradores, todos com argumentos interessantes. Não há por assim dizer uma imposição do autor a favor deste ou daquele pensamento jurídico, a decisão fica por conta do leitor.

Para quem quiser ler o livro aqui tem o e-book O Caso dos Exploradores da Caverna.

A Relatividade do Erro

A matemática é conhecida como uma ciência exata, mas não é assim tão exata quando você se depara com esta soma e seu resultado: 9+5=2. É evidente que o(a) amigo(a) dirá que isso é um absurdo, mas quem propôs tal foi o grande cientista e escritor de ficção científica e de divulgação científica Isaac Asimov.

E por incrível que pareça o erro é relativo, porque existe uma circunstância na vida em que 9+5=2. Suponha que tenham se passado 5 horas depois das 9 horas da manhã, você não tem 14 horas? e 14 horas não são duas da tarde?

Nem sempre as coisas são o que aparentam ser.

In: A Relatividade do Erro

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Contra a Cristandade hipócrita

Recebi um e-mail "cristão" que protestava contra o filme 'Corpus Christis' (O Corpo de Cristo), que vai sair em breve na América do Norte, mostra Jesus mantendo relações homossexuais com os seus discípulos. A versão teatral já se apresentou. É uma paródia repugnante de Jesus.

O e-mail é um abaixo-assinado de cristãos indignados com as "blasfêmias" e contra a dignidade do mestre Jesus. Antes de mais faz-se mister dizer que sou cristão, ou melhor, eu tento ser cristão, porque em minha cosmovisão, cristianismo é, antes de mais nada, práxis.
Eu não subscrevi o abaixo-assinado, não porque eu pense que Jesus era um devasso, uma miniatura de Calígula. Pelo contrário, a meu ver, é a figura mais bela da história humana, e eu o venero como a um Deus.

Mas vejo que os cristãos se preocupam muito com a reputação de seu Deus, salvador e mestre. Ficam indignadíssimos contra as "blasfêmias sussurradas pelos diabos", mas param por aí. Acham que a pessoa de Cristo precisa ser protegida, preservada, mas eles mesmos que adoram defender a reputação de Jesus Cristo, nada fazem daquilo que ele fez e ensinou.

Jesus disse: "Bem-aventurados os puros de coração porque verão a Deus", e os cristãos nominais são cheios de maldades e ódio;
Jesus disse: "Fazei os outros aquilo que desejais que os outros vos façam", e o que fazem os cristãos? Mentem, roubam, adulteram, exploram o homem pelo homem;
Jesus ensinou que não deve haver distinção entre as pessoas, pois o sol nasce para bons e maus e a chuva cai sobre justos e injustos.

Jesus disse:

"Não julgueis, e não sereis julgados.
Porque do mesmo modo que julgardes, sereis também vós julgados e, com a medida com que tiverdes medido, também vós sereis medidos".
(Mt 7,1-2) E os cristãos vivem a julgar os seus semelhantes, seja pela aparência, seja pela cor da pele ou pela posição social.

Quem conhece os Evangelhos bem sabe que Jesus sempre se preocupou com os excluídos da sociedade, com os marginalizados, Jesus se preocupava de tal modo com essa classe de pessoas que ele se identificou com elas. Pois ele disse:

" ...tive fome e me destes de comer; tive sede e me destes de beber; era peregrino e me acolhestes, nu e me vestistes; enfermo e me visitastes; estava na prisão e viestes a mim. (Mt 25, 35-36)

E de igual modo disse:

"todas as vezes que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim mesmo que o fizestes". (Mt 25,40)

Da mesma forma se dirigiu aos egoístas para adverti-los. (Certamente esses egoístas são os cristãos, homens de bem, que rezam, oram, vão à missa, ao culto, comungam, confessam, pagam o dízimo, pregam, jejuam e lêem a Bíblia.) Disse Jesus:

"Porque tive fome e não me destes de comer; tive sede e não me destes de beber;
era peregrino e não me acolhestes; nu e não me vestistes; enfermo e na prisão e não me visitastes".
(Mt 25,42-43)

"Em verdade eu vos declaro: todas as vezes que deixastes de fazer isso a um destes pequeninos, foi a mim que o deixastes de fazer". (Mt 25,45)

Lendo essas palavras de Jesus, não entendo como ninguém se escandaliza com crianças que morrem de fome. E são os ditos cristãos que as deixam morrer de fome. Não é Jesus que morre de fome nelas?

Quantos doentes de aids e câncer e "cristãos" como George W Bush, gastaram milhões e mais milhões dólares com guerras, ao invés de destinar esse dinheiro para pesquisas na busca de uma cura ou para uma vida mais digna e com menos sofrimentos, não, George Bush e outros com ele gastaram dinheiro com guerras, ferindo os sadios e matando os imbeles.

Os cristãos se escandalizam quando alguém diz que Jesus era gay, mas não se escandalizam quando vêem presos em más condições, não se escandalizam ao saber que bolivianos trabalham como escravos ou coisa parecida, nas indústrias de tecidos em São Paulo, e no entanto Jesus disse que é cada um desses estrangeiros - "Todas as vezes que fizestes um bem a um desses pequeninos foi a mim que o fizestes"; "Todas as vezes que deixastes de fazer um bem a um desses pequeninos foi a mim que o deixastes de fazer".

Por que ninguém faz abaixo-assinado para diminuir a fome no mundo? Por que ninguém se prontifica em cuidar de doentes desassistidos nos inúmeros hospitais? Não são o mesmo Cristo que foi blasfemado pelo tal diretor de cinema?

Não é uma desonra deixar o Cristo morrer de fome nos pobres? Não é uma infâmia deixar o Cristo passar frio nos miseráveis? Mas os cristãos nominais importam-se tão somente com a reputação de Cristo e não com suas dores vivenciadas pelos marginalizados. Amam um Cristo idealizado e odeiam o outro Cristo que está presente nos excluídos.

Falar que Cristo era gay não pode, mas deixar pessoas na miséria isso pode.

Sinceramente não sei porque se incomodar com essas ninharias, se nem Jesus se preocupou no que dissessem ou não dele.

Ele não disse: "Fui chamado de promíscuo e não me defendestes!". Tampouco disse: "Zelai por minha reputação, porque está é a vontade de vosso Pai que está no céu". Os cristãos vivem pelo que ele não disse e pensou, ao passo que poucos ajudam os explorados inspirados por suas palavras: "Tive fome, sede, estive nu, doente, preso, eu era estrangeiro...".

Grande cristianismo esse que defende a reputação de Jesus Cristo e deixa os explorados como os famintos morrrerem de fome; que deixa os presos numa condição subumana, enquanto os colarinhos brancos, que desviam rios de dinheiro estão livres e não só isso, frequentando missas ou cultos; que deixa os imigrantes como os bolivianos serem escravizados, que deixam os pobres morrerem de frio, etc...

Marx escreveu a Engels as seguintes palavras: O certo é que eu Marx não sou marxista. Creio que Cristo parafrasearia Marx: O certo é que eu Jesus Cristo não sou cristão.

Não aderi ao tal abaixo-assinado e nem hei de aderir, enquanto eu ver Jesus Cristo desprezado nas ruas, nos enfermos, nos mendigos, nos indígenas e em todos os oprimidos. A verdadeira blasfêmia é se dizer cristão e ridicularizar a palavra de Cristo, não as cumprindo. Assim os descrentes com razão terão motivos de sobejo para ridicularizar a eminente figura de Jesus Cristo. Esses cristãos fazem a merda e Jesus é quem paga o pato.





quinta-feira, 25 de junho de 2009

O professor bonzinho

O professor ou professora que é bonzinho ou boazinha acaba por se tornar vítima de seus alunos por vários motivos. Falo por experiência.
O(a) professor(a) não pode sorrir muito nem ser íntimo(a) de seus alunos, claro que pode e deve ser amigo(a).

Percebi que os alunos baderneiros gostam de professores autoritários, pois são os únicos que respeitam. O(a) professor(a) que perdoa os deslizes de seus alunos, na verdade alimenta sua rebeldia. A compaixão é no(a) professor(a) o calcanhar de Aquiles, e os alunos sabem muito bem disso e tentam manipular esse sentimento do(a) professor(a). O(a) docente não pode desculpar os alunos, deve puni-los para que aprendam a se tornar pessoas responsáveis.

De pouco adianta a um professor ser um gênio e ensinar tudo o que sabe aos mesmos, se não ensinar o mais importante que é a ética, a cidadania. Finalizo meu artigo com uma frase do filósofo estóico Sêneca que disse: "De que adianta saber o que é uma linha reta se não se sabe o que é a retidão".

terça-feira, 23 de junho de 2009

Escrever é um santo remédio

Acabei de ler o artigo "Quando o remédio é escrever" da revista Mente e Cérebro. Neurocientistas e pesquisadores da mente descobriram que escrever faz bem para saúde, a escrita pode aprimorar a memória e o sono estimular a atividade dos leucócitos e reduzir a carga viral de pacientes com aids e até mesmo acelerar a cicatrização após uma cirurgia.

Pessoas com câncer relataram que se sentiram muito melhor mental e fisicamente após ter se utilizado da escrita do que aqueles pacientes também com câncer que não se utilizaram desse recurso. E por quê? Porque o blog serve como uma válvula de escape, onde nós podemos partilhar nossos sentimentos e nossas experiências.

Não está bem? Escreva! Crie um blog! O blog pode não curá-lo(a) mas certamente aliviará suas dores e frustrações.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Quando a emenda sai pior que o soneto

Outro dia enquanto eu lecionava assomou à porta da sala de aula onde eu lecionava, a vice-diretora acompanhada do pai de um aluno problemático. Foram momentos constrangedores!

A vice-diretora me chamou para eu conversar com o pai do aluno. O sujeito estava ébrio. Não tinha noção do que falava, perguntava uma coisa atrás da outra e não deixava que a vice-diretora ou eu respondesse.

A vice-diretora visivelmente constrangida disse: "professor pode continuar sua aula". Encostou a porta e tentou conversar com o pai do aluno. Pediu a vice-diretora que pudesse dar uma palavra ao "mestre", invadiu a sala naquele estado lamentável se dirigiu aos alunos e disse: "E aí seus cuecas frouxas, tão ligados tem que respeitar o mestre, senão vão pagar mico como o otário do meu filho. E vocês suas calcinhas borradas, eu ligado que vocês são tudo calcinhas borradas mesmo, então vocês prestem atenção aí" (sic).

Depois o sujeito desceu as escadas com a vice-diretora, os alunos na sala gargalhando, o filho constrangido e eu tentando conter o riso. Como pode um aluno ter educação, se o pai e a mãe são piores que o filho? Há um ditado latino que diz: "Nemo dat quo non habet" (Ninguém dá aquilo que não tem). Provavelmente o aluno do qual falei, irá reproduzir as atitudes de seu pai e as coisas não vão melhorar.

Hoje em dia chamam os professores de educadores, eu discordo disso, não sou educador, não fui formado para educar quem quer que seja. Se o sujeito não recebeu educação de berço, não sou eu quem lhe vai dar educação. A influência dos pais é muito mais forte do que as influências benignas dos bons professores. Triste, mas é a realidade.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Ser professor

Ser professor hoje em dia não é fácil. Ganha-se pouco e os alunos não respeitam os professores. Sinto isso na pele. Sou professor eventual de uma escola pública. Para um professor efetivo e contratado a situação já é difícil, imagina então para eventual que nada mais é, do que um tapa-buracos.

Os alunos não querem aprender, bagunçam o tempo todo, xingam, colocam apelidos e tudo isso acaba desestimulando os professores. Outro dia assisti uma cena deplorável. Os alunos de um primeiro colegial noturno, fizeram uma bola enorme de papel e jogaram perto de mim. Imaginem só de onde tiraram os papéis, de um livro didático de geografia enviado pelo governo, Sociedade e Espaço - Geografia Geral e do Brasil - José William Vesentini. Tive que chamar a inspetora que por sua vez chamou a vice-diretora para tomar as providências cabíveis.

Fico pensando o que é que leva alunos a rasgarem um livro inteiro de geografia para fazer uma enorme bola de papel? O livro é dinheiro de nossos impostos. É patrimônio da escola! Será que se os seus pais tivessem que desembolsar R$ 40, 00 ou R$ 50,00 eles rasgariam os seus próprios livros? Creio que não. Isso só demonstra o grau de barbaridade em que vivemos. Que os alunos não só querem aprender mais odeiam o estudo e por odiarem se tornarão medíocres, marionetes nas mãos dos políticos.

Ainda há pouco entre num segundo colegial e os alunos me disseram que geografia não serve para nada, que saber ou não o que são latitudes e longitudes em nada vai mudar suas vidas. E da história disseram que é algo inútil e quem vive de passado é museu.

Se a juventude é o futuro do Brasil, bem vejo que o futuro de minha cidade e de meu estado não é promissor, espero que em outros lugares do Brasil a situação não seja assim tão caótica.

sábado, 13 de junho de 2009

Antônio, um desconhecido


Hoje vou falar de um outro Santo Antônio de Pádua, um ilustre desconhecido. Não, não vou falar daquele Santo Antônio mítico que é pregado pela fradaria. Não vou falar do Antônio que pregou aos peixes, que ressuscitou mortos, que embalou o menino Jesus no colo, do Antônio que é casamenteiro ou que acha objetos perdidos.

Santo Antônio de Pádua que não nasceu em Pádua mas em Lisboa, e que cujo nome não era Antônio, mas sim, Fernando (meu xará) de Bulhões. Nasceu no fim do século XII (1195). Fernando de Bulhões pertencia a uma família de cavaleiros, e portanto seguiria o rumo de seu pai e de seus antepassados. O que sabemos é que tal vida não o agradava. E decidiu fazer-se padre contra a vontade da família.

No convento onde vivia foram hospedados frades minoritas que pretendiam ir à Marrocos para converter os mulçumanos. Os frades foram à África, pouco tempo depois voltavam seus restos mortais. Fernando sentiu-se atraído e queria também morrer pelo nome de Cristo em terras islâmicas. Abandonou sua ordem e se fez seguidor do pobrezinho de Assis, adotando o nome que lhe foi imposto, Antônio. Embarcou para a África com um companheiro, na viagem ficou doente e resolveram deixá-lo em Portugal, mas os ventos o levaram para a Sicília, lá ele convalesceu e junto com o seu companheiro foi à Assis para conhecer o fundador da comunidade dos frades menores.

O que chama a atenção nesse homem é o seu amor pelos pobres. Viveu para socorrê-los. Pregou contra os ricos e lutou contra os mesmos, numa época em que a Igreja apoiava os desmandos dos poderosos.

Num de seus sermões comentando a parábola do rico e de Lázaro (Lc 16,19-31) disse: "O rico afligia a Lázaro, porque lhe roubava o benefício que lhe devia dar. Diz Isaías àqueles que não dão aos pobres o que lhes pertence: As rapinas feitas ao pobre encontram-se em vossa casa. Por que razão calcais aos pés o meu povo e moeis a pancadas os rostos dos pobres?... A abundância do rico afrontava a miséria do pobre e lançava-lhe ao rosto; o rico exprobava Lázaro coberto de chagas, quando passava vestido de púrpura diante de Lázaro que estava em frente de suas portas" (1° Domingo de Pentecostes).

Em outro sermão, comentando o texto bíblico "vi entre os despojos uma capa de escarlate muito boa" (Js 7,21), Antônio indica quem são as pessoas que tiram os poucos bens dos pobres: "A capa escarlate significa os haveres dos pobres adquiridos com muito suor e sangue... Os soldados e os burgueses avarentos e os usurários roubam a capa de escarlate... Os ricos e os poderosos deste mundo tiram aos pobres, a quem chamam de vilões - sendo que eles próprios são os vilões do diabo - os seus pobres haveres adquiridos com sangue, de que se vestem de qualquer maneira" (10° Domingo Pentecostes).

Santo Antônio não contemporizava com os ricos, em outro lugar disse: "O povo amaldiçoado dos usurários tornou-se grande e forte sobre a terra. Seus dentes são como presas de leões. O leão tem duas características: a nuca inflexível formada de um único osso e a boca malcheirosa. Igualmente inflexível é a nuca do usurário, pois ele não teme nem a Deus nem aos homens; sua boca cheira muito mal, pois ele não tem outra coisa na boca, a não ser o imundo dinheiro e sua imunda usura. Seus dentes são como os dos leõezinhos, pois ele devora os bens dos pobres, dos órfãos e das viúvas" (Domingo da Sexagésima).

O grande milagre de Santo Antônio se é que fez algum, foi não ter sido preso, torturado e queimado pela Santa Inquisição, pois até os bispos foram por ele censurados: "Não é sem grande dor que referimos atitudes de prelados da Igreja e de grandes varões deste século: fazem esperar muito tempo os pobres de Cristo que se demoram a clamar à sua porta e a pedir esmola, com voz embargada pelas lágrimas. Por fim, depois de terem comido bem e talvez, uma vez ou outra, inebriados, mandam dar-lhes alguns restos de sua mesa e as lavaduras da cozinha" (Domingo da Páscoa).

Estou certo que o comunismo não existiria se os padres romanistas seguissem o exemplo de Antônio de Pádua e criticassem os ricos: "Quem segura uma pessoa pela goela tira-lhe a voz e a vida. As posses do pobre são a vida dele; como a vida vive do sangue, assim ele deve viver disso. Se tiras ao pobre seus parcos haveres, sugas o sangue dele e o asfixias; e, no fim, serás tu mesmo asfixiado pelo demônio" (XXII Domingo de Pentecostes).

Os padres conservadores ligados à TFP ou tradicionalistas dizem que os pobres devem se conformar com o seu estado, que não devem se revoltar pois assim foi disposto por Deus. E que se eles (os pobres) suportarem suas misérias herdarão o reino dos céus. Ou seja, transferem as alegrias para o além-túmulo. Santo Antônio faz ao contrário, diz que o rico se assistir aos pobres, ele é quem será feliz no outro mundo, pois essa era e é a mensagem de Cristo: "Agora o Senhor está à porta, na pessoa dos seus pobres, e bate. Abre-se-lhe, quando se dá de comer ao pobre. A refeição do pobre é o descanso de Cristo. O que fizerdes a um dos meus irmãos mais pequeninos é a mim que o fareis... Deita a esmola no seio do pobre e ela (a esmola) pedirá por ti, para que os pecados te sejam perdoados, o teu espírito seja iluminado e a glória eterna te seja concedida" (Domingo da Páscoa).

É engraçado que os frades não falam desses sermões de Santo Antônio e apresentam um outro Antônio para que também os ricos possam ser seus devotos e dar donativos às igrejas dedicadas ao santo, mas ele não poupava os ricos: "Esta é a resposta do avarento dada aos pobres de Cristo. Nada lhes dá, blasfema e envergonha-os. Por isso, acontecerá o que segue: E o seu coração morreu interiormente e ele se tornou como uma pedra. Tudo isto acontece ao avarento, quando se lhe subtrai a graça e é privado de entranhas de piedade" (Domingo da Páscoa).

Na época de Santo Antônio a lei punia severamente os devedores e fiadores insolventes, a lei não queria saber se a pesoa podia ou não pagar. Os devedores eram condenados à prisão perpétua e os agiotas se apossavam dos bens dos devedores e dos fiadores insolventes. Graças à Antônio de Pádua o governador dessa cidade promulgou uma nova lei: "A pedido do venerável irmão Antônio, confessor da Ordem dos frades menores, para o futuro, nenhum devedor ou fiador poderá ser privado pessoalmente de sua liberdade, quando ele se tornar insolvente. Somente suas posses poderão ser apreendidas neste caso, não porém sua pessoa e sua liberdade". Grande conquista social de um frade pobre que beneficiou inumeráveis pessoas. Pena que não é conhecido por isso, mas por coisas que não fez e nem faz.

Viva o verdadeiro Santo Antônio!!!

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Estado laico - feriado religioso

Há coisas que realmente não entendo, como pode o Brasil ser um Estado laico se temos feriados religiosos, como o Corpus Christi e Nossa Senhora Aparecida? Embora eu não pertença à Igreja Católica Romana não reclamo de tais feriados, visto que posso descansar. Mas acho que isso é um abuso. Ou o Estado é laico e então não temos nenhum feriado de igreja, mesquita, sinagoga ou pagode, ou o Estado é religioso e aí poderemos ter quantos feriados que a religião dominante quiser.

Há uma incoerência em se manter esse feriado religioso uma vez que o Estado não é religioso mas laico. Claro que os romanistas tem todo o direito de festejar suas festas desde que estas não dependam do Estado. O feriado religioso fere a laicidade do Estado. Não, não quero extirpar a festa dos romanistas, quero sim, extirpar o feriado religioso do Estado laico, que é coisa bem diferente.

Se há feriado religioso segue-se que o Estado não é laico, logo temos uma religião oficial e o Estado não está separado da Igreja.

O laicismo de nosso país é sui generis!!! O Estado é leigo, mas a Igreja pode ter quantos feriados bem entender. Vai dormir com um barulho desses!

O que é o dinheiro e para que serve?

Recebi do meu amigo Absolon já citado no último artigo, um outro vídeo, este fala sobre os bancos e como funciona a economia. É interessante, tão interessante que já assisti ao vídeo quatro vezes.

O vídeo explica como a inflação é produzida e como os bancos fazem para que as pessoas se mantenham sempre endividadas. Para o autor do vídeo dinheiro produz dívidas e dívidas produzem mais dinheiro, é um círculo vicioso. Segundo o autor do vídeo se todos pudessem quitar suas dívidas não existiria nos EUA um único dólar em circulação, o dinheiro só circula porque existem dívidas. "Se não houvesse dívidas em nosso sistema financeiro, não haveria dinheiro". Marriner Eclles - Governador da Reserva Federal/1941.

A única vez em que a dívida do governo americano foi totalmente quitada foi em 1835, depois de o presidente Andrew Jackson fechar o Banco Central anterior a Reserva Federal. O vídeo é didático e vale a pena a ser assistido, mesmo que você não concorde com tudo ou com nada, vale a pena conhecer como funciona o sistema financeiro. Caso queira assistir ao vídeo clique aqui.

Como a TV funciona?

Recebi de um professor de história e filosofia e grande amigo Absolon Soares da Silva, um vídeo de quase 4 minutos que mostra como a TV afeta as mentes das pessoas.

Eu há muitos anos que não sou amigo da TV, por vários motivos.

  1. Por amar a boa literatura;
  2. Por saber que a TV manipula;
  3. Porque não se aprende nada de útil;
  4. Porque odeio novelas e futebol;
  5. Porque ninguém merece assistir o programa Sílvio Santos e o Domingão do Faustão entre outras inumeráveis coisas.

A TV é lixo e pouco há que se aproveite, isto é, que pode ser reciclado. A TV induz as pessoas a comprarem, faz um discurso consumista para convencer os telespectador que consumir é o único meio para ser feliz.

A TV massifica, coisifica as pessoas transformando-as em autômatos. As novelas globais por exemplo, sempre lançam modismos ou no se vestir ou no se falar ou em ambas as coisas. A atual novela da Globo mostra isso, quantas mulheres não começaram a se interessar pela culinária indiana, e por roupas desse país?

Eu vejo meus alunos na sala de aula com o famigerado "are baba", "atchá" e outras palavras que pronunciam sem saber o significado. Estão alienados,e para a TV isso é bom, porque pensam que são livres quando na verdade são escravos do que a TV lhes doutrina.

Para quem estiver disponível a saber um pouco mais sobre a televisão, aqui está o vídeo: Como a TV afeta sua Mente.

terça-feira, 9 de junho de 2009

Analfabetismo científico

Não compreendo como em plena era da inclusão digital, na era do mp4, mp5, mp sei lá o quê, na era do Ipod, pode haver analfabetismo científico.

Hoje a pedido do professor Domingos, falei sobre a inteligência animal para um terceiro ano do ensino médio (antigo segundo grau).


Muitos alunos não sabem sequer diferenciar instintos de inteligência e chamam a inteligência animal de instinto.

Expliquei o como e o porquê da inteligência animal, e apenas um aluno discordou de tudo quanto eu disse sem apresentar suas razões, disse que discordava porque ele tinha sua individualidade, como se isso fosse argumento para discordar tanto de alguém como de suas ideias.


Disse aos alunos que nós geralmente os consideramos inferiores a nós, devido ao pensamento religioso exposto no livro da capa preta (Bíblia) que diz que o homem foi "feito a imagem e semelhança de Deus" (Gn 1,26). Então, se eu homem sou a imagem de Deus, segue-se que os outros animais não o são. Sendo assim, posso dispor dos animais como eu bem entender. E pessoas há que matam filhotes de cães e de gatos afirmando que estes "não tem almas", na verdade desalmados são os que dizem isso.



Foi quanto bastou para eu ser chamado de ateu. (Não encaro isso como ofensa, eu me sentiria ofendido se me chamassem de crédulo.) Pois eles confundem Bíblia com Deus e vice-versa. E até explicar que focinho de porco não é tomada leva-se muito tempo. Quando lhes disse que o ser humano é produto da evolução uma parte dos alunos ficou revoltada, não queria aceitar sua condição de animal, não queria aceitar seu parentesco próximo com os chimpanzés.



Então expliquei que a inteligência humana é apenas uma evolução melhorada da inteligência de outros animais, e que nós fomos mais felizes por evoluir de tal modo, pois os primatas nossos parentes evoluíram de outra forma.

Não neguei que Deus tenha criado o ser humano, mas para os alunos, evolucionismo é sinônimo de ateísmo. Se Deus não criou da forma em que se encontra no livro da capa preta, equivale a dizer que Deus nada criou. Os alunos em sua maioria crêem piamente que Deus criou o homem tal e qual narra o Gênesis.

Então lhes perguntei que se Deus criou o homem como narra a Bíblia, por que cargas d'água criou o homem com o apêncice vermiforme que é um órgão que não tem função nenhuma? Não seria eu idiota se fabricasse um robô com peças que não servem para nada? A única forma de não chamar Deus de tolo é aceitar a evolução. Expliquei-lhes que o apêndice é um órgão que não serve para nada a não ser para causar a inflamação que pode levar à morte. Uma mocinha disposta a defender o criacionismo disse: "não serve para nada hoje, mas poderá servir no futuro, o senhor não entende os desígnios de Deus". (os desígnios desse deus que mais parece um beduíno saído dos desertos não entendo mesmo, nem faço questão de entender.) A mocinha ao querer defender o criacionismo fez apologia do evolucionismo, ao declarar que um órgão sem função hoje poderá vir a ter uma função no futuro, confessou abertamente a evolução mágica, bizarra, mas ainda assim evolução. Nesse caso há uma evolução, o apêndice no homem de hoje (que será do passado quando o apêndice "funcionar") não funciona, mas funcionará no homem de amanhã. Então são dois seres diferentes, porque num funcionará e no outro não funcionou.

Para rematar a aula perguntei para um aluno se morcego é ave ou mamífero, e este respondeu-me que era um mamífero, então disse-lhes que a "Bíblia infalível" afirma ser o morcego uma ave conforme eles poderiam conferir em Levítico 11,13-19.


É triste saber que um jovem de seus 17 anos de idade, no último ano do ensino médio, creia nos mitos do Velho Testamento. O terceiro ano do colegial, indica que o jovem está pronto para ingressar num curso superior. Bom, confesso, 90% dos alunos são analfabetos funcionais, então não se pode cobrar que tenham conhecimentos básicos de ciências.

Infelizmente os alunos preferem crer em seus padres e pastores do que em seus professores, esses líderes religiosos são os responsáveis por esse caos mental. Termino este artigo com as palavras do cientista e escritor Marcelo Gleiser: "Se o pastor ou rabino ortodoxo tem câncer e recebe terapia de radiação, ele deve saber que é essa mesma radiação que permite a datação de fósseis com centenas de milhões de anos. É hipocrisia aceitar a cura da radiação nuclear e ainda assim negar os seus outros usos". In Folha de São Paulo - Mais! Ciência página 3 - domingo 22 de fevereiro de 2009.

domingo, 7 de junho de 2009

Entrevista com São Gregório de Nissa


Como disse no artigo anterior Série de entrevistas, vou entrevistar figuras históricas que admiro e o primeiro dentre eles é Gregório bispo de Nissa, irmão de Basílio Magno. Para quem quiser saber um pouco de sua vida, há uma curta biografia do entrevistado aqui.
Diário de um Bobo da Corte -DBC: O que Vossa Caridade pensa do homem egoísta?
Gregório de Nissa: Penso que tal pessoa é um tirano duríssimo, bárbaro implacável, fera insaciável, que deseja as coisas boas do banquete apenas para si. É mais feroz que as próprias feras. O próprio lobo admite que outro lobo coma em sua companhia e, sendo muitos, todos tiram um pedaço da presa. O avarento insaciável não admite que ninguém da espécie humana participe de sua riqueza.
DBC: Crê na dialética? Ela é algo real?
Gregório de Nissa: Assim, em geral, tal situação é estruturada por contradições: servidão e senhorio, riqueza e pobreza, glória e ignomínia, doença e bem-estar físico e assim por diante...
DBC: O que diria aos escravocratas do século XIX no Brasil?
Gregório de Nissa: "Eu adquiri escravos e escravas". A que preço, diga-me por sua vida! Que achou você entre os seres, que valha tanto quanto esta natureza? Por quanto dinheiro estimou o preço da inteligência? Em quanto calculou o valor da imagem de Deus? Quanto deu pela natureza que foi feita por Deus? "Façamos - disse Deus - o homem à nossa imagem, como nossa semelhança".Muito bem, diga-me quem é aquele que compra e aquele que vende a imagem de Deus, o ser que deve imperar sobre toda a terra, o ser que recebeu de Deus, como herança, o domínio de tudo o que há sobre a terra? Semelhante poder só compete a Deus e estou para dizer que nem mesmo a Deus. "Porque os dons e a vocação de Deus são sem arrependimento" (Rm 11,29). Não é, pois, o caso de pensar que Deus queira reduzir à servidão à natureza, quando tendo nós nos tornado voluntariamente escravos do pecado, ele nos trouxe de novo a liberdade?
DBC: A natureza está mais para o individualismo ou para o comunismo?
Gregório de Nissa: MEU e TEU, palavras funestas, não tinham o mínimo sentido nos primórdios da vida. Como são comuns o sol e o ar, e tudo o que vem de Deus é graça e bênção comum, assim, do mesmo modo, oferecia-se voluntariamente a um qualquer a participação do bem e não se conhecia a paixão da avareza. Se alguém tivesse menos, não odiava a quem possuísse mais, porque de forma nenhuma existia quem tivesse mais.
DBC: Os ricos (e há remediados que pensam como os ricos!) pensam que a pobreza é departamento da assistência social e das ONGs, o que o senhor pode nos dizer a este respeito?
Gregório de Nissa: Ninguém diga ser suficiente que lhes seja dado de comer em alguma colônia, bem longe de onde vivemos, onde todos eles sejam internados. Este plano, com efeito, não é prova de compaixão e de misericórdia, mas uma ideia sutil e hipócrita, que visa desterrar esses homens para longe de nossas vidas. E não nos envergonhamos de como vivemos, quando temos porcos e cães morando debaixo de nosso próprio teto, quando o caçador não expulsa de sua própria cama o cachorro, quando o lavrador não se importa de beijar o novilho? Como se isto fosse pouco, o viajante lava com suas próprias mãos as patas de seu burro, limpa o esterco e lhe prepara cuidadosamente uma cama. E aquele que é da nossa mesma espécie, aquele cujo sangue é igual ao nosso, temos menor estima por eles do que pelos irracionais.
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Fonte: LEURIDAN, Juan. MÚGICA, Guilhermo. Por que a Igreja Critica os Ricos? Edições Paulinas, São Paulo, 1983.


Série de entrevistas

Inicio hoje uma série de entrevistas com figuras históricas que admiro. O primeiro dos entrevistados é Gregório bispo de Nissa, irmão de Basílio cognominado o grande.

As perguntas foram baseadas nas obras do entrevistado, assim como as respostas. Então o que você ler não é invenção minha, eu só inventei as perguntas e mesmo assim fundamentada nas obras do entrevistado.

Qualquer semelhança com a realidade não é mera coincidência. Sem mais delongas, vamos ao que verdadeiramente interessa, que venham os entrevistados.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

A arte e a filosofia


No afresco A Escola de Atenas de Rafael Sânzio temos duas figuras que se sobressaem: Platão e Aristóteles. Platão é o homem de manto vermelho à esquerda e ao seu lado o divino Aristóteles. Ambos conversam, mas tem concepções diferentes acerca do universo.
Platão com o braço direito levantado aponta o seu dedo indicador para o céu, mostrando assim que as únicas coisas permanentes, estáveis são as ideias, e por isso, somente elas contem a verdade. Aristóteles está com a mão espalmada voltada para baixo demonstrando que tudo deve passar pelo empirismo, que as certezas que temos a respeito do universo são atestadas pelas experiências.
É interessante como uma obra de arte pode ao mesmo tempo nos fascinar pela beleza e pelos ensinamentos nela contidos. Os professores de artes bem podem ensinar um pouco de filosofia aos seus alunos, assim como os professores de filosofia podem se valer das artes para ensinar filosofia e assim torná-la mais agradável aos seus alunos.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

A imprensa e as desgraças

É incrível como a imprensa fatura em cima das desgraças assim como os urubus em cima da carniça. Agora só se fala do acidente do vôo AF447. Não é que a mídia esteja interessada nos que morreram, ela quer audiência, ela vive disso. E as desgraças atraem as pessoas. (Os jornalistas como bons conhecedores da mente humana sabem disso mais do que ninguém.)

Tudo quanto o jornalismo televisivo ou impresso diz, não é para ajudar as vítimas, mas para ganhar dinheiro em cima do sangue, do mórbido, enfim da dor alheia. Não foi o que aconteceu com a menina Isabella Nardoni e com a jovem Eloá Cristina Pimentel?

A imprensa não ficou em cima desses casos como os abutres sobre a carniça? E não é verdade que não se falava em outra coisas? O casal Nardoni não foi entrevistado pelo Fantástico? Não chamaram psiquiatras para analisar o discurso de ambos? E no caso da Eloá, não fizeram uma espécie de dramalhão mexicano contando sua história? Não chamaram especialistas da polícia para analisar se era possível ou não salvar a garota que mesmo depois de morta não podia descansar em paz? Não chamaram psicólogos para analisar o comportamento do Lindemberg Fernandes Alves?

E mesmo parte da população cansada dessas ladainhas, a imprensa como espírito de porco que é, continuou a chafurdar no lodo desses crimes. A imprensa agradece quando há grandes desgraças, pois ela vive disso. Porque ela sabe que as massas adoram a podridão, daí os Datenas da vida e Cia, fazerem sucesso!

Com isso não quero dizer que toda a imprensa é má, suja e venal, não. Há jornalismo sério, há bons jornalistas, mas a maioria dos jornalistas, assim como grande parte da imprensa não estão interessadas no bem da população mas na audiência e na venda de jornais.

Infelizmente o que é bom não dá ibope, o que é bom não vende, por isso temos um jornalismo que só está interessada em nos vender desgraças, mas isso nada mais é que o reflexo da vã curiosidade do populacho.