sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020

Produção de consciência e sua descontinuidade no curso da HISTÓRIA humana.

Breve será o objetivo deste artigo, destinado a confrontar os sistemas ou ideologias que jamais produziram ou que cessaram de produzir a consciência social, enquanto elemento aglutinante da cultura.

Anarquismo, Comunismo, Fascismo, Nazismo, Islamismo, social catolicismo, protestantismo, o PT (rsrsrsrs) dentre outras tantas propostas não implementaram a Mimesis, continuando a digladiar-se, tendo em vista a direção totalizante ou integradora de nossas sociedades em Crise.

O comunismo a princípio, encarando a organização partidária como um veículo antes de tudo educativo\formativo e portanto tal e qual fora idealizado por Marx e Engels, foi bem sucedido, começando a ocupar os espaços desguarnecidos pela Cristandade estagnada e inoperante. Todavia na mesma medida em que, com o 'revolucionário' Lênin, torna-se vitorioso, podemos observar o organismo do partido tornando-se cada vez mais político e controlador, alias na linha da mesma violência física deflagrada pelo processo revolucionário. Neste momento a prioridade passa a ser a conservação do poder, sicut Machiavelli e 'Il principe'... Cessa o esclarecimento ou a produção de consciência ou não satisfaz a nova demanda (Por não se ter concentrado nela ou simplesmente pecado por tentar adiantar o processo histórico e ignorar a força das estruturas - Especialmente culturais!). E a URSS colapsa ao cabo de setenta anos. Talvez a exceção da pequena Cuba, onde o comunismo é ideológica e culturalmente reforçado por uma justa tradição anti imperialista ou N Americana desenvolvida por Jose Marti, todas as sociedades comunistas mantenham-se apenas superficialmente, por via de um controle externo ou físico, donde resulta sua extrema vulnerabilidade.

Seria interessante oferecer um estudo mais aprofundado sobre o tema da Revolução cultural chinesa, o qual salientaria a complexidade do problema. Por absoluta falta de espaço não podemos oferece-lo agora. Mas recomendamos esta linha de estudos, especialmente aos que acreditam apenas no padrão externo da força ou do controle estatal para manter um grupo social coeso.

O anarquismo, especialmente nos EUA, onde foi contaminado pelo individualismo (cf Murray Bookchin) converteu-se em apêndice daquela cultura, a qual espera que avance na linha do minimalismo crasso. Reverteu assim em anarco capitalismo, corrente a serviço da ideologia dominante, a qual acredita dever levar adiante como herdeiro, e não se sai disto. Em outras partes, como Europa ou França assumiu um aspecto psicologista, irracionalista, subjetivo e em parte individualismo, até ser assimilado pelo pós modernismo, disto resultou uma fragmentação sectária em torno de tipos - O negro, a mulher, o homo afetivo, a criança, o ecossistema, etc que fogem a qualquer integração, e o estereótipo do rebelde sem causa, apenas disposto a gastar as energias da juventude ou a promover a violência pela violência, a luta pela luta... até chegar a agressão gratuita, que reporta as fontes do inconsciente. Tal o quadro geral de um anarquismo que pecou contra a racionalidade e apartou-se da salutar noção de municipalismo, fundamento da policracia ou democracia direta, a qual parecem ter perdido completamente de vista. E é um quadro desolador...

O fascismo e nazismo com a mesma petição a força, inda que militar ou conservadora, presente no comunismo, no islã e no protestantismo sectário, jamais lograram em produzir consciência ou em forma-las, desdenhando ou mesmo deplorando qualquer tipo de esforço educativo\reflexivo que ultrapassasse as fronteiras de um cientificismo\positivismo, acrítico, servil e abjeto. O padrão da força, do poder ou da violência sempre temeu as expansões da consciência livre e disposta a resistência, como demonstra aquele processo levantado por Anito, Melito, Licon e Diopeites; com o apoio velado de Aristófanes, contra o mestre de Atenas. Então o 'Converte ou morre' do islã com suas espadas e ameaças produziu apenas um sistema de controle eficiente, por rotineiro. O que ali se observa em termos de cultura é a impermeabilidade do Estado a uma educação livre, científica ou reflexiva, um terrorismo antes de tudo anti educativo, destinado a aprisionar as mentes. Há uma unidade cultural, mas, apenas imposta pelo poder arbitrário com absoluto sucesso, um treinamento multi secular, através do qual as pessoas foram domesticadas. O que se vê ali não é processo interno de ascensão da consciência livre e uma associação livre de pessoas.

Outro e específico o caso do protestantismo, o qual jamais logrou a produzir (Nem mesmo na Santa Genebra de Calvino onde o controle do poder colapsou tal e qual na URSS) ou reproduzir na Europa a mesma cultura bíblica ou israelita do século VII a C, tendo de perseguir este ideal horrendo na Inglaterra de Cromwell e enfim nos EUA onde foi apenas relativamente ou em parte bem sucedido, de modo que os radicais, como apontou Décio M de Lima nos 'Demônios', tiveram de migrar para o Brasil, onde trabalham neste exato momento com o objetivo de sabotar nossas culturas e substitui-las por aquele projeto.

De fato o protestantismo produziu um dos mais poderosos éthos ou espíritos de todos os tempos, a exemplo do budismo, do Cristianismo, do Islã e do Comunismo, o qual no entanto, por mais turbação que tenha causado, dispersou-se e jamais logrou realizar por completo, por ser a História, ao menos em sua totalidade de formas irreversível e o protestantismo bíblico, ortodoxo e sectário esse olhar utópico de resgate voltado para o A T ou para qualquer fase do judaísmo pré Cristã. Ademais, reforçando a negação do mundo, assim o maniqueísmo, o neo platonismo e outras forças, ele representou, ao menos a princípio, enquanto luteranismo e em seus ensaios, mais um elemento negativo ou o decidido abandono de um ideal Cristã tradicional vinculado a concretude ou a transformação do mundo, cujos imperativos partem da própria crença na Encarnação de Deus {Nada mais miserável do que um comunista apontar-nos isto, a nós Cristãos luteranizados e adormecidos!). Assim o protestantismo, negando-se a inserir-se no mundo e opondo-se a ação dos Catolicismos abre brecha para a produção de um novo tipo de cultura, a qual não dirige (Indiretamente ou por orientação Ética) mas com a qual colabora ativamente. O protestantismo aceita colaborar com o novo espírito do liberalismo econômico, a batiza-lo, a crisma-lo e a servi-lo, sancionado-o no plano da cultura. E assim se integra a ele como elemento da nova construção cultural, iniciada na terra 'Virgem' (De herança clássica ou católica) dos EUA. O resultado disto é a produção de um novo tipo de consciência - o mais recente - a consciência ou cultura americanista, fundamentada no Capitalismo, porém, como já foi dito, com a colaboração ativa do protestantismo, num segundo plano, e de alguns outros elementos. O protestantismo tomou parte na construção deste novo padrão de consciência e dele faz parte, ainda que subordinadamente.

O social Catolicismo, surgido no século XIX, apesar de deitar raízes no século anterior e de representar enfim toda tradição anterior, antiga e medieval, bem como a própria consciência e cultura do passado não logrou afirmar-se entre os neo Católicos luteranizados. Falhou quanto a contagia-los, eletriza-los e mesmo em constituir-se como grupo majoritário destinado a comanda-los. Contou com as melhores e mais nobres almas, chegou a antecipar o justo clamor dos comunistas, mas não impos-se e não vingou como consciência ou forma de cultura, isto a ponto de, no tempo presente, a grande massa de neo Católicos ignorar a Doutrina social ou não leva-la a sério, pelo simples fato da hierarquia religiosa não te-la tornado rigorosamente impositiva, a exemplo das moralidades privadas e inúteis. A maior parte do clero não conheceu e menos aina valorizou esta corrente que é essencial.
A resistência dos neo Católicos foi insuficiente, de modo que o americanismo ou a consciência capitalista ultrapassou suas fronteiras, invadiu nossas sociedades e instalou-se nelas, nem sempre nos lombos do sectarismo protestante, mas, as vezes nas espaldas dos liberalismos ou do positivismo acrítico.

Disto resulta a puerilidade de criticar um simples partido como o PT por não ter produzido cultura nos governos Lula e Dilma, limitando-se a criar consumidores e a promover melhoramentos gerais. Devemos no entanto deplorar que sequer tenha tentado faze-lo, demonstrando vergonhoso conformismo e admitindo alianças nem sempre recomendáveis, assim com os próprios fundamentalistas como o Crivella. Tampouco é Bolsonaro fascista, nacionalista ou qualquer coisa tanto mais profunda do que um pires, no sentido de possuir ideologia, cultura ou consciência. Imaginar Bolsonaro como homem de espírito é não ter espírito... Limita-se ele, por necessidades práticas e instigação dos a aderir ao modelo vigente nos EUA. Não passando de imbecil útil, a favor de uma cultura exógena.

Então onde e quando essa integração cultural, Mimesis ou ascensão Ética verificou-se na História humana. Sem a ascensão Ética, recentemente, lá nos EUA, sob os auspícios de um economicismo ocultado pela religião morta.

Com ascensão Ética e brilho em apenas três oportunidades: No Extremo Oriente por meio do Budismo e do Confucionismo. E esta Constelação manteve-se, ao menos em parte, até meados do século XIX, com a Rebelião dos Samurais e a morte da imperatriz Tsu Hsi. Basta dizer que estes sistemas plasmaram as sociedades do Japão e da China conferindo-lhes por séculos a fio uma coesão e estabilidade que mais para o Ocidente identificamos somente no Antigo Egito. A coesão e estabilidade do antigo Egito giravam em torno de um princípio mais simples: Uma religiosidade essencialmente conservadora, reforçada por uma territorialidade fechada, ou vice versa, como quer Weber. Ali no entanto houve continuidade de algo cujas origens se perdem nos tempos e não a produção de algo que podemos acompanhar historicamente, como no caso do extremo Oriente.

A segunda construção é de matriz racional ou metafísica e naturalista. Diz respeito a antiga Grécia, relaciona-se com a afirmação do conhecimento filosófico e atinge ou conquista o Império romano (E com ele todo circuíto do Mediterrâneo). Inda que a princípio variada esta construção acabou consolidando-se em torno das figuras de Sócrates, Platão, Aristóteles e do legado Humanista transmitido por eles. Prevaleceu ela por quase mil anos, até a queda do Império romano, embora para muitos jamais tenha saído de cena mas sido assumida pelo Catolicismo ou pelo Cristianismo antigo, já na construção da Teologia, já quanto a afirmação de certos postulados Éticos, pelo que poderíamos postular certa continuidade em torno de objetivos como a superação da fragmentariedade e a busca por uma unidade essencial. Para alguns analistas este devaneio grego ainda estaria em marcha através de sistemas ideológicos progressivistas ou escatológicos que não passariam de um Cristianismo secularizado, do que resultaria a possibilidade de um paraíso aqui na terra resultando ele quer da posse dos meios de produção pelo proletariado, do progresso técnico científico, do poder do Estado\lider, do Mercado, da eugenia ou purificação da raça, etc...

A Terceira grande Mimesis ou produção, em larga escala, duma consciência comum, deve-se ao Cristianismo, como continuador ou substituto do Socratismo ou da cultura clássica. Tendo prevalecido com sucesso, por mil anos, em Bizâncio, formação político cultural importantíssima e que deveria se estudada com maior atenção pelos ocidentais e no Ocidente europeu até o fim da Idade Média ou o século XV. Claro que aqui se trata duma reconstrução após a derrocada do grande projeto romano, a qual jamais foi satisfatoriamente realizada devido a sombra do Islã e que por fim foi por completo frustrada pelo advento da reforma protestante, ocasião em que uma Europa totalmente convulsionada sai dos trilhos e entra numa crise interminável (Que se prolonga até hoje). E por ter surgido, a par das diversas culturas de morte ou ideologias, uma nova forma de consciência (Rival da antiga) na América, acentuou-se ainda mais o conflito. Resta concluir que das Idades antiga e média, a partir delas, não houve um desenvolvimento orgânico mas uma drástica ruptura, e que os elementos, princípios e valores tradicionais, ali presentes e comunicados pelo passado foram abortados. O projeto Cristão Católico, desfigurado em parte pela brutalidade medieval, legado pelo socratismo permanece até hoje inacabado. O trágico é que ele representa a expansão da Encarnação do Verbo - desta vez a nível social! - ou a Encarnação de sua palavra (O Evangelho) sob os auspícios do Espírito Santo, sempre em comunhão com a vontade dos homens bons.

Nós, os amigos de Sócrates, acreditamos na retomada deste projeto.

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