sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

Jung, Freud e freudismo.

Todo e qualquer leitor deste Blog ou de qualquer outro Blog de nossa propriedade, sabe muito bem o quanto admiramos e acatamos o vulto de Freud.

Juntamente com Atrino e Ellis foi ele um dos primeiros pesquisadores a estudar a sexualidade humana sem apriorismos ou preconceitos tolos tomados a moralidade judaica ou farisaica. O quanto basta para imortaliza-los.

Afinal era mister tratar naturalmente a dimensão sexual do ser humano, conferindo-lhe um status científico.

Ao cabo do décimo nono século não dava mais para marginalizar ou satanizar o corpo ou a sexualidade, conforme a tradição maniqueísta que nos fora legada pelos antigos semitas e, desastrosamente assumida pela 'igreja' Cristã.

Jesus jamais discursara sobre sexualidade ou fixara-se em tal tema. Não o abordou nem valorizou, ocioso que era a comunicação divina.

A Cristandade nominal todavia, tomando caminho distinto do traçado pelo mestre, fixou-se doentiamente no tema... canonizando toda uma série de tabus absurdos, e convertendo-se em fonte de neuroses sem fim...

Freud foi um dos heróis que, afrontando a opinião pública maniqueísta - consagrada pela Era Vitoriana! - forçou a ruptura das barreiras, rumo a uma sexualidade normal e encarada como parte efetiva da vida humana.

Foi o quanto bastou para alista-lo merecidamente com Darwin, Marx e Einstein.

Há no entanto quem, como Newton e, De Vries, Mayr, Kautsky, Herr, Jaurés, Blum, Bernstein, Keynes, etc tenham avançado ainda mais, por terem seus pés postos sobre os ombros dos gigantes...

Como Newton só pode avançar a partir de Copérnico, Galileu e Kepler, de Vries, Mayr e Dobzhansky avançaram a partir de Darwin; Kautsky, Bernstein, Herr e outros a partir de Marx... Einstein a partir de Maxwell, Morley, etc C G Jung, Horney, Blowlby, Winnicott, Frankl, a partir de Freud. 

Natural que o gigante tenha sido ultrapassado. Todos os demais gigantes o foram, ampliando e aprofundando cada nova descoberta ou teoria.

Mead e Malinowski demonstraram, abrindo o caminho para Horney, que as constatações assumidas pro Freud tinham um carácter cultural relativo ao tempo e ao espaço ou a sociedade europeia do tempo sua organização, princípios e valores. Não se tratava portanto de algo abstrato (com relação ao tempo e ao espaço), metafísico.. Mas de uma relação da psique humana a um determinado contesto sócio cultural... O complexo de Édipo era uma construção da sociedade monogâmica e patriarcal... Inexistente em culturas matriarcais ou poligâmicas, como as das Ilhas Tobriand ou de certas paragens da África... Assim as diversas neuroses analisadas pelo psicólogo austríaco só podiam ter sua gênese num tipo de sociedade maniqueísta e repressora, e não teriam qualquer razão de ser no antigo Egito, na Antiga Suméria ou na Antiga Grécia... Os problemas analisados e elencados por Freud eram circunstancias e não universais...

Outro o questão da líbido, definida por Freud como uma energia sexual, embora suscetível de transformação/sublimação. Trata-se aqui de uma força ou energia sexual, voltada para outros setores da vida...  A matriz de toda energia ou ação humanas era de origem sexual. Assim pensava Freud e isto de modo algum me choca.

Julgo todavia que a análise de C G Jung seja mais significativa ou consistente.

Jung foi caracterizado como um puritano ou moralista apenas por ter contestado a afirmação peremptória e dogmática de seu mestre, quando a natureza sexual da líbido. Formulou Jung uma outra hipótese, conceituando a líbido como uma energia neutra ou informe, a qual vai assumindo sucessivas formas determinadas pelo sujeito.

Claro que tais formas só poderiam ser dadas ou determinadas por uma vontade consciente ou pela intencionalidade.

Como os bebês ou recém nascidos não possuem racionalidade, inteligência ou vontade livre é perfeitamente compreensível que esta energia informe ou amorfa assuma uma forma sensorial prazerosa. Basta com o saber que o princípio da vida humana seja sensorial e não racional ou volitivo para compreender que a energia psíquica, em seus primórdios, identifique-se com o princípio do prazer. É questão de limites, impostos pela natureza ou pena condição...

Importa saber que esta energia é maleável ou sujeita, em determinado momento posterior, a ação consciente ou determinação do sujeito... E é esta maleabilidade que possibilita o movimento que Freud classifica como sublimação. Nem haveria sublimação ou mudança de sentido caso a libido fosse essencialmente sexual. Pois sendo essencialmente sexual como poderia receber outra forma. Se pode receber diversas e distintas formas é evidente que é amorfa ou informe por definição.

Eis porque damos razão a Jung.

Ademais freudismo é uma coisa e psicanalise outra. No freudismo há uma precipitação metafísica, alias mal elaborada, como acabamos de apontar. A psicanálise é um método a mais, que nos permite conhecer e analisar e mente humana. Podemos e devemos encarar o freudismo com cautela. Descartar a psicanalise é pura e simples burrice. 

Nenhum comentário: