sábado, 13 de maio de 2017

Por uma teologia da corporalidade


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Uma das poucas mudanças positivas (Dentre um aluvião de negativas) implementadas pelo 'concílio' (sic) do Vaticano II cumpre apontar a substituição da expressão 'Salvação da alma' - Lida e compreendida não poucas vezes como salvação apenas da alma ou incorpórea - por expressões tanto mais exatas como 'Salvação do homem' ou simplesmente da pessoa.

A mudança é pertinente e esta de acordo com a piedade legitimamente pautada no Evangelho e na mais pura tradição da Igreja.

Sempre bom lembrar, a luz da doutrina da Ressurreição da carne, que salvação sem redenção do corpo é sempre incompleta e imperfeita. Não sou eu quem o diz mas o escolástico, no tema - Razões porque devem os mortos ressuscitar, alias reproduzido em parte pelo Grande Catecismo Tridentino.

Antes de aduzir as razões porque devam os mortos ressuscitar na forma (Não no mesmo corpo mas na forma) do corpo, exporei as consequências contidas neste artigo de fé. Com efeito, se o homem deve ressuscitar mesmo após ter se 'salvado' em espírito é porque esta ordem de existência, de salvação incorpórea, é inferior a ordem posterior, fixada pela ressurreição dos corpos, esta apenas perfeita, aquela imperfeita.

Tendo vívido como uma Unidade corpórea e realizado suas ações virtuosas no corpo físico deve o homem ser recompensado também no complemento material deste corpo. É exigido pela justiça, determinado pela perfeição e fixado por Deus desde toda eternidade.

Assim salva-se o homem todo, e não apenas a alma ou o espírito imaterial. A salvação da alma ou imaterial não passa de estádio provisório e como tal não é perfeita. Todos os Católicos conscientes e instruídos deveriam estar perfeitamente cônscios a respeito disto.

Passo agora as razões aduzidas pelos escolásticos em favor da ressurreição dos corpos.

  • É o Deus Cristão, Deus encarnado e 'de bem' com os elementos materiais. Estando já 'presente no mundo' como declara o quarto evangelista ou melhor o mundo, que é finito, presente nele.
  • A condição humana foi ela mesma assumida por Deus no ato de sua encarnação e santificada pelo contato seu.
  • Os Homens, pelo batismo, são chamados a intimidade divina em seu máximo grau, tornando-se filhos adotivos de Deus.
  • Tornando-se filhos adotivos de Deus passam a ser receptáculos ou tabernáculos do Logos ou da consciência divina.
  • Imitando a Jesus Cristo pela obediência tornam-se participantes de sua ressurreição.

Assim é o corpo humano elevado a mesma dignidade que aquele que costumam atribuir a ela.

Então porque raio dizem alguns que a alma é superior ao corpo físico e em que sentido podemos dize-lo.

Observe que nem a matéria nem o corpo físico propriamente dito possuem consciência de si mesmos. Temos consciência de ser corpo por uma consciência que não é propriamente corpórea, que esta no corpo, que se manifesta por meio do corpo, mas que não é o corpo no sentido de que não se resume ao corpo. A consciência estando no corpo transcende ao corpo... O corpo esta nela e com ela, sendo percebido por ela e mesmo assim ela sabe que é algo a mais.

No homem apenas a consciência se desenvolve a ponto de tornar-se racional e livre. Racionalidade e liberdade são apanágios da consciência, não do corpo físico. Correspondendo a princípios operatórios destinados a comandar ou reger o corpo físico. Assim o corpo é relativamente inferior no sentido de que é dirigido ou comandado pela consciência, a qual é nosso princípio operatório.

É a consciência ou a mente que determina as ações executadas pelo corpo físico, o qual por assim dizer obedece o comando ou a determinação que parte dela.

Não somos consciências comandadas por corpos, mas corpos comandados por consciências.

Evidentemente que nossos corpos tem certas necessidades físicas que devem ser satisfeitas e as quais não podemos fugir. Com relação a tais necessidades não somos livres. No entanto mesmo quanto a satisfação de tais necessidades existem aspectos que não são necessários, exceto em determinadas circunstâncias. Assim se posso alimentar-me de batata, aipim ou abóbora posso já escolher de que alimentar-me, e se posso vestir linho, algodão ou canhamo, também posso escolher de que vestir-me... E vão surgindo os nichos de escolha e liberdade, que fogem a determinação.

Claro que podes optar por um determinado regime com base na determinação sensorial do sabor. Mas também podes optar por um alimento que sabes ser mais saudável ou mesmo por consumir determinado alimento para agradar a determinada pessoa, como podes recusar-te a faze-lo.

Assim dentro de determinados limites somos livres.

E nossas opções determinadas pelo princípio operatório da consciência.

Assim a tão decantada superioridade espiritual é puramente relacional e de forma alguma essencial.

Pois se o corpo físico é dirigido e comandado pela alma não é menos verdade que a mente dependa do corpo para manifestar-se neste mundo, para comunicar-se e para viver.

A existência terrestre só pode existir na dimensão do corpo e em comunhão com o corpo.

Portanto se esta dimensão da existência tem algum propósito ou valor da mesma forma o corpo físico, órgão do espírito e órgão absolutamente necessário a sua expressão.

Sem o complemento do corpo a mente inexiste para o mundo e o mundo para ela. 

Morto o homem perde totalmente seu vínculo com eles mundo, exceto em algumas situações especiais.

O corpo físico é órgão concedido a alma para atuar no mundo material, adquirir experiencialidade, conviver e aprender a partir dele.

Caso esta vida tenha significado ou tenha sido disposta conforme um sábio plano os corpos de que dispomos e sem os quais não nos é dado frui-la são de importância capital.

Isto porque quando a mente aparece neste mundo aparece apenas quanto a forma ou organização estrutural, não quanto a um conteúdo determinado qualquer. Quando se manifesta neste mundo é a mente uma tábua rasa quanto as informações ou conhecimentos propriamente ditos. Nascemos em estado de ignorância.

Por meio do corpo é que percebemos o mundo físico/natural que nos rodeia. Através dos sentidos é que percebemos a realidade. Através da dimensão corpórea é que entramos em contato com os outros, nos comunicações, nos informamos, interagimos e elaboramos nossa personalidade e construímos nossos conhecimentos. Pois a experiência do mundo externo e do outro nos é dada pelos sentidos presentes no corpo, sem os quais nada poderíamos perceber.

Se temos de viver neste mundo precisamos de um aparelho capaz de explora-lo e este aparelho é o corpo físico. Providos de um corpo físico podemos cumprir nossa trajetória. Desprovidos de corpo deixamos de existir para este mundo. Rompida a unidade existente entre corpo e mente por meio da morte, ao menos para este plano cessamos de existir e já não pertencemos a esta realidade.

Portanto caso esta condição ou forma de existência tenha sido ou seja querida por Deus, e se corresponde a uma via de acesso a perfeição, temos de admitir que a dimensão da corporalidade é um bem. Se o espírito para ser cultivado ou receber seu conteúdo carece de um corpo, não pode ser essencialmente superior a ele. Assim se a mente comanda o corpo também depende dele, e temos uma via de mão dupla. E já podemos concluir que o espírito foi planejado para o corpo e o corpo para o espírito, de maneira que atuem conjuntamente. Ficando estabelecida a igualdade essencial dos dois modos de ser.

Daí a necessidade de falarmos não numa redenção descarnada da 'alma' apenas, nas numa redenção total, completa e integral, salvação do homem e mais, salvação da sociedade, salvação do gênero humano, salvação do planeta, reconciliação completa, de todos os seres com o Espirito Supremo, Alma do mundo e princípio operatório do universo material; enfim com o 'Nous'.








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