domingo, 14 de maio de 2017

Buscando superar o psicologismo freudiano e o sociologismo marxista; uma leitura marxista de Freud ou freudiana de Marx I

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Prelúdio


Temos duas visões antagônicas e inconciliáveis no monismo materialista esboçado pelos diversos sociologismos, inclusive pelo marxista e no monismo idealista esboçado por diversas correntes religiosas, filosóficas e psicológicas.

São de fato dos extremos que acabam por tocar-se, e que aparentemente ao mesmos remontam aos primórdios do pensamento Filosófico.

Assim temos Demócrito para o monismo materialista (Há quem faça recuar esta posição até Tales cuja arché era a água) e Platão (e para muitos Pitágoras) para o monismo idealista compreendidos como 'arché' ou princípio primordial de que surgem todos os outros. Para os partidários do Abderita este princípio é a materialidade representada pelos átomos. Mesmo que haja algo de imaterial, surgiu 'a posteriori' ou seja a partir da materialidade. Tal a perspectiva de Marx segundo a clássica comunicação de Engels segundo a qual o ideal ou a idealidade deve ser compreendida sempre como epifenômeno da materialidade, inda que possa exercer certa influência sobre ela. Importa que na ordem ontológica a prioridade temporal pertence a matéria, a materialidade.

Claro que na maioria dos casos, os materialistas metafísicos mais coerentes, na impossibilidade de determinar como a imaterialidade ou idealidade surgiu a partir de sua negação ou de seu oposto que é a materialidade, optam, via de regra, por negar a existência da imaterialidade. Tal o sentir do materialismo crasso ou absoluto de La Metrie, Clothes, D Holbach, Moleschoot, etc que E Ditgen tentou introduzir, sem sucesso, no marxismo, dando equivocadamente por cientificamente demonstrada a materialidade da mente e tendo que ser corrigido pelo honesto Engels. Mesmo Lênin no 'Materialismo e empiro criticismo' teve de admitir que a tal demonstração ainda não havia sido fornecida pela ciência.

Outra no entanto é a concepção do materialismo crasso ou dialético, sempre interessado em identificar as forças que atuam no processo histórico. Assim se é certo que tal corrente super valoriza o aspecto econômico da produção de bens, nem por isso ousa negar por completo ou absolutamente a atuação de forças ideais ou imateriais, as quais por sinal concede o apanágio de 'autorizar' a ordem vigente imposta pelas relações econômicas, disfarçando-a, e, consequentemente alienando os oprimidos. O materialismo metafísico ou crasso jamais chega a tanto... A distinção portanto é justa, conveniente e oportuna.

Quanto ao imaterialismo temos já ao menos um esboço nas especulações de Pitágoras a respeito do número. Embora não possamos nem devamos avançar e declarar que ele, como Anaxágoras sejam monistas. E o mais certo é que não sejam. Teriam enfatizado o imaterial apenas enquanto princípio operatório dinâmico, sem excluir a eternidade do elemento material. Certamente não eram partidários de uma criação 'ex nihilo' e não há elementos que nos forcem a compreende-los doutra forma.

Ora, o mesmo já não se sucede com o Acadêmico já influenciado pelas considerações de Pitágoras, já influenciado pelos cultos de mistério - Órficos, eleusinos, etc trazidos, segundo alguns do Oriente - e, em cujo pensamento parece haver já uma certa ideia de criação ou de produção do material pelo imaterial (Daí a ideia de Demiurgo, embora alguns queiram apresentar esta entidade apenas como organizadora - No esmo sentido em que o Nous de Anaxágoras - e não como 'criadora' ). A dar por certo ou mais plausível este ponto de vista, temos aqui a primeira afirmação de um monismo idealista ou espiritualista entre os antigos gregos.

Para muitos a ação do demiurgo no Timeu deve ser compreendida como ordenar e não como criar ou produzir algo a partir do 'não ser'. Assim Margarida Nichele de Paulo apud 'Indagação sobre a imortalidade da alma em Platão' p 50 nota 136 da por razão de sua negativa, o 'fato' do antigos gregos ignorarem o conceito de 'nada'. A alegação, permitam-nos declarar, é pífia pelo simples fato de Parmênides ter trabalhado com o 'conceito' de 'Não ser' ou nada apenas para pode nega-lo! Pois como poderia ser 'Não ser' e ser algo ou alguma coisa??? Não estou dizendo nem mesmo sugerindo que Parmênides fosse dualista ou criacionista, de modo algum. No entanto que estava familiarizado com o conceito de 'nada' equivalente ao de 'não ser' estava.

Não sei quanto há de verdade na narrativa segundo a qual pretendia Platão queimar as obras de Demócrito. Agora quanto aos pensamentos de ambos corresponderem aos dois extremos do monismo não tenho a mínima dúvida.

Resta saber agora qual fosse a opinião ou ponto de vista dos demais pensadores gregos, os não alinhados. Tal o posicionamento do Estagirita.

Via de regra podemos classificar todos estes pensadores - A exceção talvez de Tales (Monista materialista?) e Pitágoras -  como dualistas no sentido de que afirmavam a coexistência eterna de duas arché(S) ou princípios: O imaterial e o material. Os manuais no entanto costumam apontar Anáxagoras como o primeiro dualista 'ex professo' pelo simples fato de ter apresentado o Nous i é a mente ou o espírito como princípio ordenador (organizador) da matéria eterna. Bom salientar que na opinião de Aristóteles, Parmênides e Anaxágoras teriam sido os pensadores pré socráticos mais vigorosos.

Em termos teológicos esta doutrina posteriormente classificada como panenteísta. Em termos epistemológicos costumamos classifica-la como realista. Em termos psico cognitivos como interacionista ou construtivista. Podemos no entanto manter o velho termo dualista uma vez que os demais já não pressupõem a equivalência eterna dos princípios em termos de temporalidade, tendo se conciliado já com o monismo idealista 'criacionista'. Descartes assumiu esta perspectiva e revesti-a de uma nova forma mais atual.

Com raras e louváveis exceções temos aqui uma espécie de racha ou conflito - artificial e pernicioso - entre sociologia e psicologia. Esta tudo atribuindo tudo em absoluto, e portanto até mesmo a organização social, a atividade humana ou mental e assumindo o caráter de psicologismo, aquela tudo atribuindo, inclusive a formação da personalidade, a organização social em termos de materialidade, transtornando em sociologismo. Ali temos minimizado o papel exercido pelo grupo social ou a estrutura econômica, ficando tudo compreendido como epifenômeno de relações meramente pessoais. Aqui damos com um menosprezo quase que rancoroso pelo homem, pela interação pessoal e pelas decisões livres. Ali a sociedade é encarada como puro e simples agregado artificial de indivíduos e portanto regulada pelas mesmas leis psicológicas que regulam a interação pessoal. Aqui o homem tem sua liberdade completamente negada, não passando de cópia 'determinada' pela sociedade. É por assim dizer fruto exclusivo do meio em que nasce ou produto duma conjuntura em termos de tempo e espaço, noutras palavras 'algo dado'.

No primeiro caso chegamos a uma noção romântica, em termos de uma liberdade ilimitada e de infinitas possibilidades. E atingimos os confins do voluntarismo... No segundo caso temos o determinismo ou a total negação da liberdade humana. E nos achamos, mais uma vez diante de dois extremos no mínimo problemáticos.

Que a ação do homem seja limitada pela realidade externa a si, fica demonstrada pelas milhões de vontades frustradas representadas pelas pessoas mais pobres ou oprimidas. As quais mesmo desejando saborear um bife todos os dias, por mais que aspirem e se esforcem - Trabalhando, inclusive - tem de se contentar com um pedaço de pão. Sem contarmos com as que ainda morrem de fome ou com aqueloutras que tendo forrado o bucho desejariam estar em Paris ou Veneza, e não estão...

Mas se esforce!

No entanto de que vale esforçar-se se não existem oportunidades ou chances oferecidas. De que vale um jovem negro ou pardo de periferia, sacrificar-se, esforçar-se, dignificar-se, se as vagas de trabalho - Por uma questão de maximização de lucros - estão reservadas a jovens brancos? De que adiantaria a uma jovem há cem anos atrás preparar-se para ser motorista ou policial se as vagas eram reservadas exclusivamente a rapazes? Considere portanto que as sociedades impõem certos limites e restrições além dos quais não se pode ir se se quer forrar o bucho e viver.

Imagine a condição da mulher em certas sociedades muçulmanas a exemplo do Paquistão, do Afeganistão, do Iraque, da Síria, etc e considere se aquela mulher pode de fato realizar tudo quanto quer ou satisfazer todas as suas aspirações.

Mas ela sempre poderá abandonar aquela sociedade ou sair de lá???

Já leu a Topofilia de Yfu Tuan ou a Geopsique?

Por outro lado mesmo que uma ou algumas (raras exceções) destas infelizes - Rompendo com todos os laços afetivos, espaciais e familiares, e vendendo todos os obstáculos postos pela cultura - fossem bem sucedidas em transferir-se para o Ocidente, em que isto alteraria a realidade social das demais mulheres que por lá permanecem??? Acaso poderiam todas as mulheres ou ao menos a maior parte das mulheres iraquianas ou paquistanesas deixar seus países e instalar-se em nossas Sociedade ocidentais? Alias qual país ou república ocidental haveria de receber tantas refugiadas? Haja avião e navio para transportar tanta gente! Quem não percebe que tal sugestão é sumamente absurda.

Nem podem tais mulheres, numa dimensão social, abandonar as sociedade em que vivem e nem podem, vivendo em tais sociedades, definir suas próprias vidas.

Tal a condição dos operários, dos trabalhadores e das pessoas mais humildes em nossas sociedades ocidentais. Na fruição de uma liberdade bastante reduzida...

Isto quanto aos voluntarismo psicologistas ou individualistas.

Por outro lado caso o homem tenha todos os aspectos de sua vida determinados pela organização social, de modo que não lhe resta liberdade alguma já não se pode explicar porque as próprias sociedades mudam e porque a História é dinâmica e não estática. Caso a Sociedade determine o homem por inteiro já não há elemento que possa transformar qualquer coisa e alterar a Sociedade, de modo que todas as relações deveriam repetir-se 'ad infinitum'.

Se os primeiros homens, que já viviam em sociedade, tiveram suas mentes invencivelmente plasmadas por aquele tipo de organização e assim todas as gerações subsequentes, como o gênero humano veio a superar aquele estádio social e passar a outro, diferenciado e superior? Que elemento introduziu a mudança?

Teria a Sociedade mudado a si mesma?

Teria a produção mudado a si mesma?

Teria a estrutura mudado a si mesma?

Quem não percebe que essa simples sugestão implicaria atribuir características humanas, como a inteligência, a criatividade, a livre iniciativa e a liberdade a uma órgão puramente estrutural que é a Sociedade. O qual não possuindo cérebro, racionalidade ou liberdade, não pode criar e tampouco transformar-se. Pois se a Sociedade se move ou se transforma e não é o elemento humano que a transforma temos de indicar o elemento dinâmico responsável por suma alteração!

Poderão os sociólogos materialistas sejam deterministas geográficos ou deterministas econômicos, apontar-nos qual seja este elemento dinâmico???

Certamente que não uma vez que nem a terra em os meios de produção materiais ou tecnológicos, pensam ou trabalham por si mesmo tendo sido criados e manipulados pelo elemento humano, este sim pensante e criativo, este sim responsável pelas mudanças que ocorrem no âmbito social sempre de compreendem a dinâmica social e atuam em sintonia com ela.

Constamos assim que nem uns nem outros estão certos.

Pois o constatar-nos que a  liberdade a liberdade humana não é ilimitada ou incondicionada não nos obriga a esposar a opinião oposta segundo a qual não resta qualquer medida de liberdade para o homem. Temos então de buscar um meio termo realista e postular a existência de uma liberdade limitada, condicionada e relativa. Relativa porque sempre relacionada com o grau de instrução do sujeito, condicionada pelo meio em que vive e limitada por sua situação sócio econômico; e sem embargo disto real.

Continua -

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