quarta-feira, 2 de abril de 2014

Ceticismo inverso




Não vou falar do ceticismo clássico e tampouco da dúvida cartesiana que são bons instrumentos para uma inteligência crítica. O ceticismo do qual eu vou tratar é do ceticismo invertido, é aquele ceticismo que nega o mundo real para justificar suas crenças, é o ceticismo que nega as evidências que duvida de fatos estabelecidos. 

Um exemplo de céticos invertidos são os criacionistas que negam a Teoria da Evolução porque esta põe em xeque a narrativa da criação descrita nos dois primeiros capítulos de Gênesis. É engraçado eles acreditarem nessa narrativa que não apresenta evidência alguma de que o mundo foi criado em seis dias por Deus (não nego que Deus tenha criado o universo, sou cristão mas não abandonei minha racionalidade). Eles acreditam no Gênesis sem qualquer evidência e rejeitam a Teoria da Evolução com todas as suas evidências.

O ceticismo é uma dúvida que o cético se permite quando alguém lhe apresenta algo sem provas para que este possa evitar ser enganado. O cético exige evidências caso contrário continuará duvidando, o ceticismo acaba quando se lhe apresentam evidências. No caso dos fundamentalistas religiosos eles creem sem evidência alguma mas duvidam do mundo real, do mundo natural com todas as suas inumeráveis evidências. Duvidam que haja evolução, outros duvidam que existam placas tectônicas e que estas se movem. Duvidam da ciência médica e de seus métodos apesar das evidências de que funcionam mas creem em água benta, em orações de cura, etc...

Do mesmo modo os homeopatas duvidam da medicina convencional (que está arraigada na ciência) mesmo tendo evidências de sobra para apresentar, mas os homeopatas não duvidam da homeopatia que não apresente sequer uma evidenciazinha. Outro tipo de cético invertido são os ufólogos e esotéricos, os primeiros acreditam que são visitados por extra-terrestres e são conspiracionistas, os últimos creem que em profecias, como a tal profecia maia do fim do mundo e negaram na época a refutação da NASA e claro, continuam a negar quaisquer fatos científicos enunciados pela agência espacial norte-americana. Eu tive a desventura, o desprazer de conhecer uma figura folclórica que se dizia ufólogo, o professor Luciano Pera Houlmont que disse ter sido abduzido, que transou com uma E.T e até tem uma filha meio humana e meio humanóide. Mostrou-me mapas de Marte apontando figuras de vários formatos e nenhuma simetria e ora dizia que eram naves, ora dizia que eram cavernas onde eles (os ETs) se escondiam. Quando eu lhe disse que aquilo era besteira, o professor encasquetou com sua tese, eu me limitei a sorrir zombeteiramente e lhe disse que um dos maiores cientistas mundiais Carl Sagan que era interessado pelo tema de vida inteligente em outros planetas, negou ou pelo menos duvidou que ETs tivessem visitado à Terra já que não há evidências e disse:

“Se nós mesmos estamos explorando nosso sistema solar, se somos capazes, como somos, de enviar nossas próprias espaçonaves não apenas a outros planetas em nosso sistema solar como além de nosso sistema solar, para as estrelas, então seguramente outras civilizações, caso existam, milhares ou milhões de anos mais avançadas que nós, devem ser capazes de alcançar a viagem espacial interestelar muito mais facilmente.
em nenhum momento nego tal como uma possibilidade. Eu enfatizaria que a economia de esforço é muito maior para a comunicação por rádio que através da comunicação direta por espaçonaves interestelares. Eu argumentaria que você pode transmitir sinais a milhões ou bilhões de mundos simultaneamente, rapidamente, de forma barata, de uma forma que seria mesmo a uma civilização muito avançada muito mais difícil e oneroso fazer através de espaçonaves interestelares.
Contudo, eu certamente não excluiria a possibilidade de que a Terra está sendo ou já foi visitada. Mas precisamente porque tanto está em jogo, precisamente porque esta é uma questão que engloba emoções poderosas,nós devemos neste caso exigir apenas os mais escrupulosos padrões de evidência“. — de “The Varieties of Scientific Experience”, ou “As Variedades da Experiência Científica“.  ¹



2 comentários:

Ravick disse...

Muito bom, cara!

E, ei, como conhecetse aquela figura??

Fernando Rodrigues Felix disse...

Ele viveu e morreu em São Vicente, morava no centro de São Vicente. Sua casa tinha uma réplica do disco voador de São Vicente.