quarta-feira, 9 de abril de 2014

Palavras de um professor indignado ( A escola inclusiva ou 'para todos')!!! Parte I






Durante gerações foi a formação (aponto para a realidade brasileira) humana encarada de maneira dicotômica.

A família fornecia os princípios reguladores da ordem moral ou valores, enquanto que os estabelecimentos escolares - geralmente de caráter elitista e excludente - proporcionavam a instrução/informação, via de regra nos moldes clássicos.

Assim se formavam as 'figuras' humanas destinadas a preencher os quadros administrativos.

No frigir dos ovos apenas - especialmente após a expulsão dos educadores jesuítas pelo sr Pombal - os mais afortunados ou ao menos situados nas proximidades dos grandes centros urbanos, tinham acesso as duas esferas formativas: educação e instrução.

Quanto aos mais humildes e os campesinos tinham de contentar-se e satisfazer-se com uma educação muito sumária e uma educação meramente técnico/artesanal fornecida nos moldes tradicionais das pequenas comunidades.

Com a imposição do modelo capitalista no entanto, especialmente após a proclamação da República e as primeiras décadas do século XX, enfatizou-se cada vez mais a necessidade de se democratizar ou socializar a instrução pública, franqueando acesso aos até então 'excluídos'.

No entanto, apesar do discurso, a velha dicotomia foi mantida: a educação ficava ao encargo das famílias, enquanto que a escola limitava-se a instruir/informar.

Destarte toda tônica formativa dos cursos normais (ao menos durante três décadas ou até o final dos anos 20) estava voltada para a instrução. A educação procedia do santuário do lar...

E no entanto este santuário do lar começava já a ser desfeito pelas exigências do mercado.

O pai cada vez mais ausente por ter de trabalhar como um escravo ou pária para poder sustentar esposa e filhos...

E, em seguida... Quando o trabalho do pai apenas já não era suficiente, a mãe igualmente atarefada ou mesmo ausente tendo em vista complementar as parcas rendas obtidas pelo casal.

Que se sucedia então a prole???

Enquanto alguns acabavam sendo 'educados' pelas avozinhas já cansadas e decrépitas a maior parte acabava mesmo sendo apenas 'cuidada' pelos irmãos mais velhos; ou melhor dizendo: crescia e viva largada. Na prática isto quer dizer: sem educação, porque a escola raramente tinham acesso...

Vista quase como criminosa a criança deseducada que tinha a sorte de ingressar numa escola pública, ou lá perseverava a custa de muita pancada tornando-se anti social ou mesmo problemática - em que pese a instrução recebida - ou de lá saia (por bem ou por mal i é pela expulsão) tendo pouco ou nada aprendido.

Então aquela escola era na verdade uma escola excludente, voltada apenas para as crianças educadas, cheirosinhas, arrumadinhas e bonitinhas procedentes das famílias tradicionais ou burguesas (em especial das burguesas porque as famílias tradicionais davam preferências as escolas confessionais geridas pela igreja.).

E não para todas as crianças ou melhor, para as crianças pobres e com péssimos hábitos (deseducadas); que lá encontravam-se completamente deslocadas ou num outro mundo sofrendo inclusive todo tipo de preconceitos por parte dos 'coleguinhas'. Era uma escola clubinho formada via de regra por crianças previamente alfabetizadas em suas próprias casas; além de polidas e obedientes é claro.

E lá estavam os professores em seu paraíso...

Não precisavam nem desejavam educar mas apenas instruir ou informar - i é subministrar conteúdos meramente teoréticos - aquelas mentes ou memórias potencialmente brilhantes. Ensinar a ler, a escrever, a contar, a calcular e a decorar os nomes de datas e locais bem como centos de citações e poesias era seu ofício!!! E não queriam saber doutra coisa os mestres daquele tempo.

De modo geral no entanto a realidade era bem outra.

Pois fora de nossas escolas públicas e privadas havia gigantesca massa de crianças e jovens não só isentos de qualquer instrução técnica e científica - que dizer então da clássica!!! - mas mesmo da mais trivial educação em termos de sociabilidade e convivência. Afinal tratava-se de crianças que muitas vezes conheciam apenas a linguagem da agressão física e verbal ou como diríamos hoje: da porrada e do xingamento!!!

Para bem ou para mal no entanto, dia veio em que o governo brasileiro teve de arcar com esta demanda social e de modo tanto mais concreto, incluir a maior parte destas crianças - inseridas já num contexto econômico neo liberal - em seu sistema público e regular de ensino, o que foi feito pela lei 9394/96 a assim chamada "Lei de diretrizes e bases da educação nacional".

Desde então a ideia de uma escola para todos ou inclusiva teve de ser encarada tanto mais a sério por todos.

O que exige por parte de nós educadores ponderada reflexão a respeito do papel que cabe a escola na Sociedade que temos e das múltiplas transformações porque tem passado a instituição Escola em sua dimensão cultural.

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