domingo, 5 de julho de 2009

Orígenes de Alexandria





Orígenes foi um dos maiores teólogos cristãos de todos os tempos, seja pelo pensamento avançado para sua época e também para os dias de hoje, seja pela versatilidade, seja pela erudição e principalmente pela apocatátase.

Infelizmente as Igrejas Ortodoxa e Romana condenaram seu pensamento, ainda hoje, é visto por muitos como herético, e não é chamado padre da Igreja, mas escritor eclesiástico. Orígenes não foi só um intelectual, mas foi torturado por professar a fé em Cristo.



Orígenes se destacou por ensinar que nem tudo na Bíblia deve ser aceito ao pé da letra, mas que muitas passagens podem e devem ser interpretadas alegoricamente. O grande Orígenes exagerou nesse sentido, pois quis alegorizar tudo, não encontrando por assim dizer o meio termo.

Orígenes se castrou dizem que por causa do versículo de Mateus 19,12, mas também porque sua escola era frequentada por mulheres, e ele não queria dar motivos aos maledicentes.

Orígenes foi ordenado presbítero (padre) pelos bispos Alexandre de Jerusalém e por Teoctisto de Cesaréia, mas Demétrio bispo de Alexandria, muito invejoso, inventou uma desculpa esfarrapada para reduzir Orígenes ao estado laico e excomungá-lo. A desculpa do bispo ignorante e invejoso foi a autocastração de Adamantio [1] (leia-se Adamâncio). Demétrio convocou sínodos que o depuseram e excomungaram Orígenes em 231. Morrendo demétrio, Orígenes viaja à Alexandria e em 232, Heraclas um ex-discípulo, sobe ao episcopado e renova sua excomunhão. Então o adamantino[2] viaja à Cesaréia, e o bispo desta cidade, dissolve sua excomunhão e o convida a fundar uma escola catequética. E ensinou por mais de vinte anos.

O que ensinava o grande Orígenes? Filosofia e teologia. Orígenes obrigava a seus discípulos ler as obras de todos os filósofos antigos, exceto dos que negavam a providência divina e a existência de um Ser Supremo.

Como havia dito acima, Orígenes se destacou por não aceitar tudo ao pé da letra, mas alegoricamente. Em seu livro De Principiis, mostra como o cristão deve entender os textos sacros, penso que até os descrentes simpatizam com Orígenes e que a religião seria mais respeitada se padres e pastores seguissem o exemplo de Orígenes.

Orígenes disse acerca da interpretação das Escrituras:
"A quem, pergunto, que tenha senso, parecerá ser dito coerentemente que o primeiro, o segundo e o terceiro dia, nos quais se nomeiam tardes e manhãs, foram sem Sol, sem Lua e sem estrelas, e o primeiro dia sem céu?

Quem será encontrado tão idiota que julgue que Deus, como um homem qualquer do campo, tenha plantado árvores no paraíso, no Éden voltadas para o Oriente, e nele tenha plantado a árvore da vida, isto é, uma árvore visível e palpável, e de tal maneira que alguém comendo desta árvore com seus dentes corporais alcançasse a vida e, comendo de outra árvore, obtivesse a ciência do bem e do mal?

Quando se diz que Deus caminhava no paraíso após o meio dia, e que Adão se escondia debaixo da árvore, não tenho dúvida de que com isto a Escritura profere uma expressão figurativa, na qual se indicam certos mistérios.

Caim, tendo-se retirado da face de Deus (Gen. 4, 16) manifestamente induz o leitor prudente a que se pergunte o que é a face de Deus, e como alguém poderá retirar-se dela.

Para não ampliar a obra que temos em mãos mais do que o justo, será muito fácil, para quem o quiser, reunir das santas escrituras muitas coisas que, apesar de terem sido escritas como fatos, não podem ser cridas competente e razoavelmente que se tenham realizado segundo a história.

Este modo de escrever pode ser encontrado abundante e copiosamente também nos livros evangélicos, quando se diz, por exemplo, que o demônio transportou Jesus para um elevado monte (Mt. 4, 8) para que dali lhe mostrasse todos os reinos do mundo e a sua glória. Como parecerá que tenha se podido fazer com que Jesus tivesse sido conduzido pelo demônio a um alto monte, ou também que se lhe tivesse sido mostrado aos seus olhos carnais, junto a um só monte, todos os reinos do mundo, isto é, o reino dos Persas, dos Scítios e dos Índios, ou também como os seus reis são glorificados pelos homens? Muitíssimas outras coisas semelhantes a estas encontrará no Evangelho quem o ler mais atentamente, e poderá notar que nestas narrativas que parecem enunciadas segundo a letra, há inseridas e simultaneamente tecidas coisas que a história não recebe, mas que, todavia, possuem uma inteligência espiritual".
De Principiis - Livro I

Uma palavra sobre a apocatástase (restauração final de todas as coisas). A apocatástase que era a doutrina professada por Orígenes, ensina que no fim dos tempos todos os seres se voltarão para Deus e que Deus será tudo em todos. Mesmo o diabo (se é que existe um) se converterá num ser bom. No fim o bem vencerá, porque Deus é o sumo bem.

Notas: 1. Jerônimo de Estridon chamava Orígenes de Adamantio, feito do diamante.
2. Adamantino, do diamante.

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