Pobre liberal: A pobreza é fruto da vagabundagem. Pobre é pobre porque não quer trabalhar e viver decentemente de salário. Rico é rico porque trabalhou, porque se esforçou.
Outro: E você, é rico ou pobre?
Pobre liberal: Sou pobre...
Outro: Logo?
Pobre liberal: Quero dizer não sou rico nem pobre, ou seja, nem uma coisa nem outra.
Outro:????
Pobre liberal: Quero dizer que ainda estou trabalhando para enriquecer, afinal ainda sou jovem.
Outro: Excelente. E seu pai?
Pobre liberal: Meu pai o que?
Outro: Seu pai é rico ou pobre?
Pobre liberal: Pobre, claro.
Outro: Logo, vagabundo...
Pobre liberal: Não...
Outro: Veja, se seu pai trabalhou por vinte ou trinta anos, economizou e não enriqueceu quer que eu pense o que dele?
Pobre liberal: É que meu pai passou por certas dificuldades.
Outro: E os outros, os outros pobres vagabundos e os patrões vitoriosos acaso não passaram por dificuldades ou as dificuldades são apanágios exclusivos do seu pai?
Pobre liberal: Quando disse que todos os pobre são vagabundos não quis dizer todos os pobres.
Outro: Evidentemente que quis excluir sua família.
Pobre liberal:... Até concedo que existam alguns pobres esforçados que não chegam a lugar algum...
Outro: Pelo que vejo já chegamos a algum lugar...
Pobre liberal: A maioria no entanto é mesmo acomodada.
Outro: Acomodada?
Pobre liberal: Sim acomodada.
Outro: Acomodada como?
Pobre liberal: É sempre possível buscar um emprego melhor.
Outro: Com tanta gente desempregada formando esse enorme mercado de reserva o amigo é capaz de crer que alguém receberá ou recebe muito mais pelos mesmos serviços oferecidos?
Pobre liberal: Se você percebe que sua profissão não é rentável tem que mudar de profissão?
Outro: Como mudar de profissão se a aquisição de uma nova técnica exige aprendizado efetivo?
Pobre liberal: Sei lá, tornando a estudar ou fazendo um curso técnico.
Outro: Neste caso como poderá fazer economias tendo de pagar pelo curso em questão ou pelo material, além de ter de alimentar-se melhor para poder estudar e trabalhar ao mesmo tempo, gastar com passagem de ônibus, etc
Pobre liberal: Claro que enquanto estuda e trabalha não poderá economizar.
Outro: Neste caso economizará quando?
Pobre liberal: Quanto estiver formado e em posse de um emprego melhor.
Outro: Quando a maioria dos brasileiros e brasileiras costumam fazer algum curso já passaram os vinte.
Pobre liberal: E?
Outro: Significa que essa pessoa que terminou seu curso e conseguiu um empreguinho pouco melhor agora tem família para sustentar i é tem filhos, sem que no entanto tenha casa própria, tendo de pagar aluguel.
Pobre liberal: Se essas pessoas não tem condição de ter por que põem filho no mundo? Por que se casa? Por que abandona a casa dos pais e vai morar de aluguel?
Outro: Porque na maior parte das vezes nascem nessas condições e imitam seus pais, tal a força da cultura. Especialmente entre pessoas pouco ou mal escolarizadas. Certas situações sociais tendem a ser reproduzidas. Por isso muitas vezes essas pessoas já nascem em casas alugadas. Por outro lado, conforme a situação dos humildes em geral vai piorando de geração em geração a tendência é que em determinado contesto social apareça um número cada vez maior de conflitos. Quero dizer que os pais e responsáveis tendem a fugir cada vez mais a realidade vivida, a frustração e a falta de esperança recorrendo a bebida, a droga e a própria sexualidade. Com isto o número de filhos ou de crianças aumenta cada vez mais enquanto a condição delas vai se tornando cada vez mais precária. Um número cada vez maior de jovens e crianças tende a ficar exposto a situações de agressão. Disto decorre que o lar, ao invés de apresentar-se como ambiente acolhedor, apresente-se cada vez mais como um ambiente saturado de violência e portanto indesejável. Diante disto mal o jovem consegue um emprego surge a ideia de alugar um comodo, construir um barraco e juntar-se a alguém que esteja nas mesmas condições. Melhor do que ter de entregar todo dinheiro nas mãos de um pai ou de uma mãe violenta e ser agredido... A formação de um lar, por piores que sejam as condições, tende a insuflar alguma esperança naqueles corações, embora posteriormente tais esperanças se mostrem ilusórias, cedendo lugar a frustração, a angústia, a falta de perspectivas e a fuga por meio dos já citados vícios ou do fanatismo religioso. Renovando-se de geração em geração o mesmo ciclo. Não é questão romântica, de escolha, mas de condições dadas. Ninguém dá aquilo que não tem ou o que não recebeu.
Pobre liberal: E o papel da educação na vida dessas pessoas, acaso não existe Escola perto da casa delas?
Outro: Percebo que estudou.
Pobre liberal: Apesar de ter nascido pobre meus pais faziam questão de mandar-me a escola, de irem as reuniões, de olharem o boletim e até de fornecerem alguma explicação sobre as lições.
Outro: Percebo que não nasceu em comunidade de periferia ou na roça.
Pobre liberal: A bem da verdade nasci num bairro de classe média baixa ou quase de classe média baixa.
Outro: Tipo com água quentinha no chuveiro, cama arrumadinha...
Pobre liberal: Mas que vem isso ao caso?
Outro: Já pensou em como deve ser legal ir para a Escola de barriga vazia ou com o estomago apertado de fome?
Pobre liberal: Até onde sei a escola fornece merenda.
Outro: De fato em S Paulo temos umas bolachinhas de maizena e uns copinhos de suco de laranja...
O quanto basta para atrair um certo número de crianças pobres que lá vão merendar, raramente aprender, pelo simples fato de terem trabalhado em algum outro período do dia, de estarem desnutridas, de terem sido espancadas, de terem a afetividade inibida, etc
Pobre liberal: Melhor estarem na escola do que em casa né?
Outro: Sem dúvida, em tais condições a escola equivale a um refúgio face as mazelas da vida. O que não significa que aquelas crianças estejam em condições de aprender muita coisa, pelo simples fato de que o aprendizado depende de certas condições materiais, afetivas e psicológicas as quais já nos referimos.
Pobre liberal: Acaso os professores não estão ali para isso? Acaso não são pagos para isto?
Outro: Fossem suficientemente pagos não precisariam cumprir duas ou três jornadas para poderem sobreviver e certamente poderiam preparar e ministrar aulas muito melhores.
Pobre liberal: Se estão insatisfeitos com seus salários por que não mudam de profissão?
Outro: Não mudam porque não tem uma opção melhor, alias a bem da verdade os melhores professores não permanecem no serviço público estadual e isto já diz tudo, é um sistema retém intencionalmente os educadores menos competentes i é os que menos tempo tem para capacitar-se, sim pois os que teem menos tempo para capacitar-se e se destacam na profissão passam a outros sistemas de Ensino, nos quais inclusive contam com uma estrutura de apoio muito superior.
Caso o estado (S Paulo) quisesse manter os melhores professores e investir na qualidade do ensino remuneraria melhor os seus professores de modo a que não precisassem cumprir dupla ou tripla jornada, destarte poderiam capacitar-se como os demais e nem teríamos professores de segunda classe, mas temos, porque sendo mal remunerados precisam sobrecarregar-se.
Pobre liberal: Bobagem, quem quer ensinar ensina de qualquer jeito, independentemente das condições.
Outro: Somente uma pessoa que não compreende absolutamente nada em termos de ensino aprendizagem poderia dizer uma pérola destas. Não existe ensino feito no ar ou independentemente das condições sejam psicológicas, emocionais, intelectuais, econômicas ou materiais e isto pelo ensino aprendizagem ser um ato complexo em que entram todos estes fatores. Basta dizer que o ensino depende de determinadas técnicas, que estas técnicas dependem de determinados materiais e que estes determinados materiais, tendo custos, implicam investimento por parte daquele que gerencia a Educação. O professor faz sua parte na medida em que ama seus alunos e aspirar cumprir honestamente com sua função. Não é no entanto um taumaturgo ou seja não faz milagres, ficando sempre na dependência das condições naturais que são em parte materiais. Na falta de livros, giz, quadro de giz, retroprojetor, slide, vídeo, ônibus, etc ou na base do improviso, sua ação torna-se cada vez limitada, até tornar-se de todo improfícua. Quando ultrapassa-se o número de vinte alunos por turna e salas convertem-se em depósitos de jovens e crianças, digo que o ato de ensinar é intencionalmente obstruído. A escola privada, excepcionalmente, pode contar com profissionais de qualidade inferior, os quais no entanto sempre poderão produzir medianamente, devido ao apoio pessoal ou material oferecido a tais profissionais. A escola pública com os melhores profissionais e as melhores intenções ficará sempre atrás da escola privada caso não haja significativo investimento em termos de estrutura pessoal e técnica. É exatamente o que acontece. E tem uma razão de ser. Afinal a construção de uma Sociedade menos desigual começa com oportunidades ou chances iguais para todos. Todavia como falar em oportunidades iguais quando a qualidade do Ensino não é Igual???
Pobre liberal: Não compreendo essa Filosofia que consiste em aliviar as responsabilidades das pessoas de baixa renda, das crianças da periferia, dos professores públicos, etc e lança-la toda sobre as costas largas do Estado.
Outro: Uma vez que existe um Estado certamente não existe de enfeite, comportando determinada missão. Para tanto pagamos impostos e somos onerados por uma carga tributária que muito querem reduzir em benefício do patrão mas que sempre poderia ser mantida e revertida em benefício dos trabalhadores e da gente humilde por meio de investimentos nos setores da educação, saúde, habitação, lazer, segurança, etc a exemplo do que ocorre nos países do Norte da Europa, em especial na Escandinávia. Uma vez que lá os tributos revertem a população sob a forma de qualidade de vida por que não poderia acontecer o mesmo aqui? Certamente há pessoas, administradores inclusive, que não desejam que o estado cumpra com sua função social e de certo, e para que? Para que todos os serviços sejam assumidos pela iniciativa privada revertendo em favor do Mercado e endossando ainda mais a ordem liberal ou neo liberal.
Por outro lado não se trata aqui de aliviar a barra de quem quer que seja mas sim de considerar diversos fatores e fazer justiça. O amigo é que fundamentado num idealismo, vulgar, grosseiro e aberrante ou numa concepção romântica da existência, desconsidera tudo quando em termos de materialidade influência as ações humanas executadas no tempo e no espaço ou seja num universo material e corpóreo. Daí achar que a boa intenção tudo pode ou que a boa vontade tem poderes mágicos. São certamente fatores vitais, os quais jamais podemos excluir, mas que isoladamente pouco ou nada produzem. Precisamos certamente de muita boa vontade, mas também nos meios necessários para faze-la acontecer. Parto de uma perspectiva realista, considerando a realidade das pessoas sejam trabalhadores, alunos e professores, os quais são necessariamente influenciados pelo meio.
Liberal pobre: Quem quer fazer as coisas faz independentemente das condições.
Outro: É obrigação do Estado oferecer as condições necessárias para que o ofício de professor e a vocação de aluno concretizem-se no nível mais intenso, aproximando-se de um ideal de perfeição. Se a iniciativa privada fornece tais condições a seus docentes e alunos, o poder público não pode ficar atrás. Isto sob a pena de termos dois padrões de qualidade diferente, um para os ricos e outro para os pobres. Caso as condições sejam consideradas por um sistema de ensino deverão ser igualmente consideradas pelo outro.
Liberal pobre: Se de fato aspiram por uma educação igual para todos por que não aprovam a privatização das escolas?
Outro: Antes de responder a sua pergunta devo dizer que privatização não é nem de longe garantia de qualidade como costumam declarar os meios de comunicação patrocinados por corporações liberais. Para tanto devemos considerar que o maior desastre ambiental acontecido neste país foi consequência da falta de controle de qualidade por parte do setor privado e não do estatal. Outro exemplo não menos clamoroso diz respeito aos abusos, recorrentes alias, cometidos pelos planos de saúde. Dos quais tem resultado gravíssimos danos a seus afiliados. Via de regra afirma-se que caso o SUS funcionasse ou fosse superior não existiriam planos de saúde. Sabemos no entanto que boa parte das pessoas, pelo simples fato de custearem igualmente o SUS, na prática, acabam servindo-se de ambos os sistemas. Então a primeira pergunta a ser feita é se a qualidade dos planos seria a mesmos caso inexistisse o SUS? Já a segunda pergunta a ser feita diz respeito - adotando-se a ótica da privatização - ao que aconteceria com aquela parcela da população incapaz de pagar por um plano de saúde caso o SUS deixasse de existir? Seriam deixados a mingua na sarjeta para morrer como mostrou Michael Moore em seu documentário sobre a assistência médica nos EUNA ou teriam de hipotecar suas casas, automóveis, etc em caso de doença???
Liberal pobre: Uma vez que todos ganhassem suficientemente bem?
Outro: Todos?
Liberal pobre: Uma vez que a maior parte das pessoas pudesse pagar por tais serviços.
Outro: Poderia pagar por eles um trabalhador assalariado, mormente quando os senhores da mesma maneira a fixação de um salário mínimo por parte do Estado?
Liberal pobre: Os salários devem obedecer a lei da oferta e da procura.
Outro: Neste caso com tanta gente desempregada e procurando por serviços temo que jamais seriam suficientes para custear tais serviços.
Liberal pobre: Evidentemente que se trata de uma Sociedade em que mérito de alguns poucos seria bastante reconhecido.
Outro: Como você poder falar em mérito se a concorrência parte de planos diferenciados, de condições de vida preexistentes, de qualidades de ensino diferente, etc??? Como você espera que o pobre alcance o rico se o rico sempre parte a frente dele. Acaso já assistiu a alguma maratona em que os corredores partam de pontos diferentes? De fato até poderíamos falar em merecimento, esforço, etc desde que a concorrência partisse de oportunidades iguais para todos.
Liberal pobre: Como chegar a algum lugar sem fazer sacrifícios?
Outro: Nada mais canalha do que pedir sacrifício aos demais enquanto recebemos a fortuna de bandeja por meio da herança. A homem algum assiste o direito de exigir dos outros aquilo que ele mesmo jamais fez...
Liberal pobre: Você fala tanto em realidade e ignora que as coisas sempre tem sido assim, desde o começo do mundo.
Outro: Quem ignora supinamente as lições da História são vocês, haja visto que a primeira tentativa de reforma social foi implementada há cerca de quarenta e cinco séculos pelo rei
Urukagina de Lagash. Grosso modo somos autorizados a dizer que algumas sociedades jamais cessaram de conceber, imaginar e implementar instituições cada vez mais eficientes no sentido de estabelecer ou de, se possível fosse, esgotar a demanda da justiça.
Liberal pobre: Quer dizer que nem sempre fomos capitalistas?
Outro: Basta olharmos para a Idade Média, para as civilizações antigas ou para as culturas primitivas...
Liberal pobre: Seja como for tem o homem de evoluir e tal qual o homem a Sociedade.
Outro: Sem sombra de dúvida, no entanto a opinião segundo a qual o Capitalismo constitui uma evolução face aos sistemas precedentes, inda que apoiada pelo odiado
K Marx, não passa de um juízo de valor.
Liberal pobre: De fato nem mesmo
Marx ousaria colocar o sistema estamental das ordens feudais acima do nosso capitalismo.
Outro: Como não sou marxista ortodoxo, direi na esteira de um heterodoxo marxista, que apesar de sua deficiência em termos de técnica a Idade Média jamais cogitou em colocar o TER acima do SER. Com efeito se nossos ancestrais medievos morriam devido a fome ou a enfermidade é certamente porque não havia comida ou medicamentos. Morriam porque não se sabia fabricar este ou aquele remédio, porque inexistia este ou aquele aparelho, por falta de técnica ou de conhecimento enfim e não pode má vontade. O medievo jamais conceberia a destruição deste ou daquele gênero alimentício como meio lícito para aumentar seu valor enquanto parte dos cidadãos estivesse morrendo de fome, lhes pareceria monstruoso! Se produzimos alimentos em quantidade suficiente para extinguir a fome em termos globais, por que cargas d água ainda há gente passando fome no mundo? Se não há problema técnico quanto a produção então o que? Onde esta o problema? O problema aqui diz respeito a distribuição dos alimentos enquanto fruto da vontade humana? Afinal esta distribuição é feita conforme os interesses do Mercado ou do Capital/lucro e não dos seres humanos... Temos técnica, o que não temos é Ética. O defeito deles dizia respeito aos meios, o nossos diz respeito ao caráter. Como se diz então que este sistema assumido por homens sem caráter era superior ao deles?
Liberal pobre: O capitalismo com todas as suas mazelas e defeitos é o que de melhor ou de menos mal temos em termos sociais. Pois ao menos possibilita, como nenhum outro sistema jamais possibilitou, a ascensão da maior parte de seus membros.
Outro: Tudo quando o sistema Capitalista tem possibilitado é de um lado o acumulo de uma quantidade cada vez maior de bens nas mãos de um número cada vez menor de pessoas e do outro a partilha de um montante cada vez menor de bens nas mãos de um número cada vez maior de pessoas. Do que decorre um nicho cada vez menor em que o mérito possa inserir-se, e não um nicho cada vez maior ou ao menos estável. Mesmo com relação aos que supostamente possuem méritos é exigido um grau cada vez maior de esforço, pois as chances restringem-se mais ao invés de ampliarem-se. Destarte se há um sistema desfavorável para as classes médias é o capitalismo.
Liberal pobre: Importa que o acesso a tal nicho seja franqueado aos melhores.
Outro: Assim fosse... No entanto a dar por melhores ou mais excelentes os cientistas ou intelectuais não podemos dizer que os pináculos do sistema estejam franqueados a eles. No frigir dos ovos podemos dizer que no sistema capitalistas o corpo é comandado pelas mãos e pés, não pelo cérebro, uma vez que os intelectuais e cientistas ocupam sempre posições subalternas já com relação ao poder econômico já com relação ao poder político. Segundo a organização capitalista os mais excelentes obedecem ou executam enquanto que os medíocres ou espertos, assim digamos, governam o mundo como deuses. É um sistema feito para espertalhões e medíocres... Os demasiado éticos ou os demasiado reflexivos jamais chegam a pertencer a cúpula do poder.
Liberal pobre: Se ao menos o pobre economizar parte de seus salário...
Outro: Dirá você que ele chegará a ser rico?
Liberal pobre: Certamente nem todos...
Outro: Como o seu pai...
Liberal pobre: Ao menos alguns...
Outro: Para com isso meu amigo. Quantos assalariados você conhece que já viraram milionários, banqueiros ou grandes empresários?
Liberal pobre: Bem... Conhecer pessoalmente não conheço, no entanto acredito ter lido na Revista Veja ou visto no Globo Repórter alguma reportagem sobre alguns pobres que se esforçaram, venceram e se tornaram milionários.
Outro: Afinal de contas quantos?
Liberal: Certamente mais de trinta ou quarenta pessoas. Afinal é mais de uma reportagem, talvez cinco..
Outro: Nada mal para duzentos e sete milhões de brasileiros. Basta dizer que os ricos compõem 10% da população brasileira ou seja vinte e sete milhões de pessoas e o amigo vem me falar em dezenas de pobre que se tornaram ricos. Ainda que fossem centenas ou mesmo milhares de pessoas, que vem elas ao caso num montante de vinte e sete milhões de seres humanos??? Que fossem quinhentos mil pobres a se tornar ricos por meio do trabalho numa geração! Seria uma ascensão social a cifra de 2% a cada dez ou quinze anos, e portanto de no máximo 20% de novos ricos a cada cem anos! Agora quantos pobre temos (estamos excluindo a classe média intencionalmente)? Admitido que haja neste pais 50% de pobres chegamos a cifra de 103 milhões de pessoas. Caso nos atenhamos a extrema pobreza temos de nos haver com 1/4 da população, ainda assim com 52 milhões de almas. Diante disto que significa a ascensão social de meio milhão de pessoas a cada quinze anos ou década? Assegurado que pessoa alguma viesse a se tornar pobre, precisaríamos de mil ou mesmo de dois mil anos para erradicar a miséria deste pais! Queremos dizer com isto que em termos sociais a tão decantada mobilidade social oferecida pelo capitalismo é pura e simplesmente inexpressiva. Afinal sequer consideramos os que baixam de posição e cujo montante não é desprezível...
Liberal pobre: Caso as pessoas não enriqueçam por meio do salário, do trabalho honesto ou da economia, de que modo enriquecem?
Outro: A bem da verdade a maior parte dos ricos já nasce rica limitando-se a aumentar o montante de riqueza recebida quando não tem a desgraça de perde-la, o que por sinal é bastante fácil num sistema que privilegia o capital financeiro. Imagine alguém que tenha ganhado na loteria. Tal aquele que por acaso nasce no seio de uma família rica e é contemplado pela herança. Caso o herdeiro seja medíocre conseguirá talvez conservar o que recebeu, situação que poderá ser revertida pela esperteza do herdeiro subsequente. A fortuna vai conservando-se de geração em geração, embora oscile.
Liberal pobre: Uma vez que a herança não pode remontar a eternidade deve ter tido um ponto de partida i é as economias frutos do trabalho.
Outro: Quisera de boa vontade que assim fosse mas...
Se até mesmo os padres da Igreja, que floresceram nos primeiros séculos desta Era, foram capazes de perceber - e muito facilmente - através do estudo da História, que diversa era a origem da riqueza: Aqui o roubo de terras, ali a pirataria, mais além a corrupção e por fim a pura e simples exploração do trabalho alheio... Que haveremos de dizer nós, os filhos do século XXI? Que tudo mudou e entrou os eixos após a adoção do modelo capitalista? Haja ingenuidade...
Aqui as terras tomadas aos índios, ali o rapto e escravidão dos africanos, mais além a exploração insidiosa da mão de obra estrangeira na lavoura e por fim a clássica obtenção da 'mais valia' nas fábricas...
Liberal pobre: Mais valia? Afinal que vem a ser isso?
Outro: A parcela mais considerável do quanto a produzido pelo operário e que ele jamais recebe por meio do salário, digamos assim, a parte do leão.
Liberal pobre: No entanto, uma vez que o empresário adquiriu ou comprou já os meios de produção, ja a matéria prima, venhamos e convenhamos, é justo que ele retenha para si uma determinada porcentagem do quanto é produzido pelo operário.
Outro: Uma coisa seria reter certa parcela do que é produzido, parte a guiza de compensação, parte a guiza de lucro. Outra totalmente distinta é reter a quase totalidade do que é produziu pagando ao operário um salário de fome ou necessário apenas para que aquele subsista ou mantenha a vida. De fato a miserabilidade só não cresce a passos mais largos devido a instituição do salário mínimo. Fosse o salário deixado ao alvedrio do patrão onde não teríamos chegado, isto pelo simples fato de que a dinâmica do Mercado é definida em termos da obtenção de um lucro máximo e não de uma retribuição justa em termos de necessidades humanas ou familiares, segundo o ponto de vista da Ética.
Liberal pobre: O valor os salário é determinado objetivamente pela lei da oferta e da procura.
Outro: Como o operário jamais tem como controlar o fator da procura ou das vendas... a tal objetividade tresanda sempre em subjetividade, curvando-se a doutrina da maximização dos lucros. Compreende-se que a partir de semelhante prática, que consiste em despojar o trabalhador da quase totalidade daquilo que produz, fique fácil acumular uma vasta fortuna em pouco tempo... Tanto melhor para aquele que foi contemplado pela herança já ao nascer, e que jamais teve de trabalhar de fato pegando numa marreta ou numa pá. Limitando-se a administrar o que ganho de mãos beijadas tornar-se-a ainda mais rico. Enquanto que aquele que fato produz, empenhando suas energias, permanecerá sempre pobre, a menos que se torne miserável.
Tal o quado sinistro do capitalismo: Aquele que vive de renda vai se tornando cada vez mais próspero, enquanto aquele que pega no batente vive e morre pobre.
Liberal pobre: Acredito na honestidade e probidade do patrão.
Outro: Como disse
Freud cada qual acredita no que bem quer, havendo quem por isso mesmo creia no saci pêrere, na cuca ou na fada do dente
No entanto como você não é patrão esperarei até ve-lo converter-se em patrão e só depois acreditarei em você.
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