sábado, 21 de outubro de 2017

O controle e a administração da líbido (especialmente da sexual) ou da fuga pelo sistema.


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Podemos negar que o sistema capitalista seja racional ou ético mas não podemos negar que seja sagaz ou esperto tendo em vista os objetivos a que se pretende. Haja visto que administra tanto diversas formas de alienação - Comercializando-as, vendendo-as e auferindo estrondosos lucros na mesma medida em que engana e escraviza aqueles que as consomem - como o acesso dos cidadãos a líbido e portanto os próprios meios através dos quais cogitamos fugir a realidade, também apossa-se deles e os convertem em fontes de lucro.

Diversas religiões e Sociedades antigas foram suficientemente perspicazes a ponto de perceberem que ao dominarem a sexualidade do homem chegam a dominar o próprio homem. Perceberam igualmente que a repressão sexual produz uma quantidade equivalente de agressividade, a qual sempre pode ser usada contra seus adversários. O capitalismo foi mais além tomando consciência de que a agressividade nem sempre pode ser manipulada ou controlada, mormente quando falta o apoio da religião.

Dai ter investido, ao cabo do século XX, em diversas pesquisas relacionadas com a sexualidade humana e seu fluxo, assim os famosos relatórios Hite sobre a sexualidade feminina e masculina. Afinal era necessário por a coisa em termos mais ou menos matemáticos no sentido de averiguar quanto em termos de repressão ou privação pode ser imposto ao trabalhador sem produzir uma agressividade excessivamente perigosa. A coisa ficou definida mais ou menos em termos de um jornada semanal, sendo o fim de semana reservado ao descanso e por ext ao lazer i é a fruição de diversos prazeres.

Calculou-se certamente que após os cinco dias efetivos de trabalho, o operário precisava 'descarregar' as energias acumuladas durante a semana dando largas aos apetites sexuais. Assim o Sábado e o Domingo seriam dias dedicados a recuperar o tempo perdido ou a fruição do prazer. Dias em que a vida noturna, a prostituição e todo tipo de evento classificado como erótico ou pornográficos tornam-se mais intensos e assumem a ponta do Mercado. Destarte os dias de descanso do proletário equivalem aos de maior trabalho no setor da indústria sexual e vice versa.

O Mercado acabou absorvendo a demanda de sexualidade acumulada produzida por ele mesmo ao criar uma indústria sexual aos feriados e fins de semana. Criou uma demanda e absorveu-a tornando-a lucrativa. Tornando-se consumidor de sexo, bebida, cigarro e dança nos fins de semana o proletário faz reverter ao Mercado parte do montante que recebeu, quebrando o paradigma da economia como fundamento da ascensão econômica. Aos olhos dos puritanos e dos darwinistas sociais os poucos trabalhadores que se tornam milionários são justamente aqueles que ao invés de consumirem tais produtos, reprimem-se ainda mais, guardando e juntando parte do salário. E no entanto esta fruição de prazer negado constitui uma demanda gerada pela própria condição humana. Em tais condições as 'pessoas de bem' que se negam ao prazer, que se controlam ou recalcam tornam-se amiúde neuróticas, mesmo quanto excepcionalmente tornam-se prósperas. Pagam o ascetismo forçado ou o sacrifício com a sanidade... Isto quando não se tornam agressivas, amargas, violentas e cruéis até o sadismo. Tal o tipo do rico sádico e insensível...

Até certo ponto o sistema conseguiu conciliar o ideal calvinista do trabalhador morigerado a austero, dos cinco dias de trabalho por semana, com o consumidor de 'vícios' ou prazeres dos fins de semana descrito por Bernard de Mandeville. O capitalismo logrou converter os vícios da semana na fonte de lucro dos feriados e fins de semana, dias destinados a fruição do prazer ou a compensação, tendo em vista a situação de recalque precedente. Passou assim a intercalar períodos de repressão e trabalho e períodos de fruição e consumo, retomando o Mercado por meio do consumo dos prazeres o pouco que os trabalhadores haviam ganho com o trabalho no período anterior.

Conciliou o trabalho e a repressão com a fruição e o consumo, mas sempre em seu benefício. Lucrando sobretudo quando o homem angustiado, buscando fugir a realidade do mundo externo, abraça furiosamente o princípio do prazer, tornando-se consumidor compulsivo. Paradoxal que este homem tenha muitas vezes plena consciência a respeito das mazelas do Mercado, e que as denuncie, critique e se oponha a elas... No entanto quando perde as esperanças de prostrar o deus Mercado por terra e entra em crise, é justamente ai que passa alimenta-lo, pelo simples fato de precisar consumir altas doses de narcótico para sobreviver. Evidentemente que tais narcóticos ou sedativos não lhe serão dados. Tem um custo e como tudo que tem custo prestam-se ainda e mais uma vez as aspirações do Mercado.

Na cultura ou sociedade de mercado inexiste realidade que não se relacione com ele. A prostituição, a pornografia, a indústria do cigarro e das bebidas, a própria indústria de preservativos e antes de tudo e acima de tudo o negócio da droga nada tem de Revolucionários ou contestatórios em si mesmos. Correspondem todos a necessidades reais existentes em quaisquer Sociedades, as quais no entanto foram ampliadas, assumidas, incorporadas e absorvidas pelo Mercado. A Sociedade de Mercado produz dependentes do prazer - justamente as pessoas que buscam fugir a ele - e transforma-os em consumidores inconscientes. Os quais por força de hábito até são capazes de imaginar tais nichos econômicos como Revolucionários, não são... O prazer é explorado pelos mesmos senhores que exploram o grande capital e esta conectado com eles formando uma só rede.

O que estou querendo dizer com isto é que o sistema é imensamente esperto, capaz de assimilar suas próprias demandas, de converter seus pontos fracos em fontes de força, de transformar-se, de criar novas relações e de assumir novas formas cada vez mais arrojadas. O que me faz lembrar Anteu, o gingante da fábula, que recuperava suas forças ao tocar na terra sua mãe...

É um sistema que produz situações complexas.

Explorando a um lado necessidades compulsivas a que classifica como vícios e vendendo-os a certa parcela da população e ao mesmo tempo explorando o trabalho morigerado produzido durante a semana e a moderada fruição do prazer pelo operário nos fins de semana... Tudo isto, limitação e fruição, é mais ou menos gerenciado por ele.

Resta-nos dizer ainda que a própria alienação, converte-se em negócio bastante lucrativo, particularmente para o nicho midiático ou para a indústria de comunicação de massas. Afinal o sistema como um todo e cada uma de suas partes precisam recorrer a alienação para manter-se. Daí ela mesma assumir a forma de produto oferecido pela imprensa. De modo que a seleção e a distorção dos fatos apresentados é certamente paga pelos interessados. Outro aspecto da indústria midiática consiste em vender propaganda, especialmente quanto a fruição de certos prazeres moderados ou fugas autorizadas, cujo consumo cabe a ela incentivar ao máximo apelando a todos os recursos propiciados pela imaginação ou pela fantasia.

Tais as propagandas relacionadas com as bebidas alcoólicas, o cigarro ou mesmo algumas iguarias como o chocolate ou a coca cola.

Aqui a propaganda clássica criada pelo psicólogo lacaio consiste mormente na associação de ideias. Daí mostrarem ao trabalhador miserável e mal cuidado pessoas belas, ricas e elegantes em situações de poder consumindo determinados produtos. A tais cenas paradisíacas adicionam alguns jargões do tipo - Gente bonita consome chocolates Sonksen ou Beber giny cola te torna poderoso...

Neste sentido - quanto a propaganda, a prostituição parece ser bem mais recatada rsrsrsrsrsrs De qualquer modo há todo um ar de apelação sexual na mídia, quiçá tendo em vista a permanência de algumas situações de recalque e repressão, quiçá tendo em vista apenas aquecer a indústria ponográfica ou sexual que vai já se formando. Parece inevitável que a libertação sexual deixe de produzir uma demanda em termos de mercado e uma indústria sexual pelo simples fato de dar-se numa sociedade capitalista. De fato a necessidade de uma Revolução sexual foi e é inquestionável, deplorável é que ocorra num contesto capitalista. Destarte o sexo nunca tende a tornar-se simplesmente normal na medida em que o nicho do mercado que lhe é consagrado tende a estimula-lo ao máximo, a classifica-lo como o valor supremo da vida e a ignorar sua dimensão pessoal em termos de sentimento.

Nem podemos nós deixar iludir-nos quanto ao tema da liberação das drogas julgando que algo de Revolucionário virá deste balaio. Pois tudo quanto veremos será a criação de outro nicho em termos de mercado com a respectiva demanda por propaganda a menos a longo prazo. A menos que tal liberação se desse noutro tipo de sociedade até poderíamos nos deixar tomar pela ilusão de que o consumo das drogas se daria noutros termos, alias impensáveis para nós. Ocorrendo como a Revolução sexual num contexto de mercado é óbvio que sua demanda será absorvida e mercadizada como tudo. Como a religião alias, cada vez mais simoníaca...

Se após ter lido todos estes parágrafos chegou a imaginar o mercado como um polvo colossal cujos tentáculos se apossam de qualquer coisa, devo dizer que a imagem formulada por você é bem mais do que pura e simples coincidência.


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